Antero Greco foi um dos primeiros repórteres a se dedicar ao futebol internacional em um grande jornal brasileiro. No Estadão, era especialista em futebol italiano desde o fim dos anos 80. Mesmo assim, era um crítico à internacionalização atual que os jovens vivem no esporte.
"É uma coisa curiosa. No fim dos anos 70 e começo dos 80, fui eu que mandei brasa no futebol internacional. Eu via como uma coisa importante. Até participei das primeiras transmissões na Bandeirantes. Gosto de futebol internacional, fiz o Futebol no Mundo por muito tempo.
Eu sempre disse que gosto da Roma porque o Falcão jogava lá. Gosto do Napoli pela origem família. Gosto. Mas torcer eu torço para um time só. Na minha cabeça, toda geração tem um time. Um time só. Acabou. Seja aqui, no Japão, na China. Um time só.
Mas entendo essa meninada hoje e o fascínio de ver grandes jogadores. A facilidade de acompanhar esses campeonatos torna fácil se afeiçoar a estes times. Talvez quando eu era garoto... Não, quando eu era garoto tinha Santos de Pelé, que era extraordinário. E o Palmeiras, que encarava o Santos. Mas, talvez, naquela época, se tivesse os jogos de Milan, Benfica, Peñarol, Real Madrid, quem sabe desde garoto alguém torcesse, sei lá, para o Peñarol.
Vejo como reflexo das poucas referências nas equipes do Brasil. Vamos cair sempre nos mesmos: Rogério Ceni, Marcos, Marcelinho Carioca, Zico, que é de 30 anos atrás. Então, para o garoto, sobretudo, é imprescindível ter referência. O menino torce pelo ídolo que vai ver por anos e anos.
Quando o Santos segurou o Neymar um pouquinho, eu pensei: Nossa, que bacana, o que o Santos vai ganhar com aquilo... Mas depois foi um desastre. Mas mantém o Neymar quatro, cinco anos aqui. Cresce a torcida, tem a referência. A meninada fica fascinada por Neymar, Messi, Cristiano Ronaldo. E hoje, com a facilidade de ver esses caras no exterior, acabam torcendo. É uma mudança, uma nova realidade. Um dia vamos ver festa na Paulista da conquista de algum time estrangeiro. Isso é fato."