Consagrou

Milton Leite fala de bordões, jogadores mimados, política e do por que não será o novo Galvão Bueno

Felipe Pereira e Leandro Carneiro Do UOL, em São Paulo
Reprodução UOL/Vídeo

Muito além do "Que Beleza"

Você pode conhecer Milton como aquele narrador engraçadão. “Agora eu se consagro”, “Que beleeeza” e “Meeeeu Deus” já entraram para o vocabulário popular e ele se diverte com isso. Mas o Milton Leite pessoa física é mais do que os bordões. Suas posições sobre torcidas organizadas, jogadores de futebol, política e imprensa nem sempre fazem coro com a opinião da maioria.

Para o narrador, Neymar, o queridinho da seleção, por exemplo, é alienado. As delações premiadas fazem o crime compensar. Sua avaliação sobre polícia e Ministério Público criam a imagem de instituições preguiçosas. Temer foi tachado de golpista. Que faaase, como diria ele.

A carreira é vista de forma pragmática. Ele conta como decidiu sair da ESPN e escolher o microfone do SporTV, fala do sonho de trabalhar na TV aberta mas avisa que não vai ser o novo Galvão Bueno da Globo – para ele, não há mais tempo para isso.

Seguindo o jogo, sabia que Milton Leite estuda piano, entrou na faculdade graças ao talento no vôlei e troca qualquer partida de futebol por uma tarde com a família? E, para quem gosta de uma boa polêmica, fique tranquilo. Ele falou, sim, sobre ter chamado Rogério Ceni de chato...

"Jogadores não sabem metade do que acontece no mundo real"

Boleiro não liga para derrota

Estar próximo do futebol pode ser o emprego dos sonhos para a maioria dos brasileiros. Mas tem efeito colateral. Acompanhar de perto faz com que a paixão diminua. Foi o que aconteceu com Milton.

“Você vê o torcedor ficar desesperado quando o time dele é eliminado ou perde um jogo importante. Mas você percebe que, no meio do futebol, isso não é assim. O jogador, mesmo, não fica tão abatido. Ele sabe que daqui um mês, ele vai estar em outro time”.

“Já vi jogador perder uma ‘final imperdível’, como diria o poeta, e na mesma noite ir para o shopping fazer compras. A boleirada não liga. O torcedor se descabela e eles não estão nem aí”, conta. O resultado disso?

“Hoje eu não torço por futebol como eu torcia quando era garoto. Mesmo que o meu time esteja jogando, não deixo de fazer alguma coisa com minha família”.

Fabio Braga/Folhapress Fabio Braga/Folhapress

"Organizadas são uma milícia"

Milton Leite não admite publicamente o time para que torce. Não por temer que sua opinião seja confundida com clubismo. Para o narrador, o ambiente do futebol é violento, similar ao de guerras. E culpa a atuação das torcidas organizadas por isso.

“Eles são uma milícia, que se juntam para brigar e quebrar estádios. Eu sou de um tempo em que as organizadas embelezavam o espetáculo, com bandeira e bateria no estádio. Era legal de ver. Agora, não pode mais bandeira porque eles pegam o pau para dar num adversário. Não pode bateria porque serve para jogar na cabeça do outro”.

Ele não defende o fim das torcidas, mas ressalta que é necessário prender os “bandidos” infiltrados. “Eles matam e muitas vezes nem é no estádio, é no entorno. É no metrô, no trem. Se o cara é bandido e está na torcida organizada, ele tem de ser preso. O que me incomoda um pouco é a gente querer tratar organizada como se fosse um mundo diferente. Não é. Se você dá um tapa em um policial na rua, vai preso. Mas se é no estádio, fica confinado em uma sala e é liberado depois do jogo”.

"As pessoas não têm ideia do que a gente passa em estádio"

Pedro Ivo Almeida/UOL Pedro Ivo Almeida/UOL

Vasco e a ameaça

Em 2001, quando ainda trabalhava na ESPN, Milton Leite transmitia um jogo de basquete do Vasco no ginásio do Tijuca e comentou que os atletas estavam três meses sem receber salário. Era um relato dos próprios jogadores. Eurico Miranda, presidente do Vasco naquela época, ouviu de casa o ocorrido e foi para o ginásio. Quando o narrador olhou para trás, foi ameaçado: "Se repetir esse negócio dos salários atrasados, você não sai daqui vivo hoje". Milton, então, relatou na transmissão que havia sido ameaçado. Foi a única vez que o locutor deixou uma partida no carro da polícia por segurança.

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Invasão na cabine

Já no SporTV, ele teve de encarar um clima de guerra na Vila Belmiro. Depois dos jogos anulados devido ao escândalo do apito em 2005, ele foi ao estádio para o novo duelo entre Santos e Corinthians. A derrota do time da casa fez com que torcedores culpassem a Globo. Invadiram a cabine, jogaram equipamentos no chão e só não agrediram os profissionais porque um assistente se defendeu com uma régua elétrica. "Ele deu com a régua na mão do cidadão, que caiu da cabine. Quando invadiram, pensei que meu pai, hoje com 86 anos, e minha mãe estavam vendo e pensando o que estava acontecendo com o filho deles".

Em muitos lugares, você é ameaçado. As pessoas te xingam e jogam papel. O estádio é ainda uma coisa que me preocupa. Eu procuro chegar muito cedo quando vou fazer jogo em estádio e espero até depois da saída das torcidas. Ali, ainda tem uma coisa beligerante, de guerra

Sobre como é ir ao estádio no Brasil

"Senhoras e senhores, o Fenômeno voltou"

Arte UOL Arte UOL

Bordões inspirados em amigos

“Que beleza”, “agora, eu se consagro”, “que fase”, “a batiiida”, “seeegue o jogo”. Narrar com bordões é a marca de Milton Leite. Mas ele garante: tudo aconteceu “sem querer”. “Nenhum dos bordões foi planejado. Desde que decidi investir na minha carreira de narrador, em nenhum momento eu me projetei para ser um cara de bordões. Procuro ser o mais natural possível”.

Para provar a afirmação, ele conta a história de uma de suas frases mais famosas: “A maior parte dos bordões não fui eu que criei. O ‘Que Beleza!’, que talvez seja o mais famoso, foi uma expressão que o Wanderley Nogueira, com quem trabalhei por oito anos na (TV) Jovem Pan, sempre usou neste sentido jocoso. Com a convivência, acabei pegando. Na ESPN, deixei escapar numa transmissão. Afinal, já fazia parte do meu vocabulário diário. Quando percebi que as pessoas gostaram, ficou”.

Uma vez um diretor perguntou se eu havia percebido que tinha um erro de português no "Agora eu se consagro". Disse que, talvez, não fosse boa influência. Então, teve uma época em que falava: "O Ministério da Educação adverte que havia um erro na frase"

Sobre outro de seus bordões

Bruno Poletti/Folhapress Bruno Poletti/Folhapress

Estreia na narração foi substituindo Flavio Prado

A primeira grande experiência com narração surgiu de uma maneira inusitada na Jovem Pan. Após passar pelo rádio em Jundiaí, ele trabalhava em São Paulo em um programa de variedades. Mas em um projeto experimental, Milton era escalado para comandar pré-jogo, intervalo e pós-jogo. Os narradores oficiais eram Milton Neves e Flávio Prado. Até o dia em que Prado não pôde fazer um jogo.

“Era domingo e me falaram: só tem você. Então, eu fui. Eu lembro que era um Palmeiras e Portuguesa, no Pacaembu. Acabei narrando o jogo e, aparentemente, os caras gostaram. Tiraram o Flávio da narração”, conta, aos risos. “Ele virou comentarista e eu narrador naquela época. Virei narrador meio que por contingência”.

Quando surgiu o convite da ESPN, em 1995, o locutor viu ali uma grande oportunidade de crescer na carreira. “Quando o Trajano começou com o projeto da ESPN, o Flávio Prado falou: tem o Milton lá na Jovem Pan e ele narra direitinho. Foi então que o Trajano me chamou para conversar. Primeiro, cobri férias do Paulo Soares. Mas como o canal estava comprando direitos de muitos eventos e crescendo, eu fui ficando. Fiquei na Jovem Pan e na ESPN quase três anos fazendo as duas coisas, até que resolvi que poderia dar mais jogo ficar apenas na narração”.

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Sucessor de Galvão Bueno? "Não alimento essa esperança"

Milton Leite chegou a ser apontado como sucessor de Galvão Bueno em algumas vezes. Ele teve oportunidades na TV aberta que considera “muito bem-sucedidas”. Teve bons resultados de audiência e repercussão positiva. Mas assumir a vaga do principal narrador do país quando ele parar? Não, não é uma meta.

“Nunca, em momento nenhum, alguém chegou para mim e disse que, se o Galvão parar amanhã, eu seria o sucessor. Nunca teve essa conversa e sei que tem outras pessoas na minha frente. Não alimento a esperança de achar que um dia serei o narrador número um da TV Globo”, falou.

Já são três anos afastados da principal emissora de TV do país devido a compromissos com o SporTV. “A direção da Globo disse que eu seria muito mais exigido pelo SporTV e acabei não sendo mais escalado na Globo. Foi muito bom o tempo que fiquei lá. Aprendi muita coisa e poderia ter evoluído dentro da TV aberta se tivesse tido uma sequência maior. Não fico chateado por não fazer mais, já que faço coisas muito legais no SporTV”.

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Às vezes, um palavrão escapa

“As pessoas que assistem acham que aquilo é um mar de rosas”. Não é, avisa Milton. “É uma tensão danada. Uma transmissão de televisão deve envolver, por baixo, cerca de 50 pessoas. Você tem o pessoal do caminhão, meia dúzia de câmeras, caboman, o cara do áudio, o cara do vídeo, diretor de TV, coordenador... E eu tenho no meu ouvido ao menos três pessoas falando comigo. É o coordenador do caminhão, o diretor de TV e o cara que está lá no Rio, na central da emissora, recebendo as imagens”, conta.

“Além disso, você coordena dois repórteres, às vezes dois comentaristas, e, além de fazer o meio-campo, você tem de controlar o número de inserções comerciais da transmissão. Tudo isso quem controla é o narrador. Então, é um troço tenso. São três horas de concentração e, além de tudo, tem que prestar atenção no jogo e narrar direito”.

É uma coisa estressante, por isso que de vez em quando o palavrão sai".

Foi assim na Olimpíada do Rio de Janeiro, durante a prova de Thiago Braz, que conquistou a medalha de ouro no salto com vara. Milton Leite acabou soltando um palavrão ao falar com o coordenador do caminhão: “Deixa eu falar, porra”.

Recentemente, um “caralho” vazou. Ele foi chamado para participar do Troca de Passes, mas não estava escutando nada. O narrador conta que aquele episódio foi uma sequência de erros, a começar por um dele mesmo. “O primeiro erro, primordial, foi o meu ao ter falado um palavrão. Mas o coordenador do caminhão não deveria ter deixado a minha imagem ir para o Rio. E o cara do Rio, que recebe o sinal antes de passar para o programa, deveria ter dito ao coordenador que ainda não estava pronto. Já o cara que põe programa no ar deveria ter percebido que não estava pronto”.

Não chegou a ser uma bronca homérica. Mas me ligaram, conversamos, perguntaram o que aconteceu e me pedem para ter mais cuidado. Mas que eu levo um puxão de orelha, eu levo

Sobre os resultados dos escorregões durante as transmissões

Montagem sobre foto de divulgação/UOL Montagem sobre foto de divulgação/UOL

PES, Fifa e o vira-casacas dos games

Depois da Copa de 1998, Milton Leite ficou uns dias na França aproveitando Paris. Um recado na recepção do hotel fez a voz dele parar nos videogames. Ao ligar no número indicado, conheceu a empresa que produz o game Fifa. “Eles me falaram que queriam muito a voz do jogo aqui no Brasil. E estavam buscando uma voz nova. Eu tinha acabado de fazer a minha primeira Copa do Mundo”.

O convite virou um bico que faz muito bem para o bolso, mas é um trabalho árduo: em sua primeira temporada no PES, por exemplo, foram 13 mil arquivos gravados. Outra descoberta foi que os gamers tratam os jogos como torcedores tratam os clubes.

“Eu só percebi que existem os ‘fifeiros’ e os caras que são do PES quando fui gravar o PES. Eles são fanáticos, são comunidades que jogam. Os caras me falaram ‘não é possível, você é do Fifa e não pode mudar’ (risos). Tem cobranças, eles são meio que torcidas organizadas”.

Xingamentos o fizeram abandonar o Twitter

O tempo ensinou Milton Leite a lidar com os haters na internet. Até assimilar a lição, o narrador teve dias incômodos e abandonou o Twitter. ‘Idiota’, ‘não sabe narrar’ e ‘torcedor do outro time’ são algumas mensagens mal-educadas que recebeu. As ofensas faziam o jornalista bater boca online.

Quando o cara é desrespeitoso, eu vou lá e bloqueio e ignoro. Antigamente, eu respondia e xingava os caras no Twitter”

O narrador lembra que as grosserias aumentaram quando a ESPN começou a crescer. Uma reclamação constante – e que Milton Leite não entende - é a de que grita mais quando um time faz gol.

“Já teve cara que veio me falar essa coisa do gol. ‘Milton, eu percebi que o gol de tal time você narrou por 20 segundos e que de outro tem 10 segundos só’. Agora, você acha que, na hora em que estou narrando um gol, eu estou cronometrando? Não existe isso”.

Divulgação Divulgação

Imprensa é leviana em certas ocasiões. Inclusive o UOL

Ter um erro escancarado para o Brasil é ruim. Milton lida bem com a situação porque sabe que é uma personalidade pública. “Não vejo nenhum problema em um site dizer que eu falei um palavrão no ar, como já aconteceu algumas vezes. Só acho ruim quando isso é leviano ao tentar denegrir a sua imagem sem perceber o que está acontecendo naquela história”.

O narrador cita o famoso caso em que chama Rogério Ceni de chato. A cena correu o país. Milton não gostou porque nunca foi procurado para explicar o contexto da frase e, ainda, porque o sinal do SporTV foi pirateado na ocasião. Entre os produtos que o jornalista considera que comentem exageros está o Blog UOL Esporte Vê TV.

“Conheço e leio quando o título chama a atenção. Acho que a maior parte dos casos trata dos temas que estão no ar. Mas, às vezes, tem uma certa maldade ao pegar algo sem muita relevância e tornar aquilo algo maior”.

Fernando Santos/Folha Imagem Fernando Santos/Folha Imagem

"Rogério Ceni é chato pra c..."

Milton Leite não nega que chamou Rogério Ceni de “chato”. Mas trata o caso com naturalidade. O narrador conta que, algum tempo depois do episódio, o assessor de imprensa do São Paulo esteve na cabine do SporTV em um jogo do Morumbi e disse que o goleiro até achou engraçada a situação.

“Isso não deu em nada, mesmo. Encontrei o Rogério depois, em aeroporto e hotel. Dois anos atrás, quando o Rogério ganhou o prêmio dos melhores do Brasileirão, no programa do Galvão, ele brincou com isso. Disse que não iria me cumprimentar e passou direto. Depois, ele sentou do meu lado e ficamos conversando”.

Pode não ter dado nada com Rogério. Mas com a torcida do São Paulo... Milton conta que já foi ameaçado na porta do Morumbi. O incidente não passou de um susto, mas o narrador reclama que era uma frase fora do ar e veiculada sem contexto. “Este episódio aconteceu num Santos e São Paulo, na Vila Belmiro. A seleção brasileira estava na Venezuela para disputar a Copa América. O Rogério estava com a seleção, inclusive. A gente estava esperando para entrar no ar enquanto estava rolando uma entrevista com ele. Por isso que disse que estava chato aquilo”.

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"Se o cara é engraçadinho, pode ser humorista. Não jornalista"

O jornalismo engraçadinho ganhou espaço em várias atrações esportivas da televisão brasileira. O fenômeno morreria na casca se dependesse de Milton Leite. Ele avalia que, para alguns profissionais, é mais importante ser engraçado do que informar.

“Jornalismo é jornalismo. Se o cara é engraçadinho, ele pode ser humorista, não jornalista. São duas coisas diferentes”, diz. O narrador admite que pode soar contraditório justo ele, um cara que brinca muito nas transmissões, reclamar da situação.

“Em nenhum momento, as brincadeiras são mais importantes do que o jornalismo que eu faço. O que não pode é o engraçadinho ser mais importante do que o tema da matéria. Claramente tem um exagero de pessoas que acham que, para se sobressaírem, tem de fazer graça”.

Como jornalista, parte do meu trabalho é avaliar o trabalho do esportista e fazer críticas à decisões. Eu não posso ser amigo deste cara

Sobre ser amigo de atletas e técnicos

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USP e Ditadura

Milton Leite morava em Jundiaí, filho de uma família alheia aos debates políticos. Conheceu um mundo novo quando foi fazer jornalismo na USP em 1978. Tempos em que o regime militar começava a afundar. "Quando comecei a frequentar as aulas na USP era um outro mundo. Aquela coisa politizada, greve e os estudantes sempre tinham manifestações, reivindicações e assembleias".

"Exagerei com o Bruno Octávio. Passou do ponto"

Segue ou bloqueia?

Pedro Martins/MoWA Press Pedro Martins/MoWA Press

Tite

Eu não tenho a menor dúvida, é o Tite que faz a diferença. Ele está muito próximo dos principais técnicos europeus. O Tite tem essa relação de confiança, algo que não tinha antes. Os caras se sentem mais à vontade na seleção

Pedro Ivo Almeida/UOL Pedro Ivo Almeida/UOL

Gabriel Jesus

"Tem uma característica importante: a ligação com a família, com a mãe. Eu torço muito para ele, acho que vai dar muito certo. Vai chegar a ser craque e tem uma boa chance de estar entre os melhores do mundo".

Arquivo pessoal Arquivo pessoal

Milton Neves

"Tenho restrições pelo jeito com que ele encaminha a carreira. Não é como eu encaminhei a minha. Eu acho que publicidade e jornalismo são coisas que não se misturam. Agora, cada um faz o que acha que tem de fazer".

Dida Sampaio/Estadão Conteúdo Dida Sampaio/Estadão Conteúdo

Sérgio Moro

"É um juiz que ficou embevecido com o poder, com o sucesso e com a popularidade. É um cara que tem cometido uma série de arbitrariedades. Acho que, de um determinado ponto de vista, está fazendo mal para o Brasil por decisões que tem tomado".

Evaristo Sá/AFP Evaristo Sá/AFP

Michel Temer

"Esse é golpista. É traidor porque fazia parte da chapa da Dilma. Isso não dá direito de não só derrubar a Dilma, como fazer o contrário do que eles haviam se proposto a fazer. Então, esse é um político pelo qual eu não tenho o menor respeito".

Evaristo Sá/AFP Photo Evaristo Sá/AFP Photo

Lula

"Eu acho que o Lula foi o melhor presidente da República que o Brasil já teve. Conseguiu tirar tanta gente da pobreza. Mas acho também que ele cometeu erros inaceitáveis para quem vinha de um partida popular trabalhista como ele vinha".

Beto Barata/PR Beto Barata/PR

Foi golpe

Milton Leite é crítico em relação a situação política, mas tem visão diferente do senso comum. Ele afirma que a mudança de governo entre Dilma Rousseff e Michel Temer foi golpe e considera que o país vive “praticamente uma ditadura” atualmente.

“Pode até se discutir se o governo dela era bom ou não, mas é uma outra discussão. Porque não houve crime para o impeachment. Acho que estamos vivendo uma fase lamentável. A gente tem uma quadrilha no poder. Tem reformas absurdas sendo feitas para tirar direitos trabalhistas, de Previdência. Estamos vivendo um dos piores momentos da história porque, diferentemente da ditadura, que foi militar e violenta do ponto de vista físico, de constrangimento e censura, agora estamos em um estado de exceção, praticamente com a permissão da Justiça”, analisa.

Milton reclama, também, das pessoas que saíram às ruas de verde-amarelo pedindo impeachment e agora ficam em casa.  “Chama a atenção isso. Aquelas pessoas eram contra a corrupção, queriam acabar com essa bandalheira. Mas agora a bandalheira é ainda maior. Mas, recentemente, tivemos convocações de manifestações na avenida Paulista (em São Paulo) e não foi ninguém. As pessoas perceberam que estão pagando um mico. Na verdade, antes era o pato e agora é o mico”, diz.

Nunca ninguém chegou em mim e disse que tal coisa eu não posso falar aqui ou tal coisa eu tenho que falar. Nunca tive pressão de nenhum diretor da Globo ou do SporTV

Sobre a liberdade que tem na Globo

Danilo Verpa/Folhapress Danilo Verpa/Folhapress

Delações premiadas: "O crime compensa"

Sobre as delações premiadas, o narrador vê preguiça. Diz que se ninguém der com a língua nos dentes, a polícia e o Ministério Público não vão descobrir nada, já que perderam a capacidade de investigar.

“Chega o cara da Odebrecht e fala que deu dinheiro para fulano, beltrano, ciclano. Então, vamos investigar para saber cadê o dinheiro, para quem foi entregue. Mas aí os caras falam: entreguei R$ 13 milhões para o Lula numa pasta. Só que não existe pasta no mundo em que caibam R$ 13 milhões. Mas o cara falou isso e ninguém contesta”.

É o melhor dos mundos, o crime compensa no final das contas”.

Milton Leite afirma que as delações premiadas viraram muletas para que criminosos se livrem da cadeia. “Não tenho a menor dúvida disso. Basta ver o que aconteceu com os que delataram e foram condenados a 20 anos. Vão ficar um ano e meio em prisão domiciliar”.

Reprodução UOL/Vídeo Reprodução UOL/Vídeo

Vôlei bancou cursinho para entrar na faculdade

O Brasil ganhou um narrador, mas perdeu um jogador de vôlei quando Milton Leite optou pelo jornalismo. Ele treinou dos 13 anos até o final da adolescência. Fez parte da seleção de Jundiaí, participou dos Jogos Abertos do Interior, defendeu o Palmeiras e ganhou bolsa para defender um colégio.

“O meu cursinho, para poder fazer a faculdade, foi o voleibol que pagou. Eu ganhei uma bolsa de estudos por jogar pelo Objetivo”, lembra.

Ele conta que ‘jogava direitinho’ na época em que o vôlei brasileiro ensaiava a profissionalização. Nos anos em que defendeu o Palmeiras, Montanaro e Amauri jogavam por outros clubes de São Paulo.

“Eles se tornaram a geração de prata. São importantes para a modalidade. Se eu tivesse continuado, parado de estudar e me dedicado ao vôlei, até poderia ter me tornado um profissional”.

Vanessa Ruiz/UOL Vanessa Ruiz/UOL

O piano e o sonho de infância

Milton Leite sempre quis tocar piano, mas sabe como é a vida... Quando garoto, faltava grana. Depois, a rotina veio e consumiu o tempo. O narrador, porém, contou com uma mãozinha da mulher para realizar o desejo.

“No Natal de 2013, a minha mulher me deu um vale-aula de piano. Ela disse: ‘Agora você não tem desculpa. Já está pago e você vai começar a estudar piano’. Foi assim que comecei”.

Logo, Milton Leite comprou um piano digital para praticar. Hoje, fez um upgrade. “Agora, no meu aniversário, no começo deste ano, ela me deu um piano acústico. Troquei o digital pelo acústico, que está na sala de casa. É um novo motivador para continuar estudando piano”.

Reprodução Instagram Reprodução Instagram

Família x futebol

Milton Leite é um homem coerente. Um cara que tem certo desencanto com o futebol, considera os jogadores vazios e diz que não troca um programa em família por um jogo na televisão.

“Se tiver uma coisa melhor para fazer, eu faço. Se for um baita jogo, gosto de ver quando não estou trabalhando. Mas não sou desesperado para ver futebol. Até porque tem um outro lado da minha vida que não tem nada a ver como futebol. Minhas filhas, meu neto, meus pais e minha mulher”.

Sempre que a escala de trabalho permite, Milton Leite vai para praia, onde alugou uma casa pelo ano todo. Uma vez por semana, viaja para Jundiaí, cidade em que mora o neto. O narrador já tinha as três filhas aos 23 anos e precisou se desdobrar em três empregos para dar conta da casa. Agora que a situação financeira permite, aproveita a família. "Não tem futebol que me prenda".

Reprodução Reprodução

Curto muito participar da vidinha dele. Quando a gente se encontra, eu me jogo no chão, brinco e faço tudo que é possível fazer com ele".

Sobre a convivência com o neto Ângelo

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