"Essa vergonha eu não passei". A frase é de Pamella, 26 anos, torcedora do Corinthians e lésbica. Apesar de brincar com o fato de torcedores rivais do Corinthians terem cantado gritos homofóbicos, a corintiana sabe da seriedade do assunto e ressalta que o problema extrapola as arquibancadas e a rivalidade.
"Eu me coloco na posição da torcedora do Palmeiras. É a postura machista e preconceituosa. Eu pensava que a galera [pessoas preconceituosas] tinha voltado para o armário, mas estão todos saindo das covas, das tumbas. É pavoroso. Eu fico triste apesar de ser uma torcida rival, eu quero ver um jogo legal, não quero ter nojo. Porque cria um sentimento de nojo, tristeza, lamento e infelicidade", analisou.
Pamella não frequenta o estádio com a namorada por ela ser torcedora do São Paulo. Mas fora do esporte, vive situações de medo e enfrenta olhares preconceituosos na rua. "Na minha vida, eu já passo por situações de medo e precaução. Parece bobo, mas hoje eu tenho medo de beijar a minha namorada na rua".
"É como se o espaço fosse particular e ninguém pode deixar que 'outas pessoas', as minorias, entrem. Existe um medo das minorias tomarem um espaço de protagonismo. É um espaço que a gente nunca teve. A gente, minimamente, tenta lutar por direitos básicos. Infelizmente, o futebol reproduz muitos, muitos padrões machistas e homofóbicos. Patriarcais. O que acontece é que existia um início de movimento para tentar diminuir isso. Começou a existir essa discussão de uma maneira sutil. Com essas novas dimensões, a gente joga isso fora".