Como mudamos o mundo?

Nove líderes religiosos e um ateu apresentam, em artigos, sugestões para construirmos uma sociedade melhor

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"Melhore a si mesmo"

Ajahn Mudito, monge budista*

O que eu posso fazer para mudar o mundo? Melhore a si mesmo.

Ao contrário do que muita gente pensa, não acho que faltem pessoas querendo fazer o bem; o que falta são pessoas capacitadas a fazê-lo.

Entenda: todo mundo quer proteger o meio ambiente, mas ninguém quer abrir mão de conforto, praticidade ou prazer dos bens materiais. Todo mundo quer a paz entre os povos, mas ninguém quer abrir mão do prazer da vaidade em estar certo e ter razão. Todo mundo quer que as pessoas sejam melhores, mas ninguém quer se comportar corretamente.

A chave de tudo isso não é boa intenção. Dentro da visão do Buddha, só ser bem-intencionado não é suficiente, é preciso desenvolver a capacidade de trazer essa boa intenção à vida.

De acordo com a visão budista, uma boa pessoa não é aquela que tem boa intenção, mas aquela que, além disso, possui todas as qualidades que tornam essa boa intenção realidade.

E quais seriam essas? Na verdade, são inúmeras, isto porque existem infinitas formas de ser uma boa pessoa, mas algumas muito comuns e básicas são:

  • Bem-querer: essa qualidade todo mundo conhece, não precisa explicar muito. Bem-querer não é só bem-querer pelas pessoas, mas também por todo o mundo a seu redor, inclusive os objetos inanimados. Não desejar a destruição, não desejar a dor, não achar divertido ou engraçado o sofrimento alheio. Estar disposto a ver as coisas sob o ângulo de quem lhe ofende. Não desejar o mal de ninguém, desejar que todos alcancem bem-estar e tornem-se pessoas felizes e possuidoras de boas qualidades do coração.
  • Sabedoria: entender claramente o que de fato ajuda as pessoas e o que não ajuda. Saber quando atuar e saber quando não fazer nada (sim, existem momentos em que a melhor forma de ajudar é não fazer nada). Essa qualidade possui três fontes: experiência, aprendizado e convívio. Portanto, não tenha medo de experiências, pois elas são fontes importantes de sabedoria. Não negligencie as palavras de pessoas sábias e aprenda a instruir a si mesmo através de um pensamento hábil. Busque a companhia de pessoas sábias e boas e, ao mesmo tempo, evite ao máximo possível a companhia de pessoas ruins e baixas --não ouça a conversa delas, não participe do mundo mental delas, não adote os valores delas!
  • Disposição: se já é capaz de sentir amizade pelo mundo e já sabe como ajudar, agora vença a preguiça e mãos à obra! Aprenda a administrar seus pensamentos, não tome partido das linhas de raciocínio que justificam a lassidão, não ache que é “esperto” evitar trabalho e seja hábil na arte da renúncia.
  • Renúncia: um dos maiores obstáculos à disposição é a incapacidade de renunciar. As pessoas até querem ajudar, mas não querem abrir mão desse ou daquele prazer, não querem sentir desconforto, não querem assumir compromissos etc. A verdade é que renúncia é uma capacidade vital para qualquer pessoa que queira mudar ou fazer algo novo, principalmente hoje em dia em que a vida de todos está tão repleta de confortos e distrações. Afinal, ninguém mais tem tempo livre, cada minuto é ocupado ouvindo música, assistindo ao YouTube, mandando mensagens etc.

Olhando acima, acho que fica claro a mensagem de que mudar o mundo só pode ocorrer se mudarmos a nós mesmos. Isso porque, para fazer o bem, é preciso primeiro ser uma boa pessoa

Se olharmos um pouco para o passado, logo veremos quantos exemplos temos de pessoas que achavam que estavam fazendo o bem, mas, na verdade, fizeram o mal. Várias pessoas foram torturadas e queimadas em fogueiras porque outros queriam preservar a palavra de Deus; muitos milhares sufocaram em câmaras de gás porque um grupo de pessoas queria o bem da nação; milhões morreram de fome para que um novo sistema político fosse estabelecido para o bem da sociedade.

Tudo isso foi feito sob a bandeira do bem, mas por pessoas ruins. Portanto, o primeiro passo é melhorarmos a nós mesmos e, se por acaso acharmos que nós já somos bons o suficiente, então este mesmo pensamento quase certamente indica quão grande é nossa cegueira espiritual e quanto trabalho ainda temos pela frente.

Ajahn Mudito, 40, é monge budista há 13 anos e atualmente é diretor espiritual da Sociedade Budista do Brasil.

Alisson Louback/UOL Alisson Louback/UOL

"Só conseguirei se olhar para o outro"

Dom Murilo S.R. Krieger, vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

"Como estar satisfeito com um mundo que conseguiu globalizar a economia, as ciências, a arte etc., mas não conseguiu globalizar a solidariedade, a partilha, a justiça etc.?", pergunta o arcebispo

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Gabo Morales/UOL Gabo Morales/UOL

"Buscar a prática do respeito às diferenças à diversidade"

Pai Guimarães, sacerdote umbandista na Abratu

"Cabe a cada um de nós iniciar uma busca incansável na prática do respeito às diferenças e um profundo respeito à religiosidade e às escolhas que cada um faz", diz o sacerdote

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Gabo Morales/UOL Gabo Morales/UOL

"Relacionar a vida que se tem ao que uma mudança pode proporcionar"

Sheik Abdel Hamid Metwally, líder religioso da Mesquita Brasil

"A maior parte dos pesquisadores aponta a existência de uma força interna que ajuda a concretizar a mudança, porém muitos de nós a ignoramos", afirma Sheik Metwally

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Júlia Salustiano/UOL Júlia Salustiano/UOL

"O primeiro passo é começar consigo mesmo"

Jorge Godinho Barreto Nery, presidente da Federação Espírita Brasileira

"Nesta caminhada de união, a paciência, o respeito, a benevolência, a tolerância se fazem essenciais na prática genuína do bem e no exercício da caridade", diz Jorge Nery

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"Quem é capaz de amar é forte e tem este poder"

Dom Damaskinos Mansour, da Arquidiocese Ortodoxa Antioquina de São Paulo

"O amor é o rei das virtudes e nos dá a vitória, especialmente quando começamos a vivê-lo em nós mesmos e o praticamos em nossas relações com nossos semelhantes", afirma o arcebispo

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"Superar o desconhecimento e a nossa tendência a ilusão"

Daniel Sottomaior, presidente da Atea

"As ilusões cognitivas estão em todos os lugares. Na política, na medicina, na religião, nos relacionamentos pessoais", afirma presidente da Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos

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Carine Wallauer/UOL Carine Wallauer/UOL

"Atitude ritual e o comportamento social devem ser coerentes"

Michel Schlesinger, da Congregação Israelita Paulista

"Quando não deturpadas, as condutas religiosas ajudam o indivíduo a ordenar sua escala de valores e redirecionar suas atitudes", afirma o rabino

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Antonello Veneri Antonello Veneri

"Nunca perder a capacidade de me indignar com as mazelas humanas"

Mãe Stella de Oxossi, ialorixá do candomblé

"Ninguém, até hoje, conseguiu mudar o todo, apenas a parte; quero dizer que consigo, com muito esforço, mudar apenas a mim mesma e, assim, tento atingir o mundo", diz Mãe Stella

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Carine Wallauer/UOL Carine Wallauer/UOL

"Acreditar que as pessoas podem mudar"

Paulo Eduardo Gomes Vieira, pastor presidente da Primeira Igreja Batista de São Paulo

"Deixar de acreditar significa render-se ao conformismo. Deixar de acreditar significa cruzar os braços e se conformar com o caos", diz o pastor

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