Se uma coisa assim acontecesse hoje, seria um rebuliço. Vivemos uma revolução. A gente tem muito menos medo e dá mais a cara a tapa. O que ajuda, também, são as pessoas que não deixam as coisas assim passarem. Eu acho que sou parte da mudança. No começo, não achava, não.
Meu caso ficou muito exposto. Teve muita gente que disse: “minha mãe adora este menino”. E o sujeito era gay. Se a mãe do cara me adora, é porque meu caso, em algum momento, ajudou esse menino a falar com ela. Até porque eu já tive minhas dificuldades.
“Eu chorei e passei raiva por causa de preconceito umas três vezes na minha vida. Já xinguei de volta, mas é sempre triste”.
Uma vez, em Santo André, eu não estava muito bem em um jogo. E tinha uma galera chata para caramba. O Wallace, da seleção, completava o adulto do Banespa naquele dia. Eram uns quatro, cinco meninos gritando as mesmas coisas de sempre. Eu cheguei bem perto da grade e mandei eles tomarem no cu. Eu estava bem puto. A mãe do Wallace, dona Greci, e outras mulheres me defenderam.
Outra vez em Minas, na Arena, tinha uma galera muito sinistra. Não foi o ginásio inteiro, mas um coro enorme. Sabe a música do cowboy viado? Começaram a cantar “Senta, ele senta, eu sei que senta”. Foi em 2004. Aquilo me assustou muito. Fiquei muito puto, muito irritado. Mas não veio este sentimento de humilhação como em Contagem.