Em busca da virada

Após a queda do avião da Chape, eles acharam uma luz onde menos se esperava: no futebol

Adriano Wilkson e Luiza Oliveira Do UOL, em Curitiba (PR) e Chapecó (SC)

"O avião da Chape nunca mais vai cair"

Foto de Richard chorando na arquibancada ficou famosa, mas tristeza ficou no passado

Cada um segue em frente como consegue

O meia-atacante Guilherme Biteco vê no celular lances do irmão Matheus antes de entrar em campo. O menino Richard, símbolo da torcida órfã, guarda com orgulho a camisa autografada por Neto, seu ídolo. Jackson Follmann perdeu uma perna, mas participa dos rachões com o elenco da Chape. Adriano de Jesus aprendeu a profissão do irmão e hoje mantém a história no clube. Matheus, filho do presidente que estava no voo, trilha seu caminho nas categorias de base do time do coração do pai.

Cada um a sua maneira, parentes e amigos tentam seguir em frente se aproximando ainda mais do esporte que causou a maior tragédia de suas vidas.

"Antes dos jogos, vejo vídeos dele"

Meia do Paraná, Guilherme Biteco luta contra a depressão após perder o irmão e se machucar

"Se faz bem, por que não fazer?"

Jakson Follmann disputa os rachões com elenco da Chapecoense, mesmo depois de perder uma perna

Jakson Follmann perdeu uma perna e foi impedido de exercer sua profissão. Mas em nenhum momento o futebol foi deixado de lado. Ao contrário. Mesmo amputado, ele frequenta o CT da Chapecoense quase diariamente, faz questão de jogar pelada sempre que pode e até participa dos rachões com os jogadores. Viu no futebol a inspiração para seguir em frente.

"Eu não me vejo como ex-atleta, faço vários exercícios. Isso me faz muito bem no dia a dia", conta. "Eu gosto de estar no clube, com os atletas, conversar. Às vezes, tem dois toques, rachões e eu participo para brincar. Faz bem, né? E se as situações fazem bem para você, não tem por que eu não estar aqui".

Não me vejo como ex-atleta. Eu ainda sou atleta. Não gosto de perder em nada. Ainda tenho esse sangue de competidor e isso vai ficar comigo".

A saudade de entrar em um estádio lotado é grande, mas o prazer de viver é maior. E engana-se quem pensa que a prótese é um tabu: "É minha parceirona. Eu tenho muito orgulho, hoje, de ser um protetizado. Não escondo isso de ninguém. Eu dirijo, jogo futebol, estou sempre me desafiando. O que puder fazer, vou fazer e a prótese não pode ser uma barreira".

"Os doutores sempre falaram para mim: 'Follmann, agora tu vai querer chegar em casa e tirar'. E realmente era assim. Era uma coisa nova no corpo. Hoje em dia, às vezes vou dormir e é a Andressa que lembra que eu tenho que tirar a prótese. Na sua cabeça, é a sua perna".

Quero ser gestor. Vou começar um curso em fevereiro. Infelizmente, [o acidente] aconteceu e eu estou do lado de fora. Agora, meu foco é no clube, viver o dia a dia, aprender e ficar até a eternidade aqui, se for possível

Follmann

Minha vida está ótima. Não tem como olhar para trás e não ver o milagre da vida. Não tem que reclamar. Tem que agradecer. Não dá para comparar hoje com antes, mas eu sempre fui feliz e continuo sendo muito feliz

Follmann

"Eu ainda ligo para o celular dele"

Matheus, filho do presidente que morreu na tragédia, segue legado do pai como jogador da Chape

UOL UOL

"Pegar a maleta é como segurar a mão dele"

Adriano de Jesus assumiu o posto do irmão, Serginho, como massagista da Chape. E mantém tudo como era antes

Todos os dias, Adriano de Jesus separa os equipamentos que vai precisar como massagista da Chapecoense. Olha para o armário, vê o nome do irmão Serginho estampado na porta e fica feliz. Sabe que o legado do irmão vive, misturado à dor da saudade.

Ele trabalhava nas categorias de base da Chape. Assumiu o profissional depois que o irmão, titular do posto, morreu na tragédia. "A bolsa que ele usava no treinamento eu ainda uso. Deixei só para dias de jogo. Eu procuro cuidar bem dela para que possa durar bastante tempo. Quando pego essa maleta, é a mesma coisa que estar pegando na mão dele. Isso dá uma certa tranquilidade para entrar em campo e fazer o que eu mais gosto."

Os dois eram feito unha e carne. Adriano era discípulo de Serginho. Foi por incentivo dele que entrou na profissão. "Eu aprendi muita coisa com ele. Não só na área da massoterapia, mas como ser humano. Ele se preocupava muito com o bem-estar do atleta. Não tinha hora para ele. Ele largava o que tinha em casa e ia no apartamento do atleta atender. Sempre frisou que a segunda casa era a Chapecoense. O que eu gostaria que ficasse é essa imagem dele sempre sorrindo. A gente nunca viu ele triste."

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