Sem enrolação: quem quiser falar sobre "sustentabilidade" na General Motors do Brasil vai parar no escritório do vice-presidente para Mercosul, Marcos Munhoz, no final de um dos corredores amplos e de pé-direito alto da sede histórica da marca, em São Caetano do Sul (SP). Munhoz é também o presidente do Comitê de Sustentabilidade da GM Mercosul e mestre-de-cerimônia do "Prêmio GM de Sustentabilidade".
Colocar essa responsabilidade na mão de um dos chefões da empresa toda é a forma de dizer a ação é "para valer". Munhoz tem poder para organizar, cobrar resultados e definir verbas, de forma a fazer tudo realmente sair do papel. Em suas palavras, pode cobrar a troca de lâmpadas comuns por LEDs no corredor, mas também anunciar o início dos testes de um carro elétrico no Brasil. Não à toa, Munhoz diz que a busca pela sustentabilidade faz qualquer um "tomar gosto" pela coisa.
Em 26 de janeiro, a GM do Brasil completou 93 anos (ao mesmo tempo em que bradava planos para carros elétricos no país). O "Prêmio GM" tem apenas cinco anos, mas já está fundido ao DNA da marca. A ação da GM reconhece, premiando, ações de funcionários, fornecedores e até de familiares de funcionários.
Ações como a manutenção de uma horta e de política de reciclagem de dejetos de uma concessionária Metronorte (de Joinville/SC); de produção e ciclos eficientes da Hewlett-Packard e da agência Publicis Brasil, fornecedores da GM; e de quatro funcionários de diferentes unidades fabris -- todos premiadas em 2017, servindo de exemplo ao restante da "sociedade interna", mas também externa à empresa.
Há ainda o exemplo da fábrica de Joinville, aberta em 2013 e dedicada à produção anual de 110 mil motores (para os modelos mais vendidos no país, Onix e Prisma), além de cabeçotes de alumínio para os motores brasileiros e também da fábrica de Rosário (Argentina). Ela é "apenas" a mais moderna do grupo no país, mas também a mais sustentável da empresa no mundo, com prêmios e certificações de referência em produção, uso racional de recursos (água e energia), reciclagem e tratamento de dejetos.
Munhoz falou um pouco desses exemplos a UOL Carros e acenou com sua visão de futuro:
- O que é o "Prêmio GM" de sustentabilidade?
Munhoz: Desde que me conheço aqui na GM, sustentabilidade é algo intrínseco à nossa operação, mas de uns anos pra cá resolvemos premiar ações de sustentabilidade. O Prêmio GM de Sustentabilidade chegou ao patamar maior no ano passado, quando fizemos premiação incluindo práticas sustentáveis dos nosso concessionários, práticas sustentáveis dos nossos fornecedores, práticas sustentáveis da nossa empresa, claro, e práticas sustentáveis dos nossos funcionários, quer na atividade da empresa, quer nas atividades [deles] em casa.
O grande objetivo dessa premiação é reconhecer as atitudes sustentáveis maiores ou menores envolvendo todo nosso ciclo, desde a produção de componentes, passando pela fábrica, até nossos concessionários. Há esta clara e forte convicção de educar quem está afeto ao nosso negócio, direta ou indiretamente.
Tudo começou com uma só categoria, há cinco anos, sendo que agora está completo com todas as quatro categorias: "GM (empresa)", "Funcionários da GM", "Fornecedores" e "Concessionários".
- Como se incorporam noções de sustentabilidade à rotina de trabalhadores, fornecedores e da própria empresa, na prática?
Munhoz: A gente parte do princípio de que nós somos uma entidade 24 horas por dia. A gente não passa pela portaria e deixa as coisas [pessoais] do lado de fora, não é assim que nós seres humanos somos, por isso que a gente integra a família.
Então, a família de nossos funcionários está super informada de tudo o que acontece [a GM tem dois serviços de intranet, um para os funcionários e outro aberto também a familiares, onde todos os cadastrados podem receber informações sobre ações realizadas pela empresa].
Um dos temas [do "Prêmio GM" em 2017] foi criar a nossa simbologia. Esse bonequinho [aponta para o mascote do "Prêmio GM" em uma camiseta] significa a nossa sustentabilidade e foi criado pela filha de um funcionário, num concurso interno, quando oficializamos nossa logomarca. Então nós a chamamos e fizemos uma homenagem agradecendo pela criatividade. Enfim, até isso fizemos com o envolvimento da sociedade interna.
- O que "sociedade interna" significa? Quantas pessoas são envolvidas nessa ação da GM?
Munhoz: Nós somos, junto com as nossas famílias e contando apenas os funcionários diretos da GM, provavelmente umas 100 mil pessoas. Nós temos, nos nossos concessionários, alguma coisa como mais umas 100 mil pessoas. Então já são 200 mil pessoas. Não tenho nem como prever a abrangência de cada um dos fornecedores, mas temos entre fornecedores de componentes e de serviços mais de 1.500 empresas, então é muita gente envolvida. Nossa principal missão, quando vai pra casa, é ter a certeza de que conseguiu educar um pouquinho todas essas pessoas.
Essas coisas simples que a gente fala de reciclar e não jogar óleo de cozinha na pia, de [fazer] coleta de baterias descartáveis. Então a gente vai desde coisas mais simples até as mais sofisticadas, como a instalação de uma unidade de geração de eletricidade com energia do sol, como temos em algumas fábricas.
- Mostrar-se ambientalmente sustentável é a nova preocupação das empresas automotivas, mas isso vai além do marketing?
Munhoz: Me permita colocar a seguinte questão: por que nós temos um "Comitê de Sustentabilidade", com representantes de todas as áreas, e por que o vice-presidente da GM é o presidente do "Comitê de Sustentabilidade"? Porque tem certas coisas em que você precisa de um comando do topo. E este [tema] é um deles, todo mundo gosta de falar, mas executar é um pouco mais complicado. Para executar você precisa de alguém que tenha o poder para tomar decisão, que dê orçamento para as áreas, que tenha uma diretriz clara, que recompense as pessoas dentro e fora [da empresa], e que tenha uma disposição, eu diria até exagerando um pouquinho, que precisa gostar mesmo desse tema para ele ir pra frente.
E é cativante. Eu lembro que as primeiras coisas que a gente fazia, a gente colocava pessoas no auditório e perguntava: "Quem aqui recicla óleo de cozinha em casa"? Vinte ou 30 levantavam a mão e a gente: "Não, vamos começar de novo, vamos ser honestos aqui. Quantos de fato reciclam óleo de cozinha"? Baixava pra uns 10%. Depois perguntava de pilha, de bateria, depois perguntava: "Quantos aqui têm descarga de água com os dois botõezinhos, um de um litro, outro de cinco litros"? Muita gente dizia que nem sabia que existia. Tinha de explicar: "Toda vez que a gente constrói alguma coisa nova, faz uma reforma na casa, já compra o vaso sanitário com esse dispositivo, custa o mesmo preço e você, além de tudo, economiza água".
Então, vai desde as coisas muito simples, até as mais sofisticadas. O que a gente tem na fábrica de Joinville, por exemplo, são coisas muito sofisticadas, com tecnologia que a gente foi buscar fora do Brasil, inclusive com cientistas da França, que desenvolveram sistemas inteiramente sofisticados para limpeza e purificação de água, e a gente foi atrás.
- E quais são os ganhos dessa visão mais sustentável?
Munhoz: Hoje nós usamos metade do volume de água para fazer um carro do que há sete, oito anos. Metade da energia elétrica. Então você, claramente, consegue o retorno. Só que você precisa dar o primeiro passo.
Se você andar por aí vai ver troca de lâmpadas em todas as unidades da empresa por essas lâmpadas de LED, só que essas lâmpadas nós já trocamos uma primeira vez [das convencionais] por essas de baixo consumo e, agora, para as de extra-baixo consumo.
E aqui ao meu lado, a 500 metros do meu escritório, nós fizemos uma nova unidade que é o armazém logístico. E lá existia uma operação anterior, que vinha desde... nós vamos completar 93 anos e existiam armazéns desde aquela época. Sabe o que fizemos naquela obra? Cem por cento do [material] que tinha naquele armazém foi usado na construção da operação fabril nova. Nós jogamos zero pra fora da fábrica e reaproveitamos 100% do que tinha lá.
Vários colegas fizeram as contas, viram que foi uma grande economia de insumos, mas no fundo o que a gente queria era um ato de consciência de sustentabilidade.
Nós da Chevrolet temos muito orgulho da nossa história.Tenho aqui do meu lado o exemplo de uma picape, nós estamos no marco da Chevrolet completando 100 anos de fabricação de picapes no mundo, no Brasil estamos há 93 anos e estamos partindo pra uma nova fase extremamente importante. É a vinda dos carros elétricos, que têm como missão na nossa empresa cumprir três objetivos, que são: zero de emissões, zero de acidentes e zero de congestionamento.
Se nós pensarmos nestes três elementos, são extremamente agressivos, extremamente ambiciosos. Mas isso faz para nossa empresa uma linha clara do que
a gente acredita que é o futuro, que com certeza passará por elétricos, que com certeza passará por autônomos e, com certeza, teremos várias formas de gerar eletricidade para esses carros.
É o futuro em que acreditamos piamente e ele chegará mais rápido do que muita gente pode imaginar.