A princesa dividiu o reino

Madrinha do feminejo, Paula Fernandes fala de Bocelli, Roberto Carlos e da persecutória fama de antipática

Leonardo Rodrigues Do UOL, em São Paulo
Amanda Perobelli/UOL

"Princesa" do sertanejo, Paula Fernandes viu seu reino ser dividido e maciçamente povoado nos últimos anos. Mas esse não é o tipo de reforma agrária que a preocupa. “Há espaço para todos”, contemporiza ela ao UOL, na sessão de entrevistas de sua nova música, “Beijo Bom”.

Tímida, simpática e autoproclamada mais "relax", a mineira de 33 anos é acompanhada por uma equipe que inclui duas assessoras de imagem. O que ela mais deseja no momento, além de sair bem na câmera: desconstruir a imagem de antipatia construída em torno de sua figura pública, algo incompatível ao que realmente é.

Em menos de meia hora de conversa, ela já começa a se soltar: brinca, gargalha e, como qualquer jovem razoável, logo perde o receio de soltar palavrões, mesmo ao falar de temas espinhosos. Entre eles, a depressão, os casos de assédio na família, o feminismo que agora abraça e as tão faladas parcerias com Roberto Carlos e Andrea Bocceli. 

Paula Fernandes é um livro aberto —principalmente se seus relacionamentos não estiverem em pauta. “Isso já saturou, né?”

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Abrindo a porteira

Até Paula Fernandes estourar nacionalmente em 2009, havia um um buraco de quase 20 anos no campo do sertanejo feminino, desde os primeiros sucessos de Roberta Miranda. Paula abriu o caminho para as cantoras e duplas femininas que hoje dominam o ranking das músicas mais tocadas e ditam regras do mercado pop brasileiro, como um dia ela já fez.

Quando cheguei não tinha nenhuma mulher da minha idade cantando sertanejo. E eu vou te falar: enfrentei muito preconceito. Antes porque eu era criança, depois porque eu era adolescente e depois que virei adulta por ser mulher. Mas eu acho que é motivo de muito orgulho ter aberto essa clareira.

A artista se deu conta disso logo após começar a frequentar as paradas e os programas de TV, quando passou a receber vídeos amadores de jovens cantando suas músicas à voz e violão. Vários e vários deles.

"Eu vi as meninas tocando minhas músicas na internet e comecei a imaginar que as coisas logo iriam mudar em breve. Porque elas conseguiam se enxergar. Viam a possibilidade de se tornaram artistas. E é muito bom encorajar as pessoas a fazerem coisas boas."

Hoje sou minha própria empresária. Acho que fui muito feliz nas escolhas da minha carreira. Consigo me dar ao luxo de compor e cantar o que eu gosto. Eu me sinto uma boa referência.

Paula Fernandes

"Antipática? Eu?"

Divulgação
Reprodução/Instagram/paulafernandes Reprodução/Instagram/paulafernandes

Sertaneja sem ser "topzeira"

Aos 34 anos, Paula Fernandes ama festa, não dispensa um churrasco e sabe dos mil benefícios de se beber uma taça de vinho, mas sua música vai em direção oposta a esse universo hedonista. Por quê? “Respeito toda forma de expressão. Todo mundo tem direito de usar uma linguagem, um gênero. A minha é diferente.”

“Essa é minha essência, mas tenho um respeito muito grande por quem trabalha mais para o entretenimento. Eu entro de outra forma. Emociono e faço dançar ao mesmo tempo. É legal ter esse leque de possibilidades”, diz a mineira, que enxerga um potencial pernicioso na palavra.

“Tenho que tomar cuidado. A palavra é uma coisa muito séria. Até escrevi uma música chamada “Palavra Errada”. A palavra muda o rumo de uma vida. Até comparei a palavra errada como um tiro à queima-roupa. É como apanhar. É como levar uma surra com uma palavra e, com ela, mudar o sentido de uma vida.”

Divulgação

Assédio na família

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O quanto incomoda ser alvo da mídia de celebridade?

A aproximação de Paula com Roberto Carlos, que resultou em parceria musical em 2010, é sua faca de dois gumes. Nunca sua música ganhara tanta repercussão nem tantas portas se abriram. Mas o encontro também fez nascer fofocas e maledicências. Eles estariam tendo um caso.

“Foi só parceria musical mesmo”, diz a cantora aos risos, mesmo sem ouvir diretamente a pergunta. A questão era outra: a repercussão negativa dessa história não chegou a atrapalhar sua carreira?

“Não atrapalhou em nada. O Roberto Carlos foi uma ponte, um portal gigante. E as pessoas tinham que aplaudir, porque ele assinou embaixo de algo que ele acreditava. Ele não ia simplesmente apoiar se não soubesse que havia um trabalho, um projeto. Vou fazer 26 de carreira. E ele já sabia de toda essa luta”, entende.

“Mas é bom que as pessoas possam falar. Tem gente que fala bem, fala mal da parceria. Desde que o mundo é mundo é assim. Não é hoje que vai mudar.”

As perguntas que você faz são pessoais, mas elas são úteis a alguém. Torna-se inútil quando é sobre uma vida normal. Minha vida comum é totalmente igual à de todo mundo. Se meus relacionamos são bons ou ruins, eles são iguais aos de todo mundo. Começa e termina. Saber disso não agrega nada à vida de ninguém.

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Momento mais alto da carreira

Foram vários. Meu primeiro milhão de copias vendidas. Cantar com Roberto Carlos, concorrer e ganhar Grammy latino. Encontrar Shania Twain. Vender meu segundo milhão de cópias, meu segundo milhão e meios. Fazer 220 shows no Brasil inteiro em 2011.

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Momento mais baixo

Acho que a parte ruim foi o cansaço, a exaustão que tudo isso causou. E também vou colocar a antipatia nesse hall, porque não sou antipática! Caraca! Levar fama de uma coisa que você não é ruim! Sou muito bem agradecida.

A rede social deu voz a muitos tolos, que não sabem do que estão falando. Muitas vezes, mesmo quem elogia está te criticando. Acho isso muito perigoso.

Paula Fernandes sobre os "haters"

O que realmente aconteceu no show com Andrea Bocelli

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O que é feminismo para você?

É igualdade, é respeito. Não estou falando que a mulher deve ocupar lugar de homem. Estou falando de unir forças. Por que não dá para comparar. As formas de a mulher fazer as coisas são diferentes. Mulher é muito dinâmica e ao mesmo tempo muito simples, doce, forte. A gente tem esses hormônios.

"Diversidade"

Eu vejo, assisto às pessoas entenderem errado a mensagem. As pessoas precisam tomar consciência de que todos devem e merecem ser respeitados, seja o sexo, idade, condição social. Minha maneira de contribuir é mostrar que a mulher quer o mesmo direito do homem.

"Precisamos falar a respeito"

Por que sua roupa sempre virou questão?

Defina

  • Almir Sater

    Acho ele foda. (risos) Original. Autêntico. Excelente instrumentista.

    Imagem: Divulgação
  • Renato Teixeira

    A mesma coisa. Excelente compositor e uma pessoa boníssima.

    Imagem: Manuela Scarpa/Photo Rio News
  • Luan Santana

    Conheço pouco, mas acompanho a carreira. Sei que é um menino batalhador e tem crescido muito.

    Imagem: Francisco Cepeda/Ag News
  • Anitta

    Atual. Despojada. Descolada. Empreendedora.

    Imagem: Reprodução
  • Wesley Safadão

    Não o conheço pessoalmente. Mas sei que faz muita gente dançar.

    Imagem: Reprodução
  • Funk

    Acho autêntico, mas prefiro as letras mais de festa, que eu danço em churrasco em casa. Não gosto de letra muito pesada.

    Imagem: Reprodução
  • Shania Twain

    "Love".

    Imagem: Flickr/Sara Collaton/Creative Commons
  • Gusttavo Lima

    Pessoa família. Um lutador, guerreiro, vencedor.

    Imagem: Lucas Lima/UOL
  • Taylor Swift

    Gravamos "Long Live", mas não nos encontramos. Quando ela veio fazer o lançamento no Brasil, jantamos juntas. Ela gosta de ravióli. (risos) É uma Menina inteligente e merecedora de tudo que conquistou.

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  • Simone & Simaria

    A Simaria é igual pipoca. A Simone é um pouquinho mais na dela. Gosto muito das duas. São vitoriosas. Representam muito bem a mulherada que quer dar a volta por cima.

    Imagem: Divulgação

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