Rodovia dos Imigrantes, 2018
No futebol de cinco, a modalidade paraolímpica para cegos, existem cinco jogadores em cada time. O goleiro é o único que pode enxergar. Kauã conheceu o esporte quando tinha nove anos depois que o pai, taxista, conheceu um cliente que era cego. Foi convidada a assistir a um jogo em uma instituição. Ganhou uma bola com guizos para que pudesse ouvi-la rolando e aprendeu as regras. Dois anos depois, chegaria à seleção sub-15.
“Ele está super empolgado”, disse Ozeas da Silva, o pai. “Quando a gente pergunta se ele preferiria voltar a enxergar, mas deixar de ser jogador, ou ficar como está agora, ele diz que prefere estar jogador agora, mesmo sendo cego.”
A ideia de criar uma seleção sub-15 de futebol de cinco veio para dar a possibilidade de renovação para o time principal, tetracampeão olímpico da categoria. Em um moderno e confortável centro de treinamento às margens da rodovia dos Imigrantes, construído no terreno onde até 1999 havia uma unidade da Febem, os garotos sonham com uma carreira no esporte.
Ao redor deles, centenas de outros atletas paraolímpicos treinam para conseguir o mesmo. Sentados em círculo em um tatame, explicam o que sentiram quando perderam a visão. Ryan, 14 anos, da Bahia, ficou cego no ano passado. “Fiquei muito triste no começo, mas passou.”
“Do que você mais sente falta da época em que enxergava?”, pergunta o repórter. “De ver o rosto das meninas”, ele responde.
Samir, de 15 anos, sente mais falta das luzes pisca-pisca das árvores de Natal. Marquinho, de 14 anos, gostaria que houvesse mais aplicativos de celular para facilitar a vida. Adrian, também de 15, queria que as ruas tivessem mais sinalização tátil no chão. “É uma bagunça, não dá para andar direito.”
#PraCegoVer: Atacante cego da selecão sub-15 chuta a bola com a direita. O goleiro se prepara para tentar defender. Dois adultos atrás do gol, os chamadores, gritam para o atacante saber onde chutar.