Eles acreditaram

Título do Atlético-MG teve Ronaldinho mexendo no time em campo e "papo" com Deus antes de gol salvador

Do UOL, em São Paulo
Douglas Magno/AFP

A Copa Libertadores ajudou a moldar o futebol brasileiro nas últimas décadas. Concentrou vários significados ao longo de suas quase 60 edições. Tornou-se sinônimo de catimba, rivalidade, provocação, jogo duro. Também representa o reinado em seu continente e o passaporte para conquistar o mundo. Virou uma obsessão cantada e incorporada pelas nossas torcidas.

Para mostrar um pedaço do DNA desse torneio, personagens que participaram de cinco títulos históricos brasileiros recontam suas experiências nas partidas decisivas. Jogadores de Atlético-MG, Corinthians, Flamengo, Palmeiras e São Paulo relatam como viveram suas finais sul-americanas.

A quarta de cinco reportagens dessa série especial tem lembranças e detalhes do título do Atlético-MG em 2013, marcado por muito sofrimento, reações que pareciam improváveis e lances salvadores nos últimos minutos. A final não foi diferente. Depois da derrota para o Olímpia (PAR) por 2 a 0 no jogo de ida, o Galo foi pra cima em Belo Horizonte, segurando-se no grito de "Eu acredito" da torcida.

O gol que levou para a prorrogação só saiu no fim do tempo normal, para desespero e êxtase da massa atleticana. A decisão foi para os pênaltis. São Victor estava lá. Acreditar era preciso. E todos eles acreditaram, do começo ao fim.

Eu acredito

A gente se apoiou muito na torcida nos dias antes do jogo. Muito apoiado naquela frase que ficou marcada: 'Eu acredito'. E também por tudo que a gente tinha passado na Libertadores, perdendo duas vezes no mata-mata e depois revertendo em casa. Isso estava dentro de todos nós

Rosinei

Rosinei, lembrando a fé da torcida mesmo após a derrota na ida

Não teremos o menor pudor em atacar. Precisaremos de atenção nos contra-ataques porque eles têm jogadores de qualidade, mas vamos partir para cima, buscar o gol desde o primeiro minuto e encurralar para tentar marcar um gol logo no início e empolgar ainda mais a nossa torcida

Ronaldinho

Ronaldinho, às vésperas da final, sobre o abafa planejado

Onde vou, no supermercado, no restaurante, sempre tem um apoio. Durante toda a Libertadores foi assim, eles sempre apoiam. Vejo o sofrimento do torcedor, sem dormir por vários dias. Eles sofrem conosco a cada partida, jogam junto. Pode ter certeza que correremos muito para dar esse título a eles

Jô

, citando o clima de euforia que cercou o elenco do Atlético

Torcida louca antes da decisão

Baderna no hotel do Olímpia e festa no caminho ao Mineirão

Luiza Oliveira/UOL Luiza Oliveira/UOL

Presidente do Olímpia critica atleticanos à rádio Itatiaia

"O Brasil voltou a ser pré-histórico e o Atlético-MG agiu como time pequeno, que não é digno de estar em uma final da Libertadores. A noite foi terrível. Fizeram um barulho absurdo nas janelas. Os jogadores não conseguiram dormir"

Marcus Desimoni/UOL Marcus Desimoni/UOL

Rosinei se recorda de ver Belo Horizonte parada

"A Galoucura é coisa de louco, são fanáticos demais. A gente saiu bem cedo da Cidade do Galo [CT em Vespasiano] para ir para o Mineirão. Saiu cedo porque a cidade parou. Foi um momento muito especial"

Pedro Vilela/AP Pedro Vilela/AP

Referência com "R" maiúsculo

"Ter o Ronaldinho no time dá aquela tranquilidade. Ele pode fazer qualquer coisa, num lance mudar a situação. Qualquer falta perto da área ou numa jogada individual pode mudar o jogo. E ele passava muita confiança aos atletas também nos bastidores"
Rosinei, destacando a importância do camisa 10

"Quero que seja o dia do time do Atlético e não do Ronaldinho. Mas eu quero ajudar a equipe com um bom passe, uma assistência e entrar para história com esse título"
Ronaldinho, antes da decisão em casa

Ronaldinho mudou tática do time durante o jogo

Entrei no jogo com a orientação do Cuca de não sair muito e deixar o Josué encostar na frente. Mas o Ronaldinho veio e falou para mim: 'sai você e o Josué fica mais preso'. Até pela minha facilidade de chegar mais ao ataque. Ele estava dentro de campo e tinha essa visão. O Ronaldinho contava com muito respeito de todo mundo, por tudo que fez

Rosinei

Rosinei, sobre a "ordem" do camisa 10

Marcus Desimoni/UOL Marcus Desimoni/UOL

Atacantes imploram: cruza na área!

"No momento do primeiro gol a gente falou: agora vai, está na nossa mão. O Jô falava para a gente: 'chega na linha de fundo e já cruza, chega na intermediária e já cruza, porque lá dentro vou atropelar os caras'. E os dois gols saíram assim, de bolas levantadas que a gente recuperou"
Rosinei, autor do passe na jogada do primeiro gol, feito por Jô

Fernando Bizerra Jr./EFE Fernando Bizerra Jr./EFE

"Conversa com Deus" antes de gol salvador

"Foi numa bola de escanteio. Toda bola que tinha eu pedia para ter uma oportunidade. Pedia a Deus. Pedia para abençoar a cobrança e pedia para que eu estivesse pronto no momento. Ela apareceu. Eu só pensei em direcionar corretamente para que ela chegasse ao gol.

Foi um gol muito importante para todos, para a minha carreira, para o Atlético. Um gol aos 42 minutos do segundo tempo numa final de Libertadores... Foi muito emocionante. Sou muito feliz de ter ajudado dessa maneira, com gol, e não levando também, que é o meu papel mais importante"
Leonardo Silva, herói atleticano que fez o 2 a 0 e levou a decisão para a prorrogação

Vanderlei Almeida/AFP Vanderlei Almeida/AFP

São Victor: "Ele pega pelo menos dois"

Goleiro defende uma cobrança e vê outra explodir na trave

"A gente estava bem preparado para os pênaltis, todo mundo treinou bem. Era mais uma questão de escolha mesmo [sobre quem iria bater]. A gente sabia que o Victor ia fechar lá atrás, como nos outros jogos. A gente tinha certeza que pelo menos dois ele ia pegar"
Rosinei, elogiando Victor, que pegou o primeiro pênalti batido pelos paraguaios

"Nos momentos principais, o Victor esteve ali para nos ajudar. Em outros momentos, o Ronaldinho nos ajudou, eu pude ajudar, o Réver pôde ajudar. Até aqueles jogadores que não jogaram muito. O Rosinei entrou e nos ajudou com o cruzamento para o primeiro gol. No histórico da Libertadores, todo jogador deu sua parcela de contribuição"
Leonardo Silva, ao Esporte Interativo, sobre o mérito dos principais nomes da conquista

Marcus Desimoni/UOL

Atlético-MG 2 (4) x (3) 0 Olímpia

Atlético-MG
Victor; Michel (Alecsandro), Réver, Leonardo Silva e Júnior César; Pierre (Rosinei), Josué, Diego Tardelli (Guilherme) e Ronaldinho; Bernard e Jô
Técnico: Cuca

Olímpia
Martín Silva; Manzur, Miranda e Candia; Alejandro Silva (Giménez), Mazacotte, Aranda, Pittoni e Benítez; Salgueiro (Baez) e Bareiro (Ferreyra)
Técnico: Ever Hugo Almeida

Data: 24/07/2013
Estádio: Mineirão, em Belo Horizonte (MG)
Público: 56.557 pagantes
Renda: R$ 14.176.146,00
Árbitro: Wilmar Roldán (COL)
Auxiliares: Humberto Clavijo e Eduardo Ruiz (COL)
Cartões amarelos: Bernard e Luan (Atlético-MG); Salgueiro, Martín Silva, Ferreyra, Giménez e Benítez (Olímpia)
Cartão vermelho: Manzur (Olímpia)
Gols: Jô, a 1min, e Leonardo Silva, aos 41min do segundo tempo
Pênaltis: Olímpia 3 x 4 Atlético-MG
1ª série: Miranda errou; Alecsandro acertou
2ª série: Ferreyra acertou; Guilherme acertou
3ª série: Candia acertou; Jô acertou
4ª série: Aranda acertou; Leonardo Silva acertou
5ª série: Giménez errou; Ronaldinho não precisou bater

Reprodução Reprodução
Marcus Desimoni/UOL Marcus Desimoni/UOL

Acabado, eu?

"Passa um filme na cabeça, muita coisa. Voltei para o Brasil para isso [conquistar a Libertadores], era o que me faltava. Todo mundo dizia que eu estava acabado, que aqui era time de renegados. Fala agora!"
Ronaldinho, em desabafo em campo logo após a vitória

Douglas Magno/AFP Douglas Magno/AFP

Azarado é o c******

"Estou anestesiado, é muita coisa que passa na cabeça da gente. É muita emoção, muita pressão, muita responsabilidade que vem. Diziam: 'Ah, o Atlético é sofrido, é azarado'. E eu também. Agora quebramos isso aí, não tem mais azar. Não tem mais porra nenhuma"
Cuca, em entrevista no campo, transmitida ao vivo pelas TVs que cobriam o jogo

"Se a gente perde nos pênaltis volta tudo. Que o Atlético e o Cuca são azarados. Não tenho sorte ou azar, é tudo fruto do trabalho. Sou grato pela minha vida e meu emprego e a sorte agora está do nosso lado"
Cuca, de cabeça mais fria, celebra a chegada da "sorte" depois de levantar o troféu

O que eles disseram após o título

Marcus Desimoni/UOL Marcus Desimoni/UOL

Bernard

"Acabei sentindo as pernas, mas como não tinha mais substituições tive que ficar em campo. Agora não tem mais pique. É hora de comemorar meio quietinho. Se eu correr de novo vão ter que me socorrer aqui no meio do povo"

Marcus Desimoni/UOL Marcus Desimoni/UOL

Tardelli

"Era isso que eu queria viver aqui dentro do Atlético-MG. Eu queria entrar para a história desse clube. Faltava um título, faltava isso. Hoje eu posso falar que entrei para a história do Galo"

Douglas Magno/AFP Douglas Magno/AFP

Victor

"É choro de alegria, choro de uma equipe que merece. Tivemos aqui 27 heróis para reverter um placar desse, num jogo difícil, contra uma equipe que marca muito bem"

Bruno Cantini/Site do Atlético-MG Bruno Cantini/Site do Atlético-MG

BH abraçou o Gaúcho

"No momento mais difícil da minha vida foi essa torcida que me abraçou. Estou muito feliz de dar esse título para a torcida"
Ronaldinho, em referência ao apoio que recebeu quando sua mãe, Miguelina, estava doente

"Por tudo o que ele passou no Rio de Janeiro, o Ronaldinho teve a oportunidade de dar a volta por cima, de voltar a ser um atleta decisivo, num grupo que o acolheu muito bem. Ele vinha de um momento pessoal complicado, com a cabeça perturbada, com a mãe [doente], além da saída difícil do Flamengo. E ele foi muito bem recebido pela torcida e pelo grupo. Ele sentiu isso e quis retribuir com comportamento dentro de campo e sendo decisivo"
Leonardo Silva, sobre a sintonia entre Ronaldinho e os atleticanos

Goleados depois da festa. E daí?

"Fomos para um restaurante na comemoração, mas não ficamos a noite toda. No domingo já tinha clássico contra o Cruzeiro [pelo Campeonato Brasileiro]. A gente acabou perdendo por 4 a 1, mas não tinha ninguém preocupado. Todo mundo estava feliz pelo título"

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