Ela tá na moda

Iza deixou para trás os covers do YouTube e comparações com Beyoncé para comandar seu próprio "bonde pesadão"

Renata Nogueira Do UOL, em São Paulo
Iwi Onodera/UOL

Eu sei que o meu corpo te incomoda
Sinto muito, o azar é seu
Abre o olho, eu tô na moda.

A letra da música "Quem Sabe Sou Eu" reverbera o atual momento de Iza: dos vídeos de cover no YouTube às comparações com Rihanna e Beyoncé, a cantora construiu sua própria identidade. Uma marca que ela está deixando muito além de sua música.

Já são quase 1,5 milhão de seguidores na plataforma de vídeos e mais de 2,7 milhões de fãs no Instagram. Os números são reflexos dos últimos três anos intensos da carioca: assinou um contrato com uma grande gravadora, cantou ao lado de Cee Lo Green no Rock in Rio, abriu show do Coldplay no Brasil, lançou música direto na trilha sonora de novela da Globo e estourou em todas as rádios com suas músicas "Pesadão" e "Ginga". No fim, ganhou um programa na TV para apresentar, substituindo Anitta.

Iza tá na moda.

Iwi Onodera/UOL Iwi Onodera/UOL

Do YouTube para a TV

Um incêndio causado por um balão mudou completamente a rotina de Iza. No fim de julho, a cantora teve de trocar os únicos dois dias que conseguia passar no Rio de Janeiro, onde nasceu e mora, pelo frenesi de São Paulo. As chamas que atingiram o Pavilhão 3 do Riocentro, na Barra, fizeram o Multishow tirar do ar o programa "Música Boa Ao Vivo" por um mês. Mas, assim como canta em seu maior hit, "Pesadão", ela reergueu o seu castelo.

Desde que assumiu o comando do programa, no final de junho, suas terças-feiras são totalmente dedicadas à TV. Iza chega ao estúdio às 12h30 para se arrumar. Ensaia entre 14h e 19h. Entra no ar às 20h30. O programa termina às 22h30. São duas horas inteiras ao vivo.

Quando a cantora e apresentadora recebeu o UOL no camarim, o espaço ainda cheirava à comida, sinal de que o almoço tinha sido ali mesmo na penteadeira, enquanto finalizava os cachos e a maquiagem e checava o celular. Iza tem um espaço pequeno, mas só dela para se preparar.

Ao posar para as fotos, ela opina sobre a luz e mostra intimidade com o equipamento. Só evita subir em uma caixa de som do cenário, porque o joelho machucado ainda não está 100% depois de cair em um show duas semanas antes. Desenvoltura conquistada aos poucos nos três anos de carreira, o último deles mais intenso depois do estouro das músicas "Pesadão" e "Ginga".

"Virei apresentadora por causa da minha relação comigo, da minha confiança", reconhece. Iza assumiu o comando do programa uma temporada depois do fenômeno Anitta, ocupada com a carreira internacional.

O "Música Boa Ao Vivo" deu para Iza a chance de fazer parcerias distintas. Só na nova fase em São Paulo ela já fez duetos que vão desde Gilberto Gil a MC G15, do funk "Deu Onda". "É muito diferente ouvir uma parada na internet e estar ali no meio de um show de pagodão, de axé, de rock, de funk", reflete. "Você pode ficar criando com pessoas diferentes o tempo inteiro. Essa é a beleza da música."

Iwi Onodera/UOL

Isabela antes de Iza

Com 28 anos completados no dia 3 de setembro, Iza se lançou na música aos 25. A decisão de investir na carreira artística veio junto com uma insatisfação com o trabalho, depois de se formar em publicidade pela PUC-Rio. "Antes eu pensava que eu tinha perdido tempo. Mas, na verdade, eu estava juntando bagagem". 

A formação em publicidade me ajudou a me entender não só como artista, mas como produto. O marketing para quem é cantor, principalmente pop, é essencial hoje em dia.

A visão profissional da publicidade fez que Isabela Cristina Corrêa Lima também trocasse o S do nome de batismo pelo Z no artístico, "graficamente mais bonito".

É por causa desse entendimento de negócio que hoje, mesmo com pouco tempo de estrada, Iza já é embaixadora de uma marca de produtos de cabelo e estampa outdoors pelas ruas na campanha de um grande banco e de uma marca popular de maquiagem, além de ter passado pelas passarelas da SPFW (São Paulo Fashion Week).

Se o fato de falar para um público ainda seleto ao comandar um programa da TV paga, é com essas ações que ela fideliza cada vez mais a sua imagem com o grande público. 

Iwi Onodera/UOL Iwi Onodera/UOL

Identidade

Foi trabalhando com edição de vídeos que Iza decidiu investir seus conhecimentos técnicos para criar seu próprio material: gravar vídeos de covers e publicar no YouTube. Foi o primeiro passo para deixar a Iza publicitária cada vez mais cantora.

Após dois anos divulgando versões de músicas famosas no YouTube, ela assinou seu primeiro contrato com uma grande gravadora, a Warner Music. Naquele mesmo ano, saiu seu primeiro single autoral: "Quem Sabe Sou Eu", que foi direto para a trilha sonora da novela "Rock Story", da Globo.

"Era um momento muito de início pra mim. Não só por estar assinando um contrato, mas porque eu tinha acabado de largar o meu emprego. Eu ainda estava me acostumando com essa questão de ser cantora, de dar a minha identidade para as músicas. Foi um processo de amadurecer, perder a vergonha, de não ter medo de ser julgada. Tudo isso fui vencendo aos poucos".

Ao mesmo tempo em que ela se reinventava na carreira, surgiam as comparações.

A primeira matéria que saiu sobre mim me chamava de 'a Rihanna brasileira'. Outras me chamavam de 'Beyoncé brasileira'. Depois de 'a nova Anitta', 'a nova Ludmilla'. Porra, eu amo todas essas mulheres, elas me inspiram, mas não significa que eu seja uma nova versão delas. Nenhuma mulher é. Quando você aparece, todo mundo fica em dúvida. Eu entendo essa necessidade de nichar por uma questão de gestão, de trabalho. Mas nós não somos assim."

A evolução de Iza

Iwi Onodera/UOL Iwi Onodera/UOL

Bonde pesadão

A música que escancarou a imagem de Iza para o Brasil inteiro surgiu como "um tiro no escuro", como a própria define. Lançada em outubro de 2017, "Pesadão", composição dela em parceria com o ex-Rappa Marcelo Falcão, a levou para o topo dos streamings, das rádios e para os programas de domingo da TV aberta.

Eu sabia que estava lançando uma coisa que não estava tocando na rádio, com uma sonoridade diferente do que estava rolando, uma letra completamente diferente. Mas eu não sabia o que as pessoas iam achar de mim falando ‘vou reerguer o meu castelo com ferro e martelo’. Sei lá, não sabia se iam entender a minha mensagem. E, caraca, que bom que entenderam.

Com elementos de reggae, R&B e rap, "Pesadão" foi o primeiro de uma série de singles avulsos que concluíram em seu álbum de estreia, "Dona de Mim", lançado em abril de 2018. 

"Muita gente me fala que essa música ajuda a viver e a vencer os obstáculos, a se estimular. Acho que é um bom recado. De ser você e nunca ter medo de arriscar. Dei um tiro no escuro e deu muito certo."

Punhos cerrados, olhos fechados, eu levanto a mão pro alto e grito: "Vem comigo quem é do bonde pesadão!"

Trecho de "Pesadão"

Reprodução/Instagram/@danhchibi Reprodução/Instagram/@danhchibi

Representatividade

Adoradora das artes plásticas --uma herança da mãe, professora formada em história da arte--, Iza tem coleções de quadros e objetos. Um de seus xodós é uma boneca com o seu rosto e seus figurinos. A criação foi um presente do fã Dan Chibi, artista que vive em Goiânia. 

Quando eu vi aquela boneca, surtei. Porque eu nunca tive uma boneca parecida comigo, muito menos com as minhas roupas. Achei aquilo sensacional e pensei: 'É agora que eu vou ter todas as bonecas que eu sempre quis ter'

As bonecas são representações com figurinos de todos os seus clipes e também de datas especiais, como quando ela abriu o show do Coldplay no Brasil, no fim do ano passado, e participou de premiações de música.

Hoje ela encomenda as bonecas diretamente com Dan como uma forma de recordação. "Eu tenho umas 12 e ainda é pouco."

Reprodução/Instagram@danhchibi

Dorme com esse barulho. Eu quero ver você dormir com esse barulho. Não sou daquelas que fica em cima do muro. Esse brilho é meu e ninguém vai tirar.

Trecho de "Esse Brilho É Meu"

Iwi Onodera/UOL Iwi Onodera/UOL

Influência dosada

Iza sabe que hoje é uma figura de influência, especialmente para o público mais jovem, mas tenta dosar. Quando o assunto é a proximidade das eleições, por exemplo, assume uma postura de reflexão.

"Já sei em quem eu vou votar, mas não acho legal falar. Porque tem muito jovem, uma galera com 16 anos que já pode votar, que não sabe e vai lá e vota só porque eu falei. Quero que todo mundo vote consciente."

Por outro lado, a nova sensação da música pop vê a necessidade de instruir seus fãs de forma positiva, principalmente os mais novos. "Voto é secreto. Mas acho muito importante que as pessoas votem em alguém que é ficha limpa. Que não votem nulo ou que não deixem de votar porque estão na dúvida. É muito importante contar com cada voto. É muito importante você conhecer o seu candidato".

O Brasil não vive só do seu problema, a gente tem vários problemas. Seria muita covardia eu apenas votar em alguém pensando em mim. Eu, mulher, negra, zona norte do Rio de Janeiro. Eu preciso pensar no coletivo. Aquilo que eu acho que é o melhor para a maioria.

Iwi Onodera/UOL Iwi Onodera/UOL

Sexo sem tabu

Iza diz que marca sua carreira a partir de "Pesadão", a música que apareceu seis meses antes do disco "Dona de Mim" --o que já diz muito só pelo título. Foi com este trabalho que algumas composições próprias (quatro das 14 músicas) saíram do papel. A rotina nos estúdios de gravação ainda trouxe um noivo, o produtor Sérgio Santos, com quem tem casamento marcado para o fim deste ano. 

No álbum, Iza fala de superação, fama, fé, amor, sexo. Mas diz que, por mais que possa soar clichê, a única coisa que não pode faltar na sua música é a verdade.

"O público é muito esperto, entende se você está falando só porque está todo mundo falando, ou se está falando porque é você. E quando você faz de verdade, não interessa qual é o ritmo, se é voz e violão, se é trap, se é funk, se é eletrônico. Eu não me coloco em uma caixa. Eu não sei o que eu não faria. Pode ser que daqui uns anos eu queira fazer outro tipo de música. A gente muda."

A faixa "No Ponto", por exemplo, fala de sexo oral sem tabu e chamou a atenção recentemente ao ser cantada na TV aberta por duas candidatas no "The Voice Brasil".

"Achei importante mostrar como nós, mulheres, gostamos de sexo e como somos livres para falar sobre isso. E também como faz parte da nossa vida. Crescemos em um mundo onde homem que pegava 14 mulheres era garanhão. e mulher que pegava 14 era puta. É muito complicado lidar com isso. Mas quanto mais a gente conseguir desconstruir as coisas e deixar tudo natural, é legal para todo mundo."

A próxima aposta é "Dona de Mim", faixa que dá nome ao disco e ganha um clipe no próximo dia 28. A cantora mantém os pés no chão, mas promete surpreender ainda mais.

Acabei de chegar. Tem muita coisa ainda pra fazer, pra acertar, pra errar. É uma longa caminhada.

Iwi Onodera/UOL

Curtiu? Compartilhe.

Topo