"Até quem está na cadeia tem celular"
A sociedade rechaça quem não tem celular. É sério.
Logo no primeiro mês, em uma mesa de bar, ouvi de um amigo: "Cara, até quem está na cadeia tem celular". Fato.
Não ter o smartphone sempre à mão, como todo mundo, era como uma demonstração às pessoas de que eu não gostava mais delas. Ou das coisas em comum que tínhamos. Parentes e amigos ficavam chateados.
Minha irmã, uma das maiores devotas do WhatsApp que conheço, ficou estarrecida com a situação. Ela chegava em casa com catálogos de ofertas. "Olha esse aparelho, que bonitão! Não sei como você consegue ficar sem celular… Logo você, um jornalista!".
Fui entrevistar o rapper Emicida para uma reportagem. Cheguei ao escritório dele apenas com bloquinho e caneta na mão e me senti como naqueles filmes de detetive. Ele me olhou e, antes mesmo que eu o cumprimentasse, cravou: "Então, você é um cara analógico!".