Outra faceta presente nos protestos de 2013 é a baixa credibilidade da classe política e a consequente crise do modelo de representação da democracia brasileira. O problema não é apenas brasileiro e tem sua origem bem antes das jornadas de junho.
"Essa é uma crise estrutural de muitos anos", afirma o professor de gestão de políticas públicas da USP. "É a ideia de que as formas de representação tradicionais, que são os partidos e os sindicatos, perderam legitimidade, e o sistema começa meio que a girar em falso, como se a sociedade civil e os instrumentos de representação estivessem descolados."
"Esse ciclo de transformação, com os seus respectivos efeitos de natureza política, é mundial, não é exclusividade do Brasil. Você pode fazer uma lista: a Primavera Árabe, o Occupy Wall Street, os Indignados espanhóis, os estudantes chilenos", concorda o cientista político Marco Aurélio Nogueira.
No caso brasileiro, a quebra institucional provocada pelo impeachment da presidente Dilma ajuda a complicar a situação.
"Os governos, seja o governo Dilma, seja o governo Temer, não conseguiram dar uma resposta mais qualificada às demandas de 2013", afirma Marco Aurélio Nogueira.
"Tanto não fizeram isso que a sociedade está cada vez mais exasperada. Se sair o Temer e vier outro presidente, a situação vai continuar a mesma, se não for feita uma repactuação que mude a qualidade das respostas governamentais e políticas. Se continuar com esse estilo de fazer governo e política, vai continuar havendo um buraco, um hiato, entre o governo e as ruas, de modo inevitável."