Uma das alegrias de ser um romancista é que isso permite que você veja e escreva sobre os dois lados de um problema, que habite perspectivas opostas mesmo quando elas permanecem tão violentamente em desacordo uma com a outra. Escrevi meu livro "Uma Sensação Estranha" para explorar e descrever o mundo de um vendedor de rua de Istambul, um homem comum, sem ignorar sua religiosidade. Ao omitir algo tão importante quanto a religião, mesmo que o escritor não se identifique com ela, assim como acontece com o personagem, há o risco de pegar os leitores desprevenidos quando a população que inspirou o personagem, a verdadeira classe baixa, começa a votar em partidos políticos islâmicos. O poder de tais movimentos parece mais forte para nós quando confundimos nossas fantasias liberais com a realidade.
Assim como tento explorar perspectivas conflitantes ao escrever, a atual encarnação americana do multiculturalismo, que defende que imigrantes acrescentem suas origens exclusivas a uma nova cultura, em vez de abandonar sua história em prol da assimilação, pode incentivar as pessoas a lutar contra o autoritarismo crescente. O aprendizado da compreensão mútua e completa nos possibilita permanecer calmos, pois nos garante que conhecemos nossos vizinhos, independentemente do quão diferentes sejam.
Foi durante minha primeira viagem a Nova York, em 1985, que percebi que esse multiculturalismo nos permitira viver ao lado de pessoas de diferentes origens culturais e religiosas sem que perdêssemos nossa própria herança. Naquela época, essa forma de tolerância ainda não havia sido confundida com a noção de relativismo cultural. O conceito de multiculturalismo foi essencial para o "cadinho cultural" americano, em que pessoas de diferentes religiões e culturas se uniram para formar uma nação.