A última entrevista

Mário Sérgio mostra lado polêmico, lembra loucuras, mas também chora pelos erros (e acertos) que cometeu

Luiza Oliveira e Vinícius Mesquita Do UOL, em São Paulo
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Mário sorriu, xingou e chorou

Mario Sérgio Pontes de Paiva nunca foi um cara fácil de entender. Como jogador, era o terror de técnicos ou dirigentes. Liderou complôs contra cartolas, ajudou a derrubar técnicos, brigou com muita gente.

Quando ele mesmo virou técnico ou comentarista, as coisas não mudaram. A língua não tinha travas, ele peitava estrelas e queridinhos da torcida. Sempre pensando no bom futebol e usando uma visão tática que poucos no mundo possuíam.

Mas Mario Sérgio não era só isso. Existia, também, uma melancolia profunda dentro do homem. O jovem que um dia andou nu pelas ruas de Salvador era o mesmo que chorou ao lembrar da morte do sogro, a quem dedicou o título mundial com o Grêmio, em 1983, e também aquele que nunca chorou a morte do próprio pai, que o batia na infância e abandonou a família após perder tudo em corridas de cavalo.

Foi esse Mario Sérgio, muito mais homem do que ex-jogador, que deu sua última entrevista ao UOL Esporte, há um mês, e que está sendo publicada agora como forma de homenagem. Conheça uma das personalidades mais interessantes que o futebol verde-amarelo já criou.

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O jogador talentoso diz que "só fez mal para ele mesmo"

A fama de mau sempre perseguiu Mário Sérgio. Mais até do que ele merecia. Tudo vem do início da carreira no Vitória. Foi um período de inconsequência intenso, mas breve. O bastante, porém, para ganhar o rótulo de problemático. Ele virou aquele que não se dava com a imprensa, aquele que peitava dirigentes, aquele jogador problema.

Isso aí era o grande problema. Esses caras [os jornalistas que o criticavam e os dirigentes com quem brigava] vendiam a minha imagem. Falavam para os outros: ‘Não traz, não pega, esse cara é problema’. Essa imagem foi muito mais criada pelo dirigente do que propriamente pelos outros segmentos do futebol”, contou.

Mário Sérgio não fazia o tipo de jogador que aceita ordens. Questionava tudo e todos. Acabou entrando em muitas discussões e criando desavenças com cartolas que, na visão dele, se acham dono da verdade e se julgam donos de clubes e jogadores.

A gente [ele e os cartolas] se batia sempre. Invariavelmente, eu era afastado do time e aparecia treinando com os juniores. Aí os jogadores pediam e eu voltava. Isso foi uma constante. Por isso troquei tanto de clube. Em uma época em que poucos trocavam de time, joguei em 14, 15 diferentes. Os dirigentes cansavam de mim. Cansavam. O termo é esse aí mesmo

Mario, sobre as brigas com os dirigentes

Ele [o dirigente] sempre vai ser um cara que acha que sabe tudo, que é dono da verdade, que, se ele não paga, você não pode reclamar. Se você reclamar, você é indisciplinado e ele te coloca à parte. Te tira, te afasta, faz o que quer de você. Resumindo: ele é arbitrário nessas atitudes que toma. Se julga dono do clube e dos jogadores

Mario, sobre a arbitrariedade dos cartolas

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Se estivesse querendo jogo ninguém segurava

Mais que polêmico, Mário Sérgio ficou marcado por ser um grande jogador. Tinha tanto talento que ficou conhecido como Vesgo. O apelido surgiu pela habilidade em olhar para um lado e mandar a bola para o outro, assim como fazia Ronaldinho Gaúcho (mas muito antes dele).

Ele foi ídolo no Vitória e brilhou em tantos outros grandes clubes. Fluminense, Flamengo, Palmeiras, São Paulo, Grêmio... E sempre teve a consciência de sua grandeza em campo.

Dependia de mim, eu tinha uma contribuição, tinha a minha parcela e a minha parcela era muito grande, eu tinha essa noção. Eu nunca fui humilde com relação a isso, não. Sempre soube, nunca falei, primeira vez que estou falando isso. Eu sempre tive em mim que a minha parcela, se eu estivesse a fim de jogo, era dose”.

O que aprendeu da vida: fazer o bem e o amor pela mulher

Mário Sérgio viveu muitas fases na vida e passou por um longo processo de amadurecimento. Do alto dos 66 anos, bem mais sereno que na juventude, ele contou o que aprendeu da vida e se declarou para a esposa Mara, o grande amor de sua vida.

Aprendi que você tem que ser uma pessoa séria, leal. Sou casado há 25 anos. Minha mulher é a minha salvação"

"Tive momentos na vida terríveis, coincidentemente ela apareceu nesse momento. Me salvou a vida várias vezes. Deus me deu um presente. Conheci ela em 91. Ela era executiva do Bank Boston, trabalhava com o Henrique Meirelles. Largou tudo, quis ter filho, ganhava muito mais do que eu. Eu topei ter filho desde que ela cuidasse dele. Ela largou o emprego para cuidar dele. Cuida dele até hoje e abriu mão da profissão".

A vida te dá o que você merece. Isso aí eu aprendi. O que você faz de errado ou certo tem um retorno. Bom ou ruim. Quando eu fiz alguma coisa errada, no meu inconsciente trabalhava para que provocasse uma coisa negativa para apagar aquilo que eu tinha feito de errado. É impressionante. Tenho que me cuidar bastante para não fazer cagada, inclusive em termos de saúde. Você fica se remoendo, se remoendo e acaba 'somatizando' alguma coisa ruim

Sobre o que aprendeu da vida

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A Vida Loka na Bahia e o passeio nu em Salvador

Mário Sérgio viveu na Bahia como se o mundo fosse acabar no dia seguinte. Os quatro anos no Vitória foram os mais loucos. Fugiu da concentração para ir a boates, levou mulheres para a concentração e até dirigiu pelado por Salvador.

Ali foi o apogeu. Tudo o que eu podia ter feito de errado eu fiz na Bahia. Andava nu. Eu andava de carro pelado. Fazia miséria. Fazia um monte de coisa. Festa era direto

Mario Sérgio

Eu fugia de concentração para ir para a boate. Tinha a boate de um amigo meu, o Carmel. Eu falava: 'Amanhã vou lá. Deixa uma mesinha reservada lá no canto, amanhã, 2h, 3h estou lá'. Eu ficava até 5h, vinha para a concentração, dormia, acordava e para o jogo

Mario Sérgio

Contrataram um cara no interior, um jagunço, para tomar conta da portaria e não deixar entrar com mulher. Uma vez entrei, tirei a arma e o cara me encarou com um facão. Falei: 'Vou embora, esse cara é louco' [risos]. O cara de facão, eu com revólver e ele encarando

Mario Sérgio

Uma vez, saí da praia bebendo. Bebi todas. Vínhamos eu e o Osni, que era meu amigo inseparável. Falei: 'Pô, vou andar nu na rua cheia'. Meu sonho era andar nu na rua cheia. Fiquei nu de carro. Coisa de louco, totalmente irresponsável

Mario Sérgio

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Tudo começou com o cabelo comprido

Mário Sérgio descobriu seu talento no futsal do Fluminense, mas foi no Flamengo que ele despontou e surgiu para o futebol. Foi campeão dos aspirantes e chamou a atenção por sua habilidade, mas a passagem durou pouco. Mário brigou com o técnico Yustrich, um forte adepto do futebol força, que não gostava dos cabelos longos do atacante.

Ele me afastou por usar cabelo grande, começava a me chamar de boneca, até o dia em que eu apelei com ele. Ele falou: ‘Pode tirar para ir embora. Empresta ele. Enquanto eu estiver aqui, ele não joga’”.

Mário Sérgio foi emprestado ao Vitória em 1971. “A diretoria estava relutante, mas me emprestou. Só que colocaram o preço do passe fixado bem alto e deu três dias de prazo para o Vitória pagar. Os caras fizeram uma promoção junto ao torcedor, mobilizaram a torcida para que pagassem o preço do meu passe. Eles pagaram o preço do meu passe. Foi por isso que eu fui para o Vitória”. 

Casou por engravidar a namorada. Vida mudou aos 23

Mário Sérgio carregava a fama de ter vida louca, mas a fase de inconsequências durou pouco tempo. O jogador mudou da água para o vinho ainda aos 23 anos quando se casou pela primeira vez depois de engravidar a namorada de apenas 16 anos. “Mudou muito, muito, muito. Porque já não tinha mais festa. Esporadicamente, ela viajava, eu saía com amigos, uma boate. Mas com a minha mulher em casa, com a minha família em casa, jamais. Sempre para a minha casa. Nunca teve festa”.

Na época, ele se mudou para o Rio para jogar no Fluminense e entendeu a responsabilidade que era jogar no Fluminense e ter uma família. “No primeiro momento das festas, das baladas, foi inconsequência, imaturidade, idade. Tudo aos meus pés. No segundo momento, eu tinha uma família. Talvez o fato de o meu pai não ter conseguido segurar a bronca, eu tentei segurar dentro daquilo que eu podia, porque eu também não tinha capacidade para isso. Meu casamento durou 14 anos, então foi um casamento que durou razoavelmente bem”.

Mas o casamento feliz não teve um início tranquilo. Mário teve que encarar a família da esposa, que tinha origem abastada, e especialmente o sogro. Mas o destino revelou uma grata surpresa e os dois acabaram se tornando grandes amigos. “Foi um dos melhores homens que conheci. Gostaria de ter um pai como ele. Ele chegou para mim e falou: ‘olha, você não é obrigado a casar com a minha filha de jeito nenhum. Vai nascer, vou sustentar. Se você quiser visitar, você pode. “Não, eu gosto dela”.

Mario chorou pelo sogro, o pai que ele sempre quis

A vida na Bahia não foi só louca. Lá ele também conheceu a primeira mulher e uma das pessoas mais importantes de sua vida

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O pai de verdade perdeu tudo nas corridas de cavalos

Mário Sérgio fugia do estereotipo da infância pobre. Ao contrário. Era sócio do Fluminense, um clube de elite, estudou em bons colégios, frequentava hipódromos para ver corrida de cavalos. A família não esbanjava dinheiro, mas tinha boas condições. O pai foi o primeiro vendedor de medicamentos do laboratório Fontoura. Tinha carro e era presidente de um clube de Carnaval.

Mas a vida mudou. “Meu pai perdeu tudo nas corridas de cavalo. Ficamos muito pobres, muito pobres”.

A família perdeu o título do clube e ele continuou frequentando porque jogava no futsal, mas já em uma outra realidade. “Eu perdi a condição de sócio, vendi o título. Depois desse início aí que eu te contei no Fluminense, na minha casa eu tinha dificuldades grandes porque a gente vivia com limitações financeiras enormes”.

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O que movia Mario Sérgio era dinheiro, não o futebol

Mário Sérgio nunca se importou em fazer média ou ser politicamente correto. Por isso,  admite: sua grande motivação na época de jogador era dinheiro no bolso. Mas também tinha paixão por uma sensação incrível nas vitórias que o fazia buscar o isolamento.

"Eu jogava, mas o que me atraia no campo era o dinheiro. Era a condição que eu queria e não teria em outro lugar. E foi assim que eu fui levando o futebol. Esse negócio de conversa, palestra motivacional, tática... O negócio é dinheiro. Me ofereciam dinheiro, eu ganhava qualquer coisa. Não era tanto assim, mas o dinheiro foi meu objetivo sempre quando profissional”.

Ao contrário de muitos atletas, ele nunca pensou em ganhar dinheiro pela família. Sempre se colocou em primeiro lugar. “E não tinha esse negócio de ganhar dinheiro para dar boa vida para ninguém, não. Eu ganhava dinheiro para mim. Eu ajudava minha mãe no que eu pude, mas eu ganhava dinheiro para mim. Aquele negócio que eu vejo de jogador, aquele discurso que eu não concordo, mas aceito. ‘Quero ganhar dinheiro para ajudar minha mãe, meu pai’. Eles cumpriram a missão deles, eu não pedi para vir ao mundo”.

Um prazer muito grande que eu tinha era ganhar. Ganhar era um negócio inolvidável. Por quê? Eu não ganhava e ia para a festa. Meu prazer era ganhar, ir para a minha casa, me isolar no meu quarto. Eu tinha um frigobar especial, com bebida, com tudo

Mario Sérgio

Não via futebol, não via resenha, não via nada. Pegava um bom filme, assistia um bom filme e ficava ali curtindo a minha vitória. Era esse o meu prazer. Ganhou o campeonato, vai ter o churrasco, eu não ia. Eu não ia. O prazer que eu tinha era curtir o que eu ganhei

Mario Sérgio

Xinhua/Rahel Patrasso Xinhua/Rahel Patrasso

Trauma com argentinos

Em 1979, Mário Sérgio foi para o Rosario Central, da Argentina, onde atuou ao lado de Edgardo Bauza. A passagem não deu certo. “Fiquei na reserva, o técnico não gostava de mim. Eu tive problemas de relacionamento terríveis. Teve um dia em que ele resolveu me botar de titular e eu disse que não queria mais jogar. ‘Esse cara é louco, me encheu o saco para jogar, agora que eu vou botar, ele não quis jogar’. Aí vim embora para o Inter. Eu já tinha acertado tudo com o Falcão”.

Os problemas com o técnico não foram as únicas pedras no sapato. Ele também sofreu com saudades da esposa que ficou no Brasil. “Ela estava fazendo faculdade, ia para lá, ficava um pouco e voltava. E eu sozinho, sozinho, sozinho. Longe da família, idioma diferente e os caras têm ódio de brasileiro. O que eu apanhei lá você não tem ideia.... Os caras batiam em mim direto. Estou falando do meu time, não estou falando do adversário, não”.

No meu time, em coletivo, o pau cantava. Eu nunca usei uma trava de alumínio e usava lá para treinar em coletivo. Os caras me arrebentavam. Eu me defendia”.

Divulgação/Grêmio

Tudo pelo Mundial de 1983

Matuiti Mayezo/Folhapress Matuiti Mayezo/Folhapress

Ameaça de morte

No Grêmio, aos 33 anos, atingiu o ápice com o Mundial de Clubes. A fama de "jogador-problema" foi ignorada por Valdir Espinosa, um de seus grandes amigos. Mario estava na Ponte Preta. "Quando o Grêmio veio jogar contra a Ponte, fui muito bem. Empatamos por 1 a 1. Foram atrás de mim: 'Rapaz, você quer jogar o Mundial?'. 'Porra, você está de sacanagem, estou parando de jogar'". Sem liberação. A solução foi forçar a saída. "Arrumei briga com o Cilinho, que partiu para cima de mim para me bater. Ele era danado. Falei: 'Se ele chegar, vai me matar'. Aí me liberaram".

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O chope uniu o grupo

No Grêmio, logo se tornou peça-chave. Em campo foi fundamental. Fora dele não foi diferente, ajudando na união do grupo. As reuniões eram muitas vezes realizadas em um bar: "A gente ia direto. Acabava o treino, eu, De León, Renato, o pessoal todo. Era muito unido. A gente ia para o Chihuahua, o bar de um amigo meu, e era cerveja, chope, camarão. Saía de lá duas horas da manhã. No outro dia, treino. Aí foram falar para o Espinosa. Ele reuniu a rapaziada toda e deu um corretivo em todo mundo: 'Porra, nós estamos aqui às vésperas do Mundial e vocês vão para o Chihuahua?"

RODRIGO RODRIGUES/GREMIO FBPA RODRIGO RODRIGUES/GREMIO FBPA

Espinosa se rende

Até que, um dia, o técnico foi obrigado a se render. "O De León foi falar com o Espinosa: 'Espinosa, deixa eu falar: isso, para nós, é excelente. O time tem os caras mais velhos, o Mário, o Tarcísio, o Paulo César, mas a maioria é garotada. Naquilo ali a gente aproxima a rapaziada muito mais do que ficar conversando aqui, ficar batendo papo formalmente. A gente está se aproximando, o grupo está ficando fechado'. Legal. No outro dia, estava todo mundo no Chihuahua e bateram na porta. Era o Espinosa. 'Vamos lá, vamos lá, um chopinho para mim!' [risos]".

O Rei do Gatilho

Doping e a perda do título de 1984

  • Palmeiras voando

    Em 1984, Mario Sérgio liderava o Palmeiras ao título do Campeonato Paulista de 1984. Em um jogo contra o São Paulo, porém, ele foi flagrado. A substância? Anfetamina. Ele foi suspenso, mas apelou para manobras jurídicas para entrar em campo. "Ia ser campeão. O time estava super bem e eu fui suspenso. Foi aí que comecei a jogar com liminares. O time ganhava, ganhava, ganhava. Quando chegou no final, fui julgado culpado e o time perdeu todos os pontos". O caso é todo nebuloso.

    Imagem: Reprodução
  • Refrigerante de Marco Aurélio Cunha

    Primeiro, entra em cena Marco Aurélio Cunha, hoje dirigente, então apenas médico do São Paulo. Ele deu, no intervalo, um refrigerante para o jogador. Muita gente disse que o doping veio dai. Mas não Mario. "É mentira. É lenda. O Marco Aurélio não tem nada a ver com isso. O Marco Aurélio, no máximo, era médico do São Paulo, estava o tempo inteiro dentro do vestiário. Não podia contaminar minha urina de jeito nenhum. O Marco Aurélio não tem esse caráter".

    Imagem: Érico Leonan/saopaulofc.net
  • Até Marco Polo entra na polêmica

    Depois, vieram as inconsistências jurídicas: a urina passou a noite na casa do médico que colheu a amostra, a luz acabou no meio da noite, a contraprova apareceu limpa... Até Marco Polo Del Nero, hoje presidente da CBF, acha que Mario poderia ser absolvido. "Ele era advogado do Palmeiras. 30 anos depois, o encontrei e ele falou: 'Por que você não reabre esse processo? É cheio de furos'. Eu falei: 'Depois do que eu sofri, você acha que eu vou mexer nisso aí? Não vou ganhar nada'".

    Imagem: Ed Ferreira/Folhapress

Você nega o doping pelo Palmeiras?

Nego. Depois desse jogo, devo ter jogado uns cinco ou seis jogos. Fizeram exames comigo nos cinco ou seis jogos. Coincidentemente, nos cinco ou seis jogos, eu fui considerado o melhor em campo. Fiz gol contra a Portuguesa, um golaço contra o XV de Piracicaba. Todas as minhas atuações foram excelentes. Houve uma manipulação na minha visão

Sobre o caso de 1984

Sobre o caso de 1984

Mas o que aconteceu, então?

Isso aí ficou claro. Quem entrou na disputa foi o Corinthians. Nós perdemos os pontos e o Corinthians entrou na disputa".

O campeão paulista daquele ano, porém, foi o Santos, que derrotou, na última rodada, justamente o Corinthians, por 1 a 0.

Admissão do doping: uma briga, Dunga e Inter

A carreira como jogador acabou. E depois?

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Faltou amor à profissão de técnico

Todos que viram Mario Sérgio em campo o consideram um grande jogador. Como técnico, as respostas mudam... Até foi bem no Internacional, no Atlético-PR. Mas faltaram títulos. Ele mesmo admite. "Faltou amor à profissão de técnico em mim. Faltou o gostar daquilo. Eu não tinha esse apego. Eu acho um absurdo, por exemplo, o Muricy ficar doente com o dinheiro que tem e não viajar o mundo inteiro com a família. Eu nunca tive isso. De todo o dinheiro que eu ganhei lá no Internacional, e foi uma grana legal, uma parte eu separei, peguei minha mulher e meu filho e ficamos 30 dias nos Estados Unidos, 30 dias sem limite".

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Paixão, mesmo, era ser comentarista

Depois que pendurou as chuteiras, a grande paixão eram os comentários na TV. Ele nunca quis ser técnico. Só atendeu chamados."Como jogador, eu fui em busca daquilo que eu queria, que era o dinheiro. Uma situação boa para mim, principalmente, e a minha família vinha junto. Como treinador, não busquei essa profissão. Eles vieram atrás de mim. O que eu gostava de fazer era televisão, fazer comentário, comecei na Bandeirantes. Eles vinham e me contratavam. Me ofereciam um dinheiro dez vezes maior do que eu ganhava na televisão, vinte vezes. O que eu fazia? Eu congelava meu contrato na Bandeirantes, trabalhava lá um, dois anos, arrumava um dinheirinho e saía rapidinho".

Almeida Rocha / Folha Imagem Almeida Rocha / Folha Imagem

Causos dos tempos de prancheta

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"Ronaldo era um vagabundo, mas meu irmão"

Se nunca foi um treinador repleto de glórias, Mário Sérgio tinha uma característica fundamental: comandava bem o vestiário. Seu pulso firme foi testado principalmente quando comandou o Corinthians nos anos 90 em um vestiário de estrelas. Um dos atletas que mais deu trabalho foi o goleiro Ronaldo.

Ele não gostava de treinar. Se o Ronaldo gostasse de treinar, seria o maior goleiro da história do Corinthians. Eu falei: 'Não vou mandar você embora, não vou te tirar do time porque a torcida me mata e eu não sou burro. O Agnaldo [preparador de goleiros] é que vai embora amanhã'".

Ele não ia mandar embora o preparador. “Mas eu sabia que ele era como se fosse um pai para o Ronaldo. Beijava, abraçava... Ele adorava o Agnaldo. No outro dia, estava treinando feito um leão”.

Sobrou até para a nutricionista do Corinthians:

“O Ronaldo era tão vagabundo que nós levamos uma nutricionista para dar palestra e dizer que refrigerante não era bom. O Ronaldo começou a olhar na cara dela e ria. Ele desestabilizou a mulher, que começou a chorar. Para você vir o grau de periculosidade do Ronaldo”.

“Ele tinha uma liderança fortíssima e era meu irmão. A gente brigava, discutia, batia boca, mas sempre unidos, sempre colados”.

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Briga com repórteres no Inter

Em 2009, quando dirigia o Inter, seus problemas com a imprensa ficaram evidentes. As desavenças ficaram escancaradas quando ele chamou a imprensa em uma coletiva e disse que não esperava amizade.

Você olha para a pessoa e sabe pelo olhar dela: ‘Porra, esse cara vai sentar o pau em mim’. Eu pensei: Esses vagabundos chegam de manhã e dizem bom dia, como é que está? e à tarde pau em mim. Então tá: reuni o pessoal e falei: “Não quero mais ‘bom dia’, ‘boa tarde’, ‘boa noite’. A relação, a partir de hoje, é profissional. Não quero conversar mais com vocês. É só entrevista”

Ele fechou todos os treinos e a imprensa só falava com ele depois dos jogos e em uma entrevista coletiva por semana, geralmente às sextas-feiras. E na sala de coletivas.

Eu fiz isso de sacanagem. Eles tinham que montar aquela porra toda [na sala de entrevistas]. O banner é fácil, botou o banner lá, é rapidinho. Lá, não. Lá, o couro come. Cinco minutos. Tchau, ia embora”.

BMW destruída e birra com Jadson

Dois arrependimentos

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Injustiça com Poy, que ele derrubou no São Paulo

"Era um problema político terrível. Entrei no movimento para derrubar o Poy, o treinador. Mas queria, mesmo, derrubar a diretoria. Meu objetivo era sempre maior, sempre exagerado. Nós saímos e o time começou a perder, perder, perder. Mandaram ele embora. Depois, dois que me acompanharam me entregaram ao Poy. Eu tive a oportunidade de estar com ele e pedi desculpas. Disse: 'Foi a maior injustiça que cometemos com um treinador. Com outros, não. Mas com você foi'. Era um cara que me tratava super bem. Ele era péssimo no convívio com os outros, mas me tratava como filho".

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Briga com Rodrigo Bueno: "Fui preconceituoso"

"Aquilo foi uma besteira. Eu estava chegando na televisão, estava chegando na Fox. E o Bubu tem lá o pensamento dele sobre futebol. Eu fui extremamente preconceituoso, porque a gente tem esse defeito. A gente acha que só a gente sabe de futebol. Essa é a realidade. E tem uma justificativa. Mas você tem que aprender a ouvir os outros. Eu faço o programa do rádio hoje [Fox Sports Radio] com caras que falam, gritam, têm opiniões fortes. Discordo muitas vezes e fico na minha. Deixo bem claro para eles o seguinte: 'Discordo muito, mas jamais vou questionar. Respeito a opinião de vocês'".

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Salvo por Galvão

Em uma das situações, ele contou com a ajuda de Galvão Bueno para ser atendido em um voo para a Colômbia. Com dores terríveis, ninguém acertava o diagnóstico, passando de cálculo renal ao câncer. Só depois descobriam o problema, um nó intestinal.

Eu vinha gritando no avião e o Galvão Bueno arrumou um médico, amigo dele aqui em São Paulo. Me deu Buscopan na veia, mas não passava a dor de jeito nenhum".

“Eu berrava. Ele dizia: ‘Eu não sei o que você tem, você pode ter um câncer. A gente vai no escuro. Eu vou abrir e ver o que tem’. Ele abriu, desfez o nó, estava um pouquinho necrosado já, botou no lugar e falou: ‘Anda pelo hospital o dia inteiro para ver se você vai ao banheiro. Se você for ao banheiro, beleza. Se não for, nós vamos cortar 40% do seu intestino’. Minha mulher estava do meu lado. Graças a Deus, escapei”.

Infarto antes do 7 a 1

Os percalços não terminaram por aí. Mário Sérgio ainda ficou fora do jogo da seleção brasileira contra a Alemanha na Copa do Mundo em Belo Horizonte e mentiu dizendo que não estava sentindo dores para voltar para São Paulo.

“Não fiz o jogo do Brasil. Talvez tenha sido a mão de Deus, porque me tirou do jogo da Alemanha. Estava escalado, mas passei mal à noite. Saí para comer com o pessoal, bebemos vinho. O Vanderlei Luxemburgo estava com a gente. À noite, começou a me dar uma dor no peito, e eu estava ao lado do quarto do João Guilherme. Nem acordei o João Guilherme. Pensei: ‘Ele vai transmitir o jogo amanhã, não vou acordar ele’. Fui chamar o Moron, que era o vice-presidente. Falei: ‘Me leva no hospital que a coisa está feia’.

Estava andando de bicicleta lá na Lagoa, andava 1h30 da manhã, como se fosse exercício mesmo, andava rápido. E vieram os caras lá, dois caras em cima de uma moto atrás de um tapume de obra. Eu passei, meteram o pé, capotei a bicicleta e fraturei seis costelas. Tive perfuração no pulmão, quase morri

Sobre assalto no Rio de Janeiro, quando foi abordado por dois assaltantes

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"Sou fruto do que a vida me deu. Só fiz mal a mim. Nunca fiz mal a ninguém"

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