50 tons de verde e amarelo

Autoras brasileiras de histórias eróticas são as que mais vendem livros digitais no país

Felipe Branco Cruz Do UOL, em São Paulo
Getty Images

Isaque entrou em mim lentamente e até o fim. Eu só abri um pouco mais as pernas. Senti a vagina palpitar em torno dele. Mordi os lábios, obriguei meu corpo a relaxar, a apenas esperar. Então, a penetração foi se tornando mais constante e igualmente silenciosa.

O filão dos livros eróticos, relegado a uma subcategoria da literatura e vendido escondido em bancas de jornais, floresce nas plataformas digitais. A cena descrita acima pode parecer pesada, mas ela é bastante comum em obras do gênero. 

O trecho vem do livro "Pecadora", da escritora brasileira Nana Pauvolih, uma das mais bem-sucedidas autoras do gênero e que, recentemente, vendeu os direitos autorais de uma de suas obras para a TV Globo.

Por vergonha e preconceito, muitas mulheres preferem comprar e ler essas histórias pelo celular ou em tablets, escondendo suas preferências literárias do resto do mundo. O resultado é uma discrepância nas listas dos livros mais vendidos. Enquanto nas livrarias, o que bomba são obras de auto-ajuda, na internet, quem está no topo são as escritoras brasileiras de livros eróticos.

A boa notícia é que o mercado dos livros eróticos no Brasil, aos poucos, está saindo das sombras. Cada vez mais editoras tradicionais têm contratado essas escritoras e muitas delas já foram convidadas para as principais bienais de livros do país. As autoras afirmam que, dependendo da produção (algumas escrevem entre 5 a 10 livros por ano), é possível ganhar entre R$ 10 mil e R$ 40 mil por mês.

Ele era alto -muito alto-, tinha ombros largos e quadris estreitos e era dono de uma beleza rústica, meio selvagem. Exalava uma masculinidade crua, viril, capaz de mexer com os hormônios de qualquer mulher com sangue nas veias e mexera com os meus, de maneira tão fervoroso que eu teria me entregado facilmente, se ele tivesse tentado me levar para a cama. Aliás, eu quis que ele tivesse tentado, quis tanto que cogitei fazer a proposta, só não fiz porque não era mulher de me oferecer a um homem.

trecho de "Redenção e Desejo", de Ariela Pereira

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Da estante virtual para a tela da Globo

Desconhecida de muitos brasileiros, mas uma verdadeira celebridade entre as escritoras eróticas, a carioca Nana Pauvolih, 43, (na foto) deverá levar para a TV a adaptação da sua série "Redenção", já que vendeu os direitos da obra para a TV Globo. 

O enredo do livro não poderia ser mais brasileiro e tem aquele jeitão de novela das 21h. Parte da história é ambientada em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, e uma das personagens frequenta a escola de samba Beija-Flor e usa o trem da linha Japeri para ir até a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). A trama também tem cenas em um clube chique do Rio de Janeiro, onde os prazeres mais perversos são permitidos.

Nana também é uma das poucas autoras que conseguiu superar a barreira do preconceito e fechar contrato com uma grande editora, a Rocco, que publica a série "Redenção". Somados os seus livros impressos e os ebooks, ela já vendeu mais de 200 mil cópias. Um número de fazer inveja no mercado literário brasileiro, no qual quem vende 10 mil cópias já pode ser considerado um best-seller.

Todo esse sucesso não é isento de críticas. Antes de se dedicar integralmente à escrita de livros eróticos, Nana foi casada por 19 anos e trabalhava como professora de história e filosofia. Mas o casamento acabou por causa da literatura.

Meu marido não aceitava e minha família não achava digno. Ele me pediu para escolher entre ele ou os livros. Escolhi os livros.

Os livros também trouxeram um novo amor à sua vida. Ela se casou novamente no dia 13 de abril com o irmão de uma de suas leitoras. "Sempre foi muito difícil achar livros eróticos nas livrarias. Hoje, eu tenho um contato muito próximo com minhas leitoras, a ponto de ter conhecido meu novo marido por intermédio delas".

'Acho que uma massagem pode te ajudar', a voz feminina sussurrou ao meu ouvido, na medida em que suas mãos traçavam um caminho vagaroso pelos músculos da minha barriga até chegar na minha ereção. Ela era hábil com as mãos. Fechei os olhos pronto para me entregar a mais uma rodada de prazer, quando meu celular tocou.

trecho de "Acordo Pré-Nupcial", de Ane Pimentel

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Machismo e preconceito

Apesar do avanço, o preconceito e o machismo contra a literatura erótica ainda são recorrentes. A escritora Juliana Dantas, de 40 anos, vivenciou isso de perto quando trabalhava em uma grande livraria.

“Eles (os vendedores) diziam: ‘lá vai a tiazinha safada’, quando viam uma cliente procurando livros eróticos e davam risadinhas quando elas pediam ajuda. Muitas me procuravam diretamente porque sabiam que eu gostava e não iria tirar sarro", conta.

Sob o pseudônimo de Ane Pimentel, uma dupla de autoras de 28 anos de Aracaju, em Sergipe, afirmou que não usa os nomes reais por causa do preconceito. Uma das autoras explica:

Só quem sabe que eu escrevo é o meu marido e a minha mãe. As pessoas não sabem separar a realidade da ficção. Se eu escrevo sobre assassinato, não quer dizer que eu mato as pessoas. A mesma coisa com um romance erótico.

O preconceito também é percebido nas críticas que as leitoras fazem sobre o comportamento das personagens. Em "Acaso", primeiro livro da série “Os Albuquerques”, a mocinha trai o noivo. Por causa disso, a obra recebeu avaliações negativas das leitoras.

“Chamaram minha personagem de promíscua”, diz Ane Pimentel. Porém, o terceiro livro, “Carpe Vita”, em que um homem jovem, baladeiro, tem duas namoradas, não foi criticado. “Foi o livro que teve a melhor recepção”.

A escritora Ariela Pereira, de Tocantinópolis, no Tocantins, diz que o sucesso dos livros eróticos demonstra que nem sempre as editoras sabem o que o leitor quer ler. “Quem decide o que vale a pena ler, é o leitor, não a editora”, garante.

Ela também enfrentou muito preconceito na sua cidade, de apenas 23 mil habitantes a 450 km da capital Palmas.

Era professora concursada do ensino fundamental. Não poderia contar para ninguém o que eu fazia. Até hoje, muitas pessoas ainda não sabem o que faço.

Driblando o preconceito

As pessoas enxergam essas leitoras como "safada" ou como "encalhada que só vai realizar fantasias lendo esse livro". Para mim, a literatura erótica é como um conto de fadas mais "dirt" ("sujo").

Juliana Dantas, autora de livros eróticos

Eu sou casada e não consigo imaginar a minha sogra lendo um livro meu. Aliás, ela nem sabe que eu sou escritora.

Ane Pimentel, pseudônimo de uma dupla de autoras

Quando abri o botão da minha calça, vi como sua expressão mudou, como fitou meu corpo com desejo decadente e voltou rapidamente ao meu olhar. Abri o zíper. Não tirei a calça preta. Apenas baixei a cueca e segurei com firmeza meu pau, deixando bem à mostra para ela.

trecho de "Redenção e Submissão", de Nana Pauvolih

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Como é essa literatura?

"Não é porque o livro tem cenas de sexo que é putaria. É tudo muito feminino, embasado no romantismo. No final das contas, toda mulher quer ler um bom romance", afirma Juliana Dantas (na foto), que dá a dica: "No final, todo livro invariavelmente acaba em casamento e em bebês. Se não acabar assim, as leitoras reclamam. Todas querem um homem que realize suas fantasias, sejam elas românticas ou financeiras".

Juliana explica que se um homem for escrever ou ler um livro erótico, não vai enxergar a história da perspectiva dele. "Uma vez eu li um conto erótico escrito por um homem e achei horrível. A pegada dele era só na questão sexual", explica.

As autoras são unânimes em afirmar que o livro “50 Tons de Cinza” foi o responsável por abrir o mercado dos livros eróticos. Antes, obras deste tipo só eram vendidas em bancas de jornais ou ficavam escondidas em um canto das livrarias, como se fossem proibidos. É por isso que os eBooks fazem sucesso, pois a pessoa pode ler em um lugar público pelo celular ou tablet com discrição, sem que ninguém veja a capa do livro.

As obras têm descrições bastante explícitas de sexo e as autoras contam que 99% das leitoras são mulheres. "São pouquíssimos homens que leem os nossos livros ou vão em tardes de autógrafos", diz Nana Pauvolih. "Acho que os rapazes têm vergonha de escrever. Homem gosta mais do suspense e da aventura. Poucos se arriscam num conto erótico".

Agora estávamos em pé de igualdade: eu, de calcinha; e ele, de cueca... boxer... preta... Meu Deus, que delícia! Como eu não tinha percebido quão gostoso ele era? Passei tempo demais olhado para a cueca dele.

trecho de "Acaso (Os Albuquerques)", de Ane Pimentel

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Dá dinheiro?

Na lista das mais vendidas, há escritoras entre 20 e 50 anos. Um das mais jovens é a carioca Tamires Barcellos (na foto), de Mesquita, na Baixada Fluminense. Ainda morando com os pais, a estudante de letras diz que com as vendas dos livros consegue pagar a faculdade e ainda sobra um pouco para investir em outras coisas.

“Meu sonho é ser publicada por uma grande editora, mas não é o meu objetivo. Vou continuar escrevendo e publicando digitalmente. Quero que mais autoras entrem no mercado e criem coragem para publicar as suas obras”, diz Tamires.

Ariela Pereira vive como escritora profissional há dois anos e prefere publicá-los digitalmente, já que afirma não ter tido boas experiências com editoras. “Elas não me pagaram os meus direitos até hoje”, diz. Na Amazon, seu livro "Redenção e Desejo" é um dos mais vendidos. Atualmente, a obra ocupa o 19º lugar, à frente de "Harry Potter e a Pedra Filosofal", por exemplo.

Com uma média de produção cinco livros por ano, ela afirma que, quando as vendas do mês são boas, ela ganha até 20 vezes mais do que ganhava quando era professora concursada do governo e seu salário não passava de R$ 1,2 mil. “Acho que toda literatura é educativa. Tem a questão da gramática, da interpretação textual. A literatura de massa é importante”.

Desde 2016, quando largou o emprego para viver só de literatura, Juliana Dantas já publicou 16 livros na Amazon. Neste mês, por exemplo, sua obra “Por um Sonho”, ocupou o 8º lugar dos mais vendidos digitalmente. Só em 2018, ela já lançou dois livros.

É como vender Avon. Tem mês que eu vendo todo o catálogo. No outro mês, vendo só um produtinho.

Na Amazon há duas maneiras de ser remunerado. Uma delas é receber os royalties das vendas dos livros (físicos e digitais) e a outra é por página lida por meio do Kindle Unlimited, uma espécie de Netflix dos livros. Funciona assim: o leitor faz uma assinatura mensal e tem a disposição milhões de livros para ler. Neste caso, os autores são remunerados por conta das páginas lidas - é desta forma que as escritoras ganham mais dinheiro.

Nana, Ariela, Ane, Juliana e muitas outras acumulam milhões de páginas lidas por mês. Este número, no entanto, não é público, mas é usado pela Amazon na hora de classificar os livros mais lidos no mês.

Com sua mão livre, segura meus cabelos atrás da cabeça e puxa com força sem apartar sua boca daminha, enquanto que escorrega a outra mão para minha bunda, infiltrando-a na fenda entre minhas nádegas, alcançando minha intimidade. Quando acaricia a entrada da minha vagina, toda melada, um gemido rouco, meio selvagem, parte de sua boca e morre na minha, quando então ele me carrega para a cama, deitando-me de costas, acomodando-se sobre mim.

trecho de "Irrefreável", de Ariela Pereira

eBooks mais vendidos da Amazon

  • "Priscila - Livro 4" (Anne Marck)

    Posição: 1º lugar - Sinopse: No quarto e último livro da série Renda-se, finalmente conhecemos Priscila. Algo aconteceu a ela, em algum momento de sua vida, que a tornou a garota durona, tão durona que decidiu lutar e seguir em frente.

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  • "Poderosa CEO" (Evy Maciel)

    Posição - 2º lugar - Sinopse: Jéssica Montes é CEO de uma grande marca de cosméticos. Admirada pelos empresários mais bem-sucedidos, sua influência e importância no mundo dos negócios a transformaram em uma das mulheres mais poderosas do país.

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  • "Por Um Sonho" (Juliana Dantas)

    Posição: 8º lugar - Sinopse: Em uma manhã chuvosa Milly literalmente cai na vida de Gabriel Collins. E o frio empresário se encanta com a felicidade que irradia daquela desconhecida. Uma felicidade que lhe é estranha. E algo nela faz com que ele tome uma decisão que norteará sua existência a partir de então.

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  • "Redenção e Desejo" (Ariela Pereira)

    Posição: 15º lugar - Sinopse: Durante uma noite de tempestade, devido a uma estrada bloqueada o empresário Lowell Dixon se vê obrigado a passar a noite em um hotel na beira da estrada, onde se sente genuinamente atraído por Madison, uma das funcionárias e não economiza esforços para tentar conquistá-la e levá-la para a sua cama.

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  • "Acordo Pré-Nupcial" (Ane Pimentel)

    Posição: 20º lugar - Sinopse: Alê sempre foi um solteiro convicto. Suas saídas chegavam, no máximo, a três encontros. Por isso achou muito conveniente conhecer uma mulher que compartilhava das mesmas ideias. Antes mesmo que conseguisse deixar claro que não queria envolvimento, Gabi colocou as cartas na mesa e poupou seus esforços.

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  • "Além do Olhar" (Nana Pauvolih)

    Posição: 38º lugar - Sinopse: O talentoso violoncelista Ramon Martinez é vítima de uma tragédia que o deixa paraplégico aos 28 anos de idade. 3 anos depois ele ainda luta para se adaptar à sua nova realidade, enfrentando muita coisa e felizmente contando com o apoio de sua família. É quando conhece a famosa atriz Marcella Galvão, no auge do seu sucesso, linda, cheia de admiradores, forte e determinada.

    Imagem: Divulgação

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