Horas antes de entrar em campo contra o Londrina, os jogadores do Rio Branco decidiram não viajar para o local do confronto, válido pela divisão principal do Campeonato Paranaense. A razão? Com uma folha de pagamento de cerca de R$ 80 mil, o clube tinha salários atrasados por dois meses. A partida acabou acontecendo e o Rio Branco perdeu por 4 a 1. Mais tarde, o lateral Thiaguinho admitiu que havia sido abordado por um apostador que ofereceu R$ 5 mil para atletas que topassem entregar o jogo. A partida está sob suspeita de manipulação.
Clubes menores que convivem com problemas financeiros são o alvo preferencial da máfia de apostas. “Falta de pagamento, de comida, afastamento de jogador... Os dirigentes largam na mão de um suposto investidor, e acontecem todas essas coisas”, relata Mauro Costa, do Sindicato dos Atletas Profissionais de São Paulo. Costa é responsável pela área de prevenção e investigação de manipulação de resultados no sindicato, e parte de um pool entre a Interpol, a Fifa e o FIFPro, o sindicato internacional dos jogadores.
Apesar de ser possível apostar em praticamente qualquer evento esportivo no mundo, as quadrilhas de fraudadores focam em campeonatos de menor expressão, longe dos olhos da imprensa e onde os atletas recebem menos. O dinheiro movimentado nesse mercado é altíssimo: “A Interpol considera essa prática mais complicada que a dos traficantes, por que a manipulação deixa o [jogador] na mão dos caras para sempre. Se entrou nessa, não sai. Uma vez manipulado, já foi”, comenta.
Resistir é o mais difícil, porque quando põe o dinheiro na mesa, qualquer ser humano treme.”
O sindicato paulista recebeu reclamações sobre dez clubes com salários atrasados apenas durante o Paulistão 2018. Os campeonatos mais denunciados por jogadores por manipulação de resultados estão no Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Bahia e Rio Grande do Sul.