"É surpreendente como até hoje tem uma renovação do público do Charlie Brown", observa Marcão.
Um dos trunfos da banda foi ter ficado em alta tempo o suficiente para transcender a geração que a acompanhou lá no começo, em meados de 1997. Do sucesso inicial com "Proibida Pra Mim (Grazon)" e "O Coro Vai Comê!", passando pelo estouro de "Papo Reto" e "Rubão" até chegar a hits mais recentes como "Dias de Luta, Dias de Glória", passaram-se oito anos. A geração MTV já havia sido reciclada.
E, mesmo com lançamentos menos relevantes na metade final da carreira, os clássicos parecem não ter cansado os fãs, a ponto de o Charlie Brown Jr. se manter em alta nas listas de bandas de rock mais ouvidas nos últimos anos.
No Spotify, em 2017, o grupo foi o mais ouvido entre os artistas de rock, à frente de Nando Reis, Legião Urbana, Skank e Capital Inicial, respectivamente. Cenas posteriores ao do Charlie Brown, como o hardcore de bandas como CPM 22, o emocore do NX Zero e o happy rock do Restart, não chegaram ao mesmo patamar e nem criaram ídolos tão expressivos.
Carlos Eduardo Miranda, produtor de inúmeros artistas e jurado em programas como "Ídolos", acredita que hoje não há espaço para ídolos da magnitude de Chorão.
O tempo de hoje não comporta um cara como Chorão. O papel do herói está diluído e não existe mais o 'grande público'. Fora sertanejo e funk, o que existe é o nicho. O rock é nicho, a MPB é nicho. Eles foram a ponta de um iceberg, de uma geração inteira que, antes deles, era desprezada.
Musicalmente, o Charlie Brown Jr. arrebatou com uma mistura enorme de estilos. Começaram tocando metal à la Suicidal Tendencies, passaram a cantar em português e misturaram ao rock doses de ska, rap e hardcore. O Raimundos havia desbravado o mundo do rock nacional. O Charlie Brown rompeu as barreiras rumo ao mainstream.
O Charlie Brown trouxe uma identidade. Ele foi influenciado pelos seus contemporâneos, Raimundos, Planet Hemp, mas conseguiu absorver aquelas influências e traduzir dentro de uma linguagem completamente própria. Isso é um mérito que não se pode tirar.
Grazi