A sabedoria de Parreira

O que o homem que mais vezes foi técnico em Copas tem a ensinar para Tite e a seleção antes da Rússia

Pedro Ivo Almeida e Vanderlei Lima Do UOL, no Rio de Janeiro
Taís Vilela/UOL

O que Carlos Alberto Parreira pode ensinar para Tite antes da Copa do Mundo da Rússia? Os mais velhos podem dizer que ele estava lá quando se formou aquela que é, provavelmente, a melhor seleção de todos os tempos, que venceu a Copa de 1970. Uma geração intermediária vai lembrar que foi ele que pegou um grupo de fracassados na Copa de 90 e os transformou nos tetracampeões de 1994.

Mas Parreira é muito mais do que isso. Ele é o homem que mais vezes dirigiu seleções em Copas do Mundo. E sabe muito bem que tipos de problemas um grupo favorito (como o de Tite na Rússia) vai enfrentar. Em 2006, por exemplo, viu seu “quadrado mágico” fracassar sob o peso (literal) de uma preparação ruim. Em 2014, ele era o coordenador técnico no fatídico 7 a 1 – foi ele que leu aquela carta de Dona Lúcia um dia depois da derrota.

Por quase duas horas, o (agora) ex-técnico recebeu o UOL para falar de sua trajetória no futebol. Lembrou que começou a trabalhar com seleções graças ao Itamaraty, da pressão que sofreu da imprensa após a “primeira derrota da história da seleção em Eliminatórias”, explicou frases polêmicas como “o gol é um detalhe” e “a CBF é o Brasil que dá certo”, e disse que, sim, acredita no hexa. Porque Tite aprendeu com erros como os dele (também ajuda contar com o “melhor ataque do mundo”...).

Moacyr Lopes Junior/Folhapress Moacyr Lopes Junior/Folhapress

"Só o futebol brasileiro se recuperaria do 7 a 1"

Para o comandante do tetracampeonato em 1994, um dos fatos que credenciam a seleção de Tite à conquista do hexacampeonato é o poder de recuperação. Na cabeça do ex-técnico, só o Brasil seria capaz de se recuperar de uma pancada do porte daquela sofrida para a Alemanha na Copa de 2014.

“Outras seleções levariam 20 ou 30 anos para superar um resultado desse. Mas o futebol brasileiro é tão possante, tão pujante, tão forte que em três anos o Brasil voltou a ser time favorito a ganhar a próxima Copa. E quem diz isso não é o Tite, não sou eu ou a nossa imprensa. Não. A imprensa mundial aponta o Brasil como um dos favoritos. Então, a gente conseguiu dar a volta por cima em três anos, de uma Copa para outra".

Depois do 7 a 1, de um vexame desse tamanho, só o futebol brasileiro poderia sobreviver”

Parreira, usando sua experiência de seis Mundiais (e a passagens pelo esporte em todos os continentes).

Jefferson Bernardes/VIPCOMM

Mas o que aconteceu no 7 a 1, Parreira?

Alguma coisa ficou faltando. A imprensa, a comissão técnica, os jogadores, a gente não valorizou tanto quanto deveria ter valorizado a importância deste jogo. Tipo: é o jogo mais importante. A final é a final, mas você só chega lá se passar da semi. É óbvio e redundante, eu sei, mas vale ser comentado

Sobre uma possível desvalorização da semi

A melhor função no futebol é comentar depois do jogo. Isso é fácil. Depois que aconteceu, deveria ter mudado, deveria ter feito isso, aquilo. Depois do fato ocorrido começam as ilações. Até aquele momento foi muito rápido: foram quatro gols em seis minutos, não deu tempo de fazer nada

Sobre o que não foi feito pela comissão técnica

Esse time não tinha experiência. Tomou o primeiro, o segundo, o terceiro e deu pane geral. O Júlio Cesar foi muito feliz quando a câmera pegou ele minutos depois do jogo. Como você explica? Não se explica o inexplicável. Como aconteceu? Não dá pra explicar. Aqueles erros ali não têm explicação

Perguntado sobre os erros da seleção

A carta da Dona Lucia

AP Photo/Andre Penner AP Photo/Andre Penner

Semelhanças com tetra podem ajudar time de Tite

Poucas pessoas viveram a realidade da seleção brasileira em uma Copa do Mundo por tanto tempo quanto Parreira. Ele foi um dos preparadores físicos do mítico time de 1970. comandou a equipe em 1994 e 2006 e ainda foi coordenador da comissão técnica no Mundial 2014. Com quase 50 anos de observação, ele assegura que Tite, o atual comandante, está preparado para o desafio na Rússia.

“É arriscado, a gente nem gosta de falar muito, mas está tudo encaminhado para o Brasil ser campeão do mundo”, palpita. Por que? Porque, para Parreira, Tite sabe o que funcionou e o que deu errado em Copas anteriores.

A chave, para o ex-técnico, são as semelhanças entre o elenco atual e a sua equipe de 1994. “É um time bem armado, bem formado. O ambiente, de fora a gente percebe que é ótimo. Talvez a experiência de 2014 ajude em 2018. Como a de 1990 ajudou muito em 1994. Os jogadores que vão participar da próxima Copa sabem exatamente o que não pode ser feito para ser campeão do mundo. Em 1994, o Ricardo [Rocha] e o Dunga, por exemplo, diziam: ‘Aquilo aconteceu lá e não pode acontecer aqui’. Eles próprios se policiam", analisa Parreira.

Parreira ainda ressalta que a qualidade dentro de campo endossa sua confiança. "Temos o melhor ataque do futebol mundial. Neymar, Coutinho e Gabriel Jesus. Para mim é o melhor do futebol mundial. Superior até ao do PSG”.

Paulo Whitaker/Reuters Paulo Whitaker/Reuters

Parreira tentou sair de Weggis, mas não conseguiu

A larga experiência fez Parreira guardar na memória uma lista de coisas que não devem ser feitas em uma preparação para a Copa do Mundo. São muitos erros, mas poucos tão emblemáticos quanto o do tumultuado período pré-Mundial de 2006. A base em Weggis, na Suíça, era o pesadelo da comissão técnica da época. Aquela preparação foi apontada como uma das vilãs para o fracasso do famoso "quadrado mágico" formado por Ronaldo, Kaká, Adriano e Ronaldinho na Alemanha – em que o Brasil perdeu nas quartas de final para a França.

“Eu falei: ‘Américo [Faria, supervisor da seleção], vamos dar um jeito de sair daqui.’. Ele disse ‘Parreira, não tem condição: tem contrato assinado, dinheiro envolvido, vai ter que dar um jeito de controlar isso aqui ou vai criar um tumulto enorme.’ E aí treinamos”, lembra o técnico.

“Se houve falha foi não ter ido lá 15 ou 20 dias antes para conferir. Não sabia o que ia acontecer. Não sabia que existiriam aquelas barraquinhas, que iam vender ingressos para aquele público assistir aos treinos. Chegamos lá e tudo estava feito. E o ambiente não ajudou. Não era o que a gente queria. Não era o clima ideal de treinar a seleção para a Copa. Fomos vendidos mesmo”.

Reuters Reuters

Para piorar... Ronaldo e Adriano (bem) acima do peso

A estrutura na Suíça não foi o único erro daquela seleção de 2006. Só para que você, leitor, relembre: em 2005, Parreira formou o quarteto mágico com Ronaldo Fenômeno, Adriano Imperador, Kaká e Ronaldinho Gaúcho. Todo mundo acreditava que aquele ataque era imparável. Mas quando chegou a hora do Mundial da Alemanha, as coisas não aconteceram.

O momento das estrelas foi um problema. “De 2005 [título da Copa das Confederações] para 2006, mudou muita coisa. Os principais jogadores não chegaram com a mesma forma física", recorda Parreira. "O Ronaldo ficou três meses sem jogar no Real Madrid. O Capello era o treinador (do Real) e eu estive lá conversando. Faltavam dois, três jogos no Espanhol e o Bruno, o fisioterapeuta, falou que ele ficaria pronto para as partidas finais, o que acabou não acontecendo”.

O resultado? O Fenômeno chegou à Copa sem jogar há três meses. Além disso, Adriano também se apresentou à seleção muito acima do peso . “Aquele time não teve o mesmo espírito de ocasiões anteriores”, admite Parreira.

O gol é um detalhe?

Alexandre Campbell/Folhapress Alexandre Campbell/Folhapress

"Só tenho a agradecer a Ricardo Teixeira. Me bancou na seleção"

Parreira pode não parecer, mas sabe ser crítico. Ele aponta, analisa e questiona vários assuntos. Quando o ex-chefe Ricardo Teixeira entra na pauta, no entanto, o tom é ameno, carinhoso até. Primeiro, uma frase genérica ao comentar as acusações contra o ex-presidente da CBF. “Se houve ilícito fora do futebol, desvio, que seja punido e a justiça feita”.

Na sequência, afeto com o amigo de décadas. “Ele me levou para a seleção, me bancou. Sobre esse homem, não falo nada. Só tenho a agradecer”, diz, lembrando que Teixeira o chamava de “Parreirinha”. “Ele está realmente um pouco abatido. Fez uma cirurgia muito séria. Transplante de rim não é brincadeira, abala a pessoa. Ele está mais magro, mais envelhecido”.

Ele não tem mesmo carinho com Marco Polo del Nero, outro que costumava receber elogios de Parreira pelo tratamento com os treinadores da seleção. Ainda que de maneira polida, o tom muda. “É estranho mesmo o presidente não viajar, não é comum em qualquer seleção, e a gente espera que seja resolvido”.

E João Havelange?

Lembro que, em 1970, ele esteve conosco no México dois dias antes da abertura e voltou ao Brasil. Ele não ficava junto. Delegava ao doutor Passos, nosso diretor. Então, existe lado político e lado técnico. Essas coisas todas de corrupção, num modo geral, de desvio de dinheiro, tem que ser provado e, se provado, os culpados devem ser punidos exemplarmente

Sobre a relação com o ex-presidente da Fifa

"CBF: O Brasil que dá certo"

Antônio Gaudério/Folhapress Antônio Gaudério/Folhapress

O grande parceiro do tetra

Quando o assunto é Zagallo, surge um Parreira muito mais emotivo. O Velho Lobo aparece em quase todos os momentos da carreira do amigo, desde o início, na seleção de 1970. “Os grandes artistas da história da humanidade tiveram privilégio de estudar com grandes mestres. Zagallo sempre fez parte importante da minha vida. É um cara que me ensinou muito. Com ele aprendi a ser técnico de futebol. Nunca pensei. Fui empurrado”.

O aluno ainda se derrete pelo professor ao lembrar de suas características dentro e fora de campo. Os dois foram parceiros no tri em 1970, no tetra em 1994 e pararam nas quartas de final da Copa de 2006.

“Naquela época não existia o acesso à informação que tem hoje em dia. Não tinha. Então, Zagallo sempre foi um autodidata. Tinha uma visão impressionante. Ele era uma formiguinha na organização. Jogou de ponta esquerda, driblador”.

Quando (Ricardo Teixeira) me convidou, eu estava no Bragantino. Saí e fui para a seleção. E no dia que ele formalizou o convite, disse assim: "Parreira, esqueci. Quero convidar o Zagallo. Pode?" Meu Deus, ontem. Que privilégio. Pra ontem. E foi assim. O Zagallo veio e ficou como conselheiro

Sobre o convite para assumir a seleção em 1991, pensando na Copa de 1994

Juca Varella/Folhapress Juca Varella/Folhapress

Antes do tetra, Parreira teve certeza da demissão

A campanha que terminou com o primeiro título mundial do Brasil desde 1970 quase terminou meses antes da viagem para os EUA. Ainda em 1993, o Brasil foi até a Bolívia e levou 2 a 0 em La Paz. Era a primeira derrota do país na história das Eliminatórias.

“Quando perdemos da Bolívia e chegamos ao Brasil, os jornais já estavam escrevendo como a seleção vai jogar com o Telê [Santana], como seria o time com o Vanderlei [Luxemburgo]. Quer dizer: eu já estava fora”, lembra Parreira. Só para lembrar: Telê Santana comandava o São Paulo bicampeão da Libertadores e Luxemburgo acabara de tirar o Palmeiras da fila de 16 anos, com o título do Paulista.

Parreira, porém, não foi demitido: “O Ricardo Teixeira foi lá em cima e tranquilizou tudo. ‘Não tem pressão. A comissão técnica está mantida’. Foi importantíssimo dar continuidade do trabalho. Quem estava dentro, acompanhava, via a seriedade, a dedicação. E sabia que as coisas não aconteciam de uma hora para outra. Tem que dar tempo ao tempo. O objetivo final era a Copa. A comissão foi mantida, o Ricardo sofreu uma pressão grande, mas foi fiel à comissão. E a gente acabou campeão do mundo”.

Pisco del Gaiso/Folhapress

"A hora do Baixinho"

Romário acabou com o jogo contra o Uruguai nas Eliminatórias para a Copa de 1994, no Maracanã, brilhou no Mundial dos Estados Unidos e ajudou a garantir o título ao time de Parreira. O treinador revela: a decisão de ter o Baixinho de volta à seleção foi tomada dentro de um carro, no caminho de Angra dos Reis para o Rio de Janeiro.

“Eu estava em Angra, numa folga da seleção nas Eliminatórias. A bomba [da classificação para a Copa] ficou para Uruguai e Brasil na final. Vim de Angra em um domingo e o jogo era só no outro domingo. Viagem de 2h30, eu na minha cabeça matutando. Falei: ‘é a hora do Baixinho’".

O atacante, então no PSV, da Holanda, era um dos principais jogadores do país na época, mas tinha tido problemas com o próprio Parreira durante aquelas Eliminatórias. Romário ficou no banco em amistoso diante da Alemanha em Porto Alegre e reclamou. Parreira afirma: “nunca briguei com ele”. Mas demorou a chama-lo de volta para a equipe.

“O Baixinho é danado, inteligente. Nenhuma contestação [quando ele reclamou de ficar no banco]. Pensei que ele estava certo. Todos que vieram, vieram para jogar. Ninguém vem pra ficar brincando. Agora, cabe ao treinador decidir quem vai começar. Eu fui com Bebeto e Careca. Romário entrou durante partida no segundo tempo, mas se criou um clima insustentável numa coisa que não era praticamente nada”, explica Parreira.

Zinho, Taffarel e a teimosia de Parreira

Antônio Gaudério/Folhapress Antônio Gaudério/Folhapress

Um dos destaques do Palmeiras, Zinho ganhou a posição nas Eliminatórias. Era o quarto homem do meio-campo, mas foi apelidado (de forma maldosa) de enceradeira pelo Casseta & Planeta. O motivo: muitas vezes, Zinho parava a bola e dava uma voltinha para esperar a passagem do lateral. "Zinho foi importante taticamente. E tecnicamente era muito bom. Não era driblador, mas era muito bom. Foi cinco vezes campeão brasileiro, tantos estaduais, campeão do mundo. Ajudou muito".

Getty Images Getty Images

Nas Eliminatórias, a imprensa pedia a troca de Taffarel, reserva no Parma, por Zetti, destaque do São Paulo. A pressão aumentou muito após o frango do gaúcho na derrota contra a Bolívia. Mesmo assim, Parreira manteve o camisa 1, que se destacou ao parar a Itália nos pênaltis na final. "O Taffarel sofreu um gol muito estranho [contra a Bolívia]. Mas ele era um excepcional goleiro. Pra mim, o melhor da história do futebol brasileiro. Sem dúvida. Não precisou ser testado na Copa de 94".

Pisco Del Gaiso/Folhapress Pisco Del Gaiso/Folhapress

Fala mais Parreira

Copa para nós é guerra. Já viram algum país se envolver tanto com Copa do Mundo quanto o brasileiro? Vi uma reportagem em 1994 sobre um cara vendo a Copa numa canoa, no Tocantins. Isso mexe. Impressionante o envolvimento do país. Em 1958 aquilo me emocionou. Estou no futebol pela emoção de 58, de ver o povo na rua

Sobre o povo brasileiro

O meu grande arrependimento foi ter saído do Brasil uma semana depois da Copa de 1994. Hoje, aquela decisão eu não teria tomado. Não porque fui pro Valencia. Me arrependi porque tinha de ter ficado no Brasil para curtir aquele momento. Trabalhando aqui ou continuando na seleção, não sei. Ficar aqui e curtir o momento

Sobre o que fez após o tetra

"Voltei à seleção graças ao Corinthians"

Felipe Dana/AP Felipe Dana/AP

Canal 100 inspirou Parreira

Parreira viveu quase todos os setores do futebol. Foi preparador físico, auxiliar, técnico, coordenador... Mas nunca sonhou em ser jogador. A paixão pelo esporte veio embalada pela emoção das ruas durante a Copa de 1958 e pelas transmissões do lendário “Canal 100”.

“Na minha época, você era advogado, médico, economista, engenheiro ou professor. Mas com 14 anos, em 1958, vi o Brasil ser campeão do mundo. Não tinha TV, rádio, nada. Mas eu pude presenciar a vibração do povo na rua. Morava num subúrbio em Padre Miguel, a garotada comemorando, celebrando na rua, gente chorando. Aquilo me tocou. A gente via os gols, os jogos, pelo Luiz Severiano Ribeiro no Canal 100, que passava de 15 em 15 dias”.

O garoto Parreira se encantou pela preparação física. Por fotos. “Saiu uma revista muito conhecida na época, a Manchete, do Adolfo Bloch, com fotos do Paulo Amaral com o Garrincha. Falei: ‘Quero ser aquilo ali, preparador físico’”.

Com 14 anos, queria ser preparador físico, viajar pelo mundo. Era um sonhador. Quando terminei o segundo grau, que na época se chamava científico, optei pela escola de educação física que era o caminho pra ser preparador físico. Foi um baque pra minha família. Ou era médico, engenheiro, advogado ou economista... A profissão de educação física não era recomendada, não tinha mercado bom. Mas eu queria aquilo

Sobre como escolheu a carreira

Reprodução Reprodução

Itamaraty começou carreira de Parreira

Sem querer ser técnico, o então preparador físico Carlos Alberto Parreira virou treinador em um processo pouco convencional. Ele trabalhava no São Cristóvão, era formado em Educação Física e foi surpreendido por um convite do Itamaraty.

"O Itamaraty recebeu um convite. O governo de Gana pediu ao governo brasileiro um técnico para dirigir a seleção local. Não tinham dinheiro para bancar o treinador. O que o Itamaraty fez? Se dirigiu até a escola de educação física e fui indicado pelos meus professores. Eu já falava um pouco inglês, estudava e é o que digo para a turma: tenham diferencial. Eu estudava de manhã, trabalhava à tarde e estudava inglês à noite duas vezes por semana num curso que existe até hoje, o Ibeu. Então, naquela ocasião, eu tinha o diferencial", conta.

O pedido veio em um jogo do São Cristóvão no Maracanã. "Veio no vestiário um rapaz chamado Roberto Machado, que também já faleceu, que Deus o tenha. Ele me cumprimentou: ‘você é Carlos Alberto Parreira? Sou do Itamaraty. Você quer ser treinador de Gana?' Perguntei se era da seleção de Gana. Falei que podia. Ele me mandou comparecer ao Itamaraty na segunda-feira. Fui, o secretário fez duas perguntas em inglês e em uma semana estava viajando para Gana. Tinha 24 anos e o salário excepcional de 100 dólares ao mês”.

Arquivo pessoal/Família de Cláudio Coutinho Arquivo pessoal/Família de Cláudio Coutinho

Como Gana levou Parreira para a seleção

Como treinador de Gana, Parreira recebeu no país africano integrantes da seleção alemã para jogos entre as equipes menores dos países. Ali, fez contatos e pediu para acompanhar jogos do adversário na Europa. No país bávaro, foi acompanhar um jogo da seleção local contra o Brasil. E então surgiu uma nova coincidência:

"Fui com um professor da escola [da federação alemã] ver o treino da Alemanha. No treino do Brasil, entro e encontro o Admildo Chirol: 'Carlinhos, que você tá fazendo aqui?'. Eu estava estudando. Isso no final de 1968. 'Quando retornar ao Brasil, vamos conversar'. Então ele me levou à seleção brasileira. E assim fui campeão do mundo em 70 na equipe de preparação física formada pelo capitão Claudio Coutinho".

Ele se surpreendeu com "simplicidade" no Bragantino

Taís Vilela/UOL Taís Vilela/UOL

Parreira aposentado

Após mais de 50 anos no futebol, Parreira cansou. “Da rotina, não do esporte em si”. Após trabalhar nos quatro cantos do mundo, quer a paz de sua casa no Rio de Janeiro. Mas não sem ocupar sua cabeça. Ele escolheu a pintura para isso.

“Estou me renovando a cada dia. Gosto de pintar. Tenho um amigo, o Romanelli, que é pintor e me ensinou isso há mais de 15 anos. Dei uma pausa nos quatro anos de seleção, mas venho pintando neste tempo. É um hobby que me dá prazer. Gosto do processo criativo, de tudo. E acho que tenho um jeitinho. Gosto ainda de fotografar, especialmente paisagens e minha família, meus netos”.

Sem a roupa esportiva à beira do campo, Parreira pode ser visto com uma máquina a tiracolo em uma maternidade mais próxima. “Vou registrando todos os netos desde o nascimento. Estão todos devidamente retratados, é muito bacana”.

Curtiu? Compartilhe.

Topo