O homem dos bastidores

Assessor de Romário, Ronaldo e da seleção, Rodrigo Paiva revela outro lado de momentos marcantes do futebol

Ricardo Perrone e Rodrigo Mattos Do UOL, no Rio de Janeiro
UOL

Rodrigo Paiva foi homem-forte da comunicação do Flamengo e da seleção brasileira, trabalhou com Ronaldo e Romário e extrapolou a função de assessor de imprensa. Apareceu como cara da seleção, falou pela Copa de 2014, namorou celebridades. Pode não ser tão famoso quanto jogadores ou dirigentes, mas esteve envolvido nos bastidores dos momentos mais marcantes do futebol brasileiro nos últimos anos.

Quando Romário voltou ao Brasil para jogar no Flamengo como melhor jogador do mundo em 1995 ele estava lá. Quando Ronaldo virou vilão no Brasil por andar de Ferrari no Rio de Janeiro foi ele que gerenciou a crise. Quando Felipão não convocou Romário para a Copa de 2002 ele já trabalhava na CBF.

Foi a quatro Copas com a seleção brasileira. Foi demitido por José Maria Marin após o 7 a 1 e hoje trabalha na comunicação da Riotur (Empresa de Turismo do Município do Rio de Janeiro). Em entrevista ao UOL, lembrou histórias com Romário, Ronaldo, Felipão, Rivaldo, Edmundo...

Confira:

Vanderlei Almeida/AFP Vanderlei Almeida/AFP

Início da carreira teve Romário como "professor"

Antes de entrar no futebol, Rodrigo Paiva remava pelo Flamengo e estudava engenharia. Por ser atleta do clube, acompanhava treinos do time estrelado por Zico e Júnior. Acompanhava, também, as entrevistas dos jogadores. E se encantou com o ambiente. Desistiu de erguer prédios e se formou em jornalismo.

A construção da carreira de especialista em administrar crises envolvendo astros do futebol brasileiro teve a importante participação de Romário - craque também em criar situações desconcertantes para dirigentes e clubes. Paiva e o Baixinho trabalharam juntos desde 1995, quando o goleador voltou ao Brasil para defender o Flamengo.

“Tive a felicidade de cuidar do Romário. Eu era assessor do Flamengo quando ele chegou ao clube. Campeão do mundo e melhor jogador do mundo meses depois. Virei assessor dele, direto. Do clube e dele. A gente teve uma relação maravilhosa, que mantemos até hoje. Não convivemos tanto, mas volta e meia nos falamos”.

Com Romário, ele começou a ter contato com a imprensa internacional, o que se tornaria rotina em seus tempos de CBF.  A parceria com o Baixinho rendeu várias saias justas, traquejo na profissão e muita história para contar.

Não existia assessor de imprensa, relações públicas de clube, nada. Fui achando o meu caminho. Falei: 'caramba, como posso ser útil?'. Comecei a facilitar o trabalho da imprensa. Como eu tinha muito acesso aos jogadores, e era mais novo que eles, transitava muito bem entre a direção e os jogadores do clube

Sobre como começou a trabalhar no Fla

Romário entrava em campo com seguranças que, na verdade, não eram seguranças. Eram os amigos dele. Pedrão, Raposão, os caras. Ele levava para dar um jabazinho, um emprego. No fim, esses caras também me ajudavam. Às vezes, o Romário sumia e eu tinha os meus atalhos. A minha vida profissional deu um salto ali

Sobre a relação com Romário

Aprendi muito, também, com um irmão que eu tenho no coração, pra sempre: o Renato Gaúcho. Antes do Romário, era muito amigo do Renato, antes mesmo de trabalhar no futebol do Flamengo. Ele e o Gaúcho [ex-atacante do Flamengo), que infelizmente deixou a gente há pouco tempo [morreu em 2016]. Também era muito amigo meu

Lembrando dos amigos da época do Fla

Desse time do Flamengo em que eu estava trabalhando, faziam parte Júnior Baiano, Djalminha, Paulo Nunes, Marcelinho. Olha só! Antes do Romário, teve essa turma aí. E o Renato também, que era amado, mas não deixava de ser um cara... sempre foi polêmico. Eu fui aprendendo muito observando, ouvindo o outro lado. Sempre fui de escutar

Sobre o que aprendeu no período

Reuters Reuters

As histórias de Romário e do Flamengo

Desmaio ou teatro?

Tasso Marcelo/Estadão Conteúdo Tasso Marcelo/Estadão Conteúdo

O Baixinho sumiu

Plantão da imprensa no campo do Flamengo. Ninguém achava o Romário. Sumiu, desapareceu. Não atendia telefone. Não foi ao treino… Horas depois, consegui que o cara entrasse no quarto pela janela da varanda do lado. Ele estava dormindo! Nesse tempo, Jornal Nacional já estava dando a notícia... Não tinha site ainda. Vai saber o que se passou! Tocaram a campainha sem parar, ligaram sem parar, tocaram em tudo o que é coisa, bateram e socaram a porta. Horas! Ele não foi no treino, a imprensa falou… Não tinha discurso que sustentasse isso, né? Até para você dar esses dribles na imprensa, e a gente já deu vários, você tem que ter alguma base”.

Professor Romário

Luciana Whitaker/Folha Imagem Luciana Whitaker/Folha Imagem

Peixe grevista

Demitiram o diretor do futebol e eu tive que assumir também essa função no Flamengo. Era o meu primeiro jogo. Uma viagem para fora do Rio. O Romário estava com o salário atrasado. Aí marcou tal hora na concentração. Faltando meia hora, todo mundo lá, mas Romário não tinha aparecido. Eu ligava e ligava, não atendia. Sabia que ele estava puto. Deixei um recado: 'Pô, Romário, não é brincadeira não. É o meu primeiro dia segurando um pepino desse tamanho. Você vai me deixar aqui sozinho para explicar por que você não apareceu? É justo fazer isso comigo, que estou do seu lado o tempo inteiro?'. Deu um minuto, toca o telefone: 'Peixe, estou chegando. Fica tranquilo'.”

A ameaça armada

Juca Varella/Folhapress Juca Varella/Folhapress

Ferrari aproximou Paiva e Ronaldo

Roberto Price/Folhapress Roberto Price/Folhapress

Após dez anos trabalhando no Flamengo, Paiva saiu do clube para ser assessor de imprensa de Ronaldo. A indicação foi do fisioterapeuta Nilton Petroni, o Filé. Na ocasião, o Fenômeno sofria críticas da opinião pública após uma gravação para a TV Globo dirigindo sua Ferrari no autódromo de Jacarepaguá.

“Eu entrei para o estafe quando ele estava sendo muito criticado porque tinha uma Ferrari. No Brasil não existia Ferrari. E era logo depois da Copa (de 1998). Parecia que só tinha a Ferrari do Ronaldo no Brasil, né? Aí, logo de cara, consegui levantar que tinham 250 e poucas Ferraris no Brasil. A maioria em São Paulo. Algumas delas, compradas sabe lá como... A dele todo mundo sabe que foi às custas do sucesso profissional. Mas o Ronaldo não podia ter uma dessas. Porque um cara de Bento Ribeiro não nasceu pra ter Ferrari num país assim. Levantei esses números para ele ter subsídios”, lembra Paiva.

Ele não era ainda essa unanimidade naquela época, então o episódio da Ferrari teve um peso. A gente fez logo Páginas Amarelas (a seção de entrevistas da revista Veja) enfrentando todos os demônios, sabe? A Ferrari, a compra no Paraguai, o problema da Copa (de 98)

Sobre o início do trabalho, lembrando também de uma polêmica envolvendo compras no país vizinho em 1999

Foi um marco. O trabalho virou de cara. Ali foi gestão de imagem, mas depois fui aproximando o Ronaldo da imprensa. Ele conhecendo as pessoas e as pessoas o conhecendo. As críticas foram diminuindo. Talento e futebol ele tinha. Faltava um relacionamento do Ronaldo com o país dele

Explicando seu plano com o Fenômeno

Ronaldo parou até avião

Bruno Domingos/Reuters

O Fenômeno e Cicarelli

Fui eu que meio que apresentei os dois. Eles se conheceram quando a tocha olímpica passou pelo Rio de Janeiro. Nem se sonhava que a Olimpíada pudesse vir para o Rio de Janeiro. Eu lembro que o Nuzman pediu para ele correr. Eu falei que correria se fosse o último. A Cicarelli também correu

Sobre quando o Fenômeno conheceu a modelo Daniela Cicarelli

Depois, ao longo dessa paixão, as coisas mudaram. Interferiu na minha relação com ele. Não tem nada a ver com ela, são coisas naturais da vida. O entorno muda, né? Quando é o patinho feio, pouca gente vai no lago. Mas quando vira cisne, aparece um monte de gente, todo mundo com opinião

Sobre o efeito do namoro e posterior casamento dos dois na relação entre Ronaldo e Rodrigo

Foi uma questão que trouxe divergências de ponto de vista. E isso nos levou a interromper o nosso relacionamento. Mas foi uma coisa maravilhosa para a minha vida

Lembrando o que causou o fim da relação com Ronaldo

Ele (Ronaldo) me amou e eu amei a ele. É um amigo do coração. Com o Ricardo Teixeira, dei opinião várias vezes, quando ninguém fazia isso. Com Ronaldo, dava opinião também!

Falando de Ronaldo

Juca Varella / Folhapress Juca Varella / Folhapress

O rompimento com Ronaldo

Como a paixão de Ronaldo por Cicarelli minou o relacionamento com seu ex-assessor de imprensa? Na opinião de Paiva, os dois começaram a falar línguas diferentes porque o jogador passou a tomar atitudes excêntricas, como casar num castelo para agradar a amada. Isso fazia com que o craque abandonasse o perfil discreto rascunhado pelo escudeiro desde o episódio da Ferrari.

“Quando você é muito rico, pode ter tudo que um cara muito rico tem. Junta isso a uma fama poderosa no planeta inteiro e você é capaz de muita coisa. E aí vem o choque com a Ferrari. A gente vendeu aquela, não vamos comprar outra”, diz Paiva.

Com Cicarelli, no entanto, Ronaldo buscou “novas Ferraris” na forma de provas de amor exageradas. Rodrigo era contra. Ele conta que o Fenômeno dizia: “Porra, cara. Eu tô amando, eu tô apaixonado, eu quero mostrar que eu sou isso. Eu quero fazer o casamento dos sonhos, no castelo do conto de fadas. Porque a minha mulher tem que ver que eu a amo, que eu sou o único cara do planeta que pode fazê-la feliz”.

Eu estava virando o cara chato. Ele até falou que eu estava ficando um velho chato. Não era isso. É que eu dava a minha opinião”.

Eduardo Knapp/Folhapress Eduardo Knapp/Folhapress
Jefferson Bernardes/VIPCOMM Jefferson Bernardes/VIPCOMM

No meio da guerra entre Felipão e imprensa

O primeiro Mundial de Paiva como assessor de imprensa da seleção foi em 2002, com Luiz Felipe Scolari como treinador. Na ocasião, o técnico vivia às turras com os jornalistas, algo comum durante sua carreira. “O Felipão me quis na seleção. E o Felipão daquela época estava em conflito com a imprensa, em especial com a TV Globo. Com a imprensa em geral era uma relação bélica”, lembra Paiva.

As dificuldades do Brasil para se classificar e a ausência de Romário, pedido por boa parte da torcida, apimentavam o relacionamento do “sargentão” com os repórteres. “Teve um momento em que o Romário deu uma coletiva com o Eurico Miranda e aquilo mexeu com o Felipão. Baqueou. Tive que pegar um avião pro Sul pra gerir essa crise, porque o Felipão ficou contra a parede”.

Apesar de Scolari ser dobrado e chegar a admitir que poderia chamar o Baixinho em uma das convocações, Romário ficou fora da Copa.

Torcida quase virou carro de Felipão por Romário

REUTERS/Oleg Popov

Copa de 2002: atenção especial com Rivaldo e R. Carlos

Por ser o cara do Ronaldo, eu já sabia que as coisas caminhavam bem na relação da imprensa com ele. Por isso, fiquei a Copa inteira ao lado de Rivaldo e Roberto Carlos. Não teve uma entrevista, uma zona mista, qualquer coisa, que eu não estivesse ao lado do Rivaldo

Sobre como foi a sua Copa de 2002

Naquela época, você reconstruía uma imagem através de entrevistas estratégicas, de posicionamentos estudados. Não é transformar uma pessoa no que ela não é. Você dá luz às coisas boas que ela tem, que às vezes estão ali meio que na sombra

Sobre o que fez com Rivaldo

O Rivaldo era introspectivo, tímido, mas um cara bacanérrimo. E o Roberto era um cara expansivo, natural. Às vezes ele brinca e alguém transformava aquilo numa maldade

Sobre as duas personalidades

AFP AFP

O dia em que Rivaldo fez uma criança chorar

Na seleção pentacampeã, apesar do ótimo futebol de Rivaldo, Ronaldo era a grande atração. Um episódio com a então jornalista da Globo Ana Paula Padrão mostrou esse contraste e arrancou risadas no grupo de jogadores.

Ela estava lá para fazer uma matéria com um garoto e Ronaldo, seu ídolo. Ronaldo negou o encontro. “Você não viu o Jornal da Globo ontem? Manda trazer os bonitões lá”, disse Ronaldo. Os bonitões em questão eram uma matéria sobre os 10 jogadores mais belos da Copa de 2002. Ronaldo não estava entre eles. “Chama o Beckham”, insistiu o atacante.

Para compensar, Rodrigo falou com Rivaldo. “Eu falei que o sonho do garoto era conhecer o Rivaldo… Ele falou: 'Ô Rodrigo, tu tava falando com o Ronaldo. O moleque é apaixonado pelo Ronaldo...’”

Quando o treino acabou, Rivaldo abraçou o garoto, que perguntou: “Cadê o Ronaldo?”. “Ficou um clima do caramba, horrível”, lembra Rodrigo. Pior quando chegou no vestiário, Rivaldo ouviu coro dos outros jogadores: “É o Ronaldo, eu quero o Ronaldo!”. “Ronaldo era malandro, aquele grupo era todo dele”, conta Paiva.

A história sobre o topete de Ronaldo

As pessoas achavam que aquilo era uma grande jogada de marketing pra desviar do assunto da contusão e não sei o quê. Como em 1998, tem mil versões sobre o que aconteceu, mas as coisas são muito mais simples. É legal romantizar, faz parte da paixão do futebol, da história

Negando que o topete foi estratégico

EFE/Arne Dedert

Os rockstars de 2006

Os jogadores já eram campeões do mundo. Alguns, como o Cafu, já bicampeões. O Ronaldo era outro Ronaldo, o Adriano era fantástico, o Kaká já era o melhor do mundo, o Ronaldinho Gaúcho era um gênio.. Era muita estrela, os caras não eram jogadores de futebol. Eram Mick Jagger, eram Brad Pitt, eram Hollywood stars

Sobre os problemas na preparação

Tudo mudou de 2002 para 2006. Era uma multidão de jornalistas, do mundo inteiro. E também foi a primeira Copa com a TV a cabo forte. E eles ficavam ao vivo o dia inteiro. A seleção era fantástica, dava audiência. Tinha comentarista de bobinho, analista de preparação física. Uma exposição que a gente ainda não tinha lidado

Admitindo os problemas da concentração de Weggis, na Suíça

Eu faço um mea-culpa. A gente identificou o problema e corrigiu. Mas 15 dias depois. Quando a gente saiu da Suíça e chegou à Alemanha, faltando 10 dias para a Copa, o ambiente já era igual a de toda Copa

Sobre como contornou a questão

Eduardo Knapp/Folhapress

Copa mais difícil foi a de 2010. Por causa de Dunga

Lucas Figueiredo / MoWA Press Lucas Figueiredo / MoWA Press

Efeito Dunga

Depois de trabalhar em quatro Mundiais com a seleção brasileira, Paiva responde sem titubear qual foi o mais difícil: o de 2010. “Pessoalmente e profissionalmente. Disparada! Ali eu senti que eu era cascudo, que estava pronto pra encarar 2014”.

Treinos fechados, poucas entrevistas, respostas atravessadas e discussões com jornalistas compunham o cenário de guerra da seleção na África do Sul. O assessor ficava no meio do fogo cruzado e entrou em rota de colisão com o técnico Dunga.

“Quando ele chegou na seleção, tinha uma relação muito boa comigo. Mas acho que a expectativa que ele tinha do meu trabalho era diferente do que eu pensava em proporcionar pra ele. Era diferente da forma que eu sei trabalhar, de como enxergo as coisas. Para ser algo que eu não sou, fazer algo em que não acredito, só pra me manter no cargo, é melhor ter outro. As coisas foram se modificando gradativamente”, disse Paiva.

O Dunga era um ídolo meu. Eu lembro da imagem dele andando no meio-campo até a marca do pênalti [na final da Copa de 94, contra a Itália]. Ele é um ídolo meu, a memória do tetra, da superação dele em relação a (Copa de 90)...

Lembrando de Dunga capitão do tetra

UOL UOL

O bate-papo que rendeu salário dobrado

Quando contratou Paiva para a CBF, Ricardo Teixeira praticamente não tinha relação com a imprensa. Entrevistas eram quase inexistentes, mesmo com críticas constantes de jornalistas.

“Fui contratado pela CBF por um valor e depois de um mês eu consegui botar o Ricardo Teixeira em uma roda com a imprensa, lá em Barcelona. Nunca tinha acontecido isso. Eu lembro dos jornalistas que estavam cobrindo e que ele ficou até 3 horas da manhã falando tudo”.

O inusitado bate-papo rendeu um inesperado reforço de caixa. “Ali, ele falou: 'Quanto você ganha?'. Eu falei que ganhava x. Ele perguntou se era em dólar, eu disse que não. 'Então amanhã você liga pro Marco Antônio (Teixeira, então secretário-geral da entidade) e fala que eu mandei dobrar o seu salário'. Ali eu já tinha afastado a crise. A seleção já estava retomando um entendimento e ele mesmo já estava se aproximando. Então, tinha construído muita coisa em meses”.

Foi o único aumento que eu ganhei na CBF, tá? [risos]”.

Alguém que faz gestão de imagem, gestão de crise, é como um advogado. Ele pega o produto do advogado com a capacidade dele de reconstruir a imagem daquele personagem. Sintetiza aquilo e passa pra fora. É um trabalho

Sobre como vê a sua função

As pessoas entenderam a vida inteira o meu trabalho, em todos os momentos. Eu nunca fui ídolo. Eu não sou o Ronaldo. Mas também não sou bandido, criminoso ou qualquer coisa. Eu estou ali fazendo um trabalho

Sobre como era visto pelas pessoas

EFE/Agência Brasil

Existe corrupção na CBF?

Já me perguntaram se tinha sacanagem no futebol. Você olha, sabe que pode estar perto e pode achar que tem algo. Mas se você não participa, você não sabe. Saber, mesmo, você não sabe. Eu nunca vi, pessoalmente, nada.

Respondendo sobre corrupção no futebol

Quando me perguntaram isso, fiz uma analogia assim: "Se eu sou vegetariano, quando os meus amigos vão para uma churrascaria, eles não me chamam porque sabem que eu só como alface. Não como carne"

Negando que saiba sobre problemas da CBF

Eu nunca participei, assisti ou acompanhei qualquer coisa desse tipo. Mas é óbvio. É o meu trabalho, leio jornal e entendo. Estou do outro lado, dando voz para quem precisa se defender. E ouço quem está no papel de questionar

Sobre como vê o assunto

Reuters Reuters

Entrevista polêmica não foi por acaso

Em julho de 2011, entrevista publicada pela revista Piauí mostrou Ricardo Teixeira praticamente sem filtros. Sobraram arrogância e afirmações polêmicas, como sobre poder fazer a maldade que quisesse em retaliação a veículos de imprensa na Copa de 2014 que nada aconteceria.

A reportagem aumentou a pressão e a quantidade de denúncias contra o presidente da CBF e do comitê organizador da Copa. Bombardeado, Teixeira renunciou em março de 2012. Ficaram no ar as perguntas: quem idealizou tal entrevista? O que o cartola esperava com suas declarações?

Paiva afirma que levou o pedido de entrevista da “Piauí” ao dirigente. Ele acreditava que Teixeira estava em alta com a realização na Copa no Brasil e aquela era uma oportunidade de subir um degrau ao falar a uma publicação considerada séria.

Se eu tivesse trazido uma revista de comportamento, uma "Caras", e colocasse Ricardo Teixeira de roupão na beira da piscina, em um iate, numa espuma de hidromassagem, mostrando a casa ou fazendo coisas assim, eu teria sido incompetente no meu trabalho. Não ia agregar nada à imagem dele

Sobre porque escolheu a Piauí

Quando trago uma revista importante, para a qual tinham falado presidentes da República e pessoas reconhecidas, estou dando a ele uma oportunidade de subir um degrau. Naquela época, eu sabia que a revista era gerida por gente séria pra caramba. O cara que fala ali não é qualquer um, entendeu?

Explicando qual era seu plano com a entrevista

O problema é que não deu certo. Diante do resultado desastroso, o ex-assessor analisa que Teixeira pode ter subido o tom de propósito, em uma tentativa de precipitar sua saída. Ele considera que o ex-cartola “é muito inteligente para dar um passo na emoção”.

Atrapalhou muito, claro. Tipo assim, tem um incêndio e você bota mais combustível.  Eu acho que ali ele já tinha decidido que ia sair. Eu não sabia ainda”.

FABRICE COFFRINI/AFP FABRICE COFFRINI/AFP

"O pior cidadão que conheci"

“Esse senhor aí [Joseph Blatter, ex-presidente da Fifa] é o pior cidadão que eu conheci no futebol, o pior. O pior! E olha que eu conheci muita gente. Ele foi destruindo um por um, até o Platini, que era o braço direito dele, que ameaçou um dia chegar perto do cargo dele. Até que um dia se destruiu sozinho”. Segundo Paiva, Teixeira estaria nessa lista negra de Blatter.

Jefferson Bernardes/VIPCOMM

As tragédias de 2014

Fabrizio Bensch - Pool/Getty Images Fabrizio Bensch - Pool/Getty Images

A lesão de Neymar

As memórias de Rodrigo Paiva da Copa-2014 envolvem sensibilidade, situações tristes e consolar as pessoas. O maior exemplo disso é a lesão de Neymar. "Lembro dele entrando de maca no avião. No estádio o Runco falou que estava fora, não ia ter condição. Aí fez o exame, confirmou, todo mundo ficou esperando ele chegar do exame". Com o corte anunciado, Paiva tinha certeza que Neymar precisava se comunicar com a torcida brasileira. Foi ele que convenceu o jogador a gravar uma mensagem. "Eu sabia que ele tinha de falar alguma coisa. Se não falasse em Teresópolis, a imprensa faria vigília em frente à casa dele. Ele aceitou. Fizemos com um celular e apareceu em todas as TVs do mundo", lembra.

Eddie Keogh/Reuters Eddie Keogh/Reuters

0 7 a 1

Logo depois, o trauma foi ainda maior com a goleada de 7 x 1 sofrida para a Alemanha na semifinal. "O que resume tudo aquilo são quatro horas de silêncio, sem ouvir uma voz. É inesquecível. A trajetória do ônibus para o aeroporto, do avião, chegar ao Rio e ainda subir uma hora e meia aquela serra no escuro, sem ninguém na rua. A gente só andava com multidões por onde passava. E o ônibus em silêncio. Você ouvia um monte de choro em alguns momentos. Mas na maior parte do tempo era um silêncio total, ninguém falava nada. Eu não me lembro de ter conversado com ninguém. Acho que você fica ali percebendo que seus sonhos acabaram. E que aqueles sonhos viraram um pesadelo gigante".

REUTERS/Washington Alves REUTERS/Washington Alves

Carta da Dona Lúcia não foi erro

Ao lidar com a tragédia, um episódio marcante foi a carta de uma senhora chamada Dona Lúcia. O texto foi lido pelo coordenador Carlos Alberto Parreira durante a coletiva final. O documento de apoio foi motivo de deboche generalizado, mas Paiva não o vê como um erro.

“A carta existiu, a carta chegou. Na entrevista coletiva, sabíamos ninguém ia fazer um carinho, ninguém ia te dar um abraço. Você recebe algumas mensagens de e-mail, entre tantas, de apoio. De alguém que vê aquilo ali de uma forma diferente de você. Então aquela carta chegou, eu mostrei para o Felipão, para o Parreira. Ele leu e se emocionou. Na vida, a gente tem que aceitar as pessoas que pensam diferente.” 

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