Um festival de experiências

Mistura de ritmos e gêneros, tributos, críticas sociais: as mensagens no Lollapalooza Brasil 2018

Mariana Pekin/UOL

Com mais acertos do que erros, o Lollapalooza de 2018 levou em três dias de evento mais de 300 mil pessoas ao Autódromo de Interlagos, em São Paulo. Red Hot Chili Peppers, Pearl Jam e The Killers ajudaram a transformar a edição deste ano no maior Lollapalooza da história. Mas não foi só isso.

O festival se mostrou, mais uma vez, antenado com as tendências de comportamento e musicais ao escalar artistas como Lana del Rey e Aurora e trazer mais uma vez Imagine Dragons, que repetiu o sucesso da edição de 2014. Teve até "Vai Malandra", de Anitta, apresentada pelo Tropikallaz.

Em um evento deste tamanho, é difícil acertar em tudo e a maior reclamação do público ocorreu, justamente, durante o show do Imagine Dragons. Por causa da superlotação, o pessoal do fundão ficou frustrado por não conseguiu ouvir o som, embora pudesse enxergar perfeitamente o palco. Outro problema foi a abrupta interrupção do show da Liniker, após uma das caixas de som pifar.

Por fim, o bárbaro assassinato da vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco, não passou despercebido. Ela foi lembrada no palco por bandas como Vanguart, Rincón Sapiência, Ventre, Braza, Mahmundi e Francisco, el Hombre.

A seguir, reunimos o que de melhor rolou no Lollapalooza de 2018.

Mariana Pekin/UOL Mariana Pekin/UOL
Manuela Scarpa/Brazil News Manuela Scarpa/Brazil News

A força do Imagine Dragons

Quatro anos depois de reunir um dos maiores públicos do Lollapalooza Brasil, o Imagine Dragons voltou a arrastar uma multidão impressionante na noite do segundo dia. A popularidade por aqui continua tão alta que os americanos lançaram mão da nova "Believer", com introdução lenta ao violão, e foram ovacionados ainda nas primeiras notas. Foi um show em que cada canção explodia sempre em uma catarse sonora, potencializada por refrões grudentos e espaço para o coro da plateia.

O engajamento marcou o tom da apresentação comandada pelo vocalista Dan Reynolds, que é mórmon praticante e trabalhou como missionário por dois anos. Ele contou ao público que há dez anos estava tratando depressão e pregou para que as pessoas falem mais sobre a doença.

Eu vim com o coração partido. Estou cansado do ódio, da intolerância, das nossas crianças serem mortas. Nós vivemos e morremos, mas hoje nós celebramos a vida. Vocês me dão esperança

ler mais
Mariana Pekin/UOL Mariana Pekin/UOL

Nada como um dia após o outro

A apresentação da cantora Liniker no segundo dia do Lollapalooza foi interrompida pela metade, após 20 minutos de show. Enquanto cantava seu grande hit "Zero", o som foi interrompido abruptamente por problema técnico nas caixas de som, mas o público finalizou a música à capela. Do palco, só era possível ouvir os som dos metais. A pane no palco fez Liniker se emocionar e chorar no palco.

Nos bastidores, a expectativa era de que o problema fosse resolvido brevemente, mas logo ela comunicou ao público que o show estava cancelado. Visivelmente emocionada e sem microfone, agradeceu aos fãs.

No dia seguinte, Liniker voltou ao mesmo palco como convidada da banda Francisco, el  Hombre. Ao lado de Maria Gadú, elas cantaram "Triste, Louca ou Má", música-tema da personagem Clara, da novela "O Outro Lado do Paraíso". E, desta vez, Liniker deixou o palco com um imenso sorriso no rosto.

ler mais
Ricardo Matrucara / UOL Ricardo Matrucara / UOL

O cientista louco da música

David Byrne abriu mão dos amplificadores e mostrou que é possível fazer um legítimo e competente show de rock com muita encenação e apenas instrumentos portáteis. E  para anunciar a aula de anatomia musical, ele apareceu no palco do Lollapalooza com os cabelos brancos desgrenhados, e cara de cientista louco, sozinho no palco segurando um cérebro de plástico.

Livres dos fios e cabos, os músicos, uniformizados com terno e sandália, fizeram coreografias e se entregaram à proposta mais teatral. Em entrevista recente à AFP, Byrne explicou a proposta que mostrou no Autódromo de Interlagos.

É tudo sobre nós. Tudo diz respeito aos músicos, aos seres humanos que fazem música.

Byrne continua o mesmo artista ambicioso, propondo uma performance provocativa em que disseca o conceito de música ao vivo para apresentar canções surreais, como "Everyday is a Miracle" e "Dance Like This".

ler mais
Felipe Gabriel/UOL Felipe Gabriel/UOL
Reprodução/Bis Reprodução/Bis

Alô, quem fala? É a malandra

Anitta fez participação virtual no show do Tropkillaz

Nome em ascensão na cena eletrônica mundial, o duo brasileiro Tropkillaz subiu ao palco no último dia fazendo jus ao nome. Batida mais tropical do momento, o funk guiou a apresentação dos produtores André Laudz e Zé Gonzales, que desde as parcerias com Karol Conká, MC Carol e Anitta, vêm incorporando o batidão a um som que já privilegiava o trap e os beats mais pesados da música eletrônica.

"Vai Malandra", hit de Anitta com produção de Yuri Martins e da dupla, incendiou o público, com direito a participação da cantora no telão. Em um vídeo, ela apareceu ligando para os produtores para avisar que não poderia ir ao show, mas que mandaria um convidado especial para defender seu hit. MC Zaac, que divide os vocais com a popstar no hit, fez as honras em cima da mesa dos DJs e provou que o Lolla está perdendo o bonde ao não dar espaço ao funk na programação.

ler mais

Eles não foram esquecidos

Jales Valquer/Fotoarena/Estadão Conteúdo Jales Valquer/Fotoarena/Estadão Conteúdo

Marielle, presente

A imagem de Marielle Franco, assassinada na última semana, foi exibida em diversas apresentações. Vanguart, Rincón Sapiência, Ventre, Braza e Mahmundi foram só algumas das atrações que fizeram tributo à vereadora. Até a sueca Zara Larsson fez sua homenagem, tuitando após o show: "Marielle Franco fará falta, mas nunca será esquecida".

Divulgação Divulgação

O ídolo Miranda

O produtor musical Carlos Eduardo Miranda, que ficou popularmente conhecido como jurado do "Ídolos", morreu subitamente na véspera do festival. Diversas bandas que trabalharam com ele o exaltaram no palco. Luneta Mágica, Selvagens à Procura de Lei, Francisco el Hombre e até apresentadores do canal Multishow reservaram suas palavras ao produtor.

Felipe Gabriel/UOL Felipe Gabriel/UOL
Mariana Pekin/UOL Mariana Pekin/UOL

De olho nas redes sociais

Lollapalooza, cenário ideal para uma selfie de sucesso

Com grandes nomes da música que chegam a atrair cerca de cem mil pessoas por dia, com ingressos sendo vendidos a rodo antes mesmo de eles serem anunciados, o Lollapalooza Brasil tem diversão garantida para quem não quer apenas curtir sua banda preferida.

E a mais recorrente delas --sinal dos tempos-- é a selfie. Quem caminha pelo extenso Autódromo de Interlagos de São Paulo é capaz de testemunhar um batalhão de jovens tirando fotos divertidas. E o objetivo de todos é o mesmo: a imagem perfeita para angariar o maior número de likes nas redes sociais.

Murillo Alcântara tinha um roteiro fotográfico para curtir o festival. "Você vê um show legal aqui, come alguma coisa ali, tira foto perto da entrada, vê um ambiente diferente do outro lado. Acho que é o conjunto que faz o Lolla ser tão pano de fundo para as fotos".

ler mais
Ricardo Matsukawa / UOL Ricardo Matsukawa / UOL

O que o público achou

A mudança dos palcos está aprovada. Antes não tinha jeito: você tinha que escolher um palco e lamentar perder outro show, porque não daria tempo de caminhar 20 minutos entre um lugar e outro. Agora, é só virar a cabeça que você já vê o outro show

Eduardo Neves, 46 anos

O Chef'Stage, que é a praça gastronômica, ficou maior e melhor. Não está mais dentro de uma tenda abafada como nos anos anteriores. Agora temos espaço para caminhar e comer com calma, com preços variados

Rogério Figueiredo, 29 anos

A única coisa que achei ruim é de só ter a opção de usar a pulseira para comprar bebidas e alimentos, porque perdemos muito tempo tendo que ir toda hora até os caixas, e pegar fila, para recarregar a pulseira

Júlia Cristina, 20 anos

Felipe Gabriel/UOL Felipe Gabriel/UOL

Curtiu? Compartilhe.

Topo