Show da poderosa

Nos 25 anos de Anitta, UOL visita bairro onde ela cresceu e conta a história da cantora antes da fama

Ana Cora Lima Do UOL, no Rio
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A cantora mais importante do Brasil faz 25 anos

Ela chegou lá. É a brasileira mais influente da internet: tem 27 milhões de seguidores no Instagram, foi vista mais de 1,5 bilhão de vezes no YouTube, no ano passado, e é a primeira artista do país a bater 1 milhão de streamings, com “Downtown”, em um único dia, no Spotify. Assinar um contrato de publicidade com ela custa entre R$ 4 milhões e R$ 5 milhões por ano.

Anitta vai completar 25 anos na sexta-feira (30) como a maior cantora brasileira da atualidade. A festa acontece nesta segunda.

De família de classe média baixa, ela foi uma criança cercada de cuidados da família e uma adolescente com reputação de popular e estudiosa. Todos os entrevistados para esta reportagem citaram determinação e foco como suas principais características.

Cinco anos depois da música "Show das Poderosas", Anitta firmou sua estrela no incerto céu do show business e sua carreira internacional parece muito mais provável de se realizar do que o sonho da garota Honório Gurgel, subúrbio na zona norte do Rio, que queria ser uma MC famosa.

O UOL conversou com amigos, parentes e visitou os lugares frequentados por ela antes que o sonho se tornasse realidade. Conheça a história da cantora antes da fama.

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Larissa para os íntimos

O nome de batismo de Anitta é Larissa e, reza a lenda, ela escolheu a alcunha artística por causa da minissérie "Presença de Anita" (2001), sobre uma ninfeta (Mel Lisboa) que infernizava o personagem de José Mayer.

Os seus pais, a costureira Miriam Macedo e o vendedor Mauro Machado, se separaram quando ela tinha 1 ano e 8 meses. Tanto a família materna quanto a paterna são da zona norte carioca.

"Ela continua com as amizades de Honório Gurgel. Os amigos continuam frequentando as nossas festas e é como se a vida fosse ainda lá. Em casa, ela é a Larissa mesmo, não é Anitta", contou Miriam ao UOL.

Ana Cora Lima/UOL Ana Cora Lima/UOL

Rua do Crime

Como qualquer outro subúrbio da zona norte do Rio, Honório Gurgel sofre com a violência, mas o apelido da rua onde Anitta morou tem outra origem. “Aqui tinha muitos lotes vazios, muitas árvores e os rapazes traziam as meninas para cá, para o ‘crime’”, conta, entre risos, Maurício Antônio, ex-vizinho.

Anitta morava em uma casa de cinco cômodos (ela dividia o quarto com o irmão), a de número 27 da rua Dom Francisco de Campos. Ela viveu no imóvel até 2012.

Honório Gurgel ocupa a 88ª posição do IDH (índice de desenvolvimento humano) dos bairros do Rio, ranking liderado por Gávea e Leblon, ambos na zona sul. A renda per capita é R$ 303, enquanto no Leblon chega a R$ 2.441.

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Mãe presente

Depois de separar do pai de Anitta, Miriam Macedo foi viver na casa dos ex-sogros, na rua do Crime.

“Ela gostava demais de dançar, de contar piadas e de cantar”, diz o antigo vizinho Maurício Antônio. “Ela não dava trabalho, não. Larissa não aprontava na rua nem respondia aos mais velhos. Graças à educação da Miriam, uma mãe muito presente e amiga dela e do Renan [irmão da cantora].”

Segundo Maurício, Miriam e Renan ainda frequentam o bairro, onde vivem alguns parentes. A reportagem do UOL localizou uma tia de Anitta em Honório Gurgel, mas ela não quis dar entrevista.

Chefinha da turma

"Nós brincávamos sempre juntas e uma coisa que eu odiava fazer era organizar os brinquedos depois e a Larissa me obrigava", conta a estudante de moda Jéssica de Sá. "Ela sempre foi muito comunicativa, gostava de fazer amizades, conquistar as pessoas e ser direta. Ser verdadeira mesmo", elogia Jéssica. Dois meses mais velha que Anitta, ela morava na casa em frente da da amiga e as duas cresceram juntas. Jéssica chegou a trabalhar como assistente de estilo da cantora, mas teve que desistir do trabalho por conta de outros compromissos. Até hoje, elas mantém contato, apesar da agenda atribulada da companheira de infância. "Meio que nos perdemos no caminho e fico com receio de procurá-la, porque vejo que tem muito urubu em volta. Mas ela sempre me avisa quando troca de número e mando mensagens nas datas importantes pra ela."

Nem R$ 1 no bolso

"Nossa melhor fase foi a adolescência. Não tínhamos R$ 1, mas éramos felizes e uma ajudava muito a outra", recorda Jéssica. "Saíamos com R$ 10 e nunca sobrava nada, nem para lanchar. Uma vez fomos a um festival de rock na Barra, a banda Strike era a nossa favorita. A Larissa entrou e eu fui barrada. Depois consegui entrar e acabamos nos encontrando no salão. Bebemos só uma garrafa de água!", contou. As duas ainda dividiam o guarda-roupa, já que vestiam o mesmo número. "Nós comprávamos blusas falsificadas de marcas em Madureira. Comprávamos peças diferentes para poder trocar para parecer que tudo era novo, que nossos armários eram variados." "Todo mundo do bairro a conhecia porque era uma menina muito simpática, do tipo popular mesmo", conta José Luiz Fernandes, dono da lanchonete TS, frequentada por ela.

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De estagiária na Vale a revelação do funk

Eram apenas cinco vagas para 5.000 candidatos. Aos 16 anos, Larissa Macedo passou em um concorridíssimo processo seletivo para fazer estágio na Vale. E foi feliz da vida para a sua primeira experiência profissional séria. Em sua conta no Twitter, ela falava com prazer do trabalho.

Recém-formada em administração na Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faetec), na Tijuca, a jovem ainda recebeu a oferta de efetivação depois de terminada a experiência. Recusou. Ela estava decidida a seguir o caminho da música e, em 2010, já havia sido contemplada com o troféu de Revelação do Funk, graças ao irmão, Renan Machado (com ela na foto acima), o produtor de seus primeiros vídeos, e que também virou seu empresário informal para pequenos shows em clubes e churrascarias. 

O caminho até o "Show das Poderosas"

Assista à evolução da cantora de um vídeo caseiro até o hit que a colocou sob os holofotes

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Big bang no furacão

“Essa menina canta a minha música melhor do que eu!”

Foi essa a reação da funkeira  Priscila Nocetti ao ver Larissa cantando “Soltinha”, em um vídeo pra lá de caseiro. Mulher de Rômulo Costa, o dono da Furacão 2000, ela presenciou o “big  bang” de Anitta. Na foto acima, a cantora aparece entre o casal.

“Nós a convidamos para gravar uma música e ela foi lá com o pai. Larissa queria muito ser artista”, recorda a primeira-dama do Furacão, uma espécie de coletivo musical, que produz bailes e agencia artistas de funk.

No dia em que a aspirante a cantora chegou ao estúdio, o DJ Batutinha, outro da gangue do Furacão, também se rendeu a ela.

“[Larissa] cantou as músicas que pedi, de um jeito totalmente peculiar, ela vinha de um coral de igreja e sabia soltar a voz. A voz não doía os tímpanos, era muito afinada e cantava outros ritmos muito bem, só voz e violão, nos intervalos das gravações no estúdio da Furacão.”

O rompimento com a realeza do funk

Já parte da trupe do Furacão 2000, Anitta passou a se dedicar aos shows com afinco. "Mesmo quando não tinha apresentação programada, ela ia aos bailes e pedia para cantar", diz Priscila Nocetti.

"O que me marcou foi quando ela me disse que estava querendo desistir. Ela estava sem dinheiro e aquilo mexeu comigo. Pedi para a gerente da Furacão 2000 pagar o carro para levá- la aos shows e as coisas foram se encaminhando", conta Rômulo Costa, conhecido como Papai do Funk.

O rompimento com a realeza do funk carioca foi tumultuada. "No final de 2012, eu não sabia que ela estava sendo disputada no mercado, havia um leilão pelo passe dela. Estipulei R$ 250 mil para assinar a rescisão... No dia seguinte, uma pessoa veio com a grana e eu assinei. Soube depois que quem negociou foi a Kamilla Fialho, minha antiga funcionária, com quem eu não me dou", relembra Rômulo.

Pai de Jonathan e ex-marido de Mãe Loura, alcunha de Verônica Costa, hoje vereadora pelo PMDB no Rio, Rômulo conta que há anos não fala com Anitta. Já sua atual mulher, Nocetti, diz que mantém um bom relacionamento com a cantora. "Ela sempre me chama para ir aos shows."

Procurada pelo UOL, Kamilla Fialho não quis dar entrevista. A empresária e sua antiga agenciada brigam na Justiça por conta do rompimento de contrato, iniciativa de Anitta, em agosto de 2014.

Eduardo Knapp e Mastrangelo Reino/Folhapress Eduardo Knapp e Mastrangelo Reino/Folhapress

Nariz antes e depois da fama

Antes de estourar com "Show das Poderosas", em 2013, Anitta já tinha passado por duas plásticas. Assim que completou 18 anos, ela mexeu no nariz e nos seios. Insatisfeita com o resultado, ela voltou para a mesa de cirurgia no começo de 2014.

Poucos dias após mudar a prótese de silicone, retocar a plástica no nariz e tirar a gordura dos culotes, da barriga e da cintura, a cantora foi ao “Domingão do Faustão” para receber um prêmio.

A artista também detalhou os procedimentos. "As primeiras cirurgias que realizei no nariz e nas mamas foram por estética, mas tive que corrigi-las porque ficaram mal feitas. A do nariz me prejudicou até no trabalho. Me esforçava muito para cantar porque o canal da respiração ficou estreito e vivia com as amígdalas inchadas", afirmou em entrevista à revista "Marie Claire".

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