Vestido, me senti ridículo entre os peladões
O encontro rolou na Casa da Luz - misto de centro cultural e balada escondido entre botecos pé-sujo do centrão. Subi alguns lances de escada e um aroma de incenso me dava pistas da direção que deveria ir.
Uns poucos peladões circulavam pela sala, mas a maioria estava vestida e acanhada. Ficou claro para mim que, quem estava mais à vontade, era da turma naturista. O resto se torturava com as mesmas angústias que eu. "Vão reparar quando eu tirar a roupa?". "Estou sendo ridículo por ainda estar vestido?". "E se chegar um conhecido, meu Deus?"
Nunca fui pudico, nem contestei moralmente a nudez. Meu problema é complexo puro e simples. Não sou desses que transa de roupa por vergonha do corpo, mas tenho minhas amarras.
Se eu fosse o Tom Hanks em 'Náufrago', faria o filme vestido, receoso que a bola Wilson me julgasse
Engordei e emagreci várias vezes. Perdi uns 15 quilos recentemente, mas estou longe do galã padrão. Já levei a questão para a terapia e minha mãe, que é médica, teme que eu desenvolva um transtorno alimentar.
Naquela aula de ioga, estavam todos os meus fantasmas de aceitação. Eles assombraram minha psique imatura, enquanto eu aguardava o momento de revelar minha nudez a estranhos.