"Eu passei do limite hoje?"

Jogo aberto: Denilson fala de mulheres, dinheiro e futebol do jeito mais sério que consegue

Felipe Pereira e Karla Torralba Do UOL, em São Paulo
Paulo Camilo/UOL

O sorriso desaparece fácil no rosto de Denilson e dá lugar às lágrimas. E ele briga: “Porra, não consigo falar dos meus filhos”. O cara brincalhão que aparece todo dia na televisão chora com facilidade. Chora falando da família, dos amigos, das dificuldades. Até do futebol.

Denilson vive e sente intensamente todos os momentos da vida. Aprendeu a valorizar as coisas boas e driblar os problemas. “Eu tenho saúde, as pessoas que estão ao meu lado estão bem de saúde, então eu não tenho motivo pra ficar com raiva do Belo, por exemplo. O problema está aí: eu vou ficar batendo nisso para quê? Por isso que eu tento valorizar muito as coisas boas da vida”.

Foi esse Denilson que conversou, por quase três horas, com o UOL. Lembrou da fase boleiro driblador, do pentacampeonato, da fama de mulherengo e das desilusões com a bola. Mas também falou do casamento com Luciele Di Camargo (e dos shows que ela o obriga a ir: “Pô, mozão, você tá de brincadeira, vamos ter que ir mesmo?”). Estrela de TV, comentou a dobradinha com Renata Fan, que começou com xaveco e virou parceria afiada. Divirta-se.

Em busca da coerência

Denilson já dançou como Lacraia, Anitta e Michael Jackson ao vivo. Mas esse comentarista autêntico e espontâneo tinha medo de ser engraçadinho demais na frente das câmeras. “O primeiro desafio foi me encontrar”, lembra.

“Eu fui devagar. Perguntava para as pessoas que tinham mais tempo de televisão, como o Milton Neves e o próprio Zé Emilio Ambrósio [diretor de jornalismo da Band na época], que foi o cara que me trouxe para cá, depois para a Renata: passei do limite hoje? Às vezes nem eles entendiam por que eu estava perguntando aquilo”.

Aos poucos Denilson se soltou, mas sempre com o cuidado de ser coerente. “Eu passei a ser formador de opinião. O que eu trouxe para a área da comunicação, além do trabalho em grupo, é analisar o desempenho do cara. O que eu aprendi e venho aprendendo é ser coerente nos meus comentários, é me policiar para não esquecer o que falei de um time no ano passado. Eu não posso, na segunda-feira, falar que o Borja é bom e, na quarta, dizer que o Borja é ruim”.

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Denilson tímido? Foi conselho de Caio Ribeiro

O ano é 2010, período pré-Copa do Mundo. Denilson sofre com as dores no joelho e sabe que sua carreira nos campos não poderá continuar. Então, recebe um telefonema: era um convite para comentar o Mundial por uma rádio. O ex-jogador só não aceitou, porque Luciele vetou.

“Minha mulher falou: ‘Você não vai comentar a Copa do Mundo em uma rádio. Com o que você já conquistou com seleção brasileira, não tem nada a ver você comentar em uma rádio. Alguma coisa vai aparecer na TV’. Coisa de dias depois, me liga a Band: ‘A gente está com um projeto de um programa aqui para fazer o resumão da Copa do Mundo, dos jogos e tudo mais’. Eu falei: ‘Tá bom, eu vou’”.

Denilson escolheu Caio Ribeiro, amigo dos tempos de São Paulo e comentarista da Rede Globo, para contar a novidade. “Foi o primeiro cara que veio na minha cabeça. Um ex-jogador que era comentarista”, explica. E o conselho que o amigo deu foi para não chegar falando nas discussões: “Ele disse: ‘Dê, eu espero ele me chamar, não entro no debate. Espero porque se você entra no meio do debate, as pessoas não vão te ouvir. Espera te chamar, porque aí vão estar prestando atenção em você’”, recorda Denílson. Mas será que ele ainda segue esses conselhos?

Não que eu esteja seguindo isso à risca, porque eu sou da zoeira. No começo, até eu me encontrar, era eu quieto, esperando o Milton ou a Renata: e aí, Denílson? E aí eu falava. No começo era bem isso. Levei muito em consideração o que ele falou

Sobre os conselhos do Caio

Eu ia de ônibus para o treino e o Caio já tinha carro. Aí eu estava no ponto e ele passou: 'Tá indo para onde?' Eu falei: 'Diadema'. 'Entra aí que eu te levo'. Eu achei que ele estava zoando e entrei no carro. Ele me levou até Diadema no horário de pico

Sobre o amigo de São Paulo

Rivaldo Gomes/Folha Imagem Rivaldo Gomes/Folha Imagem

Milton Neves tirava onda para ensinar Denilson

Os anos com os pés nos campos de futebol ajudaram na leitura de jogo e no entendimento dos bastidores da bola para ser comentarista de TV. Mas, dentro de um estúdio, todos aqueles equipamentos eram novidade para Denilson.

Para quem é do meio, um dos aparelhos mais conhecidos de televisão é o teleprompter, o TP, equipamento que fica na frente dos apresentadores passando tudo o que tem de ser lido em um jornal ou programa. Foi Milton Neves quem ensinou Denilson a encarar o TP.

“Eu lia as três primeiras frases, mas não fazia ideia que o aparelho rodava. E quando rodava, eu já me perdia. Aí ele [Milton Neves] dava risada e tirava onda”, comenta. “Na décima vez em que ele pediu para ler o TP, eu já tinha lido antes. Ficava pensando: ‘caramba, se o Milton Neves me mandar ler o TP hoje, vai se ferrar’. Chegou um momento do programa em que ele falava: ‘Denílson, lê o TP’. E eu lia. Do jeito dele, ia me ensinando”.

Sobre a Globo: "Foi mais 'a gente se vê por aí'"

A relação com Renata Fan

A Renata é muito carinhosa com todos. No lado profissional, é extremamente competitiva, coerente, caprichosa. Se preocupa com a situação de cada um, aqueles que estão na frente e atrás das câmeras. Se um dia eu comandar uma equipe, vai ser assim

Elogiando a companheira

No começo, avisei: "Renata, eu sou um cara muito brincalhão. Às vezes, falo muita besteira. Qualquer coisa que eu fizer e você achar que não foi legal, me chama e fala. Não fala no ar, mas me fala". Para achar um equilíbrio. Ela falou que tudo bem, mas isso nunca aconteceu

Sobre a dinâmica com a apresentadora

Se você perguntar se eu converso com ela no dia a dia, a resposta é não. Acaba o programa e tchau. Com alguns assuntos, a gente se liga. Mas conto nos dedos, nesses seis anos, as vezes em que a gente falou no telefone. Mas existe um sentimento de família, de sintonia

Sobre a relação longe das câmeras

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As dicas da Renata

A Renata me ajudou para caramba nessa questão de concordância, nessa questão de erro de português. Ela falava: 'Você viu ali que você falou tal, tal e tal? É assim'. Eles estudaram isso, eu não estudei isso. Eu fui jogador de futebol. O que eu estou aprendendo hoje é na prática

Sobre sua mentora e professora

São onze anos de programa. A Renata tem mérito para caralho por ficar 11 anos no ar. E sendo mulher ainda existe um pouco de preconceito para falar de esporte. Não é porque ela é minha parceira, mas, para mim, é a melhor que tem. Você solta o tema e esquece

Elogiando a parceira

Denilson já xavecou (de verdade) Renata Fan

Foto Studio Equipe Foto Studio Equipe

"Esquece a Luciele. Ela é séria"

“Eu brinco com a Luciele que meu celular ainda tem o mesmo número de solteiro, mas, a partir do momento em que as pessoas souberam que eu estava namorando com ela, parou de tocar. Até hoje não toca, é muito engraçado isso”.

O Denilson mulherengo que “ia pra cima”, como ele mesmo diz, acabou em 2008, quando conheceu a mulher. O mais engraçado é que uma amiga em comum o aconselhou a não “ir para cima” da irmã de Zezé Di Camargo e Luciano: “Esquece. É extremamente séria e namora”.

Luciele rejeitou um beijo. Denilson se apaixonou

"Eu comecei a acompanhar a Luciele nas redes sociais. Tinha feito um ensaio sensual para o Paparazzo e eu comecei a salvar um monte de fotos dela. Vinha para o Brasil e ligava pra saber da morena lá. Um dia, a Fabiana [a amiga que o alertou sobre a moça] fala que ela tinha terminado o namoro. Eu também tinha me enroscado com uma outra menina. Achei que era a mulher da minha vida, mas não deu certo. Larguei, fiquei mal, falei que não ia namorar mais.

Mas a Fabiana foi pica para juntar nós dois. Eu estava no Palmeiras, a Luciele morava no Rio. Em uma quarta-feira, eu tinha jogo. Cheguei em casa cansado, deitei no sofá e o celular tocando para caramba. Era a Fabiana: 'Cadê você, cadê você?' Ela tinha combinado com a Luciele, que estava em São Paulo, de ir para um bar. 'Ah, você vem! Você combinou, você vai vir'. Aí a consciência bateu. Coloquei uma roupa e fui.

Cheguei e a Luciele estava lá, no estilozinho dela. Nossa, uma delícia. Mas a gente ganhou o jogo e, na hora em que eu cheguei, começou o assédio, as fotos. Comecei a perder o foco. Toda hora vinha a Fabiana e me puxava para um grupo de amigos, onde estava a Luciele. Enfim: nesse dia a Fabiana saiu fora e falou: 'O Denílson vai te levar'.

Levei. Quando ela foi descer do carro, tentei dar um beijo e ela se afastou. Aí eu falei: Caralho, eu acho que é essa mina, hein? Que da hora! A partir desse momento a gente começou a se falar por telefone. Depois mandava mensagem. Aí era MSN à noite, porque eu concentrava muito. Viajava muito e via muito pouco a Luciele. Mas foi acontecendo..."

AgNews AgNews

A Fazenda acelerou o casamento

O relacionamento estava começando e Luciele entrou no reality show A Fazenda, da Record, em 2009. “Quando ela recebeu o convite, disse que profissionalmente seria muito bom. Ela estava para tomar a decisão de continuar na profissão, se seria atriz e tudo mais. Eu não poderia ser injusto e falar não. Eu disse: ‘Olha, duas coisas podem acontecer. Você entra no reality show e nosso relacionamento acaba, você percebe que eu não sou o homem para você, ou que você não é mulher para mim."

Denilson recordou um medo que Luciele tinha no começo do namoro deles, de confiar num boleiro e ser exposta. Foi a vez dele pedir discernimento. "Vai, mas toma cuidado, tenha respeito e tal. Lembra o que você pensava quando me conheceu? É a mesma coisa que eu estou te falando agora: não me coloque no ridículo também”.

No mesmo período, Denilson aceitou uma aventura: jogar no Vietnã. “Foi um divisor de águas. O contrato com o Vietnã era de três meses, o mesmo período de programa. Acabei ficando um mês só, porque não me adaptei e o joelho estava ruim. Acompanhei o programa inteiro. É muito mais difícil para quem fica fora. Fora você vê tudo o que está acontecendo, as falsidades. E a falta que eu senti dela foi gigante. Quando ela saiu, eu falei que não tinha dúvida nenhuma de que era a mulher da minha vida. E ela também não tinha dúvida de que eu era o homem para ela”.

Reprodução/Instagram Reprodução/Instagram

A aprovação da Família Camargo

Para mim, os caras eram o Zezé e o Luciano, mas a Luciele disse que se o Emanuel me aceitasse, estávamos feitos. Ele era o cara que administrava a carreira dos meninos, era o cabeça da família. Quando eu fui para a casa dela lá em Goiânia, era para conhecer o tal do Emanuel. No almoço de domingo, ele entra na sala, passa por mim, cumprimenta todo mundo e vai embora. Falei: 'Ferrou!' Dez minutos, ele aparece de novo, senta na mesa extremamente sério, começa a falar comigo sobre aplicativo de celular. Que dá para seguir a pessoa, saber com quem ela conversou

Sobre o primeiro contato (tenso) com o cunhado bravo

Um dia eu fiz um vídeo cantando "É o Amor" e falei: 'Seu Francisco, vou cantar uma música. Diz aí se eu tenho jeito ou tenho que comer ovo'. Ele falou que teria que comprar uma granja para mim. É uma família que me recebeu de uma forma extremamente positiva

Sobre a relação com o sogro

Hoje o Zezé é meu vizinho. Do nada, bate em casa para tomar café. É legal, porque a gente passa a conhecer. Eu tenho esse privilégio de ser cunhado dos caras. Zezé e Luciano são extremamente queridos no Brasil. Tenho esse privilégio de ouvir ele cantar

Sobre um dos cunhados mais famosos

"Peguei global, peguei capa de revista. Era sem filtro"

O caso da mulher do toureiro

Calma, não é bem o que você está pensando. Denilson jura que não colocou chifre no toureiro, mas virou assunto nas revistas de fofoca. Ele teve um relacionamento com a atriz e apresentadora Vicky Martín Berrocal, que foi casada com um famoso toureiro espanhol, Manuel Diáz ‘El Cordobés’.

“Eu fui em um programa de televisão. Era um programa de cartas e brincadeiras, três contra três. Eu fiquei do lado da Vicky Martín Berrocal, uma morena. Eu perguntei se ela conhecia o Brasil. Ela disse não. ‘Você precisa conhecer’. A gente terminou o programa e a cadeira dela estava colada na minha. Quem é malandro já entendeu que o Denilson ia atropelar. A gente trocou telefone, todo aquele processo. A gente foi em um restaurante e foi quando as câmeras pegaram pela primeira vez. Foi quando eu realmente entrei no mundo das celebridades na Espanha”.

Nessa época, todo o país achava que Vicky e Manuel eram um casal. “Quando cheguei para treinar, com aquelas fofocas todas, perguntaram se eu era louco por pegar a mulher do Manuel ‘El Cordobés’. Eu falei: ‘Que Cordobés? O toureiro?’ Lá na Espanha, toureiro tem mais moral que jogador. O cara era extremamente famoso. Bom caráter, discreto, família e o caramba. Tanto é que eu fiquei com ela uns três ou quatro meses e ele deu entrevista falando que se eu estava fazendo ela feliz... Um cara extremamente educado. Até deu um peso na consciência”.

Explicando o mal-entendido: “Meu relacionamento com ela vazou quando a separação era recente. Por isso que deu o tumulto. Soou como traição. Falavam que ela já estava comigo quando se separou. E não foi isso”.

AP Photo/Domenico Stinellis

A diferença das festas de Beckham e Ronaldo

Em 2006, Denilson tinha deixado o Bétis e jogava no Bordeaux, da França. Ainda assim, era fácil voltar para a Espanha e dar um pulinho em Madri para visitar os amigos. Foi em uma visita a Júlio Baptista que ele acabou na lista de convidados de uma festa de David Beckham.

“Fui passar o final de semana com Júlio Baptista, Roberto Carlos, que jogavam no Real Madrid. Eu estava na casa do Júlio e o Beckham ligou falando que ia fazer uma festa na casa dele e o Júlio falou: ‘Pô, mas eu estou com o Denilson aqui’. E ele falou que eu podia ir. Peguei um terno bacana e fui. Foi uma puta festa”.

“Tinha de tudo: mordomia, mulher bonita, mulher bonita, mulher bonita. O nível era altíssimo. Você só tinha que ter cuidado em quem que você ia dar o bote, porque também tinha casal. Na casa dele, estudei o ambiente. Mulher em cima do salto, gravata certinha. Depois de um tempo, a mulher já está com o salto na mão, dançando, o cara abriu a gravata. Aí já é o momento em que você começa a dar o golpe, entendeu?”

Estou contando minha estratégia inteira de vida, caramba..."

O idioma mais falado no local, porém, traiu o mulherengo. “Não pontuei porque eu não desenrolava o inglês legal. Tinha muita galera de Londres lá. Se eu desenrolasse, seria perfeito. Ninguém ia me aguentar”.

Bem diferente das festas de Ronaldo Fenômeno: “Nas do Ronaldo eu pontuava direto. Ali era fato, porque era em espanhol. Eu só perguntava quem estava com quem e já era. Normalmente, chegava no status de Denílson também. Isso quebrava aquela barreira de início e fica tudo mais fácil”.

REUTERS/Marcelo Del Pozo REUTERS/Marcelo Del Pozo

Quando Denilson foi Neymar

Em 1997, Denilson foi o jogador mais caro do mundo. Ele foi vendido pelo São Paulo ao Bétis por US$ 32 milhões – quatro milhões a mais do que a transação recorde da época, a venda de Ronaldo Fenômeno do Barcelona para a Inter de Milão. Com o grande investimento vieram grandes responsabilidades: o jovem de 19 anos precisou amadurecer para jogar bola.

“O sentimento, na época, era de não saber o quanto significava aquela quantia. Quando fui para a Espanha, percebi que, sim, eu era o jogador mais caro do mundo. Lá eu tinha que cruzar a bola, fazer o gol, dar a entrevista... Tinha que ser maduro e não poderia errar. Era tudo muito PÁ! e eu tinha só 20 anos. Era um moleque. Tive que amadurecer em dois anos. Eu, realmente, caí na real”.

“Tudo o que eu não tinha vivido, passei a viver da noite para o dia. Ou eu amadurecia ou acabou, eu me perderia na profissão. Foi muito importante a presença dos meus pais na Espanha comigo. Eram o meu porto seguro quando eu voltava para casa. Saía para treinar, recebia a cobrança dos meus companheiros de time, da imprensa. Chegava em casa, eu me abria com os meus pais. Chorava, pedia para voltar. Eles sempre disseram para eu ficar calmo, que ia passar. Que tudo passa. Eu vejo, hoje, jogadores batendo e voltando e fico: ‘Caramba, o futebol europeu é muito legal. Dá para ficar’”.

/EFE/EMILIO MORENATTI /EFE/EMILIO MORENATTI

De "mais caro" a "sem grana"

Denilson foi o mais caro jogador do mundo, mas pouco tempo depois se viu sem dinheiro. O motivo? O acordo obscuro que tinha com seu ex-empresário. “Meu pai descobriu esse problema. Quando ele disse que meu agente estava me sacaneando, eu falei que a possibilidade era zero [de ser verdade]. Mas meu pai e meu irmão começaram a fazer outras coisas para mostrar que aquilo estava acontecendo. Não sei como eles levantaram tudo aquilo, mas vieram com todos os números. Eu sempre fui o provedor. Naquele momento, disse que meu pai tinha razão, que minha mãe tinha razão, que meu irmão tinha razão. Eu estava sendo sacaneado”.

“Teve o auge de ser o jogador mais caro. E foi muito legal. E tiveram também os problemas. Tive que aprender a administrar o dinheiro. Primeiro porque eu perdi, depois porque, em algum momento, eu voltei a ter. Aprendi a cuidar do que realmente era meu. E sabia o quão difícil foi ter isso novamente”

Eu fui o jogador mais rico e o mais pobre em um espaço muito curto de tempo. E ninguém sabia disso”.

Denilson conta que precisou começar do zero na questão financeira. “Veio a turbulência, veio o correr atrás. Nem sei se meus pais sabem disso, mas passei algumas noites em claro pensando de que forma que eu ia recuperar aquilo. De que forma que eu ia pagar minhas dívidas. Cheguei a única conclusão possível: o que eu sei fazer é jogar futebol. Eu estava me dedicando, logicamente, mas meu subconsciente me dizia que eu estava em uma situação financeira confortável. De repente, poderia abrir mão de um contrato de longo prazo para ser feliz em outro lugar. Mas aquilo virou uma necessidade de novo. A mesma necessidade que eu tinha com 15, 16 anos”.

“Eu estava em um momento de baixa. Eu tinha saído da Copa do Mundo de 98, não era convocado para a seleção brasileira, meu time tinha caído para a Série B do futebol espanhol, eu tinha vindo para o Flamengo e o Flamengo não tinha me pagado. Voltei para o futebol espanhol com tudo isso na minha cabeça. E aí, do nada, comecei a jogar bem. Acho que de muito trabalho, muito treino. Voltei a recuperar o que eu tinha, até um pouco mais do que eu tinha e que o cara tinha tirado”.

Nota: O primeiro empresário de Denilson, que intermediou a venda do jogador ao Bétis, organizava as finanças do jogador e ficou com a parte da transferência que correspondia ao atleta. 

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Mais um problema: agora com Belo

E já que o assunto é problema, o mais conhecido de Denilson é com Belo. Amante do pagode, o ex-jogador comprou os direitos comerciais do grupo Soweto nos anos 90. Em 2000, processou o cantor por quebra de contrato quando ele decidiu partir para carreira solo. Em 2004, a Justiça determinou que Belo indenizasse Denilson: a dívida hoje supera os R$ 4,7 milhões.

“Ele (Belo) teve um comportamento infeliz comigo. Era uma coisa muito simples. Comprei o grupo Soweto, tinha uma cláusula com o Belo, que era o principal integrante do grupo, beleza? Nesse contrato, tinha uma cláusula de rescisão de um milhão de reais, que foi o que paguei, beleza? A gente faz um monte de coisa que precisa ser feita. Era um grupo que estava em um momento extraordinário. Levei os caras para Espanha, acertei a vida de todos. Até pensão, porque eu não queria meu nome envolvido nessas coisas. Enfim, eu fiz muita coisa e recebi nada”.

“O ponto é que o Belo saiu do grupo. Ele decidiu sair, quem sou eu para impedir a carreira solo? Mas existe um contrato, cumpre. Passou um, dois, três, quatro meses. E aí? Combina comigo e não aparece. Eu falei: ‘Então tá bom, irmão. Vamos para a Justiça’. A Justiça já deu causa ganha, então ele precisa me pagar. Mais um episódio dessa história é que ele me processou por danos morais, o que eu achei um absurdo. E cara me deve, e não me deve pouco. E ainda me processa por danos morais porque eu estou exigindo uma coisa que eu tenho direito”.

* Nota da redação: Após dar ganho de causa a Denilson, a Justiça vem bloqueando cachês que Belo ganharia em seus shows até que a dívida seja quitada.

O Belo é um dos melhores cantores do Brasil, uma voz linda. Eu escuto no meu carro. Artisticamente, profissionalmente, ele é top. A carreira é gerenciada de uma forma ruim. Nem sei quantos anos ele tem. Eu aprendi com um erro. Ele, não sei

Admitindo que, apesar da dívida, ainda gosta de Belo

FSP FSP

O distanciamento do São Paulo

Em 2007, Denilson queria recuperar a parte física no São Paulo. Recebeu um não do então dirigente João Paulo de Jesus Lopes. No ano seguinte, foi para o Palmeiras, retomou o bom futebol e conquistou a torcida, mas conviveu com gritos de judas são-paulino. O episódio abala a relação do comentarista com o clube do Morumbi até hoje.

"Sou São Paulo de coração, mas Palmeiras de gratidão"

A decisão de parar de jogar

A decisão mais difícil foi a de parar de jogar. No fim, ia jogar por todo o mundo porque me pagavam bem e eu sabia que a carreira estava acabando. Sempre pedi para Deus para não me deixar parar de jogar por causa de lesão. Eu queria tomar essa decisão. E aí, de repente, com trinta anos, meu joelho já não respondia. De repente, eu me vejo no quarto, olhando para o teto, sem aquele tesão todo de bola. A dor falou mais alto, começou a consumir o meu corpo e eu falei: não dá mais

Sobre as dores do fim de carreira

Juca Varella / Folhapress Juca Varella / Folhapress

Drible contra Turquia foi eternizado por Galvão

“Pra cima deles, Denilson. Quatro em cima deles, quatro em cima dele”, narra Galvão Bueno na partida do Brasil contra a Turquia em 2002. Foi assim, na voz do narrador, que o lance foi eternizado. Denilson agradece.

“Fiquei marcado em uma Copa do Mundo, por causa de um drible, de uma jogada individual. E aí, devido a narração do Galvão Bueno, isso tomou uma proporção gigantesca. Eu falei para ele: ‘Galvão, obrigado, porque se não fosse a sua narração, provavelmente o lance não seria tão marcante como foi’. E ele falou: ‘Jamais você tem que me agradecer. Aquilo ali é único, eu não fiz mais do que a minha obrigação em narrar da forma que eu narrei’”.

Até quem não viu Denilson jogar ao vivo revê a jogada e lembra do jogador. “Esse lance da Turquia, que naquela época tinha sido só mais uma jogada, hoje me alegra muito. Por exemplo, um moleque que nunca me viu jogar viu essa imagem. Tem dez anos que parei. O moleque de 12, 13 ou 14 anos nem lembra de mim jogando futebol”.

Juca Varella/Folha Imagem Juca Varella/Folha Imagem

Como se sente um pentacampeão?

"Na hora, é mais um título. Na hora, você está comemorando um título, campeão do mundo, que legal. O bom é depois de passar 10 anos, 16 anos, 20 anos. Aí é o bom. Vai passando o tempo, você vai vendo que é foda ganhar uma Copa do Mundo. Você vai percebendo o quão difícil é você ser campeão do mundo".

Pedro Martins/Mowa Press Pedro Martins/Mowa Press

Denilson teria vaga na seleção hoje?

Denilson poderia não ser apenas penta: ele avisa que estaria na lista de Tite para a Copa do Mundo da Rússia. "Segundo o Tite, eu teria oportunidade nessa seleção dele aí. Se ele falou para fazer média comigo, eu não sei. A gente esteve junto aí recentemente e ele falou que eu teria lugar fácil na seleção".

Família e periferia

Minha mãe era empregada doméstica. Meu pai era funcionário público. Tudo era muito contado. Eu acabei indo muito cedo para o São Paulo, com 11 anos, para diminuir uma despesa dentro de casa. O São Paulo já me dava todas as condições e meu pai não tinha preocupação nessa questão de alimentação comigo

Sobre a vida em Diadema

"Sem grana do futebol, teria perdido minha mãe para o câncer"

Segue ou bloqueia?

  • Caio Ribeiro

    É um bananão (risos). Caio Ribeiro é excelente, ele é um querido, um amigo que eu fiz no futebol e tenho agora na área da comunicação. É um amigo pessoal mesmo, de frequentar minha casa, das famílias se conhecerem, se darem bem.

    Imagem: Reprodução/Instagram/caioribeiro
  • Felipão

    O Felipão resgatou o Denílson Show. Naquele período que eu contei de empresário, de sair da seleção, do Bétis cair para a Série B me liga e fala: 'Eu vou convocar a seleção para a Copa América e queria te convocar'.

    Imagem: Juca Varella/Folhapress
  • Adriano

    É maluco. Eu fiz uma crítica uma vez na Band, aí eu encontrei com alguém que me disse: 'O Adriano vai te pegar'. Se o Adriano me pegar, eu estou morto. As pessoas conhecem pelas polêmicas, mas tem um coração enorme.

    Imagem: Thiago Ribeiro/AGIF
  • Casagrande

    Como comentarista, eu acho espontâneo. Eu já ouvi falar que o jeitão dele não combina com a Globo, mas ninguém fica tanto tempo como comentarista se não sabe. Não é minha referência, mas não me desagrada também.

    Imagem: Reprodução
  • Pelé

    Pelé é o Rei. Elevou o futebol brasileiro a outro patamar. Não sei por que as pessoas criticam. Acho que é a memória curta do brasileiro. Lembro que não reconheceu a filha e foi muito criticado. É muito fácil a gente tacar pedra nos outros.

    Imagem: Ricardo Saibun/Santos FC
  • Ronaldo

    Superação total. Esse é parceiro, amigo, aproveitou a vida também, em todos os sentidos, mas eu me identifico muito porque ele também teve uma lesão de joelho seríssima, então os caras que passaram por lesão, eu tenho uma certa identificação.

    Imagem: REUTERS/Dylan Martinez
  • Paolo Guerrero

    Ele se adaptou rapidamente ao futebol brasileiro, ao estilo brasileiro de viver. Fez parte de uma época vitoriosa do Corinthians. Por vir de fora e ter o sucesso que ele tem aqui, merece todos os aplausos e todos os reconhecimentos.

    Imagem: Daniel Augusto Jr/Agência Corinthians
  • Muricy Ramalho

    A gente se ama! O Muricy é igual minha mulher, não tem duas conversas. E Denilson e Muricy estão juntos no teatro falando dos bastidores do futebol. Eles se apresentam em São Paulo, dia 14 de abril, no Shopping Villa Lobos.

    Imagem: Rubens Cavallari/Folhapress

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