Além de ser sintoma de um problema maior, o suicídio de jovens astros ainda pode ter o efeito indireto de atingir negativamente os fãs que já estejam em uma situação mais vulnerável. O fenômeno é conhecido desde ao menos o século 18, quando o livro "Os Sofrimentos do Jovem Werther", de Johan Wolfgang von Goethe, contribuiu para uma onda de suicídios na Europa.
"Isso deixou um alerta para todos os estudiosos de que um caso de suicídio de uma figura pública, de uma pessoa admirada, de uma pessoa com quem a gente se identifica, pode levar ao suicídio outras pessoas vulneráveis", aponta Botega. "Quando ídolos do pop se matam, dependendo de como a notícia é veiculada, pode haver de fato o desencadeamento de novos suicídios em pessoas vulneráveis, principalmente adolescentes, jovens", diz o psiquiatra.
Ele vê essa questão como preocupante em um país em que os suicídios são um problema grave, como a Coreia do Sul, mas não descarta que o reflexo possa chegar também aos fãs no Brasil, onde o índice desse tipo de morte entre jovens de 15 a 29 anos cresceu 27,2% de 1980 a 2014, segundo o Mapa da Violência, que reúne dados do Ministério da Saúde.
"Nós estamos no terreno das possibilidades. Se eles têm um fã-clube aqui, é porque jovens brasileiros se identificam com a música. Ou seja, nesse momento de suicídio de um ídolo pop, há uma subpopulação de jovens do Brasil que, se é um jovem que está mais vulnerável, pode pensar em suicídio, pode tentar um suicídio. A gente já viu isso acontecer com '13 Reasons Why', com a Baleia Azul, e há outros relatos científicos", afirma o médico.
Para ele, uma das maneiras de se lidar com o problema é falando sobre o assunto. "A gente não pode jogar o problema para baixo do tapete, se não dá a impressão de que ele não existe".
Nesse sentido, Pak acredita que o fandom (como são chamados os grupos de fãs de determinado artista, gênero ou obra) do k-pop pode contribuir. "Eu particularmente conheci muitos fãs de k-pop brasileiros que têm depressão, ansiedade, que precisam de apoio e encontraram no k-pop e nos 'idols' uma terapia, uma ajuda".
Imenes vê com preocupação os possíveis efeitos negativos dessa onda de suicídios sobre os fãs mais jovens e que sofrem com depressão, ansiedade, bipolaridade e outros transtornos, mas concorda com Pak.
"As pessoas se apoiam e é um momento de reflexão para todo mundo, de pedir mais amor, compreensão e respeito. Ninguém deveria ter uma lição dessa a partir de uma tragédia como a morte de alguém, mas são momentos em que o fandom se fortalece, se apoia, e em que a gente pode pôr a mão na consciência e tentar ser um ser humano melhor", conclui.