Se o Nordeste lidera o ranking das regiões brasileiras onde os investigadores mais atuaram nos últimos três anos no combate à corrupção, a Bahia concentra o maior número de operações na região. Cerca de 40 casos ocorreram em municípios baianos.
Na cidade de Mirante, a cerca de 500 km de Salvador, a Justiça decretou a prisão preventiva de 26 agentes públicos em novembro de 2016. Entre eles, o então prefeito, a primeira-dama, dois secretários da prefeitura e 12 servidores comissionados do município. Quase todos já tinham sido alvo de outras investigações por fraudes em 2015.
Um ano antes, conluio semelhante foi descoberto em Caatiba, distante 550 km da capital baiana, onde o prefeito, sua mulher e dois secretários direcionaram licitações nas áreas de saúde, logística e transporte escolar.
Em Cansanção, também na Bahia, o dinheiro da prefeitura seguia para um grupo empresarial do próprio prefeito que recebeu mais de R$ 20 milhões dos cofres municipais por meio de licitações forjadas.
O ex-prefeito de Mirante Hélio Ramos Silva (PMDB) ganhou liberdade em fevereiro de 2017, com medidas restritivas. Assim como os demais envolvidos, à época da operação da PF em sua cidade, ele não se manifestou sobre a prisão. Os outros acusados também estão em liberdade. Em Caatiba e Cansação, onde houve buscas e apreensões da Polícia Federal, os então prefeitos Junior Mendes (PMDB) e Ranuldo Gomes (PSD), respectivamente, não se pronunciaram, depois da ação da PF.
Esquema semelhante também foi apurado em Capela, município de Sergipe com 34 mil habitantes e distante 70 km de Aracaju. Lá, o ex-prefeito, sua mulher, dois ex-secretários e uma empresária foram acusados de irregularidades na aplicação e prestação de contas de recursos federais, segundo a PF, além de prática de lavagem de dinheiro e crimes de responsabilidade.
Preso e liberado um mês depois, o prefeito foi condenado em abril deste ano a 13 anos e nove meses de prisão por fraudes eleitorais, cometidas em 2012, e a outra pena de um ano por calúnia e difamação. Nos dois casos, ele recorreu em liberdade. Enquanto isso, a ex-primeira-dama ocupou a vaga do marido na Prefeitura de Capela.
Políticos com mandato são protagonistas das fraudes
O envolvimento de políticos com mandato em práticas corruptas não é exclusividade dos altos escalões federais sediados em Brasília. No interior do Nordeste, as ações da Polícia Federal mostraram que a prática é disseminada.
Em agosto de 2015, a pequena cidade maranhense de Bom Jardim, com 40 mil habitantes, testemunhou o contraste entre a ostentação nas redes sociais da jovem prefeita Lidiane Leite, de 25 anos, ao mesmo tempo em que alunos da rede municipal tiveram o período de aulas reduzido por falta de merenda.
Lidiane, que ganhou notoriedade nacional também pelos 39 dias em que passou foragida, foi acusada de desviar R$ 15 milhões da educação. Ficou 11 dias presa e saiu sob habeas corpus com tornozeleira eletrônica para responder aos processos em liberdade. O advogado da ex-prefeita, Carlos Sérgio de Carvalho, afirma que "ser gestor não é fácil e todos estão sujeitos a erros, mas de antemão podemos afirmar que ela (Lidiane) não se apropriou de nenhum recurso público”.
Em 23 de setembro de 2017, Lidiane foi condenada pelo Tribunal de Justiça do Maranhão por 'uso unicamente pessoal' de R$ 1 milhão destinado ao asfaltamento de duas ruas da cidade. A sentença prevê a devolução do dinheiro e a perda dos direitos políticos da ex-prefeita por cinco anos