Erlanger: Stewart Baker, antigo conselheiro geral da Agência de Segurança Nacional, é contra seu perdão. Ele acredita que os benefícios do vazamento poderiam ter sido alcançados com apenas três ou quatro documentos e que a avalanche de documentos liberados prejudicou a inteligência dos EUA e os interesses nacionais. Você acredita que se tivesse divulgado menos coisas o efeito teria sido o mesmo?
Snowden: Não. O que ele está de fato argumentando aqui não é contra mim, é contra o jornalismo. Ele está criticando os jornalistas que continuam a reportar sobre o arquivo e continuam a divulgar histórias que estão mudando a lei e a política hoje.
O que significa quando dizemos aos jornalistas que não há problema em se publicar as três primeiras histórias, mas mais três ou mais 300 já é demais? Quem decide isso? Acredito que deveria ser a imprensa. Ela está em uma posição melhor para tomar essas decisões, e é por isso que temos a Primeira Emenda.
Erlanger: Certamente, estou com você. Você não fala muito russo, e não está em um lugar que particularmente gostaria de estar. O que você faz todos os dias?
Snowden: Basicamente, vou à conferências em Atenas.
Erlanger: É uma renda.
Snowden: Não, mas sério, eu sempre fui meio caseiro. Minha vida é a internet. Essa é uma explicação pela qual fiquei tão abalado com o que testemunhei na NSA. O que vimos em 2013 não era apenas sobre vigilância, era sobre direitos e democracia.
Quando muitas pessoas pensam sobre privacidade, pensam sobre suas configurações do Facebook, mas privacidade é na verdade a fonte de todos os nossos direitos. É o direito do qual todos os outros derivam e é o que faz de você um indivíduo. É o direito da vida e da mente independente.
Liberdade de expressão não tem significado sem o espaço protegido para falar livremente. O mesmo [se aplica] à liberdade religiosa: se você não pode decidir por si mesmo o que quer cultuar, simplesmente vai adotar o que é popular ou qualquer que seja a religião do Estado para evitar o julgamento dos outros.
Quanto menos poder você tem na sociedade, mais fortemente deve defender sua privacidade. Se você é um indivíduo e não tem influência sobre qualquer coisa, você é o público-alvo para o qual a privacidade foi concebida. Se você é um funcionário público, se tem privilégio e influência enormes, a transparência é destinada a você. Essa é a única maneira que podemos saber se você está dentro das nossas leis e normas e então poderemos dar nossos votos de modo informado.
Erlanger: Você disse que ainda considera que está trabalhando para os Estados Unidos. Você poderia explicar o que quer dizer com isso?
Snowden: Ser patriota não significa simplesmente concordar com seu governo. Estar disposto a discordar, particularmente de forma arriscada, é na verdade do que mais precisamos hoje. Quando temos esse ambiente inacreditável, muitas vezes livre de fatos, onde os políticos podem fazer reivindicações que são então relatadas como verdade, como estamos de fato conduzindo a democracia? Se temos fatos, podemos facilitar a democracia, e esse é o meu papel.