Se forem impostas mais barreiras comerciais e a globalização desacelerar, todos os países saem perdendo.
Em termos estatísticos, 2016 foi de continuidade para a economia mundial, cujo desempenho foi semelhante aos dos últimos anos. As grandes mudanças foram políticas, com o amplo movimento antiglobalização sinalizando uma ruptura no consenso que a maioria dos líderes mantinha desde o fim da Segunda Guerra Mundial.
No geral, acreditava-se que a redução das barreiras comerciais aumentava a prosperidade e promovia a paz, beneficiando tanto os países investidores como os que recebiam o investimento, estimulando uma cooperação internacional na solução de problemas ao redor do mundo. Quase tudo isso foi questionado em 2016.
Os dois principais candidatos à presidência dos EUA se mostraram visceralmente contra a Parceria Transpacífico, com o republicano Donald Trump inclusive sugerindo acabar com os tratados já existentes, como o Nafta. Do outro lado do Atlântico, os eleitores britânicos optaram por sair da União Europeia enquanto o Partido Conservador, de situação, questionou os direitos dos trabalhadores estrangeiros e o presidente do Partido Trabalhista, assumindo o socialismo, se mostrou cético em relação à participação do Reino Unido na Otan.
Um acordo entre a UE e o inofensivo Canadá quase foi por água abaixo por causa da obstinação de uma província belga, preocupada com os efeitos da globalização sobre os trabalhadores locais. Os movimentos hostis à possibilidade de uma Europa ainda mais unida em longo prazo ganharam força em todos os países mais representativos.
A resistência à globalização não ficou confinada ao Ocidente, nem ao mundo industrializado: líderes como Recep Tayyip Erdogan, da Turquia, Vladimir Putin, da Rússia, Xi Jinping, da China, e Narendra Modi, da Índia, apelam para o orgulho nacional, os valores tradicionais e a força, cada um colocando uma ênfase desconfortável em sua variante de pureza étnica. Nos quatro casos, qualquer interesse nos valores universais de abertura ou direitos humanos é totalmente secundário em relação à reafirmação da força nacional.
Esse ressurgimento do nacionalismo e a resistência à globalização parecem ser universais, e não só prerrogativa exclusiva da esquerda ou da direita. E parecem também derivar de um senso profundo, de parte de muitos grupos, de que suas vidas estão à mercê de forças além de seu controle.
Conforme a distância entre as pessoas aumenta em termos geográficos, no aspecto cultural e no da falta de uma identidade comum, eles perdem a confiança na capacidade de seus líderes de protegê-los. A insegurança passou a gerar atavismo.