Éramos 15 candidatas. Altas, baixas, magras, gordas, tatuadas, ruivas, loiras, morenas, negras. Diferentemente do Miss Universo, o Miss Feet não peca pela falta de diversidade.
Quando chegou minha vez de desfilar, entrei com o pé direito no salão principal da boate. Me lancei aos holofotes em passos rápidos, tentando sorrir e, claro, não cair. O trio de jurados me observava em um ponto estratégico.
Voltei para a Masmorra envaidecida com os aplausos empolgados que recebi. Notei que a salinha parecia ainda mais apertada, com gente do público passando para ir ao banheiro e algumas concorrentes se espremendo para ver como se saíam as adversárias.
Fim da etapa de desfile, início da análise in loco. A candidata à minha frente, uma dominatrix, sofria para remover as tiras da sandália amarradas em várias voltas no tornozelo. Ainda bem que ela tinha um escravo, que se ajoelhou e resolveu o drama.
Precavida, deixei minha sandália desatada e, quando chamaram "Lady Hell", fui destemida à mesa do juri. Sentei no banco alto que estava diante deles e fui arrancando o calçado. "Deixa que eu tiro para você, meu bem", protestou o juiz. Sim, ele era um podólatra apaixonado pelo ofício.
Coloquei meu pé descalço sobre a mesa e ele começou a tocar e analisar. Os critérios eram higiene, maciez, beleza e curvatura – até tentei fazer um pezinho de bailarina para ganhar pontos.
Então o inesperado: tive meu dedão chupado de surpresa. Tentei disfarçar o desconforto enquanto a outra juíza, uma ex-vencedora do Miss Feet, interrompeu o climão. Cortou o barato do colega, puxando meu pé para dar seu veredito.
Antes que eu deixasse o palco, o juiz pediu para ver minha sandália novamente. Cheirou, beijou e devolveu como se fosse o sapatinho de cristal da Cinderela.