Porém, o equilíbrio entre liberalismo e democracia também vem mudando em outros países. Os cidadãos da Índia e Japão elegeram líderes nacionalistas que, para muitos, defendem uma forma de identidade mais fechada que a de seus antecessores. Enquanto esses líderes observam os princípios de liberalismo de forma mais escrupulosa que os Orbáns e Erdogans do mundo, seus críticos suspeitam que estejam discretamente fomentando a intolerância entre seus apoiadores.
Até onde vai essa tendência à democracia iliberal? Será que estamos nos encaminhando para um período como o do início do século XX, no qual a política global partiu para o conflito por causa de um nacionalismo fechado e agressivo? O resultado dependerá de vários fatores importantes, principalmente a maneira com que as elites reagirão ao retrocesso que engendraram. Nos EUA e na Europa, elas cometeram bobagens políticas homéricas de uns anos para cá, prejudicando mais as pessoas comuns que a si mesmas. A desregulamentação dos mercados financeiros lançou as bases para a crise do subprime nos EUA, enquanto o euro, mal planejado, contribuiu para a crise da dívida grega e o Espaço Schengen, de fronteiras abertas, dificultou o controle da onda de refugiados no continente. As elites têm que reconhecer seu papel na criação dessas situações.
O mais surpreendente hoje não é que haja populismo, mas sim que ele tenha demorado tanto para se materializar. Agora depende das elites a reparação das instituições prejudicadas e a tentativa de compensar de alguma forma os segmentos de suas sociedades que não se beneficiaram da globalização da mesma forma que os outros.
Acima de tudo é importante ter em mente que reverter a ordem mundial liberal existente hoje provavelmente vai piorar as coisas para todo mundo, incluindo os que ficaram para trás no processo de globalização. Afinal, a grande causa do desemprego no mundo desenvolvido não é a imigração, nem o comércio, mas as mudanças tecnológicas. O setor manufatureiro norte-americano passou por um renascimento nesta última década, mesmo tendo perdido postos de trabalho nas fábricas altamente automatizadas. Precisamos de sistemas melhores para proteger o povo contra a ruptura, mesmo que reconheçamos que ela é inevitável. A alternativa é acabar com o pior dos dois mundos, onde um sistema comercial global fechado, à beira do colapso, gera ainda mais desigualdade.