Os valores de Oscar

Sempre passional, Oscar se compara aos astros da NBA e fala de saúde, família e televisão

Daniel Neves e Fábio Balassiano Especial para o UOL, em São Paulo
Joel Silva/ Folhapress

"Você acha que eu não valho 25 milhões?"

Oscar é uma pessoa incomum. Antes de aceitar conversar com o UOL Esporte, passou vários minutos reclamando da linha editorial. “Você fala e o título não tem nada a ver com o que falou”. Mesmo assim, Oscar concordou em sentar com a reportagem e falar da vida. Sorte a nossa.

O Mão Santa é uma pessoa passional e suas opiniões mostram isso. Você pode se emocionar com a maneira como ele está enfrentando (e vencendo) o câncer. E, talvez, fique impressionado com o quanto ele treinou – “Ninguém treinou mais que eu. Não teria tempo”.

Dando risada da história do dia em que comeu chocolate demais ou do treino que nunca terminou só porque um companheiro brincou com ele, você vai entender todo o conjunto de valores que formam o jogador mais importante do basquete nacional nos últimos 40 anos.

Agora, o quanto vale Oscar Schmidt? “É claro que eu valeria muito, né? Quanto o LeBron James ganha? 25 milhões? Então eu também ganharia 25. Ou você acha que eu não valho 25 milhões?”

José Nascimento/Folha Imagem José Nascimento/Folha Imagem

Marcel é o melhor da história

Antes de mais nada, é preciso corrigir uma imprecisão que pode ter sido criada. Todos sabem que Oscar tem uma opinião muito positiva de seu próprio jogo. Mas ele está longe da figura egocêntrica que você deve estar imaginando.

Para começar, não se considera o melhor jogador brasileiro de todos os tempos. O posto pertence a Marcel, seu parceiro de seleção. “O Marcel é melhor disparado. Com muita diferença para o segundo lugar”.

O Marcel está no nível 100 e o segundo no nível 30. Acho que estou entre os cinco primeiros, ali no meio”.

REUTERS/Steve Dipaola REUTERS/Steve Dipaola

"Sou culpado pela falta de medalha da minha geração"

Outra prova está em sua análise de sua geração na seleção brasileira. Nos Jogos Pan-Americanos de 1987, ele e seus companheiros ganharam dos EUA, na primeira derrota internacional dos inventores do jogo. Mas em Olimpíadas, Oscar não foi ao pódio. Mesmo sendo o maior cestinha da história olímpica, com 1093 pontos em cinco edições dos Jogos, Oscar ficou no quase duas vezes: em Moscou-1980 e Seul-1988.

Não ganhou por minha culpa, eu que errei o arremesso decisivo. Não tenho o menor problema de falar, foi minha culpa mesmo. O cara bom tem que meter a bola quando ela conta, e nesse dia eu errei aquela bola nas Olimpíadas de Seul. E deixamos de disputar medalha. Foi a maior chance que a gente teve

Sobre a Olimpíada de Seul, em que o Brasil foi eliminado pela União Soviética nas quartas de final. Os soviéticos levariam o ouro naqueles Jogos

Também na Olimpíada de 1980. Perdemos da Iugoslávia. Estávamos na frente até faltar uns 3 minutos, quando entrou um magrelinho chamado Kresimir Cosic. Meteu 3 bolas e passaram dois pontos. A gente teve a bola para empatar, mas perdemos. Ganhando, teoricamente, a gente levava o ouro

Sobre os Jogos de Moscou, em que o Brasil tinha a chance de se classificar para a decisão, mas com a derrota ficou fora também do jogo da medalha

"Fiz muitos jogos melhores do que aquele de 87"

Oscar pode não ter conquistado uma medalha olímpica, mas estava em quadra na maior vitória do basquete brasileiro desde o bicampeonato mundial, em 1963. Ele fez 46 pontos. Marcel marcou 31. E o Brasil venceu os EUA por 120 a 115 na final do Pan-Americano de 1987, em Indianápolis. Foi a primeira derrota de uma seleção dos EUA em casa na história.

Quando acabou o jogo, chegamos no vestiário e tinha uma champanhe grande. O nosso roupeiro, o seu Chico, roubou do vestiário americano. Vê se pode...

Lembrando da comemoração de sua vitória mais emblemática

Os reflexos daquela vitória de 1987

Gregg Newton/Reuters Gregg Newton/Reuters

Os profissionais na Olimpíada

Um dos efeitos daquela derrota dos EUA foi a presença do Dream Team nos Jogos Olímpicos de 1992. A vergonha do Pan de 1987 fez os norte-americanos conseguirem a inclusão dos profissionais da NBA nas Olimpíadas - na Espanha, estiveram em quadra Michael Jordan, Magic Johnson e Larry Bird, por exemplo. "Sem dúvida me sinto responsável por isso".

David Zalubowski/AP David Zalubowski/AP

O estilo do Golden State

O outro é o sucesso do Golden State Warriors, campeão da NBA em 2015. "Os caras metiam o pau na gente porque chutávamos de três. Hoje o Golden State joga do mesmo jeito. Quem fala abertamente é o técnico: 'Vocês viram o Oscar Schmidt jogar? A gente joga daquele jeito'. Precisou de quanto tempo? Trinta anos para um time da NBA jogar assim".

Um técnico da seleção sugeriu que Oscar perdesse de propósito

Oscar deixou a NBA para trás por causa da seleção brasileira. Escolhido no Draft de 1984 pelos Nets, ele disse não ao convite do time porque, naquela época, jogador da NBA não podia defender sua seleção nacional. Por isso, ele nunca aceitaria a sugestão que um técnico fez ao time brasileiro no Mundial de 1990.

Era o último jogo da primeira fase e uma derrota grande colocaria o Brasil em um grupo mais fácil.

Era melhor a gente perder de 16. Iríamos para um grupo com Estados Unidos e Porto Rico. Ganhando o jogo ou perdendo de dez, a gente ia jogar com Iugoslávia e União Soviética. Muito melhor jogar contra Porto Rico, que era nosso freguês. Já estaríamos entre os quatro primeiros

Sobre o que levou o treinador a sugerir a derrota. O Brasil terminou em 5º lugar

Ele sugeriu no vestiário. Eu falei: "Você está de brincadeira comigo, né? Tem time esperando o nosso resultado, rapaz". Tem coisa que não dá para engolir... Foi no Mundial de 90, você deduza quem foi esse grande treinador brasileiro. Não falo o nome porque não merece a gentileza

Sobre sua reação após a sugestão. O técnico do Brasil no Mundial foi Hélio Rubens

Acabei jogando porque ele desistiu. Era contra a Austrália e os caras vieram no vestiário oferecer: "Vocês não querem perder de 16, não?" Perdemos de um ponto, com a bola na mão. Mas fizemos o nosso dever. Jogamos para ganhar. Está de brincadeira...

Sobre a derrota por 69 a 68

O lado de Hélio Rubens

O UOL Esporte falou com o técnico Hélio Rubens para que ele contasse o seu lado da história: "Lembro perfeitamente desse caso. A direção a CBB tocou nesse assunto de que poderíamos perder para irmos mais longe e, de maneira muito honesta, nos deu a liberdade para fazermos, como grupo de comissão técnica e jogadores, o que bem entendêssemos como a melhor situação. Levei o tema para todo grupo, mas eu mesmo era contra, porque era imoral, eu não gosto disso. Votamos todos, fomos contra e jogamos pra ganhar. Acabamos perdendo da Austrália errando o arremesso final, o que faz parte do jogo, mas jogamos pra ganhar, como sempre foi em minha vida. Saímos de cabeça erguida daquele campeonato e a vida continuou numa boa. Se tivesse jogado pra perder hoje em dia mesmo com uma medalha de Mundial no peito eu seria um cara menos feliz. Eu aprendi que temos que fazer na nossa vida tudo de maneira correta", disse o treinador.

Oscar já fez rival chorar no vestiário

Antônio Gaudério/Folha Imagem Antônio Gaudério/Folha Imagem

A obsessão pelos treinos

“Gostaria de ser lembrado como o cara que mais treinou no planeta. Porque essa é uma verdade. Não dá para fazer o que eu fiz, não dá tempo. Tenho um orgulho danado de disso. É isso que me fez jogar basquete. Eu acredito pouco em talento e muito em treinamento”.

Histórias sobre a obsessão de Oscar com treinamento são lendárias. Você vai conhecer cinco: o dia em que deixou a mulher em trabalho de parto, os seis meses passando fome em São Paulo, o desafio das 20 cestas de três seguidas, o dia em que fez seu time voltar de casa para o treino e a preparação para o All-Star Game da NBA.

Confira: 

Deixou a mulher em trabalho de parto e foi treinar

Folhapress Folhapress

Passou fome para continuar jogando

A obsessão pelos treinos de Oscar começou a aparecer quando ele deixou a família em Brasília para defender o Palmeiras. Em São Paulo, morava com oito jogadores em uma república e treinava em três categorias diferentes. Mais do que cansaço, nos primeiros meses ele teve de superar a fome para vencer no basquete.

“Quando era moleque, treinava com o infanto-juvenil, o juvenil e o adulto. E morava em uma república. E você sabe: em república todo mundo é inimigo na hora de comer. Ninguém guarda nada para ninguém. Então, comiam tudo! Quando eu chegava não tinha feijão, só arroz. Eu não comia nada. Só um misto frio. E aquilo lá não forrava. Entrava em desespero e ia dormir com fome”, lembra.

"Sabe o que é dormir com fome? Um cara que treina para cacete ir dormir com fome? Se meu pai soubesse que estava faltando alguma coisa para mim vinha me buscar na hora. Minha carreira ia acabar”.

As coisas só melhoraram depois de seis meses. “Um dia eu não aguentei. Ele [Claudio Mortari, então técnico do Palmeiras] me viu chorando no vestiário e contei para ele. Daí em diante a minha vida mudou. No dia seguinte, fui conhecer o doutor João Marino [diretor de basquete do clube], que perguntou quanto me deviam. O cara colocou numa caderneta de poupança que ele tomava conta. Minha vida mudou da água para o vinho”.

O dia em que Oscar fez um time treinar da manhã até a noite

Descanso só depois de 20 cestas de três. SEGUIDAS

Eu treinei todos os dias, duas vezes por dia, fazendo pelo menos mil arremessos a mais do que aqueles que já fazia nos treinos. E outra, chegou uma hora, quando eu jogava na Itália, que falei: "Agora eu só vou para casa quando eu fizer 20 seguidas de três"

Sobre sua rotina de treinos

Geralmente, saía na primeira, na segunda e na terceira. Eu já estava treinado, tinha arremessado 500 ou 600 vezes. Mas às vezes... 18 e tóim! Um, dois, três, 17 e tóim. Só ia embora com as 20. E quando fazia a vigésima, continuava para ver até onde ia

Lembrando como era difícil parar de treinar

Adivinha em quanto que parou isso? Noventa! De 3 sem errar. O time do Flamengo todo sentado e torcendo. "Está em 60!" Aí começava a doer a palma do pé, porque você faz sempre o mesmo movimento. Noventa!

Sobre até onde foi a obsessão

Fernando Moraes/Folhapress Fernando Moraes/Folhapress

Eu não gostava de pegar rebote. Então, o Ary Vidal me prometeu um Sonho de Valsa para cada rebote. Fui parar no hospital porque comi 66 Sonhos de Valsa de um dia para o outro. Pensei que estava com hepatite, mas o médico falou: "Não, você está com intoxicação alimentar". Hoje eu como 10, no máximo

Contando uma das histórias clássicas sobre seu apetite

Jonathan Bachman/Getty Images/AFP Jonathan Bachman/Getty Images/AFP

Aos 58 anos e em tratamento de câncer, treinou diariamente pela NBA

O último capítulo da obsessão foi vivido há poucos meses. Entre janeiro e fevereiro de 2017, ele treinou por 30 dias para sua estreia na NBA. O ex-jogador foi convidado pela liga norte-americana para uma série de homenagens, incluindo a participação no Jogo das Celebridades do All Star Weekend.

O Mão Santa ficou 11 minutos em quadra, acertou os dois arremessos que tentou e saiu de quadra bravo com a treinadora de sua equipe, a apresentadora da ESPN dos EUA Jemele Hill.

Aquela mulher não sabia o que tinha na mão. Joguei 11 minutos, pô. Treinei um mês para jogar 11 minutos. Um mês, todos os dias!”

“Ainda me perguntaram quantos minutos eu queria jogar. Eu falei 48, mas o cara disse quer eram só 40. Eu falei: ‘então 40’. E o cara achou que eu estava brincando!” 

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"Só faltava eu ficar chorando. Pô, a minha vida foi linda!"

Luta contra câncer vai de benção do Papa até centro espírita

Está fazendo tratamento, mas médico disse que tumor sumiu

Uma vez por mês faço cinco dias de quimioterapia. Espero que não volte, né? Porque o meu tumor tem a capacidade de melhorar ou piorar. O primeiro foi grau 2. Ainda não era maligno, mas também não era benigno. Fui para casa e, dois anos depois, voltou minúsculo. Só que veio grau 3. Então, a chance de ter de novo, e com grau 4, é enorme

Sobre a gravidade da doença

Outro dia, meu médico me chamou: "Oscar, preciso dar uma palavrinha com você". Pensei: "Meu Deus, vai vir de novo". Mas ele falou "Oscar, tenho que te dar os parabéns, a sua ressonância nunca esteve tão boa". Acho que estou fazendo coisa certa. Não deixo de falar para o meu médico tudo o que vou fazer, mas está controlado

Sobre o seu estado atual de saúde

Acervo UH/Folhapress Acervo UH/Folhapress

Ligação após doença mostra rixa com geração campeã mundial

O Brasil foi bicampeão mundial de basquete, conquistando o título em 1959 e 1963. Essa geração dourada, porém, nunca se deu muito bem com Oscar, o melhor jogador do país desde então. Críticas sobre seu estilo de jogo sempre irritaram o Mão Santa: “Os caras são bicampeões mundiais, cara. Tenho respeito por todos os jogadores de basquete do Brasil. Mas vem e fica criticando quem ganhou alguma coisa?”, diz o ex-jogador.

Esse climão ficou evidente depois do diagnóstico de câncer de Oscar, quando Amaury, um dos ícones daquela geração, tentou falar com ele.

“Um dia me ligou um Amaury. Pensei que era o Mauri e falei: ‘Ô, Mauri, você tá bom meu velho?’. E ele falou: ‘Não, aqui é o Amaury [Pasos, bicampeão mundial]’. E eu falei: ‘Você está de brincadeira ligando para mim? Para desligar o telefone e falar mal de mim? Não me ligue mais, cara’. E desliguei o telefone".

"Por que ele tem que ligar para mim? Acho que ele está com dor na consciência porque eu tive tumor na cabeça. Porque abri a cabeça duas vezes, estou para morrer e ele está com dor na consciência? Não me ligue mais, cara.  Não vou nem falar o que ele falou em um Bola da Vez. Fiquei com vergonha por ele. Denigre a imagem”.

Eduardo Anizelli/Folhapress Eduardo Anizelli/Folhapress

Há seis anos em tratamento, arritmia quase o matou

O diagnóstico de câncer no cérebro veio em 2011. Desde então, Oscar está em tratamento. Já foram duas operações na cabeça e inúmeras idas e vindas aos EUA, onde buscou tratamentos experimentais. Mas foi em uma viagem de férias para Orlando, para onde sempre vai de férias, que as coisas se complicaram.

“Não sei porque ainda vou aos EUA. Toda vez acontece alguma coisa. A última foi uma taquicardia. Fazia um tratamento, inalava um negócio e começou a dar tosse. De repente, só vomitava, não conseguia comer nem beber nada. Fui ao hospital e estava com 170 [batimentos por minuto] em repouso”, conta.

“Fizeram um procedimento que mata você e depois te acorda. Resolveu por uns três dias. Voltei para o Brasil e fui no meu médico, que falou: ‘Oscar, não vou te deixar sair daqui, está com 170’. Foi o maior cansaço que tive na vida. Fiquei internado”.

Vou para os EUA e alguma coisa acontece. E eu continuo indo. Acho que vou morrer lá”.

AFP/Luke Frazza AFP/Luke Frazza

"Eu queria ser presidente do Brasil"

Do Senado para a Presidência seria um pulo

Enquanto jogava na Itália, Oscar nutria um sonho: voltar ao Brasil e se tornar presidente da República. Quando voltou ao Brasil, resolveu colocar o plano em ação: foi candidato, em São Paulo, ao Senado em 1998, pelo PPB. Não foi eleito, mas recebeu quase seis milhões de votos, terminando em segundo lugar – a única vaga ficou com Eduardo Suplicy (PT).

“Maldita a hora em que entrei nesse negócio. Porque não vale a pena, cara... Eu era muito ingênuo, bem criança nesse sentido. Passei 13 anos na Europa sonhando em ser presidente da República. Fui candidato ao Senado porque é um pulo, né? Vira senador, aí tem oito anos para ser candidato à Presidência. Mas não vale a pena! Quem tem alguma coisa a perder que fique longe da política. Porque vai respingar em você”, analisa.

Minha mulher torceu contra. Votou em mim, mas torceu contra. Hoje eu agradeço a Deus que perdi aquele negócio, porque eu ainda joguei 5 anos de basquete, que é a minha vida. Não tenho que me meter em outra história”.
 

Eduardo Knapp/Folhapress Eduardo Knapp/Folhapress

Pessoas se recusavam a pegar santinho por causa de Maluf

A filiação ao PPB, partido de Paulo Maluf (que concorria ao governo de SP), não foi tanto ideológica. Foi mais uma oportunidade. “Maluf foi o único cara que me deu chance. Mais ninguém me deu chances. Não adiantava eu falar que queria ser candidato [em outros partidos]. Respondiam: ‘Aqui não tem lugar para você’. Mas ele me deu a chance”.

Ligar seu nome a um dos políticos mais polêmicos de São Paulo, porém, rendeu momentos inusitados. “Lembro que as pessoas não queriam pegar a bolinha que eu distribuía. Estava escrito Oscar de um lado e Maluf do outro. Como se fosse um pecado. Eu dizia ‘Você não vai pegar por que está escrito Maluf? Mesmo de graça?’ Tá de brincadeira, né...”

Eu me arrependo, mas não pelo Maluf. Pela política. Que ambiente podre. Podre. Ninguém pensa no país. Essa é a pior coisa que eu vi lá. E agora está saindo todos os rombos aí. Claro que todo mundo quer ser político. Com esse monte de dinheiro que eles ganham.... E não me surpreende em nada. Eu vi! Vi tudo! Não tem nada que possa me surpreender

Sobre a sua vida política

Olga Lysloff/Folhapress

Oscar na TV

Reprodução Reprodução

Reality show: "Queriam me ver fazendo cocô"

No ano passado, a Fox Sports exibiu seis episódios de um reality show com a família de Oscar. O “Família Schmidt” mostrava o cotidiano do Mão Santa e sua mulher, Maria Cristina, além do filho, Felipe. Ele não gostou da experiência. “Imagine 12 pessoas aqui dentro de casa todos os dias. Falei ‘no meu quarto ninguém entra’. Os caras queriam me ver fazendo cocô, você está de brincadeira! Tudo tem limite na vida, meu amigo! Só faltava essa, Ave Maria”, diz.

A minha filha não quis fazer e eu dou razão a ela. Eu repetiria, mas com mais regras, sem muita invasão. Os caras queriam me ver brigando com a minha mulher. Quase deu certo porque um dia eu escondi a carteira dela e ela ficou doida. Quando devolvi a carteira ela me deu uma bronca. Brigamos. É inevitável, entendeu? É isso que eles queriam ver, briga

Sobre os problemas durante a gravação do programa

João Cotta/Globo/Divulgação João Cotta/Globo/Divulgação

Sabe o Tadeu, do Fantástico? Oscar negociava seu contrato...

Nós conversamos sobre tudo. Sou o irmão-pai dele. Durante muitos anos ele me perguntava até que gravata ia usar. O Tadeu sempre foi um aprendiz assíduo comigo. Eu fazia até os contratos dele. Mas uma hora parei. Ele ia acabar sendo mandado embora. Falei: 'Olha, Tadeu, fiz o meu máximo. Agora você vai lá e resolve a situação'. Falava para ele o que tinha que falar e ele falava. Só que chegou um momento em que falei 'vão cancelar o contrato do cara'. Isso foi em Pequim. Foi a última vez"

Sobre o relacionamento com o irmão mais novo

Eduardo Knapp/Folhapress Eduardo Knapp/Folhapress

A multa (quase) milionária que pagou para a Globo

Oscar foi comentarista da Globo até 2009 e tinha um contrato longo com a emissora carioca. Mas a Record, então iniciando seu projeto olímpico, ofereceu um caminhão de dinheiro para o Mão Santa “trocar de time”. Ele aceitou, mas acabou processado pela antiga emissora.

“Quebrei o contrato e foi culpa minha. Aí, a Globo veio para cima de mim, me acionou na Justiça e eu gastei uma grana com eles. E parou por aí. Perdi, lógico. Se eu rompi o contrato. Perdi uma grana boa, não vou nem dizer quanto ou você não vai dormir mais”, brinca.

Perdeu um milhão?

“Não, não foi tanto. Mas foi bastante. E eu que paguei. Não a Record”.

E não fique esperando ele falar em arrependimento...

A minha vida é assim. Quantas vezes tive que fazer escolhas jogando basquete? Você sabia que eu podia ter jogado no Real Madrid? Eu tenho um contrato de 3 anos assinado pelo presidente. Não fui para o Real Madrid porque o presidente do Caserta, que me levou para a Itália, não deixou. Eu lembro que um dia ele queria falar comigo. Eu pensei: 'Puta merda, eu vou tomar esporro'. Eu estava lá, esperando. De repente, abre a porta e pá: 'Que história é essa de que você vai sair daqui?'. Eu falei que estava com um contrato com o Real Madrid. 'Quantos anos eles te dão?'. 'Três'. 'Eu dou quatro. Tá bom?'. Eu falei sim"

Comparando a mudança de TV com a mudança de clube

Pedro Ivo Almeida/UOL Pedro Ivo Almeida/UOL

Um romântico atrapalhado

Oscar é casado com Maria Cristina desde 1981. E avisa: é muito ciumento. Tenta, também, ser romântico. Mas acaba se atrapalhando.

“Um dia, ela tentou fazer uma surpresa para mim, mas acabou surpreendida. Ela comprou um relógio que eu estava namorando. Mas eu peguei uma aliancinha que ela sonhava e botei no negócio de descansar braço do avião. Mas foi ficando lá. Eu fiquei de olho, né. Se aquele negócio rola, vai embora e quem achasse não ia devolver. Quando achou, ela chorou, rapaz. Porque ela me deu a surpresa dela, estava toda feliz e, de repente, ela olha e a aliança que ela sonhava... Foi um momento lindo”.

As cartas rasgadas das fãs

Na Itália, quem olhasse o cesto de lixo da casa dos Schmidt corria o risco de encontrar fotos rasgadas de garotas. Mas não era ciúmes de mulher. Era a tentativa atrapalhada de ser romântico do gigante jogador de basquete. “As meninas mandavam cartas com fotos na Itália. E eu rasgava para a minha mulher não ver. Apesar de ser extremamente fiel a ela, não acredito que tenha alguém no planeta mais fiel que eu porque não é possível, eu rasgava porque ela ia ficar com ciúmes. É natural um negócio desse”.

Oscar agora é palestrante profissional

Aprendendo a falar com o público

Fui na base de tentativa e erro. Fui fazer palestra de terno. Vi que não funcionou bem e já tirei o terno. Morria de vergonha de subir lá e falar com as pessoas. Uma vergonha tremenda, mas eu falei: "Eu tenho que vencer esse negócio". E a pior parte são os vícios de linguagem, você não pode fazer isso como palestrante. Fui tirando um a um, tirei todos

Sobre as primeiras palestras

Chega um momento em que você não consegue melhorar sozinho. Foi aí que eu contratei o João Cordeiro para ajudar. Ele é um fenômeno dos eventos. Montamos três palestras: uma sobre liderança, uma sobre desafios e uma chamada obstinação, que é a que eu mais faço. Falo sobre cinco valores: visão, decisão, time, obstinação e paixão

Sobre como 'profissionalizou'

Antes da crise eu fazia de 8 a 12 palestras por mês. Depois da crise, passei a fazer 5, que já é bom demais

Sobre a sua situação atual

Palestra gratuita em Caruaru

O grande problema de Oscar na nova profissão aconteceu em 2014, em uma palestra em Caruaru, em Pernambuco. Após atraso e problemas técnicos, o Mão Santa saiu criticado do palco. “Esse episódio lá de Caruaru arrebentou comigo. Não dava nada certo. Na verdade, eles estavam esperando um show, mas eu não vou dar show. Vou falar da minha carreira de uma maneira divertida. Pelo menos eu aprendi como funciona o negócio lá”.

Segundo ele, os organizadores da palestra atrasaram ao buscá-lo para o evento e, ao chegar, encontrou uma plateia cansada de esperar. Além disso, encontrou problemas técnicos em sua apresentação. Somando tudo isso, as pessoas não entenderam o que ele estava tentando falar.

Fiquei triste mesmo. Muito triste. Ainda bem que a Cris [sua mulher] estava lá, vendo. Se eu contasse, ela não ia acreditar em mim. Gostaria muito de ir lá fazer uma palestra gratuita, em que ninguém ganha nada, de portas abertas, para resolver isso

Sobre o que gostaria de fazer

As pessoas foram embora falando que eu estava xingando. Eu não xinguei ninguém. Tem palavrão na minha palestra, mas eu aviso que vou falar palavrão. Os palavrões estão dentro do contexto. As pessoas vão dizer que eu xinguei, mas eu não xinguei ninguém

Negando briga com o público

Tinha 2.500 pessoas. Sem refrigeração. Quer dizer, as pessoas estavam lá há muito tempo, os organizadores da palestra ficaram de me pegar às 16h e me pegaram às 17h30, o povo lá desde as duas. Faz a conta aí. Fica todo mundo irritado, né?

Explicando o que aconteceu

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