Desafiando Hollywood

Academia amplia base de eleitores do Oscar, incluindo mais mulheres e minorias

Patti Sonntag
Zade Rosenthal/Marvel Studios e Paramount Pictures

Este artigo faz parte do especial Ano em transformações do "The New York Times News Service & Syndicate" que o UOL publica exclusivamente no Brasil. Ao final desta página você encontrará outros artigos relacionados a esse especial.

A indústria cinematográfica peca pela falta de diversidade; qual o impacto disso sobre os atores e todos aqueles que ajudam a criar nossos mundos imaginários?

A indústria do cinema está mudando. As mulheres estão se tornando cada vez mais visíveis como diretoras (Kathryn Bigelow, Lisa Cholodenko, Ava DuVernay) e produtoras bem-sucedidas (a Pacific Standard, produtora de Reese Witherspoon emplacou megasucessos como "Garota Exemplar" e "Livre"; Sharmeen Obaid-Chinoy ganhou um Oscar em 2016 pelo curta "A Girl in the River: The Price of Forgiveness"). Apesar disso, muitas atrizes continuam ganhando menos que os colegas homens e a cerimônia de entrega do Oscar de 2016 foi duramente criticada pela falta de indicados não brancos.

Apenas algumas estrelas do alto escalão são reconhecidas como boas de briga e consideradas ameaçadoras na telona, mas isso também está começando a mudar. Scarlett Johansson, 32, foi elogiada por seu papel como uma alienígena à caça em "Sob a Pele" e aparecerá, em 2017, como uma policial na luta contra o crime em "O Fantasma do Futuro". Sua atuação como Viúva Negra na série "Os Vingadores" ajudou a torná-la a atriz mais rentável de todos os tempos, arrecadando mais de US$ 3.3 bilhões para os estúdios, segundo o Box Office Mojo. Apesar disso, até setembro deste ano, ela era a única mulher a entrar para a lista dos Vinte Mais do site.

Em entrevista, Scarlett fala de como o papel da mulher na vida real está mudando a participação feminina no cinema. A conversa foi editada e condensada.

Mary Ellen Matthews/Corbis Outline Mary Ellen Matthews/Corbis Outline

Pergunta: O mundo a viu crescer na telona –afinal, você começou muito novinha. Durante esse mesmo período, o papel da mulher na vida real mudou muito. O cinema está começando a refletir esse fenômeno?

Scarlett Johansson: Vemos mais mulheres não só na direção, mas em vários outros departamentos. Se você olhasse o set há dez anos, veria basicamente só um bando de homens; talvez no departamento de figurinos, ou no cabelo e maquiagem visse mais mulheres. Hoje elas são assistentes de câmera, diretoras de fotografia, especialistas em iluminação.

Neste projeto com que estou envolvida agora, "Rock That Body", há várias mulheres na equipe técnica, ao contrário de muitas outras produções de que participei.

P: Isso acaba mudando a experiência da atuação para você?

Scarlett: É legal estar num grupo diversificado de modo que não haja uma maioria –ter a energia feminina no set, outros tipos de pessoas, climas diferentes. Ajuda a criar um ambiente mais equilibrado.

P: A essa altura da sua carreira, o que a atrai num papel?

Scarlett: Sempre segui os mesmo princípios para escolher meus trabalhos, ou seja, tento fazer filmes pelos quais o público vai pagar para ver, mas conforme vou ficando mais velha, essa definição vai mudando um pouco.

Nunca fui fã de HQ de super-herói, mas fiz "Homem de Ferro 2" porque adorei o que [o diretor Jon] Favreau fez no original. Mexeu comigo, que nem curto muito o gênero e, ainda assim, vi futuro em construir uma personagem com a Marvel.

A ideia de fazer uma franquia me empolgou –essa coisa de repetir um papel em diversas instâncias, o desafio de interpretar uma figura que tem a chance de ir conquistando os fãs, de deixar a minha marca nela.

Patrick T. Fallon para The New York Times Patrick T. Fallon para The New York Times

O discurso de Patricia Arquette sobre equiparação salarial para as mulheres na cerimônia do Oscar de 2015 abriu uma discussão sobre a diferença entre o quanto ganha uma atriz em relação ao colega homem

Jason Merritt/Getty Images/AFP Jason Merritt/Getty Images/AFP

P: Alguns papéis que você escolhe são bem diferentes, como “Sob a Pele”, no qual é uma alienígena predadora que usa a sexualidade masculina contra os próprios homens, embora, na verdade, ela não seja coquete. É importante para você fazer essas experimentações?

Scarlett: Procuro projetos com cineastas dispostos a fazer coisas que dão ao público uma experiência diferente.

P: Parece que você gosta de desafios.

Scarlett: Sempre fui muito competitiva e isso inclui sempre ampliar meus limites –correr riscos e poder viver com a perda que vem de assumi-los.

P: Em seu trabalho como Viúva Negra em “Os Vingadores”, vemos sua habilidade em mostrar vulnerabilidade apesar da força da personagem.

Scarlett: Admitir a própria vulnerabilidade é um lance muito poderoso. Há muito que se dizer de uma personagem que tem força, mas não fica alardeando.

São muitos detalhes contraditórios que compõem a personalidade multifacetada. Dar vida a um personagem significa valorizar e reconhecer sua complexidade, ter consciência de que é possível ser várias coisas ao mesmo tempo, não é preciso ser só preto ou só branco.

P: Você acha que o fato de haver mais mulheres no set de filmagem oferece mais flexibilidade para explorar todas as dimensões da personagem?

Scarlett: Talvez o público esteja mais aberto para essas tramas mais ricas do que antes e, por isso, há mais oportunidades de colocá-las na telona. As pessoas querem ver aquilo que reflete as experiências que estão tendo. Enquanto cultura, talvez estejamos nos tornando mais tolerantes em relação às diferenças e ao espectro complexo que a vida nos oferece.

Quando você vê filmes de 50 anos atrás, percebe que os personagens refletiam aquilo que as pessoas queriam projetar no mundo –ou seja, uma coisa idealista, preto no branco, certinha, sei lá. Não é mais assim. Os longas que fazem mais sucesso hoje em dia são aqueles em que os personagens têm defeitos. E acho que é por isso que [o roteirista e diretor de “Os Vingadores] Joss Whedon vem tendo tanto sucesso nesse aspecto, porque ele adora as imprecisões, faz questão de exaltá-las. Gosta de destacar nossas fraquezas.

P: Quais as experiências que gostaria de criar na tela para sua filha?

Scarlett: Minha filha ainda é muito novinha. No momento, acho que nós duas sonhamos que, um dia, vou encarnar uma princesa Disney, mas acho que não vai rolar. Venho pedindo um papel desses há vinte anos e ninguém nunca me ofereceu nada.

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