Para entender Kajuru

O polêmico apresentador fala de depressão, suicídio, prótese peniana, amigos famosos e política

Luiza Oliveira Do UOL, em Goiânia (GO)
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Jorge Kajuru é uma figura única. Capaz de falar, na mesma conversa, dos beijos de língua que trocava com Hebe Camargo, da depressão que superou por causa dos problemas de saúde até seus (inúmeros) desafetos do mundo político.

O UOL conversou com ele em seu gabinete na câmara em Goiânia. Sim, para quem não sabe o jornalista esportivo que cobriu nove Copas do Mundo hoje é vereador, um dos mais votados da capital goiana e ainda sonha em ser senador.

Em quase duas horas, Kajuru falou da diabetes e da operação que o fez perder quase 70kg, das amizades com famosos como Adriane Galisteu, Cláudia Leite, José Luiz Datena, Hebe Camargo ou Ivan Lins, mas também de como enfrentou políticos poderosos, acabou demitido inúmeras vezes da TV e, ainda assim, aceitaria voltar - desde que em seus termos. Saiba quais são eles aqui:

Ele enfrentou depressão e tentou suicídio

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Como Kajuru entrou no buraco

O buraco de Kajuru começou com um grave diabetes. Em 2009, fez uma cirurgia delicada de oito horas para controlar a doença. Foi o mesmo procedimento experimental pelo qual passaram Romário e Faustão. Os problemas vieram logo depois. O jornalista emagreceu quase 70kg, perdeu a visão e contraiu uma infecção causada por uma bactéria perigosa.

Aquele momento foi o mais difícil de sua vida. “Foi a bactéria junto com a cirurgia. Por que depois da cirurgia eu emagreci demais, né? Eu cheguei a pesar 62kg e fiquei cadavérico. Eu tinha chegado a pesar 128 quilos. Já imaginou pesar 62kg? Eu tinha dificuldade para andar, uma fraqueza muito grande no corpo... A minha vida sexual foi lá pra baixo. Tinha dificuldade. Por que é questão física, né?”

“Eu não queria viver mais. O meu problema de viver não era por causa de mulher, não era por causa da minha doença. Era por que eu estava magro, porque eu estava debilitado, porque eu tinha acabado de perder a visão. Então eu estava mal demais, sem olho”.

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Com 10% de visão, só vê quem quer

A perda da visão foi um trauma para Kajuru. Ele estava com Adriane Galisteu em um spa no interior de São Paulo quando começou a ter a sensação de “moscas volantes neste olho direito”. Saiu correndo para um oftalmologista que fez uma cirurgia de emergência. A diabetes havia causado um deslocamento de retina.

Hoje, ele usa uma prótese ocular, perdeu a visão completa do olho esquerdo e só tem 10% no direito. “Minha visão hoje não passa de 10%, este olho aqui é prótese, né? Mas agora é prazeroso, porque eu enxergo quem eu quero. Quando eu tinha visão boa, era um saco. Eu entrava num restaurante e eu tinha que ver quem eu não gostava. Era muito triste ver adversário, ver quem eu não queria ver”.

“Um dia, entrei lá no Bar des Arts lá em São Paulo e vi o Aécio Neves. Um mês depois que fui demitido da Band. Tinha vontade de ir lá e dar uma facada nele, né? Cortar o pescoço dele, né? Quer coisa mais desagradável do que isso? Então hoje eu agradeço a Deus por ele ter tirado a minha visão neste momento, com 56 anos de idade”.

O que me entristece na perda da visão é a questão de livro, porque eu sempre gostei de ler livro folheando página por página, pegar o livro na mão. isso eu não posso mais. Hoje, eu tenho que ouvir. Isso é um saco. Você colocar um fone de ouvido e não poder mais folhear uma página de livro. E eu só posso ler com letras grandes, letras garrafais

Sobre o que lamenta por não ter a visão perfeita

Cláudio Augusto/Foto Rio News Cláudio Augusto/Foto Rio News

Salvo pela música

A queda foi profunda e levantar não foi fácil. Aos poucos, percebeu que estava no caminho errado, se arrependeu de buscar a morte e encontrou apoio na psicanálise. Mas foi na música que ele encontrou a sua salvação.

“Eu gosto muito de música. Nesse momento eu virei compositor, eu fiz 12 músicas. Eu fazia as músicas, mandava para o Ivan Lins as letras. ‘O que você achou, padrinho? Tá legal?’ Aí só para me agradar ele falava: ‘Ficou muito boa’. Aí foi quando eu fiz música para a Galisteu, fiz uma pro Datena, fiz pra Hebe Camargo, para as minhas amigas de infância, chamada ‘Minhas Meninas’”.

“Foi quando eu falei: ‘Caramba, eu vou pro estúdio, vou gravar uma música’. E a música que eu sempre fui mais apaixonado era a ‘Eu não existo sem você’, de Vinícius e Tom Jobim. E eu gravei, consegui gravar sem desafinar. Fiquei feliz de novo. Eu tenho essa facilidade enorme de céu e inferno. Até porque minha vida foi assim, né? Não tive medo de nada na vida. Pra mim, morrer é como antes de nascer. Pra mim, morreu, que problema que tem? Nenhum”.

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Kajuru tem uma prótese peniana. E está feliz da vida

Kajuru viveu na pele um dos maiores pavores de todo homem: ficou impotente. Só conseguiu reverter o quadro, causado pela diabetes, quando uma amiga sugeriu que visitasse um especialista em Belo Horizonte. O diálogo, segundo ele, foi assim:

- Isso não tem jeito. Não tem solução...

- Tem jeito! Você pode colocar uma prótese - sugeriu a amiga.

- Você tá doida? Eu já tenho prótese no olho. Você quer colocar prótese aqui também?

- É igual uma mulher colocar um silicone. Você vai colocar um silicone no pênis. Você vai simplesmente colocar a prótese.

“Ela fez a minha cabeça. Eu fui e fiz”. A vida mudou a partir dali: “Gente, que maravilha: eu virei um Samu, uma ambulância. Eu estou à disposição 24 horas. Você quer coisa melhor para a mulher do que isso? Esses homens que estão por aí tão tudo broxa. Então eu sou feliz demais, não me queixo de nada com Deus”.

Kajuru diz que a prótese não atrapalha a vida. Faz xixi normalmente, pode ir à praia e o mais importante: a sensibilidade no local foi mantida. “Traz desconforto para as pessoas, né?”, deiverte-se. “Para as mulheres, não. Para mim, não, ué...”

“É evidente que é incômodo, mas como Deus foi bom para mim, eu não sou um cara privilegiado... O duro é se fosse grande, né? Mas não sou privilegiado. É um pequeno alegre. Às vezes tem gente que tem um grande bobalhão, né? O meu é um pequeno alegre. Mas até aumentou um pouquinho, dois centímetros só. Só um bocadinho. Ele ficou mais robusto”.

E como funciona?

Literalmente é um silicone. Só que o meu é bombinha. Você aperta quatro vezes a bombinha. Pum, pum, pum, pum. Acabou”.

A revelação de Hebe: Sílvio Santos é bem dotado

Francisco Cepeda / AgNews Francisco Cepeda / AgNews

Os beijos de língua em Hebe Camargo

Hebe Camargo criou sua marca registrada ao distribuir selinhos em seus convidados famosos. Mas com Kajuru rolou mais que um inocente toque de lábios. Os beijos eram “prazerosamente de língua”, como ele mesmo fala. Não à toa, ele ganhou o apelido de ‘Boca Louca’.

“Ela me beijava na boca. A Hebe nunca me beijou no rosto. A vida inteira trabalhando juntos e ela me beijando na boca. E vou te contar uma novidade. A Galisteu sabe e está aí viva. O beijo da Hebe comigo não era selinho não: era de língua. Prazerosamente de língua. A gente tinha um carinho de irmão, de amor, de afilhado, de madrinha”.

Diz a lenda que Kajuru teve um caso com a diva da televisão brasileira e também com a lendária Dercy Gonçalves. Ele afirma que tudo não passou de uma fofoca criada pelo amigo, o jornalista Marcelo Rezende. Mas vontade não faltou. “Ele inventou que eu tive um caso com a Hebe Camargo. Olha que eu queria ter, hein? Porque a Hebe, nossa, aquelas pernas bonitas, eu chegava no camarim dela e ela estava lá, se arrumando, ela passava aquele creme na perna dela, né? E a Hebe tinha um pernão maravilhoso, né?”.

Photo Rio News Photo Rio News

Adriane Galisteu e Claudia Leitte: BFFs

Jorge Kajuru é uma pessoa fora do padrão. Assim, cultivou amizades improváveis ao longo da vida. Ele tem como melhores amigas a apresentadora Adriane Galisteu e a cantora Claudia Leitte. As duas o ajudaram no momento mais difícil da vida, quando afundou em uma depressão.

“Quando estive doente em Ribeirão Preto, a Claudinha largou show, largou tudo, foi ficar comigo no hospital. Depois, começou a me pedir para acompanhá-la em todos os shows dela. Ela queria ficar perto de mim, queria saber de mim. Se você entrar no YouTube, tem um vídeo dela em que ela fala de mim com um amor tão puro que, toda vez que você vê o vídeo, dá vontade de chorar”, conta.

“A Galisteu me fez uma declaração no ar, que também tem no YouTube, no programa dela, que era no sofá em que ela entrevistava. Ela falou na minha cara, olhando para mim, que a maior declaração de amor que ela recebeu na vida de um homem foi de mim. Eu achava que era do Ayrton Senna, de outro. Mas ela disse que era a minha, porque eu compus uma música para ela”.

Arquivo pessoal Arquivo pessoal

A retribuição ao carinho veio de uma forma inusitada: tatuagens de Claudinha (no ombro esquerdo) e Galisteu (nas costas). “Eu resolvi fazer uma homenagem por uma amizade rara e por gratidão. Porque eu odeio tatuar bicho. Tatuar leão, tatuar dragão. Eu quero tatuar gente. Então eu tenho a minha mãe, tenho a Galisteu aqui (nas costas), a Claudinha aqui (ombro) e o Datena aqui (nas costas)”.

Como gastei R$ 126 mil em uma noite com Datena

As mulheres de Kajuru

Tive oito relacionamentos. Um casamento em cartório e mais sete relacionamentos sérios. Eu vivi com as mulheres por mais de dois anos. Para mim, isso é casamento, concorda? E vou dizer: as oito, até hoje, são amigas. Algumas fazem terapia e discutem até hoje o Kajuru. E elas falam: "Tem alguém que não iria gostar de te conhecer". Aí eu pergunto: "Quem?". "Freud. Acho que o Freud morreu para não te conhecer. Você daria trabalho demais na psicanálise para ele"

Sobre seus casamentos

Com essa mulheres, sem ter filho, eu fiz questão de, prazerosamente, dividir o que eu tinha. Com cada uma. Com a goiana aqui, por exemplo, fiz questão de dar a ela três apartamentos bons, caros e mais: durante seis anos, uma pensão de US$ 5 mil por mês. A doutora Marlene foi a advogada do divórcio. Ela fala que nunca viu um homem fazer isso. Claro que eu fiz, pô! Eu vivi dez anos intensamente com ela. Porque não tive filho vou deixá-la sem nada? De forma alguma

Sobre a separação de uma das mulheres

As mulheres que tomaram dinheiro de mim foram as que ficaram uma semana, duas semanas, três semanas... Teve uma que, em dois meses, tomou um Audi de R$ 152 mil, zero quilômetro, e um cavalo, que era o tesão dela. Comprei em Bauru por R$ 40 mil. Essas que tomaram dinheiro de mim

Sobre outras mulheres de sua vida

Panicats e os táxis de R$ 15 mil

A "metralhadora" do Kajuru

  • William Bonner

    Kajuru não tem papas na língua. Dá sua opinião sobre qualquer celebridade sem qualquer pudor. Um deles é William Bonner, criticado por não ter liberdade na TV Globo: "O William Bonner é um orangotango branco que lê notícias. Que liberdade o William Bonner tem? Literalmente um orangotango branco lendo notícias. Como era o Cid Moreira. A única coisa que mudou é a roupagem, o cenário. O Jornal Nacional é o mesmo de todos os tempos. Só noticia o que interessa à Globo e acabou".

    Imagem: Divulgação/Rede Globo
  • Tiago Leifert

    Kajuru faz elogios a Tiago Leifert: "Esse menino da TV Globo, o Tiago Leifert. Gosto muito dele. Quero até falar aqui publicamente que me arrependo das críticas que fiz. O Datena veio me contar agora que esteve com o Tiago Leifert e o que o Tiago falou muito bem de mim. Então, isso me deixou triste. Eu não tenho nada contra ele. Mas queria que ele reconhecesse que o que ele faz é uma cópia do Kajuru na Band em 2002 e da Rede TV em 2000. Então eu só queria que ele dissesse isso. Custa ser sincero?"

    Imagem: Divulgação
  • Silvio Santos

    Silvio Santos foi eleito o melhor chefe da vida de Kajuru. "Ele está no melhor momento da vida dele. Está literalmente gagá. Porque ele fala com a filha dele, né? Porque ele canta todo mundo. O Silvio é terrível. É implacável. Se você for apresentadora do Silvio, você não tenha dúvida de que ele vai te xavecar. Mas o Silvio é um cara extraordinário, o melhor patrão que eu tive".

    Imagem: Divulgação/SBT
  • Sabrina Sato

    "Essa nunca foi de fazer programa. É seríssima. A Sabrina é minha amiga pessoal. Conversar com a Sabrina é muito prazeroso. Ela tem todo aquele jeitão dela, 'é verrrrdade'. Ela passa aquele papel, mas não é uma Luciana Gimenez. Dá papo, o papo rende. Então vale a pena".

    Imagem: Thiago Duran/AGNews
  • Zezé di Camargo

    O sertanejo parceiro de Luciano também não foi poupado. "Até o Zezé de Camargo vira cantor, essa bosta. Porque ele me tortura. Porque ouvir o Zezé de Camargo é uma tortura, concorda? Eu vi a filha dele, então, a Wanessa. Aí que ia ser torturado mesmo".

    Imagem: Manuela Scarpa/Brazil News
Divulgação Globo/Alex Carvalho Divulgação Globo/Alex Carvalho

Por que não aceitou virar global

Kajuru trabalhou nas principais emissoras de televisão do país. Faltou a TV Globo. Ele diz que teve uma proposta para trabalhar na emissora. “A Globo fez seis jantares comigo, todos eles intermediados pelo Galvão Bueno”, conta.

“Eu não aceitei por que, no último encontro, o diretor nacional de esportes da Globo determinou o que eu podia e o que eu não podia falar. Aí eu fiquei fora. ‘Isso aqui é censura, o senhor me desculpa’. Mas pelo menos a Globo foi honesta, falou antes o que eu não poderia falar lá”.

O convite ocorreu em 2003 e todas as reuniões aconteceram no restaurante no Jardim Di Napoli, tradicional cantina paulistana. A ideia era que ele apresentasse o Globo Esporte, tivesse um quadro ao lado da jornalista Ana Paula Padrão às segundas e às quintas-feiras e ainda participasse de uma mesa redonda de rua no Esporte Espetacular.

“A proposta foi de R$ 19 mil na época. E o Galvão insistindo, insistindo, porque ele me queria. Ele escreveu no livro dele, uma parte em que ele fala que tentou de todas as formas me levar para a Globo e para o programa dele. Queria o Kajuru, não o Renato Maurício Prado. E eu acabei indo com o Datena para a Band, por amizade, lealdade, irmandade. Eu amo o Datena. Ele falou: você vai comigo. E eu fui com o Datena. E fui ganhando R$ 100 mil por mês. A Globo me ofereceu R$ 19 mil, uma diferença abismal”.

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O sucesso de Kajuru

O jeito explosivo de quem não leva desaforo para casa consagrou Kajuru. E assim ele fez muito sucesso na televisão. Cobriu nove Copas do Mundo, oito Olimpíadas e viajou o mundo inteiro. Trabalhou na Rede TV, na Band, fez o Linha de Passe na ESPN e apresentou programas no SBT ao lado de Silvio Santos e Hebe Camargo.

“Eu fazia com a Hebe Camargo e com a Galisteu o talk-show Fora do Ar. Eu apresentava e dividia palco com o Silvio Santos no reality show do SBT (Casamento à Moda Antiga). O Silvio me escolheu entre 20 que fizeram o teste. Então, puxa vida, eu cheguei ao ápice na televisão”, analisa. “Apresentar programa no mesmo palco com o Silvio Santos, apresentar o programa com a Hebe Camargo e dirigir o programa da Hebe...”

“Eu chamava ela de madrinha. ‘Madrinha, um minutinho só. Volta esse texto, por favor, madrinha. Não está bem interpretado. E ninguém sabe fazer como você. Você é a rainha da televisão’. Você tinha que fazer um elogio, porque era verdade, ela era a rainha mesmo. Só que às vezes ela ia muito rápido, comia uma vírgula, entendeu? Às vezes tinha algum erro, alguma coisa. Aí eu tinha que parar. Eu fui jurado do Flavio Cavalcanti, entendeu? Então, puxa vida, eu consegui tudo na televisão”.

"Tomei nojo pela TV"

Reinaldo Marques/TV Globo Reinaldo Marques/TV Globo

Exigências para voltar

Hoje, Jorge Kajuru é vereador e sua dedicação à política é total. Mas o jornalista não descarta voltar um dia às telinhas. Desde que atendam suas exigências. E o que ele gostaria de fazer? “Eu poderia voltar se tivesse a liberdade de um programa de entrevistas, do meu jeito, naquele estilo meu de perguntar”.

A ideia seria algo nos moldes do Altas Horas, de Serginho Groisman. “Seria um programa com a plateia perguntando junto comigo, dividindo mesmo. Com plateia escolhida, universitária, bem politizada, bem preparada. E sem edição”, explica.

“Não como o do Serginho, que é editado e com perguntas como a Globo quer. Não falo do Serginho porque eu o considero um grande comunicador. Mas ele sabe que ele não tem liberdade na Globo”.

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"Se estivesse na televisão hoje, seria show de audiência"

A modéstia passa longe de Kajuru. Por isso, ele afirma categoricamente: “Se eu estivesse na televisão hoje, onde eu estivesse, o meu programa ia ser um show de audiência”.

Ele diz que a qualidade do jornalismo esportivo caiu muito e que hoje não se investiga mais nada. Tudo não passa de circo, com gracinhas e bajulação a jogadores. "As mesas redondas são circenses, são pouco produtivas jornalisticamente falando. E não há mais, lamentavelmente, jornalismo esportivo investigativo, como sempre praticou a Folha de S. Paulo, como praticava a revista Placar, não há denúncia. Nem na própria Folha raramente tem”, analisa. “O futebol é cheio de denúncia. Você tem corrupção como na política, todo dia. Uma Lava-Jato por semana no futebol, se você quiser. E ninguém denuncia”.

“É só aquela brincadeira, aquele circo, entendeu? É aquela puxação de saco. Todo jogador é bom, impressionante... Parece o programa do Faustão. ‘No profissional e no pessoal’. Como se você conhecesse o caráter da pessoa, né? Então, acho que a televisão está muito pobre. Piorou muito”. Por isso, ele diz que só assiste atualmente e telejornais.

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Quando a política forçou as demissões

De Ricardo Teixeira a Lula, de Fernando Henrique Cardoso a Temer, passando por Luciano do Valle. Kajuru nunca teve pudor em falar mal de políticos e poderosos. Não restava um. Mas a boca solta trouxe problemas e fechou portas.

Eu fui saindo do ar nas televisões porque a classe política se uniu. Fiquei 40 anos na televisão até eles se unirem. Até que demorou. Você sabe que o mal é melhor para se unir do que o bem, né? O mal, quando se une, é perigoso. Então, como se uniu, eles foram diretamente nos donos das emissoras. Como as emissoras de televisão são concessões, não aguentam a pressão política

Sobre porque ele foi demitido tantas vezes

Eu falo nomes. "Lula é corrupto. O presidente Temer é corrupto desde a maternidade. Já nasceu corrupto. Entendeu? E aí foi piorando. Escrevi um livro chamado 'Condenado a Falar', que era, de A a Z, pólvora pura. Eu falava em poucas palavras sobre políticos. Por exemplo, Garotinho: 'Faz isso tudo como Garotinho, imagina quando crescer'. Então, eu batia pesado demais

Sobre o conteúdo de suas críticas

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Com tanta verborragia, Kajuru saiu de vários empregos após falar o que queria. Em 2004, ficou famoso o caso em que foi demitido da Band porque criticou o então governador de Minas, Aécio Neves, ao vivo no jogo da seleção brasileira contra a Argentina. “Demitido eu fui pelo Aécio Neves, no Mineirão, em 2004. O resto, graças a Deus, eu que demiti as emissoras e não fui demitido por elas. Porque quando eu percebia que estava começando a censura, eu pedia demissão e arrumava correndo emprego em outra emissora. Tinha facilidade muito grande de conseguir emprego. Nunca consegui ficar dois dias desempregado”.

No SBT, também sofreu represália e acabou transferido para uma filial da emissora em Ribeirão Preto. “O Silvio, quando me tirou do ar por pressão política, foi honesto: ‘Eu não tenho como te manter em São Paulo, em rede nacional. Não tem jeito, a pressão é muito grande’”.

“A pressão política era do Fernando Henrique Cardoso. O Lula também pressionou demais, na época. E o Aécio Neves. Esse tripé, principalmente”, lembra Kajuru. Nesse momento, Sílvio ofereceu um acordo: Kajuru sairia de rede nacional, iria falar para todo o interior de São Paulo em um programa baseado em Ribeirão Preto, cidade para onde o jornalista ia semanalmente. “Aí eu criei o ‘Kajuru na área’. E o Sílvio disse: ‘Você fala o que você quiser. Eu não quero nem saber, eu não quero nem tomar conhecimento do seu programa. Você fala o que você quiser’”.

Vou fazer uma declaração curta e grossa pra você. Se eu fosse dono de uma televisão, não me colocaria ao vivo. Eu tenho convicção disso porque, realmente, ao vivo eu disparo. Eu não tenho controle quando eu vejo algo que me causa indignação. Na política, quando eu vejo que é roubo do dinheiro público, desvio de um dinheiro que poderia estar na educação, na saúde, eu não me controlo, né?

Dizendo que, se fosse dono de TV, eu não me colocaria ao vivo

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Oito livros por dia e House of Cards

Kajuru deixou o jornalismo para se dedicar à política. Largou o emprego no Esporte Interativo e chegou em Goiânia a 40 dias das eleições para deputado federal em 2014. Estava doente após a cirurgia para o diabetes e ainda se recuperava de uma grave infecção. Não tinha tempo ou condições físicas de fazer campanha. A solução foi se trancar em um quarto de hotel para fazer campanha pelas redes sociais. Conseguiu 107 mil votos e por muito pouco não foi eleito.

O desempenho nas urnas animou o político. Ele decidiu se candidatar a vereador e entrou de cabeça nos estudos. Se inspirou em personagens históricos e até na série do Netflix House of Cards para ser eleito o vereador mais votado de Goiânia.

“Aquilo me entusiasmou. Agora vou entrar para valer nisso, já que eu saí da televisão. Agora vou começar a me preparar mesmo. Comecei a ler seis, sete, oito livros por dia, por dia. Li tudo. Ética, de Espinoza, eu li umas 12 vezes. Li e reli. Li os discursos, desde Carlos Lacerda a Churchill, lia Kennedy, Roosevelt, Lincoln, Mitterrand. Enfim, fui me preparando. Fui vendo as atuações políticas no Brasil, fora do Brasil. Comecei a assistir a seriados, aquele House of Cards, que eu achei muito interessante e comecei a acompanhar a política de uma forma quase que apaixonante mesmo. Me apaixonei”.

Kajuru limou o mundo do futebol da sua vida. “Eu lia a Folha de S. Paulo inteirinha, somente política. Lia a Folha, de vez em quando O Globo e o Estadão, mais a Folha, pela relação minha com a Folha, trabalhei na Folha e tal. Fui muito bem respeitado lá, tive liberdade, algo que eu não tive em lugar nenhum, né? Escrevia coluna na Folha e tudo. Então aí eu falei: “vou começar de novo. Vou pegar essa próxima eleição como um primário para mim. Vereador é exatamente o primário. Só que eu acreditava que ia chegar aqui como um aluno, mas de repente eu virei professor”.

Vida de vereador

  • Votação de cemitério para animais

    "Para você ter uma noção do despreparo parlamentar: às vezes, você 45 minutos, uma hora, esperando uma votação. Sabe do quê? De cemitério para animais. Para enterrar animal como gente! Proposta de vereador. E eles ficam mais de uma hora discutindo. Você fica indignado. Votação do Dia da Pamonha, dia do Marceneiro, dia do Pedreiro. Isso é direto aqui. Direto".

  • Homenagem à primeira-dama

    "Outro colega parlamentar apresentou um requerimento para que tirassem o Monumento das Três Raças na Praça Cívica, em frente ao Palácio do Governo. É um patrimônio tombado. Mas o requerimento era para colocar a primeira-dama do município de Goiânia, a dona Íris, no lugar. De tão serviçal que ele é, né? De tão abúlico que ele é. Para atender as suas sabujices!"

  • Open bar de cafezinho

    "Quando cheguei, eram seis garrafas de café por dia. Tinha gente que vinha não para pedir alguma coisa: vinha para tomar café. Tinha um sujeito que tomava oito xícaras de café e ia para outro gabinete tomar mais oito. O sujeito tomava café o dia inteiro. Aqui o parlamentar tem direito ao café da manhã. Pão de queijo, bolo, queijo, sucos à vontade. Acho um absurdo".

  • O vereador de três carros

    "Tem vereador que, no final de semana, sai com carro oficial com a família. Vai passear, pro sítio ou pra fazenda. O que aconteceu? Um vereador, 22h30, bateu o carro em outro casal que estava com criança. Virou um custo para o dinheiro público de três carros: o carro dele deu perda total, o da senhora em que bateu deu perda total e ele ganhou outro carro".

  • Os pastéis tarde da noite

    "Dez horas da noite e você vê vereador comendo pastel na pastelaria. Usando carro da Câmara. A sociedade não suporta. Você passa com o carro e vê o carro da Câmara. Tanto que eles estão propondo agora tirar a logomarca da Câmara do carro. Com medo da sociedade. Porque ela está reagindo."

  • Férias no 1º dia de trabalho

    "São 45 dias de férias. Nem o Silvio Santos, meu ex-patrão, tira 45 dias de férias. Vai para os EUA, fica 15 dias e volta correndo pela paixão que tem por televisão. Então, não tem como você tirar 45 dias de férias. Com um detalhe: você começa o mandato e, no primeiro dia, já está de férias. Qual é o emprego em que você começa a trabalhar e já entra de férias?"

O meu sonho é o Senado. Eu queria que isto aqui fosse um aprendizado para chegar em Brasília. Meu sonho é chegar em Brasília. Tanto que registrei em cartório que só ficaria dois anos no mandato. Quem votou no Kajuru votou sabendo que eu só ficaria dois anos. E que se eu não conseguisse me eleger pra Brasília eu pararia com a política, voltaria para casa. Vou criar minhas galinhas ou volto para a televisão para fazer alguma coisa que eu sonhe

Sobre seu objetivo na política

Kajuru, você é louco?

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