Em 1964, o município de São Borja (RS) tinha cerca de 35 mil habitantes. Um deles era o presidente da República, João Goulart. Jango tinha casa, família, amigos e terras na cidade natal, localizada às margens do rio Uruguai, na divisa com o município argentino de Santo Tomé.
Pelos laços com o presidente deposto e pela localização estratégica, o governo militar enviou oficiais e agentes de outros estados para comandar suas tropas na terra de Goulart.
Agente do Centro de Informações do Exército (CIE), o coronel Paulo Malhães disse que não só esteve em São Borja como utilizou cárceres temporários para interrogar presos políticos. Assim como em Uruguaiana, o rastro do militar está lá, mas ninguém confirma oficialmente essa informação.
"Ele foi desmantelar uma passagem que o capitão Carlos Lamarca faria pelo lugar, e o Malhães reivindicou ser o grande autor da inteligência que impediu isso, de eles [a VPR, Vanguarda Popular Revolucionária] não terem conseguido articular essa saída para o Lamarca", narra a advogada Nadine Borges, coordenadora da Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro (CEV-RJ).
A reportagem localizou, no Arquivo Nacional, um informe do Centro de Informações e Segurança da Aeronáutica (CISA) distribuído em janeiro de 1970 que confirma a circulação do dissidente nas proximidades.
O documento relata a chegada do dirigente da VPR a Montevidéu, no Uruguai, em outubro de 1969, via Santana do Livramento (RS), a menos de 400 km de São Borja.
Segundo o Centro de Comunicação do Exército, as declarações do ex-coronel da reserva Paulo Malhães "eram de responsabilidade exclusiva do militar".