Bolsonaro promete criar uma carteira de trabalho "verde e amarela" de adesão voluntária para jovens que estão ingressando no mercado de trabalho. Pelo modelo, os jovens poderão optar por vínculo empregatício pelo modelo jurídico em vigor (carteira azul) ou pela nova carteira "verde e amarela" em que o acordado prevalece sobre a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). Após a reforma trabalhista, a legislação atual já permite que acordos tenham prevalência sobre a lei para alguns pontos, como home office e trabalho intermitente. No entanto, só podem ser firmados por meio de acordos coletivos ou convenções. A proposta de Bolsonaro é que o trabalhador também tenha esse poder individualmente desde que direitos constitucionais sejam respeitados. Na prática, 34 direitos trabalhistas são garantidos pela Constituição Federal e, dessa forma, não seriam alterados. Por exemplo, salário mínimo, seguro-desemprego, FGTS, 13º salário, férias remuneradas, repouso semanal remunerado, licença-maternidade e aposentadoria. Se considerados esses direitos e se Bolsonaro mantê-los, não haveria mudanças significativas nas relações de trabalho. O programa de governo apresentado pelo candidato não detalha como a nova carteira seria criada. O economista Paulo Guedes, futuro ministro da Fazenda, já disse à imprensa que o documento seria "político". Bolsonaro afirmou que o trabalhador um dia teria de escolher entre "menos direitos e (mais) emprego ou todos os direitos e desemprego", mas sem cortar as prerrogativas existentes. Para especialistas, no caso da adoção de contrato de trabalho ao largo da CLT, pode haver conflitos jurídicos e, em última instância, a carteira ser julgada inconstitucional pelo STF. Caso sejam feitas mudanças nas leis trabalhistas, Bolsonaro precisará do suporte do Congresso para alterar a reforma trabalhista e a própria Constituição.
O programa de governo do presidente eleito afirma que "um dos maiores males atuais [da educação] é a forte doutrinação". Bolsonaro defende o movimento Escola Sem Partido, que prega uma escola apartidária -- sem manifestações ideológicas, políticas, religiosas e sexuais de professores. O projeto tramita em diversas câmaras municipais e assembleias legislativas pelo país, sendo Flávio Bolsonaro responsável por apresentá-lo no Rio de Janeiro em 2014. Projeto para incluir o Escola Sem Partido entre as diretrizes e bases da educação nacional aguarda ter tramitação retomada na Câmara dos Deputados. A bancada evangélica é umas das maiores entusiastas Em 2016, o Ministério Público Federal emitiu parecer em que avaliou a iniciativa como inconstitucional, o que pode dificultar agora sua aprovação. Em 2017, o STF suspendeu uma lei sobre o mesmo tema em Alagoas. A AGU (Advocacia-Geral da União) e associações de professores também são contra o projeto. Para as entidades, ele fere a liberdade de expressão e a pluralidade de ideias no ambiente escolar, entre outros pontos. Mendonça Filho (DEM), ex-ministro da Educação de Temer e cotado para reassumir a pasta no governo Bolsonaro, já declarou em entrevista que a questão não será resolvida por meio da legislação.
O documento da campanha de Bolsonaro entregue ao TSE afirma, sobre o Mais Médicos, que "nossos irmãos cubanos serão libertados. Suas famílias poderão imigrar para o Brasil. Caso sejam aprovados no Revalida, passarão a receber integralmente o valor que lhes é roubado pelos ditadores de Cuba!". A intenção é que permaneçam no programa somente os profissionais que conseguirem a revalidação dos diplomas no Brasil. Atualmente, o salário dos médicos é pago por meio de convênio com a Organização Pan-Americana de Saúde ao governo de Cuba. Os profissionais recebem uma parcela do dispendido pelo governo brasileiro. Bolsonaro defende que o pagamento seja feito de forma direta e integral aos médicos cubanos e que suas famílias possam morar no Brasil. A intenção esbarra no apoio de parte da população ao programa e na dependência de municípios para suprir a cobertura médica na rede pública de saúde. Outra questão seria a diplomática. Não é mais necessária autorização do governo cubano para seus cidadãos viajarem, porém, a população se vê restrita por fatores político-econômicos. Na prática, uma migração desse porte também teria de ter a anuência do país caribenho.
Bolsonaro diz querer reduzir a quantidade de ministérios dos atuais 29 para 15. Serão fundidas as pastas da Fazenda e do Planejamento, que seriam transformadas no Ministério da Economia. Inicialmente, Bolsonaro também cogitou integrar a pasta da Indústria a eles, porém, após pedidos de representantes do setor, voltou atrás. Outros ministérios que devem ser fundidos são Educação, Cultura e Esporte; e Cidades, Desenvolvimento Social com o de Integração Nacional. Uma quarta possibilidade aventada é juntar a Agricultura com Meio Ambiente. Pastas abrigadas no Palácio do Planalto também perderiam o status. São elas a Casa Civil, Secretaria de Governo, Secretaria Geral e Gabinete de Segurança Institucional. Com a iniciativa, cargos comissionados deverão ser enxugados e custos, reduzidos. No entanto, a depender da configuração da Esplanada, os efeitos práticos podem não ser tão impactantes, pois a estrutura governamental para as áreas não pode simplesmente ser extinta. Por exemplo, o presidente da República e autoridades da alta cúpula continuarão precisando de esquemas especiais de segurança, hoje responsabilidade do GSI. Ainda que o chefe não tenha mais prerrogativa de ministro, toda a estrutura da pasta deve continuar a existir. O mesmo se aplica, em maior ou menor grau, às demais pastas. Para uma reforma administrativa, o atual presidente, Michel Temer, lançou mão de medidas provisórias. Elas têm efeito imediato, mas precisam ser aprovadas pelo Congresso Nacional em até 120 dias após a publicação no Diário Oficial da União. Caso contrário, as mudanças são desfeitas e se volta à forma original. Bolsonaro deverá usar do mesmo expediente e, para tanto, dependerá do apoio dos parlamentares. Grupos ligados aos setores afetados também podem ajudar ou atrapalhar os planos. Um exemplo recente foi quando Temer teve de recuar de transformar a pasta da Cultura em uma secretaria após protestos da classe artística.
O plano econômico inclui extinguir e privatizar ao menos 50 estatais para diminuir o tamanho do Estado, os desvios de recursos e buscar o equilíbrio das contas públicas. Não há, no entanto, detalhamentos de quais seriam atingidas e a dimensão da medida. De acordo com declarações feitas pelo presidente eleito, Petrobras, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e estatais do setor energético continuariam intactos. Quanto ao BNDES, defende que deve "retornar à centralidade em um processo de desestatização mais ágil e robusto, atuando como um 'Banco de Investimentos' da União e garantindo que alcancemos o máximo de valor pelos ativos públicos". "Desmobilização de ativos públicos, com o correspondente resgate da dívida mobiliária federal. Estimamos reduzir em 20% o volume da dívida por meio de privatizações, concessões, venda de propriedades imobiliárias da União e devolução de recursos em instituições financeiras oficiais que hoje são utilizados sem um benefício claro à população brasileira. Algumas estatais serão extintas, outras privatizadas e, em sua minoria, pelo caráter estratégico serão preservadas", está escrito no documento entregue ao TSE. Entre possíveis resistências a serem encontradas para as privatizações deverão estar parte da opinião pública, funcionários das empresas a serem afetadas, políticos com influência nelas e, claro, integrantes do próprio mercado a depender do rumo das negociações. As propostas teriam ainda de ter o aval do Congresso Nacional. Outro ponto a ser considerado é o quanto Bolsonaro realmente estará disposto a encampar o discurso antiestatal defendido por seu guru econômico e futuro ministro da Economia, Paulo Guedes. Bolsonaro construiu a carreira com base em forte nacionalismo advindo da escola militar e contra o que chama de exploração estrangeira no Brasil, com destaque para os chineses. No plano de governo, a campanha de Bolsonaro disse que "algumas dificuldades políticas que poderiam surgir durante o processo de privatizações poderão ser contornadas, com bem desenhadas 'golden shares', garantidoras da soberania nacional".
O general curitibano e Jair Bolsonaro se conheceram na Academia Militar das Agulhas Negras na década de 1970. Desde então, Heleno se tornou uma das pessoas em quem o presidente eleito mais confia. Em julho, ele foi cotado para ser candidato a vice, seu partido, o PRP, vetou. O general quatro estrelas da reserva - patente mais alta - continuou então atuando no núcleo técnico da campanha. Em 2004, comandou a missão de paz da ONU no Haiti, que teve como um dos focos a desmobilização de gangues e rebeldes. A empreitada foi considerada bem-sucedida. De volta ao Brasil, em 2008 divergiu publicamente do então presidente Lula sobre a demarcação de terras indígenas. Terminou a carreira no Departamento de Ciência e Tecnologia, área estratégica para o Exército, mas bem distante de seu perfil de comandante de tropas em terreno. No dia em que foi para a reserva, em 2011, defendeu o golpe militar de 1964 e disse que a ação foi necessária para evitar o comunismo no Brasil. Neste ano, defendeu que as Forças Armadas em missão de Garantia da Lei e da Ordem no Rio deveriam ter autorização para atirar em criminosos à distância, caso fossem vistos portando armas.
Imagem: Sergio Lima/FolhapressMédico veterinário e deputado há quatro mandatos, o parlamentar gaúcho do DEM pelo faz parte do núcleo duro da campanha, acompanhando Bolsonaro em eventos e articulando alianças no Congresso. Na Câmara, em 2016, Lorenzoni foi relator do projeto denominado 10 medidas contra a corrupção. Após pressão de parlamentares, ele retirou pontos de seu parecer e o texto ficou aquém do esperado por parte do Ministério Público. Meses depois, Lorenzoni confirmou ter recebido R$ 100 mil por meio de caixa 2 do frigorífico JBS, de propriedade de Joesley Batista. O dinheiro ilegal foi revelado na delação que ajudou a embasar denúncia da PGR contra Michel Temer. Ao assumir a Casa Civil, o deputado terá pela frente o senador Renan Calheiros (MDB-AL), cotado à Presidência do Senado, com quem já bateu boca. Na época do pacote anticorrupção, Renan insinuou que Onyx havia recebido caixa 2 da indústria de armas e disse que seu nome era de marca de chuveiros. Em resposta, o braço direito do capitão o chamou de bandido. Em entrevista ao O Globo em 18 de outubro, prometeu extinguir 25 mil cargos comissionados no primeiro dia de governo, mas, ao ser informado de que há atualmente 23 mil, ajustou a tesoura para 20 mil.
Imagem: Luis Macedo/Agência CâmaraApelidado de "posto Ipiranga" por Bolsonaro em referência à propaganda de rede de combustíveis em que se resolveria tudo, o carioca é a referência do PSL na economia. Doutor pela Universidade de Chicago, Paulo Guedes é fundador do banco Pactual e construiu a carreira no mercado financeiro. A Justiça aponta Guedes como um dos beneficiários de fraude que causou prejuízos ao fundo de pensão dos funcionários do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) ele não é réu no processo. Em 1989, Guedes colaborou com a elaboração do plano de governo do então presidenciável Afif Domingos (PL). Com Bolsonaro, o economista, que também participou de conselhos de administração e foi professor, defende privatizar estatais para abater a dívida pública e mudanças no sistema tributário, como a criação de um imposto nos moldes da extinta CPMF e a unificação de parte de alíquotas do Imposto de Renda para pessoas físicas. Após algumas polêmicas, Bolsonaro pediu que o assessor minimizasse aparições públicas.
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