Apesar de sua vontade de assumir responsabilidades políticas alheias, os bancos centrais foram incapazes de cumprir seus objetivos por boas razões: o impacto causado por suas medidas, tais como alterar as taxas de juros ou comprar e vender títulos de mercado, não poderia acabar com obstáculos estruturais ao crescimento, tais como a falta de infraestrutura, regimes fiscais fragmentados e regulamentação excessiva; e as influências da demanda, como diminuir as taxas de juros para estimular o consumo e o investimento, foram demasiado fracas para impulsionar a economia em seu estado atual.
Porém, por serem as únicas instituições com a flexibilidade para resolver problemas, os bancos centrais não quiseram se retirar, continuando a administrar seu remédio imperfeito — até mesmo experimental.
O que adveio disso inclui resultados políticos que, não muito tempo atrás, eram praticamente impensáveis. O Banco do Japão e o Banco Central Europeu determinaram taxas de juros negativas — ou seja, abaixo de zero por cento — deixando alguns investidores na posição altamente incomum de ter que pagar, e não receber, dividendos caso possuíssem títulos do governo. Assim, cerca 30% do estoque total da dívida pública global foi negociado com rendimento negativo durante 2016.
Na maior parte deste ano, os mercados acionários estiveram incomumente imunes à incerteza que domina os cenários econômicos, financeiros, institucionais e políticos. Para isso, os investidores tiveram de agradecer à liquidez — isto é, a injeção contínua de dinheiro em mercados, quer de medidas não convencionais dos bancos centrais ou da reciclagem de dinheiro corporativo através de fusões, aquisições e recompra. Mas há um limite para o tempo que essa combinação intuitiva de fundamentos instáveis e tranquilidade de mercado pode persistir.
A hora exata da virada econômica e financeira é inerentemente difícil de prever, mas podemos passar por um momento importante em 2017. Porém, isso não necessariamente é uma proposição assustadora, caso os políticos retomem suas responsabilidades de governança econômica.
Uma resposta política abrangente recairá sobre reformas estruturais que incentivem o crescimento (incluindo a reforma tributária), maior ativismo fiscal (particularmente na construção de infraestruturas), negociações para aqueles com excesso de dívidas (por exemplo, na Grécia e, preventivamente, para parte de empréstimos estudantis nos Estados Unidos) e a melhora na coordenação da política transfronteiriça (tanto em nível global quanto no reforço da arquitetura econômica regional da zona do euro).
Isso iria liberar uma parte considerável do dinheiro parado em balanços corporativos, incentivando assim duas transições críticas: do baixo crescimento para o crescimento elevado e mais inclusivo e da estabilidade financeira artificial para a instabilidade financeira genuína.
Mas se os políticos continuarem a falhar aos eleitores, o baixo crescimento corre o risco de se transformar em recessão, a estabilidade financeira artificial será substituída pela instabilidade inquietante, e a política da revolta poderia se tornar bem pior. As alternativas que enfrentamos são austeras, e o tempo é escasso.
O tratamento para a epicondilite lateral é o repouso. Os bancos centrais estão na batalha a tempo suficiente — vamos evitar um 2017 mais difícil e doloroso.