Gradualmente, a era da IA vai transformar a essência da cultura humana. Quando deixarmos de ser mais inteligentes que nossas máquinas, quando elas puderem facilmente nos superar dando o tipo de salto intuitivo na pesquisa e em outras áreas que atualmente associamos aos gênios, uma espécie de desamparo provavelmente nos tomará, e a ideia do trabalho em si pode deixar de ter um significado.
Quando a IA assumir, os postos de trabalho restantes podem diminuir para uma fração do que eram, empregando talvez 10% ou menos do total da população. Esses podem ser trabalhos altamente criativos ou complexos, que os robôs não conseguem fazer, tais como gerenciamento, direcionamento de pesquisa científica ou cuidados e assistência a crianças.
Nesse cenário distópico, conforme o número de desempregados for aumentando em todo o mundo, nossas sociedades afundam em uma turbulência prolongada. O mundo poderia ser tragado por intermináveis conflitos entre aqueles que controlam a IA e o restante. Os 10% de tecnocratas poderiam acabar vivendo em um condomínio fechado vigiado por guardas robóticos armados.
Há um segundo cenário, utópico, onde antecipamos essas mudanças e chegamos a soluções de antemão. Aqueles no poder político planejariam uma transição mais suave, talvez usando IA para ajudá-los a antecipar e modular os problemas. No final, quase todos nós viveríamos da seguridade social.
Como vamos usar nosso tempo, é difícil prever. "Aquele que não trabalha, não comerá" sempre foi a base das civilizações através dos tempos, mas isso vai ter desaparecido. A história mostra que aqueles que nunca tiveram de trabalhar — digamos, os nobres — muitas vezes passam seu tempo entretendo e desenvolvendo seus talentos artísticos e esportivos, ao mesmo tempo em que respeitam escrupulosamente os rituais elaborados de vestimenta e boas maneiras.
Nesse futuro, a criatividade é altamente valorizada. Nós desenvolveremos maquiagem, penteados e roupas cada vez mais fantásticos. O trabalho de antigamente parecerá uma barbaridade.
Mas os nobres governaram nações; na época da IA, serão as máquinas que pensarão. Porque, ao longo das décadas, nós gradualmente fomos abrindo mão de nossa autonomia, passo a passo, nos permitindo ser transformados em animais de estimação dóceis, fabulosamente mimados pela inteligência artificial.
Como a IA nos leva de um lugar para outro — visitas a familiares, galerias de arte e eventos musicais — vamos olhar pela janela tão inconscientes de seus planos para nós quanto um poodle a caminho de um banho.