Em curto prazo, o período de uma vida, muitos defenderam a privacidade e, portanto, a falta de transparência. Mas a história, em longo prazo, é a transparência; é a ausência de segredos. Então, somos bastante impiedosos, enquanto historiadores, quando se trata dos segredos do passado, os segredos dos mortos. Nós os conhecemos com uma intimidade que seria impossível em sua época. Seria impensável nos afastarmos de seus segredos, permitir a privacidade ao homem do gelo ou não vasculhar sob o betume para recuperar as tatuagens de uma sacerdotisa egípcia.
E aqui, para completar meu emaranhado de confusão, está a criptografia, sem dúvida agravada pela minha incapacidade de compreender matematicamente seu conceito. Presumo (talvez incorretamente) que o futuro dará um jeito na mais sofisticada tecnologia de criptografia atual. Imagino que os segredos mais bem guardados do mundo —aqueles de cidadãos privados e instituições do Estado— um dia serão revelados em qualquer que seja o dispositivo usado por nossos descendentes para acessar dados.
Cientes dessa informação, ao nos examinar, nossos antepassados nos verão de um modo diferente do que hoje vemos a nós mesmos, assim como nós agora conhecemos os vitorianos de maneira bem diferente da qual eles se viam. O passado, nosso próprio passado, do qual nossos descendentes nos verão emergindo, não será o passado do qual nós agora nos vemos surgir, mas uma reinterpretação dele, com base na informação disponível posteriormente, na maior transparência e em menos segredos.
Se nossa história, que continuamente se amplia, cada vez mais transparente, é a soma total do que somos enquanto espécie, então nossa espécie fica mais pobre a cada segredo fielmente guardado.
Qualquer criptografia permanentemente inquebrável parece ir contra isso.
Eu ainda prefiro manter certos segredos, como suponho que a maioria quer. Então, talvez esse desejo seja tão parte de nós, como espécie, quanto nossa necessidade de construir palácios da memória.