Goleiro sem medo

Fábio Costa deixou o futebol com taças, polêmicas e versões inéditas sobre gol de Ronaldo e expulsão de Tinga

Bruno Freitas e Vanderlei Lima Do UOL, em São Paulo
UOL

"Cara, não é que eu sou autêntico. Eu não consigo ser de outro jeito".

É desta forma que Fábio Costa apresenta como funciona sua cabeça. Mais do que isso, no entanto, a frase acima talvez sirva para explicar o legado no futebol de um dos jogadores mais intensos deste século.

Fábio Costa ficou ilustre como um goleiro que se lançava para dividir bolas com atacantes na área, em carrinhos arriscados com os pés, às vezes inconsequentes. De maneira parecida, o jogador jamais temeu se posicionar em diferentes situações no mundo do futebol. Ficar em cima do muro nunca foi sua vocação, independentemente de interlocutores ou circunstâncias. Foi assim que o baiano de Camaçari colecionou títulos e polêmicas, quase na mesma proporção.   

Na entrevista ao UOL, um dos maiores ídolos da história recente do Santos revisita sua carreira sem medo de bolas divididas. Fábio Costa falou de brigas e bastidores. Agora dirigente de clube, o ex-goleiro também ofereceu versões inéditas sobre o golaço de cobertura que tomou de Ronaldo, do controverso lance com Tinga em 2005 e por que quase abandonou no meio a Olimpíada de Sydney (2000). O antigo camisa 1 ainda comentou o motivo de não pisar na Vila Belmiro há quatro anos.

Fúria contra Passarella e Andrés

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Primeira briga rendeu convite do Flamengo

Aos 12 anos, Fábio Costa já tinha personalidade forte. E em seu primeiro grande torneio fora da Bahia, o goleiro mostrou isso. Jogador do Verde Natureza, um time de bairro, ele foi ao Espírito Santo para disputar a Copa Gazetinha.

"Jogamos dois jogos, no último jogo, a gente já estava desclassificado. Joguei de lateral esquerdo, já que o lateral estava fora do jogo e eu era o único canhoto disponível. Como o jogo não valia muito, me colocaram na linha", conta.

Na primeira bola que deram na lateral, dei uma no cara. Levei cartão. Na segunda, tomei vermelho e acabou o jogo. Fiquei 15 minutos em campo".

O mais incrível: "Depois desse campeonato, veio até um convite do Flamengo. Mas eu era filho único, e minha mãe não deixou. Disse que era muito longe. Acabei indo para o Bahia. Já como goleiro. Ali, tinha achado minha posição".

Perrengues no início da carreira

Eu acordava às 4h da manhã para pegar quatro ônibus e treinar às 9h. Morava a 10km da rodoviária de Camaçari e naquela época nem tinha ônibus público para lá. Meu pai ia ao ponto comigo, esperava passar os ônibus das empresas e pedia carona para mim. Às vezes, nem isso tinha. Eu andava oito, dez quilômetros

Sobre o que fazia para treinar no Bahia

Aos 18 anos, conversei com minha mãe. Ela queria que eu fosse médico. Eu disse: "Se eu for ao médico, estudo dos 18 anos aos 22, faço residência e, talvez, com 30 anos, comece a fazer dinheiro. Mas se eu jogar futebol, com 30 anos vou estar com a vida pronta". Eu sabia que tinha qualidade. Só não sabia que ia fazer tanta loucura

Sobre o momento em que decidiu jogar futebol

É muito fácil falar que o Fábio Costa é brigão. Mas só eu sei o quanto tive que brigar contra o sistema para chegar onde cheguei. A vida não é fácil. São escolhas todos os dias. Você escolhe ser o coitadinho e todo mundo ter pena de você. Ou escolhe tomar frente da sua vida, das atitudes que tem de tomar e vai atrás do seu sonho.

Justificando seu estilo polêmico

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"Nunca fui de levar desaforo para casa"

Já profissional, outra briga que marcou a carreira aconteceu em 1999. Fábio Costa era titular do Vitória no Campeonato Brasileiro. Em um triunfo por 2 a 1 sobre o Atlético-MG no Independência, o baiano foi o pivô de uma briga generalizada.

Após levar um gol de pênalti, Fábio Costa foi empurrado por jogadores do Atlético-MG. Revidou e causou uma confusão, contida pelo árbitro. Quando o jogo terminou, porém, uma briga generalizada começou – o goleiro levou até uma voadora do argentino Galván.

Digamos que aquele episódio era recorrente da base. Nunca fui de levar desaforo para casa. Sempre fui muito complicado”.

Mas o que aconteceu?

A gente estava ganhando o jogo dentro do Independência e, na hora que o Atlético fez o gol, os caras foram me pegar. Deram um soco. Nunca fui de apanhar, tomar um tapa e dar a outra face. Não é meu forte. Então, depois que levei, já dei nele de outro lado. E aí virou uma confusão generalizada. Logicamente, não é bom exemplo. Mas eram outros tempos. O nível de violência era totalmente diferente. Era briga no campeonato inteiro

Sobre o episódio de 1999 no Independência

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"Eu queria deixar a seleção no meio da Olimpíada de 2000"

Até mesmo na seleção o gênio forte apareceu. Nas Olimpíadas de 2000, ele quase abandonou o grupo no meio do torneio, inconformado por ser reserva de Helton, então no Vasco. "Eu estava voando. Não que o Helton não estivesse bem, mas eu estava voando". Veja o relato de Fábio Costa:

Teve um amistoso 15 dias antes da Olimpíada em que joguei. Tiveram dois ou três pênaltis, e eu peguei todos. Todos viram que eu estava voando. Não que o Helton não estivesse. Mas eu estava. E eu tinha sido campeão do Pré-Olímpico. E praticamente todo mundo que foi campeão jogou.

Muita gente dentro do grupo me perguntava: "Velho, por que você não está no time titular?". Eu falava: "Não sei. Pergunte ao treinador (Vanderlei Luxemburgo)".

Uma semana antes da inscrição, a numeração foi divulgada. E aí aconteceu um desentendimento. Acho que ali ainda achavam que atleta de futebol é burro. Eu estava inscrito com a camisa 12 e disseram: "Fábio, você vai ficar com a 12, mas não tem nada definido sobre quem vai jogar". Eu respondi: "Velho, você tá de sacanagem. Quer botar o cara para jogar? Põe e acabou. Não tem que me dar satisfação. Agora, vir falar que eu estou inscrito com a 12 e não tem nada definido".

Aí, realmente, eu pedi para ser liberado (em conversa com a psicóloga Susy Fleury e com o supervisor da seleção, Marcos Teixeira).

Não é que não deixaram. Quando falei que ia embora, Alex, Fabiano e alguns jogadores foram ao meu quarto: “Não vai embora, vai criar mais tumulto”. Eu pensava o contrário: se todo mundo que ganhou está jogando e eu não, então eu não sou útil. Traz outro que possa ajudar. Eu estava há dias longe do meu filho. Foi um dos motivos para ir embora. Se eu estou aqui para fazer número, volto.

Não me preocupei em falar com o Luxemburgo. E ele não falou comigo. Ele ficou de birra, no canto dele. Eu fiquei no meu. De bico, lógico. Dei bico em bola em treinos, criei problema. Sou um cara difícil de lidar nesse aspecto. Mas prefiro lidar com um cara assim, que você sabe o que está pensando, do que com um dissimulado.

Jefferson Coppola/Folhapress Jefferson Coppola/Folhapress

Briga com André Luís antes de histórica decisão contra o Corinthians em 2001

No jejum de títulos importantes desde 1984, o Santos estava a um empate de assegurar vaga na decisão do Paulista. No entanto, um gol milagroso do corintiano Ricardinho nos acréscimos acabou com o sonho dos santistas. Antes desta histórica semifinal, no entanto, o grupo do Peixe rachou, graças a um episódio com o zagueiro André Luís.

Fábio Costa prefere não revelar o teor do incidente, mas relata os bastidores da decisão:

"A gente tinha cinco meses sem receber salário e, como a gente estava praticamente chegando na final, a gente sabia que dali quem passasse, Santos ou Corinthians, seria o campeão, porque apesar de o Botafogo-SP ter um belo time, dificilmente aguentaria a pressão. Então, no sábado, a gente recebeu o diretor do clube que acertou cinco meses de salário, deu cheque para todo mundo".

"De um dia para outro, as coisas não andaram da forma que tinham que andar. O André teve um ato de indisciplina, que acabou prejudicando a todos. Não que a culpa tenha sido dele, mas aquilo foi o maior motivo da minha discussão com ele. Naquele momento ele não foi profissional. E no domingo a gente perdeu, na segunda sustaram o cheque. A gente passou o final de ano sem dinheiro".

Quando fui campeão brasileiro em 2002, eu estava há dez meses sem receber salário. As pessoas não sabem disso. Então é muito prático as pessoas criticarem, falarem A, B, ele fez certo ou errado. Mas ninguém sabe o que a gente vive ali no dia a dia.

Sobre a situação de trabalho no Santos naquele período

Gol de Ronaldo: culpa de Mancini?

Folha Imagem Folha Imagem

Folclore ou verdade? Tesoura em briga com Fabiano Eller

Depois de uma derrota para o Marília fora de casa, em 2009, Fábio Costa se envolveu em um bate-boca ríspido com Fabiano Eller. O goleiro cobrava mais empenho dos jogadores jovens do Santos, e o zagueiro tomou as dores da molecada. A presença de uma tesoura na mão do camisa 1 entrou para o folclore santista. Mas, segundo o jogador, este tipo de ameaça física não existiu.

Eu estava cortando a minha proteção de atadura, aí ficou esse negócio de que o Fábio Costa pegou tesoura para bater no Fabiano. Não aconteceu. Tanto é que um mês depois viajamos eu, minha esposa, a esposa dele, o Roberto Brum. Eu falo com o Fabiano, ele é meu amigo

Sobre o episódio com Fabiano Eller

A questão do Fabiano foi conceitual. Ele era muito mais próximo dos jogadores mais jovens que estavam subindo. Eu sempre fui um cara de trabalhar. Não que eles não trabalhassem, não é isso. Mas nunca fui de ir para churrasco, nunca fui muito social, nunca foi a minha

Sobre seu estilo fora do futebol

Ricardo Nogueira/Folhapress

Dono do Santos

Eu sempre fui um cara revoltado. inconformado com o processo. Não gosto de ingratidão. Um ambiente com discriminação, com privilégio para um e para outros não, sempre me incomoda. Não consigo conviver com isso. Mesmo na base eu era respeitado, sempre joguei na categoria acima da minha. Eu me sentia, como me sentia no Santos. As pessoas até brincavam "Ah, o Fábio acha que é dono do Santos"

Sobre o nível de comprometimento com o clube

Espião pegou goleiro com Big Mac

AFP PHOTO/Mauricio LIMA AFP PHOTO/Mauricio LIMA

Nunca quis rever final de 2002

O segundo jogo da final do Brasileiro de 2002, contra o Corinthians, é a performance mais conhecida de Fábio Costa, provavelmente sua melhor atuação na carreira. No entanto, o herói do Santos diz que jamais quis assistir ao vídeo daquela vitória.

"Se eu te falar que eu nunca vi o jogo, você acredita? Não sei, nunca parei para assistir. Vi algumas coisas. Quando vou em programas, às vezes os caras colocam algumas defesas. Mas eu nunca sentei em frente a uma televisão para assistir".

"A defesa do jogo para mim foi a que o (volante) Paulo Almeida desviou. Ali foi a defesa do jogo para mim. As outras foram difíceis, plasticamente até bonitas".

Moacyr Lopes Junior-Folhapress Moacyr Lopes Junior-Folhapress

"Expulso, não. Preso"

Meses após a consagrada atuação contra o Corinthians, Fábio Costa saiu marcado de forma contrária na final da Libertadores de 2003. Diante do Boca Juniors, o goleiro teve falhas atribuídas a ele, tanto na partida de ida, como na de volta.

"No segundo gol ficou aquela de se eu falhei, se foi o Alex que falhou. Ele esperou que eu saísse, ele esperou que eu tirasse, e aí a gente acabou tomando o gol", comentou o ex-goleiro, sobre o gol sofrido em La Bombonera.

"Expulso, não. Preso", analisou, a respeito do pênalti cometido no jogo de volta, no Morumbi. "Realmente foi uma entrada forte, não deveria ter chegado tanto. É o preço que se paga pela inexperiência, é o desequilíbrio emocional. Estávamos pressionados, porque perdemos o primeiro jogo", completou, sobre o lance que selou o título do Boca.

Não é fácil jogar no Santos, a pressão aqui é grande. É muito maior do que em qualquer time de capital. Aqui é a pressão do torcedor, acostumado com padrão de Pelé, Robinho, Neymar. Qualquer jogador que venha jogar aqui, a pressão sempre vai ser muito grande. Você não sabe como é difícil jogar dentro da Vila

Sobre a pressão de vestir a camisa santista

Gustavo Roth/Folha Imagem Gustavo Roth/Folha Imagem

Troca de alvinegros fez família chorar

No final de 2003, como o Santos não fez muito esforço para efetuar a renovação contratual, Fábio Costa acabou ouvindo a proposta do rival Corinthians. O goleiro deu um prazo de preferência ao então presidente santista Marcelo Teixeira, mas depois da data estipulada acabou cedendo ao assédio de Andrés Sanchez, então dirigente corintiano, que procurou o atleta na Bahia.

A decisão de subir a serra em direção à capital paulista representava uma nova chance profissional ao goleiro. Para esposa e filho, no entanto, a mudança foi motivo de lágrimas.

"Eles choraram muito, porque gostavam de Santos, são apaixonados, tanto que a gente mora aqui até hoje", relatou.

A gente sempre teve uma ligação muito forte com a cidade. Não fui só bem recebido pelo Santos. Fui bem recebido pela cidade. Achei pessoas aqui de uma bondade, um carinho excepcional. Costumo dizer que achei alguns pais e mães aqui. Porque a gente conheceu algumas pessoas aqui que deram para a gente o caminho das pedras: médico, pediatra, a ginecologista da minha esposa

Sobre a ida ao Corinthians na temporada 2004

Principalmente no momento que falei com a minha família, o choro, que era de despedida no momento que eu estava saindo, virou choro de alegria, por a gente estar voltando para um lugar que a gente se sentia em casa

Sobre a volta para o Santos na temporada 2006

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Voltar à Vila Belmiro

No dia que o presidente do Santos me convidar para ir num camarote, num lugar reservado que seja de acordo. Caso contrário, como é que eu vou? Eu nunca vou conseguir assistir a um jogo. Um vai pedir autógrafo, o outro vai falar uma gracinha. Eu não preciso me expor a isso. Eu até gosto, acho bonito, adoraria voltar à Vila, mas não numa situação assim. Como eu vejo lá às vezes o Gilberto Costa. Os caras vêm pedir ingresso para gente, que é atleta. Quantas vezes eu peguei oito, dez ingressos, como capitão, e dei para os caras. Os caras foram ídolos, são ex-atletas do clube, vão ficar mendigando para ir assistir a um jogo? O cara tinha que ter uma carteirinha e direito a dois ingressos. Vitalício.

Sobre não frequentar a Vila Belmiro há quatro anos

Fernando Santos/Folha Imagem Fernando Santos/Folha Imagem

Corintiano e deslumbrado

Virar reforço do Corinthians em 2004 mexeu com a cabeça de Fábio Costa. "Quando você chega no Corinthians, a proporção aumenta em tudo, era totalmente diferente, é um mundo à parte", comentou o ex-jogador.

Coube então à esposa, Mônica, trazer os pés do goleiro de volta ao chão. "Estava naquelas de sair demais, não para balada, mas estar em churrascos dos jogadores toda hora, e deixei um pouquinho minha família de lado. Começou a não ser mais a prioridade como sempre foi. E a minha mulher um dia falou: 'Você não é o que você pensa que é. Não é ninguém'. Até então achava que era: 'sou goleiro do Corinthians'".

Leandro Moraes/UOL Leandro Moraes/UOL

O jantar de adeus com Tite

Na primeira passagem, Tite livrou o Corinthians do rebaixamento em 2004, em uma campanha de recuperação memorável. Mas, no ano seguinte, bateu de frente com os investidores da MSI e acabou deixando o clube. Na saída, o técnico reuniu alguns jogadores de confiança para um jantar de despedida.

"Ele me convidou, convidou o Anderson, Betão, o Marinho. Os jogadores que tinham uma sintonia maior com ele", relembrou o ex-goleiro. "É um cara que tenho uma admiração por ele, pela postura, pela família dele. Costumo brincar que não é um cara do meio do futebol. É muito educado, muito polido", acrescentou.

O Oswaldo (de Oliveira) não conseguiu dar ao grupo aquela unidade que um grupo tem que ter. Era um grupo extremamente heterogêneo, muito difícil. Talvez tenha sido o grupo mais complicado que trabalhei: Régis Pitbull, Piá, Rincón, Rogério, Marcelo Ramos, Valdson. Os caras já muito rodados, chegaram no Corinthians com uma perspectiva e a coisa se desenhou outra. Pensamos que o grupo fosse dar liga, e não deu. E aí começou a ter aquele negócio de afasta um, afasta outro, o grupo se perdeu, a gente quase caiu. Foi realmente um ano muito complicado

Sobre a temporada 2004 no Corinthians

Fernando Santos/Folhapress Fernando Santos/Folhapress

Tevez: o mais profissional

Com a chegada dos investidores da MSI, as coisas mudaram bastante no Corinthians em 2005. De repente, o time que brigou para não cair ganhava o elenco mais caro do país. Tudo sob o comando de Carlos Tevez, estrela argentina que conta com o respeito incondicional do ex-colega:

"O Tevez sempre foi um cara extremamente profissional. Os caras falavam que ele tinha privilégio, mas não tinha privilégio nenhum. Joguei 20 anos como profissional em grandes clubes. Eu não vi nenhum jogador com tanto profissionalismo como desse cara. Nenhum chegou perto.

O que esse cara apanhava. Chegava no vestiário sangrando a perna, roxo, botava gelo aqui. Neguinho dava tapa, arranhava as costas dele. Parecia que era sobrevivente de uma guerra, que estava em uma trincheira. Chegava todo ralado, dez minutos de gelo e, às vezes, nem ficava na preleção do intervalo. Ficava lá na maca de gelo, ajeitando atadura. Voltava para o segundo tempo, parecia que ele tinha saído do armário, todo arrumado. Não tinha esse negócio de dorzinha ou frescura".

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7 a 1 sem remorso

Do outro lado estava o Santos, onde vivera tempos incríveis. Mas era o título brasileiro de 2005 que estava em jogo para o Corinthians - e Fábio Costa sempre quis ganhar.

"Não tenho problema nenhum em falar, eu sou santista. Mas, se eu pudesse ter feito dez, teria feito os dez. Você fala então: ‘pô, mas você não gosta do Santos?’. Muito pelo contrário, eu respeito demais o Santos, tenho um amor incrível, mas é profissionalismo. Naquele momento eu defendia as cores do Corinthians, estava sendo pago para isso. Separo muito bem essas coisas".

Tinga disse que não foi pênalti

Fernando Santos/Folha Imagem Fernando Santos/Folha Imagem

Kia decidiu: Fábio sai

Após o desgaste com Passarella, a imagem de Fábio Costa ficou contestada no Corinthians, mesmo terminando o ano com o título brasileiro. Ao final de 2005, o iraniano Kia Joorabchian conversou com o goleiro e manifestou que não desejava mais contar com seu trabalho. O investidor da MSI preferia um estrangeiro para a posição, visando a Libertadores de 2006. Assim, Fábio Costa foi preterido pelo chileno Johnny Herrera.  

FERNANDO SANTOS/FOLHA IMAGEM FERNANDO SANTOS/FOLHA IMAGEM

Sérgio, me empresta um dinheiro?

Antes de virar um jogador de ponta do futebol nacional, Fábio Costa enfrentou dias difíceis, comuns a atletas que estão buscando um lugar ao sol. No Vitória, o goleiro teve de lidar com atraso de salários justamente no período do nascimento do filho. Sem dinheiro para pagar o parto do bebê, o jovem precisou recorrer a um colega de elenco com mais rodagem na profissão. 

"Meu filho nasceu, e eu não tinha 50 reais na época para fazer um plano de saúde para ele. Eu pedi ao Sérgio, que era goleiro do Palmeiras, na época estava emprestado ao Vitória. Eu falo para ele direto quando encontro: 'Cara, se eu te der um milhão hoje, eu não pago o que você fez por mim lá atrás'.

Toda vez que eu vou falar dele, eu me emociono, porque foi um momento difícil. Eu tinha 18, 19 anos, e eu falei: 'Sérgio, me empresta um dinheiro? Quando sair o pagamento eu te devolvo'. Falei isso de manhã, à tarde ele me trouxe o dinheiro. Quando o Vitória me pagou, fui lá devolver o dinheiro, e ele falou que não queria

Sobre a ajuda de Sérgio, ex-colega no Vitória

Escapou da morte em acidente

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Um susto no avião

Enfrentando uma trombose

Dias depois do acidente de carro na Rio-Santos em 2012, Fábio Costa decidiu passar um tempo nos Estados Unidos com a família. Após o período de descanso em New Jersey, o goleiro sentiu a perna inchar misteriosamente durante o voo de volta ao Brasil. 

"Eu não percebi, minha mulher que percebeu. Ela foi pegar meu agasalho e viu que que estava apertado na perna. Quando ela tirou, minha panturrilha estava maior do que a coxa. Ela falou: 'O que é isso?'. 'Acho que é trombose, sei lá'.  Quando cheguei, liguei na hora para o (médico) Joaquim Grava", relatou.

Imediatamente o goleiro passou por uma bateria de exames, que constataram a trombose. Fábio Costa precisou tomar uma série de remédios durante um ano. Mesmo assim, ainda conseguiu um último capítulo para sua carreira como jogador, ao realizar duas partidas pelo São Caetano na temporada 2013.

A nova vida como dirigente

Nem empresário, nem técnico. A segunda vida de Fábio Costa no esporte veio através do papel de dirigente. O ex-goleiro foi anunciado no final de 2016 como gerente de futebol do União Barbarense. O time disputa atualmente a Série A-2 do Campeonato Paulista, na última posição da tabela (20º lugar) e com o rebaixamento praticamente decretado.

No entanto, desde o começo do ano o jovem cartola já esperava pelo trabalho de reconstrução total no clube. Apesar das dificuldades, o campeão brasileiro de 2002 e 2005 tem fé que pode dar certo na função.

"Eu acho que sim, tenho certeza que sim. Acho que o mais importante em algumas situações é ter a vivência do que você está se predispondo a fazer como gestão. Quando você fala assim: 'Ah, mas você não tem uma faculdade, você não tem uma formação acadêmica'. Realmente eu não tenho, mas eu tenho uma formação que para a minha função talvez seja mais importante do que a função acadêmica, que é a função de campo, de dia a dia, de entender o atleta, de saber as necessidades do cara, de ver o que ele precisa", afirmou.

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