É preciso contar uma história: a principal categoria do Prêmio UOL Carros 2017 surgiu internamente com o nome provisório de "Carro que deu o que falar". Pode soar estranho, mas entrega muito da ideia: os cinco finalistas a "Destaque do Ano" foram carros que povoaram mentes, frases, geraram muita discussão e, literalmente, deram muito o que falar antes de qualquer decisão de compra ser feita ao longo da última temporada.
Alguém pode questionar: "Mas o SUV premiado não foi o Peugeot 3008?". Sim, foi e representou todo o ideal de quem quer migrar de categoria busca. Quase uma decisão técnica e -- portanto -- justíssima. "No popular", porém, muita gente que pensou, discutiu e quis colocar um SUV na garagem acabou fechando com a Hyundai e levou um Creta para casa. Ele não era o mais instigante visualmente, nem o mais completo e não tinha a melhor plataforma, mas foi o segundo SUV compacto mais vendido do mercado (no acumulado, com 41.625 unidades em 2017) e acabou sendo até o mais vendido no período final do ano, desbancando o Honda HR-V nas contas isoladas dos últimos meses. Vale lembrar quem nem HR-V, nem Jeep Compass (o campeão geral em vendas, mesmo sendo um modelo mais caro, e concorrente direto do 3008) foram finalistas em qualquer categoria por carecerem de novidades relevantes em 2017.
Esse mesmo pensamento vale para os demais finalistas: o médio Toyota Corolla entregou mais de 66 mil unidades e ficou muito perto do pequeno Chevrolet Prisma, modelo bem mais barato e menos equipado. Se nos últimos anos o Corolla vendia bem, mas era massacrado por críticos por não oferecer equipamentos (e/ou visual e acabamentos) condizentes com o valor cobrado, em 2017 trouxe uma reestilização profunda que zerou qualquer demanda. O resultado é um produto quase completo, que vende três vezes mais que o rival direto (Honda Civic) e agrada público, mídia especializada e quem quer que abra a boca para falar de sedãs.
Fiat Argo foi só a aposta da marca italiana para o Brasil no último ano. Fruto de projeto que levou pelo menos três anos em desenvolvimento e que vai gerar mais alguns produtos, chegou com difícil missão de recolocar a Fiat nas primeiras posições do mercado. De cara, agradou pelo projeto atual, pelo nível de equipamentos e até pela qualidade do sistema de som em um carro compacto. E foi falado tanto pelos preços praticados, quanto pelo visual. Seria muito ousado para a Fiat? Seria "inspirado" demais em carros rivais? Com ou sem polêmica, teve méritos para ultrapassar as vendas do Mobi (lançamento anterior da marca e que até agora não engrenou), entregou três vezes mais que o simbólico Uno e pareou com a poderosa picape Toro, com menos de seis meses de loja: quase 28 mil unidades em 2017.
Renault Kwid foi falado para o bem e para o mal: teve estratégia de lançamento fantástica a ponto de lhe valer a terceira colocação na categoria "Inovação/Tecnologia": qualquer um poderia dar entrada no carro parcelando o sinal de R$ 1.000 em três vezes no cartão de crédito, como se fosse um eletrônico, por exemplo. Além disso, prometia ser um "SUV dos compactos" e entregava quatro airbags de série. Custando menos de R$ 30 mil, gerou quatro meses de fila de espera, entregou mais de 22 mil unidades em pouco mais três meses cheios de loja... até que tudo parou num recall gigante, de todas as unidades. É uma incógnita para 2018? Pode ser, mas deu o que falar e ganhou as ruas em 2017.
Já o Volkswagen Polo chegou com responsabilidade enorme: principal aposta da Volkswagen, estreou sua sexta geração no Brasil pouco mais de três meses após ser revelado na Europa, um intervalo minúsculo do ponto de vista industrial. E isso após hiato de quatro anos, já que a geração anterior não foi vendida no país e a antecessora acabou esticada até não significar mais nada para o mercado. O que o novo modelo traria para voltar a ter relevância? A melhor tecnologia disponível da marca, com segurança e itens de conectividade nunca vistos na categoria, sendo na prática, segundo a Volkswagen, um "mini-Golf". Ainda assim, para muitos, ficou "feio demais", "pobre em acabamento, "repetido demais", "a cara do Gol".
Quem testou o Polo encontrou excelente dirigibilidade, retomadas seguras, aceleração surpreendente (sobretudo quando equipado com motor turbo) e pacote de fábrica surpreendente. Com três versões de acabamento (básica, Comfortline e Highline), três motorizações (1.0 MPI, até 84 cv; 1.6 MSI, até 117 cv; e 1.0 TSI, até 128 cv, chamada pela marca de 200 TSI) e preços variando de R$ 49.990 a R$ 69.190, virou referência para o mercado brasileiro -- e isso com apenas três meses de loja. Se o total de vendas abaixo de 10 mil unidades parece pouco, nas entregas mensais o Polo entrou no "Top 10" na categoria (em 2018, já é o quarto carro mais vendido do país, mas vamos focar em 2017...).
Seja por critérios técnicos, movimentação de mercado ou por ter dado muito "pano para manga" em mesas de bate-papo automotivo, podemos apontar o "Destaque do Ano": Volkswagen Polo.