A morte que veio em um sonho
Eu tive um sonho muito ruim com o meu pai. Ele me pedia água e morria nos meus braços. O sonho me deixou pensando e liguei para o meu pai. Ele não me atendia. Fui até a casa dele. “Pai, eu tive um sonho muito ruim. Vamos no médico”. Ele não queria ir. Dizia que estava bem.
Ele vinha de uma festa, estava meio alterado. Então, eu apelei: “Pai, olha o seu neto. Você não quer ver o seu neto crescer?” Ele pegou o meu filho. “Dá o meu neto aqui. Aliás, neto não. Vem aqui com o titio, porque eu sou muito novo para ser avô”.
Eu voltei a insistir na visita ao médico, mas ele respondeu: “Se eu morrer hoje, eu morro feliz. Conheci todos os lugares, tive todas as mulheres e fiz tudo o que eu quis. Mas eu não vou morrer agora porque eu vou ensinar o meu neto a jogar futebol”.
Foi a última vez que conversamos. Ele não foi, mesmo, ao médico. Aconteceu alguns dias antes da morte de verdade. E ele morreu nos braços da minha tia Roseane.
Fabiana Dantas Mendonça, 40 anos, filha de Jorge Mendonça