Mas até que ponto a série pode realmente iniciar um debate ou fazer mal àqueles que a assistem por conta de suas cenas fortes? Não há uma resposta fácil para esta pergunta.
O psiquiatra Neury Botega, professor da Unicamp e membro-fundador da Associação Brasileira de Estudos e Prevenção do Suicídio, avalia que embora a série vá contra muitas recomendações médicas ao tratar do assunto, ela tem a importância de estabelecer diálogos em torno do tema. Só no Brasil, o suicídio de jovens cresceu 10% entre 2002 e 2014, de acordo com dados do Mapa da Violência 2017.
De um modo geral foi produtivo no sentido das pessoas entenderem que o suicídio se liga a transtornos mentais, a muito sofrimento. Tenho esperança de que o bem vai ter mais resultado do que o lado ruim da série. Neury Botega
Para Antônio Geraldo da Silva, diretor da Associação Brasileira de Psiquiatria, “13 Reasons” pecou ao não alertar logo de saída os espectadores sobre os conteúdos aos quais eles seriam expostos.
“Faltou essa parte de ter orientação pra quem fosse assistir ou discutir, essas pessoas ficaram meio perdidas em meio a situação. Não ficou claro para pessoas que elas iam ver tais situações”, diz ele, reforçando que, para certos públicos, pode ser arriscado entrar em contato com esse tipo de produção:
Uma pessoa que tem pré-disposição ou que tem um quadro psiquiátrico, se realmente for exposta a situações assim, é um perigo. Antônio Geraldo da Silva
Carlos Correia, do CVV, reforça a importância de se falar no assunto do suicídio para poder preveni-lo. “Durante muitos anos, esse assunto era um assunto proibido, praticamente a gente não ouvia. Realmente é um fato a repetição, é um temor. Mas se a gente aborda o lado da prevenção, estamos fazendo um bom serviço. Por esse lado, a série ano passado foi uma bomba”, diz, afirmando que percebeu uma grande movimentação de pais e professores em torno de tema, que já estava em alta por conta do “desafio da Baleia Azul”: “Era uma sensação muito desconfortável de se trazer um assunto que não era tratado na sala de jantar, no sofá, nas escolas, na sala de aula”.