Reforma do Ensino Médio

Veja as propostas dos presidenciáveis sobre a reforma promovida pelo governo Temer

Aiuri Rebello Do UOL, em São Paulo
Folhapress/Zanone Fraissat

No início do ano passado, o presidente Michel Temer sancionou a reforma do ensino médio. Nela, as escolas ganham flexibilidade para priorizar uma área específica de conhecimento em 40% da carga horária – os 60% restantes são de conteúdo obrigatório para todas as escolas.

De acordo com a reforma, a escola poderá escolher se direciona o tempo de aula discricionário para uma de cinco áreas: linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas e sociais ou formação técnica e profissional.

Muitos especialistas elogiaram a medida, mas outros criticaram, dizendo que o foco das escolas não pode ser arbitrário, sob o risco de, nas periferias, as escolas passarem a oferecer apenas ensino técnico e profissionalizante, o que pode afastar o aluno de uma universidade.

A reforma foi enviada como MP (Medida Provisória) ao Congresso, ou seja, sem passar por uma ampla discussão com os parlamentares e a sociedade civil. Isso causou polêmica e há vários candidatos afirmando que vão revogar a medida, caso eleitos, para estudar melhor o modelo da reforma. Veja abaixo as propostas dos presidenciáveis.

Os Especialistas

Reprodução Reprodução

Ocimar Munhoz Alavarse

Professor da Faculdade de Educação da USP (Universidade de São Paulo).

Divulgação Divulgação

Madalena Guasco Peixoto

Dirige a Faculdade de Educação da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).

Álvaro Dias (Podemos)

Dias diz que, como uma tentativa de melhorar a educação no país, foi aprovada no final do ano passado a BNCC (Base Nacional Comum Curricular), que determina os conhecimentos e as habilidades essenciais que todos os alunos devem aprender ano a ano.

"Esse é um começo, mas temos um desafio duplo até chegarmos a um ensino eficiente e uma aprendizagem de melhor qualidade. O primeiro é mudar as escolas públicas para que inicialmente os alunos possam aprender o mínimo necessário nas disciplinas de português, matemática e ciências", diz o candidato.

"Posteriormente devemos aprofundar o conhecimento nessas três disciplinas e, finalmente, chegarmos a um patamar de educação desenvolvendo novos tipos de conhecimento e habilidades relevantes em um mundo cada vez mais mutável", acrescentou.

O candidato não considerou que a BNCC do ensino médio ainda não foi aprovada, mas defende a focalização em três disciplinas, ressalvado que 'ciências' exista, no ensino médio, desdobrada em biologia, física e química.

Ocimar Alavarse, professor da Faculdade de Educação da USP

Fernando Haddad (PT)

Diz a campanha do PT: "O ensino médio vive uma grande crise: de cada 100 jovens que ingressam na escola, apenas 59 concluem o ensino médio; 1,5 milhão de jovens de 15 a 17 anos estão fora da escola."

"Para reverter esse quadro, vamos viabilizar uma forte participação da União na oferta do ensino médio, com a criação do Programa Ensino Médio Federal, que prevê uma repactuação federativa a ser implementada, entre outras, pelas seguintes ações: uma maior integração entre a Rede Federal de Educação e a educação básica; ampliação de vagas, fortalecimento dos campi e interiorização dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, de modo a propiciar maior acesso e mais oportunidades às juventudes, sobretudo aos jovens que vivem em regiões mais vulneráveis e com maiores índices de violência; convênio com os Estados e o DF para que o governo federal se responsabilize por escolas situadas em regiões de alta vulnerabilidade."

"Outra questão que é importante destacar é a falta de um processo de educação continuada e efetiva para os professores e a própria valorização da profissão. É necessário revogar o teto de gastos, inclusive para que, com a retomada do crescimento, as receitas possam financiar políticas de inclusão, para o país criar oportunidades à juventude."

"O governo Haddad revogará a reforma do ensino médio, aprovada sem nenhum diálogo com os setores da educação, e proporá um amplo debate público sobre quais devem ser as reformulações curriculares do Ensino Médio."

O candidato faz um diagnóstico correto dos problemas do ensino médio no Brasil e propõe revogar a reforma que foi realizada sem debate e sem considerar os problemas reais desse nível de ensino. Levanta também a necessidade de um amplo debate sobre a Base Nacional Comum Curricular do ensino médio, que hoje tem sido criticada por todas as entidades cientificas, de formação de professores, de estudantes, docentes e funcionários no Brasil.

Madalena Peixoto, professora da Faculdade de Educação da PUC-SP

O candidato apresenta duas medidas que devem ter impacto se implementadas, a ação da União nessa etapa, ainda que não atendendo diretamente os alunos, majoritariamente em escolas estaduais, e a revogação da reforma do ensino médio para a retomada do debate.

Ocimar Alavarse, professor da Faculdade de Educação da USP

Geraldo Alckmin (PSDB)

"Todos reconhecem que o ensino médio precisa ser reformado para ser mais atraente para os jovens", afirma a campanha do tucano. "Os próprios resultados obtidos para essa fase da educação, baixa atratividade e aumento da evasão, exemplificam que é preciso promover mudanças. Não existe em nenhum lugar do mundo uma estrutura como a nossa, com 13 disciplinas obrigatórias", diz a nota enviada em resposta ao UOL.

"A reforma do ensino médio em curso aponta para o caminho certo, oferecendo um currículo diversificado, capaz de desenvolver interesse e o potencial pleno dos jovens. Será expandido o programa de escola de tempo integral, com o objetivo de alcançar 50% dos estudantes até 2026. Também será resgatado o valor da educação profissional e ampliada a integração com setor produtivo, para que o jovem perceba na escola um valor para seu futuro."

"O objetivo é preparar os jovens para três caminhos virtuosos: mercado de trabalho, empreendedorismo e/ou universidade."

O candidato enfatiza a reforma do ensino médio e agrega o empreendedorismo como novo objetivo para a etapa. Quanto a escolas de tempo integral, propõe uma meta para um governo de oito anos.

Ocimar Alavarse, professor da Faculdade de Educação da USP

Guilherme Boulos (PSOL)

"Sou professor, já dei aula na rede pública e conheço de perto essa realidade", afirma o candidato em reposta ao UOL. "Hoje, as escolas estão sucateadas, os professores são desvalorizados e as salas de aula estão muito distantes da realidade dos alunos. Isso reflete nos altos índices de reprovação e evasão escolar."

"A Reforma do Ensino Médio e a Base Nacional Comum Curricular só aumentaram o abismo entre aluno e professor e reforçaram os problemas que já existem na educação", afirma Boulos. "Ações como as de diminuir as horas de escola, retirar disciplinas inteiras e 'flexibilizar' o ensino não vão melhorar o interesse nem o desempenho dos estudantes, mas baratear ainda mais os custos e transferir os recursos públicos para a iniciativa privada, que será responsável por produzir os materiais didáticos e manuais de gerenciamento."

"Os professores tampouco serão beneficiados, muito pelo contrário: terão ainda menos tempo em sala de aula, e mais controle. Isso vai contra nossos princípios de valorizar a educação pública, laica, universal e de qualidade."

"Vamos revogar a reforma do ensino médio e a Base Nacional Comum Curricular e reabrir o debate sobre os dois temas de forma ampla e participativa. As creches e escolas serão de tempo integral. Isso passa também por uma necessária valorização dos professores. Vamos garantir o piso nacional e dar início a um plano de carreira."

O candidato em sua proposta reforça a opinião de amplos setores da educação que criticam a reforma do ensino médio e a Base Nacional Curricular proposta.

Madalena Peixoto, professora da Faculdade de Educação da PUC-SP

O candidato, no que diz respeito ao ensino médio, propõe a revogação de sua reforma e dá a entender que todas as escolas seriam em tempo integral.

Ocimar Alavarse, professor da Faculdade de Educação da USP

João Amoêdo (Novo)

A campanha de Amoêdo diz que, mesmo com a reforma do ensino médio, as crianças passam menos tempo na escola do que em outros países. "Enquanto os alunos dos países desenvolvidos passam de seis a sete horas de seu dia na escola, os alunos brasileiros passam apenas 4,5 horas diárias na escola", afirma a nota enviada ao UOL.

"Além disso, também bombardeamos nossas crianças com maior número de disciplinas do que em outros países. Precisamos de menos disciplinas com maior carga horária. A reforma do ensino médio, ao aumentar a flexibilidade da grade curricular, vai no caminho certo. Precisamos, no entanto, ter maior complementaridade do ensino médio com a formação profissionalizante, para que o jovem que mais precisa possa desenvolver habilidades úteis para sua carreira."

O candidato de forma clara defende a Base Nacional Comum Curricular do ensino médio, que simplifica a formação dos nossos jovens aos conteúdos de português e matemática. Além disso, defende a ampliação da carga horária, excluindo do ensino médio o jovem trabalhador. Reforça ainda a ideia de um ensino médio profissionalizante, entendido como ensino apenas de habilidades.

Madalena Peixoto, professora da Faculdade de Educação da PUC-SP

O candidato defende a reforma do ensino médio, mas a considera insuficiente. A saída, para o 'jovem que mais precisa', é sua complementação com ensino profissionalizante, reacendendo a polêmica de um ensino médio diferenciado de acordo com a condição socioeconômica dos estudantes.

Ocimar Alavarse, professor da Faculdade de Educação da USP

João Goulart Filho (PPL)

"A atual reforma do ensino deve ser revista", afirma a campanha do candidato em resposta ao UOL.

"Ela não foi discutida adequadamente, não atende às reivindicações dos estudantes e da sociedade e estimula a privatização do ensino."

Em consonância com a maioria das entidades de educação, o candidato propõe rever a reforma do ensino médio

Madalena Peixoto, professora da Faculdade de Educação da PUC-SP

O candidato demarca oposição à reforma do ensino médio, mas não indica sua revogação.

Ocimar Alavarse, professor da Faculdade de Educação da USP

Marina Silva (Rede)

A candidata da Rede diz que dará continuidade às políticas de implementação da Base Nacional Comum Curricular para a educação infantil e o ensino fundamental, apoiando técnica e financeiramente os estados e municípios nesta missão.

"No que diz respeito ao chamado novo ensino médio, é preciso avaliá-lo criticamente, em debate com as instituições educacionais e redes de ensino, reconhecendo que a flexibilização curricular e a ampliação da carga horária dele constantes não são compatíveis com a realidade da maioria dos municípios brasileiros", afirma seu plano de governo.

Em resposta ao UOL, a campanha afirma: "No Brasil, quatro em cada dez jovens com 19 anos não conseguem concluir o ensino médio. A superação desse quadro crítico vai exigir uma reestruturação dos currículos, inovação das práticas pedagógicas e um forte incentivo ao protagonismo juvenil dentro das escolas."

"O debate sobre o 'novo ensino médio' deve ser realizado de forma ampla e participativa, com apoio aos estados e municípios, de modo a reduzir a evasão. Para isso, será dado o apoio para induzir a expansão de novos modelos de ensino médio em tempo integral, incentivar programas de estimulo ao protagonismo juvenil e dar continuidade ao debate sobre a Base Nacional Comum Curricular do Ensino Médio."

A candidata não deixa clara a sua proposta para o ensino médio." (a professora comentou apenas o plano de governo, mas não a resposta da campanha.

Madalena Peixoto, professora da Faculdade de Educação da PUC-SP

A candidata dá a entender que defende a reforma do ensino médio, ainda que considere que o debate deva continuar.

Ocimar Alavarse, professor da Faculdade de Educação da USP

Daciolo, Ciro Gomes, Meirelles, Bolsonaro, Eymael e Vera Lúcia

Os candidatos Cabo Daciolo (Patriotas), Ciro Gomes (PDT), Henrique Meirelles (MDB), Jair Bolsonaro (PSL), José Maria Eymael (DC) e Vera Lúcia (PSTU) não responderam. Em seus programas de governo registrados junto ao TSE, não constam propostas sobre o assunto.

Veja os outros temas

Curtiu? Compartilhe.

Topo