Nada a perder
Eu estava terminando o colegial e ia fazer vestibular para esporte, um curso recém-aberto na USP. Mas resolvi trabalhar numa loja de shopping para comprar minha moto, meu sonho de criança. Era vendedor da M. Officer das 15h às 22h. À meia-noite, começava numa assistência de seguro 24 horas. O cara ligava todo fodido no meio da madrugada e eu tentava acalmar o motorista: “Fica tranquilo que vou mandar um guincho e tudo vai dar certo”.
Um dia, estava saindo do Shopping Iguatemi para jogar bola e um scouter, o olheiro das agências, me abordou no meio da galera. Perguntou se eu queria ser modelo, disse que tinha o perfil. Meus amigos ficaram me zoando.
Quando eu falei para minha mãe e meus irmãos, eles disseram: “O que você tem a perder? Tá trabalhando numa loja de shopping, ia prestar faculdade e desencanou. Está com 18 anos e pode viajar”.
Quando eles falaram a palavra viajar, meu olho brilhou.