Eu sou galáctico, né?

Cicinho vive primeiros meses como ex-jogador, usa passado como lição e desenha o futuro. Talvez no futebol

Gabriel Carneiro e Vanderlei Lima Do UOL, em São Paulo
Lucas Lima/UOL

Cicinho foi alvo de uma tentativa de interdição judicial por parte de familiares, contratou seguros de vida temendo a morte por excesso de consumo de álcool, tinha que ser acordado no banheiro para treinar enquanto jogava profissionalmente, saía sem carteira com medo de gastar demais, se embriagou para espalhar mais de 30 tatuagens pelo corpo e temeu a morte de um amigo de infância depois de uma noite de bebedeira.

Essa é a parte ruim da história. Pelo menos durou pouco.

Cicinho virou ídolo de "uma geração que vestia mais a camisa" do São Paulo, é para sempre um galáctico do Real Madrid, jogou Copa do Mundo pela seleção brasileira, fez gols e deu passes memoráveis.

Essa é a parte boa, a parte que ele quer lembrar, contar e ainda colher frutos.

Um dos times em que ele jogou o quer como técnico no futuro e o Real o nomeou embaixador de sua escolinha no Brasil. Imagem arranhada? Que nada! Em mais de duas horas de papo, o ex-jogador de 38 anos falou sobre tudo isso e mais, como a revelação de que estava apalavrado com a Chapecoense meses antes do acidente aéreo na Colômbia. 

Aposentado, pai de três filhos e ainda descobrindo que rumo sua vida tomará agora como ex-jogador, Cicinho só não mudou em relação à preocupação com a imagem. Ao UOL, ele posou com uma elegante echarpe e tênis impecavelmente brancos. Bem-humorado e de riso fácil, conta que uma leve encardida já é motivo para o tênis virar presente para alguém, o que irrita a esposa (e fiscal), Marry. Ela é uma das responsáveis por essa volta por cima. Rogério Ceni também.

"O pecado deixa consequências, marcas. Eu vivi, hoje eu tenho a oportunidade de passar o que é certo e o que é errado", diz o ex-jogador, que ainda causa espanto ao mostrar que sua "vida louca, sem regras" hoje é usada como exemplo dentro das igrejas. "Gosto quando as pessoas me olham e veem uma transformação."

Essa entrevista é, também, sobre isso.

"Eu sou galáctico"

Moacyr Lopes Junior/Folhapress Moacyr Lopes Junior/Folhapress

Falta de blindagem causou treino sob vaias na Copa de 2006

Cicinho participou de uma das campanhas mais controversas da seleção brasileira na história das Copas do Mundo. Em 2006, era reserva do veterano Cafu e entrou em duas partidas, contra o Japão, pela primeira fase, e na eliminação para a França, nas quartas de final. Comandado pelo tetracampeão mundial Carlos Alberto Parreira, aquele era considerado o Time dos Sonhos. Tinha o "Quadrado Mágico" e reservas galácticos, como Robinho e o próprio lateral-direito, então recém-chegado ao Real Madrid. Enfim, um timaço.

Mas um timaço que foi eliminado muito cedo e, desde então, enfrenta acusações de falta de comprometimento do elenco. Para o lateral-direito reserva da seleção na Alemanha, o problema foi outro: dificuldades na preparação e concentração dos jogadores. "O maior erro foi não terem dado total liberdade para Parreira e Zagalo. Foi por isso que aconteceu tudo."

"Não blindaram os jogadores. Lógico que gostamos de assédio, de carinho do torcedor, de treinar com estádio cheio. Mas precisávamos de mais concentração e não tinha de onde tirar. Chegou ao ponto em que o Parreira tentava montar um tipo de treinamento, mas 30 mil pessoas no estádio começavam a vaiar e ele tinha que mudar a pedido dos dirigentes. Não tinha tranquilidade", conta Cicinho, que mesmo assim se orgulha de ter jogado a Copa do Mundo de 2006: "Sou um privilegiado".

Além do Mundial, Cicinho jogou Eliminatórias, amistosos e uma edição da Copa das Confederações pelo Brasil, em 2005. Foi seu único título em 17 partidas, no total, com a amarelinha.

Pedro Martins/MoWA Press Pedro Martins/MoWA Press

Atual capitão da seleção, Neymar "deixa a desejar"

Cicinho hoje acompanha futebol à distância, inclusive a seleção brasileira. Ele acha que o torcedor só esquecerá a geração de Cafu e Roberto Carlos quando os próximos nomes forem campeões do mundo. Em sua posição, ele acredita muito em Militão, ex-São Paulo e atualmente no Porto. Uma das poucas preocupações do ex-lateral-direito é a postura de Neymar, capitão de Tite: "Infelizmente, ele deixa a desejar fora de campo."

É difícil falar porque eu já vivi os dois lados da moeda, mas eu acho o Neymar mal assessorado. Eu não posso assistir a um jogo, aí depois o repórter perguntar se ele não estava excedendo e ele responder: 'Você, com a idade que eu tenho, ganhando o que eu ganho, também não faria o mesmo?'. Eu acho que essa não é a conduta

Cicinho

Cicinho, Ex-lateral-direito, sobre Neymar

Eu tenho filho, sobrinhos, vou mexer com uma escolinha de futebol, estou como um dos embaixadores da clínica do Real Madrid no Brasil, temos que ter cuidado. Ele (Neymar) não está errado, está usufruindo da forma que acha certo. Mas acho que as pessoas que estão por trás poderiam assessorar ele melhor para não se expor tanto assim
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Cicinho, lembrando de sua participação na clínica do Real Madrid na próxima semana, em São Paulo

Fernando Santos/Folha Imagem Fernando Santos/Folha Imagem
Newton Menezes/Futura Press/Estadão Conteúdo Newton Menezes/Futura Press/Estadão Conteúdo

Ídolo diz que sua geração "vestia mais a camisa" no São Paulo

O nome e o rosto de Cicinho estão eternizados na Calçada da Fama inaugurada pelo São Paulo no último mês de agosto, no Morumbi. Ele é um dos 99 principais ídolos da história do clube: "Mesmo se eu for o número 99, estou lá", brinca. Foram duas passagens pelo clube em que mais ganhou identificação na carreira. A primeira, com 70 jogos, 12 gols e três títulos (Paulista, Libertadores e Mundial), entre 2004 e 2005. A outra, por empréstimo de seis meses, em 2010, quando fez só oito partidas. Cicinho esteve perto de voltar outras vezes, mas não voltou. Em 6 de março, foi no estádio do Tricolor que ele anunciou seu adeus ao futebol.

Cicinho se arrepende de não ter rendido em 2010. Ele acha que, na época, estava mais preocupado em mostrar que tinha dado certo, em retomar a força de sua imagem no Brasil, do que de jogar bola. Ele foi pouco profissional na segunda passagem, mas tem certeza de que nada disso apaga o que foi construído. 

"Não vou falar que hoje não se joga por prazer, mas eu creio que na minha época éramos mais felizes e vestíamos mais a camisa do clube. Isso é notório. Eu tenho contato com Amoroso, Luizão, Chulapa, Josué, Rogério, Edcarlos, Fábio Santos, Souza, praticamente todo mundo de 2005. Era família, muita amizade. Hoje é vaidade. Eu vesti a camisa não pelo que o São Paulo poderia me proporcionar, mas para realizar um sonho. Eram como se fossem os últimos jogos da minha vida", desabafa o ex-jogador.

São-paulino, agradeça a Neto!

Mudança de casa desencadeou alcoolismo

"Os prazeres do mundo tiraram o meu prazer de jogar futebol."

Com o fim do contrato na Roma, em 2012, Cicinho decidiu se abrir. Ele pensava até em aposentadoria. Durante uma entrevista à TV Record, revelou a luta contra o alcoolismo e a depressão, questões desencadeadas em seus anos de popstar no futebol europeu. Cicinho admitiu que havia desrespeitado o São Paulo na segunda passagem por causa dos problemas com a bebida e, desde então, conta histórias que espera servirem de exemplo.

"Eu li em algum lugar que existem três tipos de pessoas: o sábio, o inteligente e o tolo. O tolo não aprende nem com os próprios erros, o inteligente até aprende, mas o sábio aprende com os erros dos outros."

Cicinho começou a beber em Ribeirão Preto, quando jogava pelo Botafogo. Ele tinha saído da casa em que foi criado com os pais na cidade de Pradópolis, também interior de São Paulo, e descobriu uma nova vida, com novos lugares e novos amigos em sua primeira grande experiência como jogador. "Na casa dos pais você tem horário para comer, se vestir, ir para a escola. Em Ribeirão, eu só tinha horário para treinar. Aí fui conhecendo umas pessoas, comecei a beber, a gostar, e acarretou nesse problema."

Em praticamente toda pergunta sobre alcoolismo, Cicinho completa a resposta assim: "Mas hoje eu me arrependo."

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"Todo mundo esperava que eu tivesse um coma alcoólico"

O auge da dependência aconteceu na Europa. Em Madri e Roma, Cicinho construiu pequenas boates dentro de casa, com pista de dança, bar e suas bebidas. Ele diz que, na Espanha, o alcoolismo era mais controlado, principalmente por causa do assédio da imprensa e dos holofotes sobre os jogadores do Real Madrid, como ele. Ele botou o pé na jaca de verdade na Itália. "Meu pensamento era o seguinte: eu já joguei no São Paulo, na seleção brasileira e no Real Madrid. O que mais eu vou querer?". 

Apesar da conduta, suas duas primeiras temporadas na Roma foram boas, como titular na maioria das partidas. Até que, em março de 2009, após um treino, ele teve diagnosticada uma grave lesão no ligamento cruzado anterior do joelho direito. "Eu tinha na cabeça que não iria mais jogar futebol. Então larguei", reflete. Cicinho perdeu a linha, descontou na bebida e passou a viver uma vida sob constante ameaça e com situações que hoje ele se envergonha.

  • Sem carteira

    Quando saía de casa, Cicinho era aconselhado a não levar sua carteira no bolso e ainda tinha a rota traçada pela irmã, que assumiu agenda e controle de gastos do jogador. "A qualquer momento eu podia doar tudo", reconhece.

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  • Interdição

    Dois familiares iniciaram processo de interdição judicial contra Cicinho. É uma medida para evitar que pessoas incapazes de administrar o próprio patrimônio gastem demais. Isso foi na fase em que torrava dinheiro, mas a ideia não foi adiante.

    Imagem: Getty Images/iStockphoto
  • Segurança

    Cicinho contratou seguros de vida em favor de seus sobrinhos durante essa fase mais "dark". "Todo mundo esperava que eu entrasse em coma alcoólico a qualquer momento. Eu poderia morrer porque não queria fazer o tratamento".

  • Toc toc

    No Villarreal, onde atuou em 2011, Cicinho foi apoiado por Nilmar e Marcos Senna. O lateral só dormia alcoolizado, então o dia seguinte era sempre duro. Cicinho dormia no banheiro do CT quando chegava para treinar e precisava ser despertado.

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  • Tatuado

    Cicinho tem 33 tatuagens. Ele bebia, se anestesiava, e pintava. A ideia era não sentir dor. "Era uma vida vazia. Me arrependo, mas tenho que carregar". Sem jogar e "com barriga crescendo", ele tem um tubarão que "vai virar uma baleia".

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"Eu me vi no fundo do poço quando cheguei totalmente embriagado de um jantar com meu amigo Railson, que morava comigo em Roma. Ele caiu descendo do carro, bateu a cara no chão e eu achei que ele tinha morrido. Foi um barulho oco, desesperador. Mas eu não conseguia levantar ele. Então, o motorista pegou, levou ele para o quarto e ali ele só gritava o meu nome. Ali me veio um remorso. Eu estava levando meu amigo para o caminho errado, forçava a viver aquele tipo de vida. Acendeu a luz, que já era para ter acendido tempos atrás, quando eu tomei o primeiro copo. Mas antes tarde do que nunca. Hoje, tanto ele quanto eu viajamos o Brasil dando testemunhos do que Jesus fez nas nossas vidas".

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São Paulo e casamento tiraram Cicinho do buraco

A virada de Cicinho passou por Rogério Ceni. Em 2010, na segunda passagem do lateral pelo São Paulo, o goleiro percebeu mudanças de comportamento: "Ele notou, disse que eu não era o mesmo Cicinho, que tinha algo estranho". Mesmo já vivendo em meio ao alcoolismo, Cicinho não se abriu completamente para o amigo e "patrão". Depois, ele acredita que por influência de Ceni, foi procurado por psicólogos e médicos do São Paulo dispostos a ajudá-lo. Cicinho topou, admitiu que tinha um problema de saúde e iniciou tratamento.

Mas os planos foram interrompidos com o fim do empréstimo da Roma, em julho de 2010. Apesar das tentativas de ampliação do vínculo, Cicinho precisou voltar para a cidade em que viveu os maiores dramas de sua vida. Só que dessa vez foi diferente...

"Na Itália, eu tive oportunidade de conhecer minha esposa", derrete-se o ex-jogador. Por meio de amizades em comum, Cicinho foi apresentado a Marry, brasileira oito anos mais jovem que estava no país para estudar e trabalhar. "Eu a vi, nós começamos a conversar e ela se mostrou muito madura. Ela via jovens ali querendo curtir a vida, mas tinha vindo de um berço evangélico, totalmente diferente. Quando falamos sobre esse lado espiritual, despertou um interesse e optei por ir pelo caminho que ela me apresentou. Ali eu fui resgatado. Eu sou outra pessoa."

Além de Heitor, o primogênito de um casamento anterior, Cicinho tem duas filhas com Marry: Eloah e Ester.

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Conversão sim. Mas não em tudo...

"Eu não lembro mais dessa vida, passou. Não importa como eu comecei, o que importa é como vou terminar."

Evangélico convertido, Cicinho diz que "aceitar Jesus como senhor e salvador" foi "o gol mais importante" que fez na vida. Há sete anos vivendo novos hábitos, o ex-jogador recebe numerosos convites para ministrar sobre seu testemunho em igrejas. Ou, como ele diz, falar sobre "o que Jesus fez na minha vida". Ele roda cidades, principalmente no interior de Goiás, pregando esse lado espiritual e atuando, ao lado da esposa, como líder de casais da igreja que a família frequenta. Ele não tem uma decisão tomada de ser pastor: "Está nas mãos de Deus. Se ele achar que sou a pessoa certa, estarei preparado."

Mesmo com a nova vida, alguns velhos hábitos não foram largados. "Eu me converti, mas não em todas as áreas", brinca. O vício de comprar roupas segue vivo.

"Eu gastei muito dinheiro em roupas, compras. Até hoje eu gasto. Se você der R$ 10 mil na minha mão, eu gasto tudo em roupa. Ainda bem que eu tenho uma liderança em casa, que é minha esposa, e ela é regrada. Eu passo meses sem comprar nada, ela só deixa quando eu estou precisando dar uma renovada", diz o ex-jogador viciado em tênis branco e que já gastou 25 mil euros com a jaqueta do Beckham.

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Cicinho tinha acordo para jogar na Chape em 2016

Depois de defender a Roma, Cicinho ainda jogou no Sport e no Sivasspor, da Turquia. Seu último grande contrato no clube europeu foi válido até junho de 2016, e ele estava disposto a voltar ao Brasil para encerrar a carreira. No início de 2016, o então lateral e seus representantes começaram a buscar interessados. Deram preferência ao São Paulo, que não se animou. Foi nesse intervalo que Mauro Stumpf, o Maurinho, vice-presidente de futebol da Chapecoense, entrou em contato com o empresário Ricardo Sarti para ter Cicinho.

"Eu fiquei apalavrado com a Chapecoense em 2016", lembra Cicinho.

A ideia era que o lateral-direito deixasse a Turquia ao fim do contrato e desembarcasse na Chapecoense em julho de 2016, para disputar o Campeonato Brasileiro e a Copa Sul-Americana. Foi durante a viagem à Colômbia para o primeiro jogo das finais da Sul-Americana, em novembro, que o avião do clube catarinense caiu e deixou 71 mortos, sendo 19 jogadores.

"Meu contrato estava para acabar e eu já tinha acordo com o Mauro, que estava no avião. Eu teria vindo em junho de 2016. Mas, para você ver como é, eu me lesionei em abril. Se não tivesse me contundido, eu poderia ter assinado contrato e estar dentro do avião que caiu em novembro. Lembro que, na época da lesão, eu ainda contestei Deus, porque a Chapecoense estava se estruturando, com um bom trabalho e eu via como uma grande oportunidade. Queria ir. Felizmente aconteceu minha lesão. Infelizmente aconteceu a fatalidade."

Divulgação/Brasiliense Divulgação/Brasiliense

Sucesso em Recife e na Turquia, adeus em Brasília

As experiências no Sport e no Sivasspor foram os últimos suspiros da carreira de Cicinho. Ele havia encerrado um empréstimo ao Villarreal e seu contrato com a Roma jogando pouco, e o time pernambucano foi o primeiro a realmente confiar em sua redenção. Tanto é que, hoje, o ex-jogador define a passagem como "algo maravilhoso" e que fez "voltar o prazer de jogar, como era no São Paulo". "O presidente do Sport me convidou para ir até o Recife, sentou comigo no hotel, olhou nos meus olhos e perguntou se eu tinha parado de beber. Eu disse que minha conduta ia mostrar".

Cicinho ficou no Sport entre junho de 2012 e maio de 2013. Em julho, a convite do amigo Roberto Carlos, ex-companheiro de seleção e Real Madrid e naquele momento treinador do time, ele fechou com o desconhecido Sivasspor, da Turquia. As temporadas 2014/2015 e 2015/2016 foram especiais: ele foi líder de assistências da equipe e eleito o melhor lateral-direito da liga. Depois desse bom começo, teve problemas físicos e a idade pesou.

Cicinho deixou a Turquia em 2017, ficou quase um ano sem clube e voltou ao futebol no fim daquele ano, no projeto do Brasiliense para jogar a Série D do Campeonato Brasileiro. Foram dois jogos até a conclusão de que não dava mais. Em março deste ano, ele deixou o clube e anunciou o adeus.

Ceni e Cicinho: parceria do passado e do futuro?

Campeões do mundo em 2005, Rogério Ceni e Cicinho podem reatar a parceria no futuro, mas desta vez fora de campo. O ex-lateral-direito tem boas relações com o Sivasspor até hoje e já foi consultado sobre seus planos para o futuro. Os turcos desejam financiar os estudos de Cicinho para ser técnico, pois ele é visto como um ídolo local, alguém que pode repetir a trajetória vencedora de Roberto Carlos. A ideia, então, seria que ele fixasse residência no país e começasse a se preparar com cursos, estágios e trabalho como assistente. É aí que entra o ex-goleiro.

"Houve um contato meu com o Rogério Ceni. O Sivasspor queria ele como técnico e eu como auxiliar. Ele soube de tudo isso. Não deu certo, mas não sabemos o futuro", revela o ex-jogador.

A oportunidade surgiu entre fevereiro e março de 2018, mas Rogério Ceni decidiu não abandonar o trabalho como técnico iniciado no Fortaleza em novembro do ano passado. Além disso, ele também ainda não possui a licença que o autoriza a assumir clubes de primeira divisão na Europa e o próprio Cicinho enfrentava problemas de saúde na família e não topou. Eles comandariam os jogadores brasileiros David Braz, Douglas, Auremir e Robinho na temporada atual. Elano também foi procurado para ser técnico, mas é outro sem licença. Ficou por aí.

Cicinho não descarta começar como assistente no Brasil. Ele tem um convite para estágio com Ceni no Fortaleza e já conversou com o ex-goleiro Júlio Sérgio, seu ex-companheiro de Roma, hoje técnico do Linense-SP. "Eu ainda posso contribuir muito no futebol".

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Nascido para a tranquilidade

Cicinho vive atualmente em uma pequena cidade de 30 mil habitantes chamada São Luís de Montes Belos, distante cerca de 120km de Goiânia. Ele optou por viver na tranquilidade nestes primeiros meses após pendurar as chuteiras. Além da administração do que construiu em quase 20 anos como jogador e da função de líder de casais da igreja que frequenta, com eventos pastorais frequentes em outras cidades, ele está construindo um centro esportivo em Goiás. A ideia é um lugar que reúna escolinha de futebol, academia, lutas, dança e o que mais der.

"Eu achei que não ia me adaptar à essa tranquilidade. Mas hoje estou vendo que nasci para isso", diz, antes de abrir um largo sorriso com aparelho. 

Ele ainda usa o tempo livre para viajar com a família e não se desconectar do futebol. Também está cumprindo um objetivo estabelecido após a decisão pela aposentadoria: "Uma das coisas que pedi a Deus foi para não me deixar ser um ex-jogador frustrado. Mas hoje sei que minha vida fora de campo está tão prazerosa quanto era dentro. Estou aproveitando."

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Imagem comprometida? Pergunta lá no Real

Cicinho sabe que falar abertamente sobre seus problemas com o alcoolismo ajudam a criar a imagem de alguém pouco profissional e sem compromisso com o futebol. Mesmo assim, acha que precisa continuar falando sobre o assunto, até para alertar quem está começando a não entrar nessa vida. E se você quer saber se a estratégia está certa é só perguntar ao Real Madrid.

O ex-jogador atua como embaixador da clínica de futebol do clube espanhol no Brasil. "A clínica fornece a oportunidade de o Real Madrid chegar perto dessas crianças que assistem e acham impossível chegar lá. É uma experiência única, podemos passar o incentivo e a alegria para esses jovens, para que eles se sintam parte do clube."

Nesta clínica, os jovens passam por uma semana de treinamentos com profissionais da Espanha, e ex-jogadores como Cicinho, César Prates e Sávio também conduzem atividades e entregam diplomas. Os eventos rolam por todo o Brasil - em São Paulo, por exemplo, será de 8 a 13 de outubro, para crianças de 8 a 13 anos.

Eu acho que deixei imagem de superação. Eu já estava desacreditado para muitos, mas dei a volta por cima. Não queria deixar o futebol por baixo. A imagem que deixo é essa: de superação e de um ex-atleta realizado. Se você não tiver um esforço, não buscar em Deus, não acreditar na sua força, não consegue mudar de vida. Estou há sete anos com outra vida. Hoje, o Real Madrid me proporciona ser embaixador dele no Brasil. Deus restitui tudo. Para mim, isso está de grande tamanho

Cicinho

Cicinho, Ex-jogador

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