A silhueta de um senhor de compleição firme, porém cansada, surge contra o sol de uma manhã mineira recente, suas pernas arqueadas como se ele montasse um cavalo invisível.
Conforme ele se aproxima, você vê Dadá Maravilha pela primeira vez – um sorriso generoso te dando bom dia, um olhar quase se fechando pela força das bochechas, um anel em dedos diferentes de cada mão, um relógio dourado no pulso, uma pochete de couro balançando no ombro direito, a chave do carro na cintura e, nas mãos, uma agenda estufada, onde ele anota em caligrafia rebuscada todos os compromissos da semana.
Dadá está arfando. “Preparo físico é tudo”, ele diz, meio se desculpando, porque tem 71 anos e está sedentário. “Tive que andar de lá até aqui.” Lá é a rua distante onde ele parou seu carro; aqui é a sede da TV Alterosa, afiliada do SBT em Belo Horizonte.
Na portaria da TV, onde há duas décadas o ex-jogador faz comentários ao vivo, é como se ele estivesse no sofá de casa, ou no pátio do colégio. "Vocês querem ver um beijo gay?”, Dadá Maravilha pergunta, caminhando romanticamente em direção ao porteiro, um rapaz meio careca e engravatado que se afasta. "Sai daqui, viado!”, repele o porteiro. Dadá insiste. Os dois ensaiam uma perseguição na frente das catracas da TV. São quase 11 horas, mas parece a hora do recreio.
Enquanto concede entrevista, Dadá, autor do gol que deu o único título brasileiro do Atlético-MG, tricampeão mundial com a seleção no México, o quinto maior goleador da história do futebol do Brasil e pai de quatro filhos, não deixa de ser um homem fazendo homices. Dá chutes e palmadas na bunda dos funcionários da TV, os abraça, os chama de viado e boiola e diz coisas como:
Quando o Dadá pulava, beque nenhum conseguia pular junto. E se pulasse, tinha que fazer uma chupetinha no Dadá. O Dadá nunca dispensava uma chupetinha.”
As mulheres ele trata diferente: “Isso foi um assalto de beijo”, explica ele após encostar os lábios na bochecha de uma moça ruiva chegando para trabalhar. “Como está o senhor?”, a moça pergunta. “Melhor agora depois desse beijo.”