"Tenho de acreditar que estamos trazendo para a negociação algo muito maior que nossa própria dor: a garantia de que nossos filhos não sofrerão o que nós sofremos."
Para grande parte dos colombianos, a guerra civil que castiga a nossa nação há 50 anos é um conceito abstrato. A luta acontece em áreas remotas do interior, enquanto 75% da população vivem em áreas urbanas. A percepção geral é a de que enquanto você estiver nos limites da cidade, não estará sujeito à violência das guerrilhas. O perigo e a insegurança por que a maioria já passou vêm do crime organizado urbano e não de combatentes armados e uniformizados.
Entre 1999 e 2008, Venezuela, Chile, Brasil, Argentina, Uruguai, Bolívia, Equador e Paraguai elegeram presidentes de esquerda ou centro-esquerda, em uma sequência de eventos conhecida como "Maré Rosa". Durante esse período, em 2002, disputei a presidência, em uma chapa de centro-esquerda, para combater a corrupção e a injustiça social –e enquanto fazia campanha em uma zona declarada segura pelo Exército, fui sequestrada pelas guerrilhas marxistas da nação, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, ou Farc.
A abdução era uma indústria para os rebeldes e eu representava tudo o que eles odiavam: era política e eles acreditavam que todo político é corrupto; meu nome estava ligado à oligarquia, eu era educada e falava várias línguas, isto é, era alguém que devia ser temida e subjugada. Era cidadã com cidadania dupla (colombiana e francesa), ou seja, achavam que eu servia a interesses estrangeiros –e era mulher, portanto manipuladora e difícil. Então me mantiveram em cativeiro durante 6,5 anos.
Além de nos arrancarem de nossa vida normal e nos manterem na selva, o objetivo dos guerrilheiros era impor a mim e aos outros reféns todo tipo de privação para nos enfraquecer. E nos submeteram a todo tipo de abuso, incluindo violência brutal, dor extrema, humilhação e outras formas de tortura psicológica, usando sua ideologia para justificar seu comportamento.