Uma vida transformada
Casimiro de Abreu, um dos maiores poetas brasileiros de todos os tempos, tinha saudades da "aurora da vida", do "despontar da existência", dos tempos "em que doce a vida era".
Adriana Calcanhoto imitou uma criança perguntando, em música lançada em 2004, "por que os dentes caem, por onde os filhos saem, quanto é mil trilhões vezes infinito?".
Os dois falavam de crianças de oito anos. Carlos Sánchez, jogador de futebol, nascido em Montevidéu, provavelmente nunca ouviu falar de nenhum deles. Mas discorda de ambos. Para o meio-campista do Santos, oito anos é uma idade de transformação. Foi nessa época que sua vida mudou. E por uma decisão do próprio Carlos, ainda criança.
O menino uruguaio foi marcado pelo abandono paterno. O pai da família simplesmente saiu. Nunca mais procurou os filhos ou a ex-mulher. Sem explicações ou respostas: "Foi simples assim", ele reflete. Ao lado de quatro irmãos e da mãe, Nelly, foi preciso recomeçar a vida em meio a profundas dificuldades financeiras. Foi aí que veio a decisão: era preciso ajudar a mãe, empregada doméstica, a pagar as contas. E, aos oito anos, passou a fazer testes em clubes para saber se o talento elogiado no bairro poderia um dia ajudar a família financeiramente.
Sánchez não se sente completamente confortável ao tocar no assunto. As dificuldades financeiras impuseram fome à família. Um passado que ele não apaga, mas ressente: "Foi uma realidade nas nossas vidas não fazer todas as refeições. Eu convivia todos os dias com isso, não tinha como evitar. Foi algo que eu tive que viver. Foi difícil, claro, mas deu força aos meus sonhos."
Para ele, oito anos é idade de correr atrás.