Até chegar à ESPN, Alê sobreviveu do esporte universitário. Técnico de várias faculdades, trabalhava em quase 20 partidas por fim de semana. "Algumas frases que eu falo já usava há 20 anos. Time que não bebe não ganha. Quem faz gol beija na night. Eu negociava: 'Pessoal, a gente vai se matar aqui em busca do nosso prêmio. E o nosso prêmio é, depois do jogo, tomar todas. Todo mundo vai olhar para vocês durante o jogo, então à noite vai ser mais fácil'. Eu entendia a cabeça do universitário porque era um também. O cara trabalhava, estudava e ainda ia treinar. Alguns dias, não adiantava dar treino. A gente ia para o bar. Era uma parceria".
Uma das passagens mais engraçadas de Alê envolve religião. Quando ele virou técnico da Hebraica, clube da comunidade judaica, já tinha todo um ritual de preleção: "Era um padrãozinho de vestiário para não me perder. Primeiro eu falo do meu time, depois do adversário. Na parte final, vem a raça, a motivação, para entrar na pegada. Era automático. Acaba com o pessoal junto. E eu sempre começava um "Pai Nosso". Naquele dia, puxei um com vontade. Aí, olho para o lado e ninguém estava rezando. Aí caiu a ficha: 'puta, estou na Hebraica'. Aí falei: 'Pessoal, é o seguinte, cada um tem sua crença aí, vamos fazer um minuto aqui de pensamento'.
A gafe da reza não foi a única na Hebraica. Alê lembra da semifinal que perdeu por não saber o regulamento. "A gente iria enfrentar o Juventus e o medo era levar uma goleada e não ter chance no jogo de volta. Mandei jogar defensivamente para chegar vivo nos 5 minutos finais do segundo jogo. Eles compraram a ideia, o jogo terminou 2 a 1. Comemoramos. Quando cumprimentei o treinador do Juventus, falei 'Até o jogo de volta'. Ele olhou e falou: 'Jogo de volta?'. Eu estava na ESPN, não ia às reuniões da federação. Eles tinham mudado o regulamento: jogo de volta só se o time de pior campanha vencesse a primeira. Nós perdemos. E eu tinha de avisar meu time que estava eliminado.
Alê sempre encarou o trabalho no campo com paixão. Às vezes, extrapolava. "Teve uma vez que o outro time não chegava. Falei para a organização: '11h15 da noite de sexta-feira e os caras não têm uniforme. É W.O.'. Mas esperaram. O jogo foi começar às 11h40 e eu já estava meio bravo, né? Pô, 23h40 para começar o jogo... Reuni meu time: 'Vamos fazer os caras se arrependerem de terem feito a gente esperar'. O jogo foi 5 a 0 para nós. No quinto gol, fui próximo do banco dos caras e falei: Eu fui tentar ser amigo de vocês, falei que era melhor dar W.O'. Meu amigo... Quando falei isso, saí correndo e acho que dei umas três voltas no campo. Os caras com guarda-sol, cadeira para me bater"