Ciências e Tecnologia

Veja as propostas dos presidenciáveis para o desenvolvimento das ciências e da tecnologia no Brasil

Aiuri Rebello Do UOL, em São Paulo
Bruno Santos/Folhapress

No início de agosto, a direção da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) -- principal agência de fomento à pesquisa do país, ligada ao MEC (Ministério da Educação) -- publicou nota em que alerta o governo federal sobre o risco de o teto de gastos públicos inviabilizar o pagamento de bolsas a docentes e alunos de pós-graduação a partir de agosto de 2019. No total, os 93 mil mestrandos, doutorandos e pós-doutorandos e 105 mil bolsistas de programas de formação de professores estão com o benefício ameaçado a partir desta data, segundo a Capes.

Em nota distribuída à imprensa na ocasião, o MEC afirmou que as bolsas estão garantidas, mas a polêmica chamou atenção para a grave falta de investimentos em ciência e tecnologia no Brasil.

A Capes vem sofrendo com os cortes orçamentários desde 2015. Naquele ano, foram empenhados R$ 7,7 bilhões para a agência. Hoje, seu orçamento é de R$ 3,94 bilhões, dos quais R$ 1,95 bilhão já foi gasto.

Os Especialistas

Reprodução Reprodução

Ocimar Munhoz Alavarse

Professor da Faculdade de Educação da USP (Universidade de São Paulo).

Divulgação Divulgação

Madalena Guasco Peixoto

Dirige a Faculdade de Educação da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).

Alvaro Dias (Podemos)

Dias diz que, ao longo dos últimos anos, observamos um descaso do Estado brasileiro com temas relacionados à ciência e tecnologia. Embora seja de incontestável importância para o crescimento econômico e o desenvolvimento de um parque tecnológico moderno, o Brasil tem ficado para trás na produção de inovação, afirma o candidato do Podemos.

"A fuga de cérebros é um dos impactos mais imediatos e visíveis dos cortes no orçamento em ciência e tecnologia promovidos pelo governo federal nos últimos anos, algo que vem congelando pesquisas e bolsas e ameaçando laboratórios de fechar", diz a resposta enviada pela campanha ao UOL.

"Para mudarmos esse cenário, uma série de ações se fazem necessárias, quais sejam: ampliar os investimentos públicos e estimular os investimentos de empresas, em especial inovações relacionadas ao agronegócio, saúde, educação, energia e melhoria na qualidade de vida nas cidades; melhorar o ambiente de negócios através da ampliação da formação de mão de obra qualificada via CETs (Centro de Educação para o Trabalho) e faculdades (com estímulo à formação de engenheiros, físicos, matemáticos e demais profissões relacionadas aos campos científicos); estimular ambientes propícios à inovação, com a criação de 100 CMEs (Centros de Maternidade de Empresas) e fortalecimento dos Parques Científicos e Tecnológicos, atraindo investimentos nacionais e internacionais."

O candidato realça ciência e tecnologia como estratégicas e apresenta um plano bastante articulado e ambicioso, incluindo investimentos na pós-graduação, financiamento público e incentivos para aportes privados.

Ocimar Alavarse, professor da Faculdade de Educação da USP

Cabo Daciolo (Patriotas)

"O Brasil irá deixar de ser um exportador de matérias-primas e importador de produto industrializado, para se tornar um exímio utilizador de matérias-primas que podem ser aplicadas nas áreas de ciência e tecnologia e, produção de bens finais para o consumo interno, em vez de ocuparmos posição de coadjuvante em aspectos de modernização e desenvolvimento como exportadores de bens primários, pois, iremos figurar entre os países mais desenvolvidos do planeta", diz o plano de governo do candidato sobre a questão.

Muito confusa e genérica a resposta do candidato, a sua proposta para o desenvolvimento da ciência e tecnologia não fica clara.

Madalena Peixoto, professora da Faculdade de Educação da PUC-SP

O candidato, sem qualquer detalhe e desconsiderando o quadro atual, propõe que o Brasil seja um dos países mais desenvolvidos, deixando de ser exportador de matérias primas.

Ocimar Alavarse, professor da Faculdade de Educação da USP

Ciro Gomes (PDT)

"A política industrial, junto com outros instrumentos como a política de ciência e tecnologia e creditícia, sempre auxiliou no desenvolvimento de setores considerados estratégicos, seja para a geração de inovações ou de empregos (ou ambos), tanto nos países desenvolvidos como em desenvolvimento", afirma Ciro no plano de governo.

"[A política industrial] deve ser desenhada de forma complementar à política macroeconômica, e não para compensar desequilíbrios, como foi no passado recente. Precisamos da elaboração de um plano nacional de ciência e tecnologia, de forma a evitar iniciativas sobrepostas e ações antagônicas, maximizando o uso de recursos e alinhando os setores público e privado", diz o texto.

"A política de ciência e tecnologia deve fomentar o setor produtivo, com especial destaque para a indústria manufatureira de alta tecnologia e para serviços intensivos em conhecimento, que é fundamental para garantir que a globalização gere empregos de qualidade, ao invés de destruir os poucos empregos que restaram nesses setores", encerra o documento sobre o tema.

O candidato propõe os elementos de construção de uma politica de incentivo a ciência e tecnologia, no entanto, não detalha como seria essa política.

Madalena Peixoto, professora da Faculdade de Educação da PUC-SP

O candidato coloca como eixo para desenvolvimento da ciência e da tecnologia sua articulação com a política industrial, enfatizando a dimensão mais econômica dessas temáticas.

Ocimar Alavarse, professor da Faculdade de Educação da USP

Fernando Haddad (PT)

"Existe a necessidade de rearticulação das políticas e instituições voltadas para a ciência, tecnologia e inovação, capazes de ampliar distâncias com as fronteiras tecnológicas em expansão", afirma a campanha petista. "Nesse sentido, o Brasil deverá se integrar à nova onda produtiva e tecnológica mundial, contendo as seguintes orientações: remontagem do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) e recomposição e ampliação do Sistema Nacional de Fomento de CT&I."

"O Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação deve associar universidades e centros de excelência em pesquisas públicas e privadas, capazes de operar em redes colaborativas e em coordenação com a estruturação de ecossistemas de inovação em áreas estratégicas", acrescenta a campanha.

"Para alavancar o sistema nacional de CT&I, será necessário recompor e ampliar os investimentos na área. Os orçamentos das agências de fomento federais, destacadamente os do CNPq e da Capes, serão recuperados e ampliados a partir dos patamares mais elevados alcançados nos governos Lula e Dilma."

O candidato recupera o papel da Capes e CNPQ, que são instrumentos fundamentais do desenvolvimento da pesquisa, e recompõe outros instrumentos como o Sistema Nacional de Fomento e o Sistema Nacional de CT&I, indicando, ao mesmo tempo, uma politica orientada ao desenvolvimento de inovação em áreas estratégicas. Em linhas gerais, levanta os elementos de uma politica de incentivo ao desenvolvimento da ciência e tecnologia.

Madalena Peixoto, professora da Faculdade de Educação da PUC-SP

O candidato apresenta um plano amplo, mediante um Sistema Nacional, que articula várias instituições concernentes ao tema, chegando às escolas de educação básica. Apesar de indicar a articulação com centros privados, sinaliza com o incremento de financiamento público para o segmento.

Ocimar Alavarse, professor da Faculdade de Educação da USP

Geraldo Alckmin (PSDB)

"Vamos estimular as parcerias entre universidades, empresas e empreendedores para transformar a pesquisa, a ciência a tecnologia e o conhecimento aplicado, em vetores do aumento de produtividade e da competitividade do Brasil", diz o candidato do PSDB no plano de governo.

Em resposta ao UOL, sua campanha afirma: "A pesquisa científica é fundamental para o desenvolvimento do país. Nosso plano será impulsionar os mecanismos para a produção de pesquisas nas instituições universitárias e trabalhar para alcançar a excelência em todas as instituições de educação superior que tenham vocação para a produção de conhecimento."

"Neste sentido, a autonomia dessas instituições será importante, casada com avaliações externas internacionais. Outra peça fundamental dessa engrenagem será uma forte articulação das universidades com o setor produtivo, garantindo assim a competitividade do país em ciência, tecnologia e inovação."

"Somente com foco em inovação, as empresas conseguirão promover o crescimento contínuo de sua produtividade. E, neste contexto, torna-se imperativo que o governo federal estabeleça as bases normativas e institucionais necessárias para fomentar a inovação e a produção de conhecimento no país."

O candidato não propõe uma política de desenvolvimento da ciência e tecnologia, apresenta uma proposta que privilegia somente o conhecimento aplicado." (a professora comentou apenas o plano de governo, mas não a resposta da campanha)

Madalena Peixoto, professora da Faculdade de Educação da PUC-SP

O candidato reitera que ciência e tecnologia são fundamentais e defende que sua viabilização passa pela autonomia de instituições públicas, a serem avaliadas externamente, em articulação com o setor privado para seu financiamento e destinação dos avanços para a competitividade econômica.

Ocimar Alavarse, professor da Faculdade de Educação da USP

Guilherme Boulos (PSOL)

O candidato do PSOL diz: "O investimento público em pesquisa e inovação é decisivo para o desenvolvimento de novos ecossistemas produtivos que rompam com a dependência tecnológica nas áreas estratégicas como energia, agricultura, fármacos, recursos hídricos, transporte, meio ambiente, saúde, cultura, arte."

"Em primeiro lugar, é preciso revogar a Emenda Constitucional 95, que congelou todos os gastos na área educacional por 20 anos. Vamos recriar o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, fechado pelo governo Temer e reverter os cortes atuais, além de retomar a ampliação de investimentos na Capes, CNPq, no próprio ministério e nas universidades e institutos Federais."

"Também vamos aumentar o investimento em bolsas de Iniciação Científica, Mestrado e Doutorado. Os institutos federais desempenham papel central nessa política, pois serão utilizados para entender as necessidades setoriais e as carências de cada região e, em seguida, desenvolver políticas, programas e tecnologias adequadas."

O candidato apresenta as bases de um plano de desenvolvimento de ciência e tecnologia, orientando o desenvolvimento da pesquisa para as áreas sociais que são estratégicas. Essa orientação foi utilizada por outros países com muito sucesso.

Madalena Peixoto, professora da Faculdade de Educação da PUC-SP

O candidato apresenta uma visão abrangente da temática e reserva lugar central para agências e instituições públicas em seu plano, inclusive no financiamento, com a retomada do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.

Ocimar Alavarse, professor da Faculdade de Educação da USP

Jair Bolsonaro (PSL)

Para o presidenciável do PSL, o modelo atual de pesquisa e desenvolvimento no Brasil está totalmente esgotado.

"Não há mais espaço para basear esta importante área da economia moderna em uma estratégia centralizada, comandada de Brasília e dependente exclusivamente de recursos públicos", avalia Bolsonaro.

"Estados Unidos, Israel, Taiwan, Coréia do Sul e Japão incentivam estratégias descentralizadas. Criam-se 'hubs' tecnológicos onde jovens pesquisadores e cientistas das universidades locais são estimulados a buscar parcerias com empresas privadas para transformar ideias em produtos. Isso gera riqueza, bem-estar e desenvolvimento para todos."

O que o candidato propõe é a descentralização e o desenvolvimento da pesquisa com recursos privados, não apresenta um plano detalhado de desenvolvimento de uma política para a ciência e tecnologia.

Madalena Peixoto, professora da Faculdade de Educação da PUC-SP

O candidato aponta para a descentralização política da gestão de ciência e tecnologia e defende parcerias com empresas privadas como condição para seu desenvolvimento, cujo modelo atual estaria esgotado.

Ocimar Alavarse, professor da Faculdade de Educação da USP

João Amoêdo (Novo)

"Queremos colocar universidades brasileiras entre as 100 melhores do planeta, aumentar nosso registro de patentes e nosso impacto científico no mundo acadêmico", aponta a campanha de Amoêdo sobre o tema.

"Isso requer desburocratização e reforma na governança de universidades e centros de pesquisa, maior colaboração entre o setor público e o privado, melhor comercialização e transferência tecnológica e incentivos guiados pela racionalidade científica e econômica, e não pela pressão lobista que caracterizou nossas políticas de subsídios."

O que o candidato propõe é a administração privada e gerencial das instituições publicas e dos centros de pesquisa.

Madalena Peixoto, professora da Faculdade de Educação da PUC-SP

O candidato referencia sua proposta em indicadores de avaliação das universidades e quantificação de patentes e na articulação de centros de pesquisa com o setor privado, sem esmiuçar o que seria racionalidade científico-acadêmica em oposição à pressão lobista quanto a subsídios.

Ocimar Alavarse, professor da Faculdade de Educação da USP

João Goulart Filho (PPL)

"Nossa proposta é ampliar os recursos para Ciência e Tecnologia para 3% do PIB contra os atuais 1%, restabelecer o Ministério da Ciência e Tecnologia, desativado pelo governo Temer, e ampliar e fortalecer muito a Rede Federal de Ensino Tecnológico, do Ministério da Educação", diz a campanha de Goulart Filho.

A proposta é ampliar o que hoje é aplicado em ciência e tecnologia, mas não apresenta um plano de desenvolvimento para essas áreas.

Madalena Peixoto, professora da Faculdade de Educação da PUC-SP

O candidato salienta aumento de recursos, sem detalhar as fontes de financiamento, e a retomada do Ministério da Ciência e Tecnologia.

Ocimar Alavarse, professor da Faculdade de Educação da USP

José Maria Eymael (DC)

Em seu plano de governo, Eymael afirma sobre o tema: "Implantar Plano Nacional de Apoio a Pesquisa, tanto em seu aspecto de investigação pura, como no campo da pesquisa aplicada."

Muito genérica a resposta do candidato o que impede avaliar o que de fato ele propõe para o incentivo a pesquisa cientifica e de inovação.

Madalena Peixoto, professora da Faculdade de Educação da PUC-SP

O candidato não delineia seu Plano, embora sublinhe a investigação pura como elemento da temática.

Professor Ocimar Alavarse, professor da Faculdade de Educação da USP

Marina Silva (Rede)

Marina diz que a aproximação da política de Ciência, Tecnologia e Inovação com o ensino superior será promovida.

"Investir nisso é condição para o desenvolvimento do país, e nossas universidades devem ser desafiadas a realizar pesquisas que contribuam para a superação de nossos problemas sociais, ambientais e econômicos", avalia a candidata.

Em resposta ao UOL, a campanha afirma: "Dentro das propostas para universidades públicas, a candidatura de Marina Silva propõe o fortalecimento das instituições de fomento à pesquisa universitária, como a Capes e o CNPq, com programas de incentivo a implantação de organizações não estatais de fomento à pesquisa; estimular e valorizar a inovação nas universidades, com aproximação de empresas para promover a inovação tecnológica; a articulação da pós-graduação com as políticas de Ciência, Tecnologia e Inovação, com o aperfeiçoamento do programa Ciência sem Fronteiras; e a eliminação de barreiras tarifárias e não tarifárias de importação para fins de ensino e pesquisa."

A candidata propõe que as universidades produzam conhecimentos para a superação dos problemas sociais e propõe também aumentar os recursos destinados à ciência vinculando o seu desenvolvimento às necessidades regionais." (a professora comentou apenas o plano de governo, e não a reposta da campanha)

Madalena Peixoto, professora da Faculdade de Educação da PUC-SP

A candidata reforça a importância de agências governamentais para o fomento de ciência e tecnologia e a articulação com a pós-graduação. Destaque para revisão tarifária para fins de pesquisa.

Ocimar Alavarse, professor da Faculdade de Educação da USP

Henrique Meirelles e Vera Lúcia

Os candidatos Henrique Meirelles (MDB) e Vera Lúcia (PSTU) não responderam. Em seus programas de governo registrados junto ao TSE, não constam propostas para a área.

Veja os outros temas

Curtiu? Compartilhe.

Topo